Protocolo - Bebê Desaparecido escrita por Pixel


Capítulo 1
Capítulo 1 - Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sinto a necessidade de avisar que essa fic, por mais que seja toda fofinha e cheia de amor parental, ela tem alguns pontos sombrios como referencia ao abuso infantil. Certifique-se de que está confortável com isso antes de continuar!

~~ Boa Leitura



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Tony Stark não pode deixar de resmungar quando notou que a primeira nevada do ano começou a cair preguiçosamente do lado de fora da Torre dos Vingadores. Na verdade, ele tinha quase certeza de que era a segunda e não a primeira, já que ele tinha passado bastante tempo dentro do seu laboratório pessoal nos últimos dias, ocupado demais para sequer notar um movimento do lado de fora.

Ele tirou os óculos de proteção com um suspiro, o som de metal finalmente morrendo depois de várias horas enchendo o laboratório como único som. Tony suspirou, cansado de todo o trabalho, mas não necessariamente esgotados; era o mesmo cansaço que ele sentia todos os dias.

Era difícil admitir, mas ele não tinha mais 25 anos.

Tony se permitiu observar a neve por alguns segundos; os zumbidos irritantes de Dum-E e U ao longe, soando em algum lugar do laboratório.

Essa era, basicamente, a pior época do ano. Antes da iniciativa Vingadores, Tony não se importava muito com o natal — era apenas uma época do ano em que Pepper estaria longe e Rhodey estaria lhe implorando para sair da oficina —, depois, as coisas meio que mudaram. Tony se acostumou com Bruce e os outro sempre ao redor, e quando o natal chegava eles sempre desapareciam para curtir o feriado com algum parente ou apenas entre si.

Basicamente, ele ficava mais sozinho do que o normal, e isso quer dizer que seus pensamentos e reflexões ocupavam grande parte da sua mente. Esse ano, as coisas parecem que ficaram piores.

Pepper está numa viajem de negócios na Tailândia e grande parte dos Vingadores estão passando o natal em algum lugar, curtindo uma semana longa e cheia de festas — pelo menos enquanto a Terra não é atacada.

Resumindo, a Torre está praticamente vazia. Wanda e Visão estão em algum lugar da Itália; Scott está com sua filha — provavelmente vai voltar a qualquer hora —; Natasha, Clint, Steve e Sam sairam para passar um tempo na fazenda — provavelmente ficar para o natal, curtir a presença de algumas crianças e desestressar do trabalho.

O único que não tem planos é Tony, e não é como se ele tivesse alguma família ou algo parecido para lhe fazer companhia. Na verdade, nem mesmo quando seus pais estavam vivo Tony tinha alguma companhia para o natal, com exceção de Jarvis e as vezes, bem raramente, Rhodey.

Agora que Tony parou para pensar nisso, ele não se lembra de alguma vez ter passado o natal realmente em família. Seus pais pareciam tão distante, escondidos em algum lugar da sua memória. Talvez Maria tivesse feito algum esforço, mas Howard certamente não.

De qualquer forma está enterrado na memória de Tony e ele não vai se lembrar.

Mas se tem uma coisa que Tony não pode esquecer é que uma vez ele quase teve uma família de verdade, ou apenas um gostinho de uma.

Aconteceu antes do Afeganistão, antes do Homem de Ferro, quando ele ainda fabricava armas e ia em festas descontroladas apenas para trazer uma mulher qualquer para casa. Acontece que numa dessas idas e vindas, Tony acabou deixando um pequeno deslize passar.

Ele realmente não se lembra daquela noite, já que estava completamente entorpecido pelo álcool, mas se lembra do rosto da repórter investigativa. O nome dela era Jéssica e ela estava na festa apenas para investigar um possível “Rei do Crime” que atuava em Nova York — As informações não são tão claras, já que Tony realmente não se lembra de metade da noite. Eles passaram uma noite juntos. Apenas uma e depois Jessica desapareceu como a maioria das mulheres que se encontram com Tony; nenhuma surpresa.

A vida seguiu normalmente por 10 messes, até que ela ligou em uma noite calma e chuvosa.

 Tony se lembra do desespero claro quando a notícia caiu sobre ele como um balde d’água fria. Jéssica havia engravidado e dado à luz um garoto, filho dele, e estava apenas ligando para avisar que ele tinha um filho no sistema de adoção.

 Ela não queria o bebê.

 De acordo com ela, ter um filho era motivo de distração na carreira, já que ela não poderia se concentrar plenamente no trabalho, por isso a decisão foi tomada ao longo dos 9 meses e depois Jéssica o colocou para a adoção sem antes consultar Tony;

 Apenas para avisa-lo algumas horas depois, como se sentisse obrigada a dar essa notícia a Tony, mesmo depois de omiti-la por 10 messes.

 Bem... Tony não sabe exatamente dizer se foi sorte ou azar ele ter atendido o telefone naquele dia, porque se fosse Obadiah, ele certamente teria levado essa informação para o túmulo.

 Depois de três noites trancado na oficina, bebendo, ignorando Rhodey e Obadiah, Tony tomou uma decisão; uma que iria mudar a sua vida para sempre.

 Ele ia tentar criar o garoto.

 Tony não tinha boas lembranças do seu pai, por isso algo dentro dele gritava, esperneava e o torturava para levar o garoto, para cuidar dele e cria-lo como um Stark. Fazer um trabalho melhor do que Howard fez com ele.

 Claro, houve protestos. Obadiah ficou indignado com a decisão de Tony, dizendo que o garoto ficaria bem em uma família adotiva e que Tony não tinha condições para criar uma criança adequadamente e blá blá blá; manipulações que Tony se agradece mentalmente por não ter seguido naquela época. Às vezes, em momentos como esses, ele se lembra da reprovação clara até mesmo de Rhodey.

 Você sabe que a ideia é péssima quando nem mesmo seu melhor amigo o apoia.

 Contrariando a mídia, Obadiah, Rhodey e principalmente sua própria personalidade, Tony levou o garoto. Jean Stark, o herdeiro das industrias Stark e um grande prodígio, assim como Tony foi.

 Jean, um ser tão pequeno, entrou com facilidade no coração de Tony e logo se tornou o bem mais precioso do bilionário. Ele adorava tudo sobre o pequeno; seu sorriso, suas pequenas brincadeiras e o brilho da curiosidade que sempre estava em seus olhos. Tony não precisava ser um gênio para saber que Jean se tornaria o próximo grande inventor da família, seguindo assim os passos do pai.

 Tony passou a ter uma rotina um pouco diferente. Não importa o que ele estivesse fazendo, sempre arrumava um jeito de dar um pouco de atenção para Jean, o que muitas vezes irritou Obadiah já que Tony acabava dividindo sua atenção entre o trabalho e o garoto.

 O tempo passou e Jean cresceu, mas Tony nunca perdeu o habito de observar a criança enquanto dormia, alisando os cabelos castanhos até que a posição ficasse dolorosa.

 Tony amava sua risada. A primeira vez que Jean soltou uma gargalhada foi como se o mundo tivesse sido iluminado pela primeira vez em eras e Tony realmente se sentiu feliz, de forma que hoje, somente Pepper consegue reproduzir, mas ainda de um jeito diferente.

 As primeiras palavras, os primeiros passos, o primeiro sorriso, as primeiras brincadeiras, tudo foi acompanhado de perto, mesmo com Obadiah na sua cola, Tony conseguiu ficar ao lado de Jean por três anos.

 Até 2006, quando seu mundo desmoronou.

 É difícil encarar o natal — Na verdade, qualquer festividade — quando Tony sabe que ele perdeu a única pessoa que ele podia realmente chamar de família sem hesitar.

  Já faz onze anos que seu filho desapareceu. Esses é um dos principais motivos de Tony odiar a companhia de crianças pequenas — e isso inclui os filhos de Clint —, pois com cada sorriso, cada olhar, cada risada, tudo, lhe lembra do que ele poderia ter tido se Jean não tivesse desaparecido, se ele ainda estivesse ao seu lado.

 Às vezes, não é somente o portal em cima de Nova York que toma lugar em seus pesadelos, nem mesmo o que aconteceu no Afeganistão; às vezes, ele tem sonhos sobre aquele dia e sobre o que aconteceu.

 Era apenas mais uma conferência de impressa, novas armas, novas tecnologias; tudo aquilo que Tony se arrepende de ter feito no passado.

 Supostamente, era para a babá — Jennifer Clonney, Tony nunca esquecerá seu nome; ou o que ela disse ser seu nome — cuidar de Jean enquanto Tony estava ocupado. Babás sempre foram uma péssima ideia e ele as odiava, em parte por causa da sua própria experiência, mas Obadiah conseguia ser extremamente chato quando implicava com alguma coisa.

 No caso, era deixar Jean em casa.

 Mas então eles foram ao parque, e nunca mais voltaram.

 Uma investigação imensa foi feita, Tony não duvidaria que cada canto de Malibu tivesse sido revistado. Todos estavam atrás de Jean Stark, de apenas 3 anos. Os panfletos e jornais estampando um rostinho redondo, com cabelos espetados e grande olhos castanhos estavam por toda parte. A notícia do desaparecimento da criança estava em todo o pais, uma comoção enorme, que não ajudou em nada a dor que dominou o corpo de Tony pelos próximos anos.

 As investigações revelaram que Jennifer Clonney era na verdade Vanessa Vontez, que fazia parte do tráfego de crianças norte-americano. Os policiais demoraram um ano para acha-la em Washington DC, em um motel, cheio de drogas, armas e bebidas alcoólicas. Eles a interrogaram, mas a única coisa que Vanessa disse foi diretamente dirigida a Tony.

 — Você nunca vai encontra-lo

 Os sonhos de Tony variam. Às vezes, ele ouve repetidas vezes aquela frase de Vanessa, ditas com um sorriso largo e cheio de dentes; as vezes, ele sonha com uma criança de olhos e cabelos castanhos, jogada numa vala em algum lugar da Califórnia; há também os sonhos que são completamente preenchidos com uma risada infantil e claro, tem o pior de todos eles, aqueles em que Tony se vê incapaz de encontra-lo.

 Não saber o que aconteceu com Jean é a pior parte de tudo. Anos de investigação, detetives, policiais, até recreações de como Jean estaria hoje, tudo em vão. Ninguém podia dizer aonde o filho do bilionário Tony Stark foi parar.

 Ainda assim, a esperança e a dor são duas coisas que prevalecem sobre Tony, nunca indo embora, nem mesmo com o tempo. Tanto, que ele criou um protocolo em todo o país que iria lhe avisar se alguém com as mesmas digitais de Jean aparecesse; também em vão.

 Com o passar dos anos, esse fio de esperança veio a definhar, quase sumindo totalmente. Tony parou de fabricar armas, se tornou o Homem de Ferro, depois Vingador. Salvou o mundo de uma invasão alienígena, criou um robô assassino, enfrentou o governo e tentou ao máximo reparar danos irreparáveis.

 Isso porque ele não é mais o Tony Stark da década passada. Se Jean estivesse aqui, ele seria melhor do que antes. Ele tentaria ser um bom pai, sem seu vício em álcool ou qualquer coisa parecida. Ele iria dar a Jean o mundo, se necessário.

 Mas o universo não gosta de Tony Stark; ele lhe tirou o seu bem mais precioso, como algum tipo de punição por tantas mortes causadas pelas suas armas.

 É por isso que Tony não gosta de crianças, porque elas lhe lembram o que ele não podia ter. Elas lhe lembram seu castigo, e não importa quantas vidas ele salve, não vai ser o suficiente.

 Com um suspiro pesado, Tony se inclinou em sua cadeira e olhou para o teto. Em suas mãos havia uma caneca de café pela metade, fria. Era por isso que ele odiava ficar sozinho, seus pensamentos sempre vagam novamente para Jean, que, obviamente, se tornou um assunto extremamente delicado com todos que conhecem o bilionário.

 Nem mesmo Rhodey — que conheceu e adorava o pequeno — tem coragem de tocar no assunto.

 Ainda assim não era difícil dizer quando alguém ao redor de Tony tocava no assunto, as coisas ficavam instantaneamente tensas. Certa vez, Thor perguntou se ele tinha algum filho.

 A tensão na sala foi imediata.

 Natasha claramente sabia, afinal ela tinha investigado sua vida, mas assim como a maioria, resolveu ficar quita. Diferente dela, Clint lhe lançou um olhar cheio de pena, como se pudesse imaginar pelo que Tony ainda estava passando. Bruce se encolheu no seu próprio canto, identificando rapidamente o assunto como “frágil”.

 Steve estava apenas confuso.

 — Eu tive — Foi a resposta de Tony, vaga e sem complementos. Ele resolveu omitir a história e deixar a conversa voltar ao normal.

 Mas obviamente nem tudo foi tão simples, o Capitão pareceu ficar curioso e perguntou diretamente a Tony quando todos sairam da sala apenas alguns minutos depois:

 — Você teve um filho? O que aconteceu? — Naquele dia, Tony estava cansado e queria apenas mandar o Capitão ir a merda, mas a curiosidade genuína e sem malicia nos olhos do maior o fizeram parar.

 — Ele foi tirado de mim, não sei o que aconteceu — Aquilo pareceu ser o suficiente, já que Steve nunca mais perguntou sobre Jean.

 Tony suspirou, se sentindo realmente mal pelas lembranças. Ele fechou os olhos e depois de um tempo o rosto jovem de Jean veio a sua mente. Cabelos espetados por todo os lados, assim como sempre — Jean era uma criança hiperativa, estava sempre se mexendo e isso fez com que Tony o mantivesse longe da oficina e de qualquer tipo de material de metal que pudesse machuca-lo —, ondas castanhas que eram apenas o charme do jovem Stark.

 Haviam também os seus olhos. Tony amava seus olhos. Eram castanhos, idênticos aos dele, deixando mais do que claro que Jean era de fato um Stark. Eles brilhavam com pureza e inocência. Sempre que Tony estava por perto com alguns dos seus projetos, os olhos de Jean se tornavam curiosos.

 O garoto era esperto, e sem dúvidas teria seguido os passos do pai.

 Tony sentiu o nó na garganta se apertar e os olhos arderem repentinamente. Isso sempre acontecia quando ele pensava demais. As emoções voltavam como uma enxurrada e caiam sobre ele. Mas ele nunca foi bom em lidar com elas.

 Tony não era de ferro, apenas o seu alter ego era. E agora ele estava quebrando — mais uma vez —, mas a vantagem é que ninguém estava por perto para vê-lo.

 — Sexta-Feira, qual é a temperatura lá fora? — Tony fez um esforço e engoliu o resto do seu café frio. Ele precisou piscar algumas vezes para combater as lágrimas repentinas e na esperança de se distrair seus olhos repousaram nas grandes janelas de seu laboratório.

 A neve caia preguiçosamente, pintando tudo de branco.

 — 2 Graus negativos, chefe — A I.A disse, o que fez Tony estremecer. — Sensação térmica de 5 graus negativos

 Pelo menos na Califórnia o clima não chega a esse ponto. Talvez ele devesse construir uma casa de praia lá, ou comprar uma.

 — É aconselhável — Sexta-Feira disse de repente, fazendo Tony levantar uma sobrancelha.

 — Eu disse isso em voz alta?

 — Sim, chefe — Tony riu levemente e deixou o copo vazio de café em cima da mesa. Ele se levantou da cadeira, tomando alguns segundos para se espreguiçar. — Posso procurar por terrenos ou casas a venda, se desejar

 — Faça isso. Talvez assim eu possa fugir desse frio


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Notas finais do capítulo

Essa história também é postada no Spiri! Aqui está o Link:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/protocolo--bebe-desaparecido-15688905

E novamente eu gostaria de dar os créditos para RayvennLu ♥ Ela foi um amorzinho!

~~ See Ya Later



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