Protocolo - Bebê Desaparecido escrita por Pixel


Capítulo 10
capítulo 10 - Homem de Ferro


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem disso!

~~ Boa Leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774273/chapter/10

 Peter soltou uma gargalhada divertida quando o estranho robô se moveu ao seu redor, girando a estranha garra no ar para pegar uma pelúcia no alto de uma prateleira. Ele se virou para Peter novamente, oferecendo a pelúcia com um zumbido feliz.

 Peter pegou a pelúcia, abraçando ela com força contra o peito enquanto um sorriso enorme surgia em seu rosto.

 — Di novo! Di novo! — Ele aplaudiu, apontando para outra pelúcia no alto de uma prateleira. O robô soltou um barulho alegre e se prontificou a pegar a pelúcia solicitada.

 Peter apenas observou cada movimento do robô com interesse e curiosidade, apenas esperando para ver o que iria aconteceu. Ele aplaudiu alegremente quando a robô lhe entregou a pelúcia, fazendo-o soltar a anterior no chão agora esquecida.

 A porta então se abriu, uma voz invadindo o quarto e chamando completamente a atenção de Peter. Seu coração saltou e de repente ele se sentiu mais feliz, mais energético. Ele se virou, um enorme sorriso já estampado no rosto quando encontrou com a enorme sombra que omitia a luz, alta e estranhamente familiar.

 Peter soltou a pelúcia que estava em seus braços, perdendo completamente o interesse nelas. Seu sorriso estava tão largo que suas bochechas chegaram a doer. Ele ficou de pé e tropeçou alegremente ao encontro da figura.

 — Papai! — Ele gritou, abraçando a perna do homem como se sua vida dependesse disso, não se importando com a aspereza do jeans contra a sua bochecha.

 — Ãh? Você ainda está acordado? — A voz perguntou incrédula. Mãos grossas e calejadas, ainda assim quentes e firmes, estranhamente confortáveis, rodearam o pequeno torso de Peter e o puxaram para cima.

 Ele se viu nos braços de um adulto, sendo carregado, depois do que pareceu tanto tempo.

 Aplaudindo, Peter riu.

 — Garoto já passou da sua hora de dormir— O homem disse, dando um breve e inofensivo peteleco no nariz de Peter, o que serviu apenas para causar uma risada nele.

 — Ursinho! — Ele disse, apontando para a prateleira, justamente onde embaixo havia o estranho robô se movendo de um lado para o outro, uma garra girando no ar com entusiasmo.

 — O que ele faz aqui? — O homem perguntou com raiva, mas Peter não se encolheu ou ficou com medo. Em vez disso, ele resolveu apenas descansar sua cabeça no ombro do homem, enquanto o observava brigar com o robô como se aquela cena fosse normal. — Vá pra lá antes que eu te doe pra alguma faculdade!

 O estranho robô fez um barulho triste, se afastando de onde estava e indo em direção a porta. Peter resmungou, expressando seu desagrado em ver o robô sair. Ele estendeu as mãos na direção em que o robô foi, abrindo e fechando os dedos, como se estivesse implorando para ele voltar.

 — Eu quero você longe dele — O homem disse enquanto carregava Peter pelo quarto. Agora as paredes do lugar estavam sombreadas com um azul profundo, quase se igualando ao céu noturno. — Ele pode te machucar e eu não estou afim de levar você de novo pro hospital

 Peter, de repente, se viu deitado em uma cama macia e quente, afundando nos lençóis e nos travesseiros. Apesar de confortável, ele protestou, estendendo a mão para tentar alcançar o homem mais uma vez, mas felizmente, o homem resolveu se sentar ao lado seu lado.

 — Vamos garoto, você precisa dormir — As mesmas mãos de antes afagaram seu cabelo de forma amorosa, um carinho que Peter não se lembra de ter tido antes. Ele piscou para a figura, desejando que o toque nunca fosse embora.

 — Possu domir com você...? — Peter perguntou, baixinho e com algumas falhas na dicção, mas o homem pareceu entender o que ele disse.

 O homem riu, um som profundo, mas que de alguma forma escapou dos ouvidos de Peter.

 — Você já não está crescido demais para isso? — Ele perguntou e Peter, firmemente, negou. — Vamos Jean, eu nem sempre vou estar aqui

 — Pur favor... — Peter implorou, o homem riu novamente.

 — Que tal assim... eu vou ficar até você dormir? Parece bom? — Ele sugeriu, mas Peter não respondeu rapidamente, ele pareceu pensar por um longo tempo, tempo suficiente para dedos quentes roçarem sua bochecha esquerda com carinho.

 As mãos do homem estavam quentes, firmes e estranhamente familiares, Peter se viu inclinando mais ao toque. Com um sorriso, ele respondeu:

 — Tá bum...

 Peter fechou os olhos, sendo dominado pela escuridão, mas, estranhamente, o calor em sua bochecha continuou, não indo embora nem mesmo por um segundo. Ele suspirou, sentindo seu nariz se contorcer com o ar frio.

 Seu estômago então rosnou firmemente, quebrando toda e qualquer magia que seu sonho pudesse ter lhe trazido. Peter franziu os lábios, levemente irritado, mas grogue demais para se importar em se levantar ainda.

 Até que ele registrou os dedos que alisavam carinhosamente a sua bochecha esquerda, assim como no sonho.

  Peter deu um pulo, assustando quem quer que fosse que estava lhe acariciando. Por um instante, ele considerou que aquilo fosse algum animal perdido, como uma aranha ou um rato, talvez algo mais nojento, mas suas dúvidas foram embora quando um baque alto ecoou pela sala, fazendo o piso de madeira já fraco tremer. Ele se sentou, confuso, grogue e com a visão nublada depois de dormir por tanto tempo, mesmo assim, suas mãos estavam levantadas em punhos, prontas para socar alguém no rosto.

 Até que ele percebeu que seu sentido aranha nunca esteve tão calmo.

 Não havia perigo ao redor.

 Mesmo assim, quem diabos estavam lhe dando carinho enquanto ele dormia? Como alguém entrou nesse prédio? E como seu sentido aranha não lhe avisou?

 Ele foi saldado pelos piscas-piscas, brilhando ao seu redor, um lembrete de que ele estava vivo, acordado, em casa e estranhamente quente em contraste com o ar frio.

 Peter gemeu e esfregou os olhos, tentando acordar antes de ter que lidar com o invasor.

 — Quem tá ai...? — Ele perguntou, sua voz completamente rouca e grogue de sono, cada sílaba saindo lentamente. Ele desejou que não fosse ninguém com uma arma ou um dos cobradores que gostavam de pegar no seu pé mesmo que ele nunca comprasse nada de ninguém, exceto Phlipe.

 Peter estava se sentindo pesado, cansado e duro de dormir no chão. Seus membros estavam rígidos e ele podia sentir o seu ombro dormente, mas mesmo assim ele forçou os seus músculos a funcionarem e olhou para a esquerda.

 Havia uma figura caída no chão, esfregando os olhos. Era claramente um homem mais velho, usando roupas limpas e de marca. Peter arregalou os olhou quando ouviu um fungado, horrorizado com a ideia de que ele machucou alguém.

 Será que a pessoa estava bem? Bem, foi um susto e tanto. Peter realmente não esperava acordar com alguém ao seu lado, isso nunca aconteceu antes e nem era para acontecer. Ele se inclinou mais para perto, tentando ver a figura e também entender o que diabos estava acontecendo.

 — Você está bem? — Peter perguntou. — Eu te machuquei? Me desculpa! — A figura se sentou no chão ainda esfregando os olhos firmemente. Peter se viu incapaz de identificar aquela figura, quem era ou o que queria. —O senhor realmente não deveria aparecer assim. Quase me deu um ataque cardíaco!

 O homem gemeu, rouco e soando realmente cansado, talvez mais cansado até que Peter. As mãos caíram de seu rosto e Peter se encontrou olhando para alguém muito, muito familiar.

 Primeiro: ele pensou que era alguém realmente parecido com Tony Stark, um tipo de sócia. Mas aí as roupas, os óculos escuros caídos no chão, o cavanhaque, o corte de cabelo. Céus! Até as rugas eram as mesmas.

 Ele se inclinou para frente, como se estivesse vendo algum tipo de fantasma, mas daí os olhos do homem encontraram com os seus e as dúvidas voaram pela janela.

 Peter engasgou.

 — Tony Stark?! — Ele gritou, talvez mais alto do que o necessário. Peter se inclinou para trás batendo na parede, olhando para o homem na sua frente com os olhos arregalado e o queixo caído.

 Seu coração estava batendo tão rápido agora que Peter se viu mais acordado do que nunca, olhando diretamente para o rosto do gênio, bilionário, playboy, filantropo, herói e Vingador na sua frente.

 E ele estava surtando por dentro.

 Peter era um fã do Homem de Ferro, mesmo quando era pequeno demais para sequer entender a enorme responsabilidade que é ser um herói. Ele estava apenas brincando em frente à televisão, Richard assistindo ao noticiário, quando o herói apareceu pela primeira vez.

 Peter tinha acabado de ser adotado pelos Parker e ele ainda estava se acostumando com o novo ambiente. Ver uma figura vermelha e dourada, parecendo um robô, foi a coisa mais incrível que ele já viu. Na sua mente, a figura era imbatível e logo ele se viu encantando por tudo relacionado ao novo herói.

 Tudo ficou mais incrível ainda quando ele descobriu que por trás de toda aquela armadura tinha um homem de verdade, um cara normal — nem tanto, mas ainda humano — Tony Stark, uma figura conhecida por construir armas, mas que agora se recusava a continuar nesse ramo.

 Peter se viu encantado por tudo que estava relacionado ao Homem de Ferro, inclusive ao próprio Tony Stark. Ele acompanhava as notícias, implorava a Richard e Mary para lhe comprar brinquedos e certa vez até conseguiu ir na Expo Stark.

 Foi uma noite realmente incrível. Peter estava fascinado por tudo na Expo Stark, chegando a se sentir realmente animado quando no meio da tal apresentação — que Peter realmente nem se lembra do que estava acontecendo — o próprio Homem de Ferro surgiu.

  Só que ele estava no lugar errado na hora errada. Foi quando ele ficou realmente perto do seu herói favorito, chegando até mesmo a receber um pequeno elogio, que fez seu humor pirar pelas próximas semanas.

 — Gostei de ver!

 Peter ainda não tinha seu mundo abalando, quebrado e destroçado, ele ainda estava inteiro, por isso sua imaginação ainda prevalecia sobre ele.

 Ele não estaria aqui se não fosse por Tony naquela noite, e agora o mesmo homem estava na sua frente, lhe encarando com os olhos vermelhos e úmidos, quase como se estivesse chorando antes de chegar.

 Não é eufemismo dizer que quando Peter foi mordido pela aranha radioativa, a sua principal inspiração para se tornar um herói foi o mesmo homem que agora está na sua frente.

 Peter estendeu a mão direita, aproximando ela do rosto do bilionário, apenas para testar se tudo isso não era um sonho maluco ou algum tipo de alucinação, mais uma das pegadinhas da sua mente ferrada. Ele deu um peteleco no nariz de Tony Stark, ganhando um gemido de surpresa do mesmo.

 Seu queixo caiu.

 — Oh meu Deus! Desculpa! Eu não pensei que você fosse real! — Peter se desculpou, observando o homem com atenção. Depois de dois segundos que ele se deu conta do que aconteceu. — Ah meu Deus eu dei um peteleco no Tony Stark! Mil perdões sr. Stark! Eu não queria te machucar

 De repente, o homem fez a coisa mais inesperada que Peter já presenciou em toda sua vida; ele riu. Genuinamente, ele riu. Alto e claro que chegou a ecoar pelo cômodo.

 Peter sentiu seu coração inchar com o som.

 — Tudo bem garoto, acho que o quase infarto foi bem pior — A voz do homem enviou um calafrio por todo o corpo de Peter, soando perfeitamente familiar, quase idêntica a voz que ele ouvia em seus sonhos bons.

 Ele congelou, olhando com os olhos arregalados para o homem, se encontrando incapaz de desviar o olhar. Os olhos castanhos lhe encaravam com um certo brilho, algo parecia com diversão, mas também tinha carinho e afeição.

 Esse era o tipo de olhar que Peter não via a muito tempo, desde Mary e Richard; um olhar que ele havia esquecido completamente que existia. Para a sua surpresa, todo seu corpo se aqueceu, e Peter relaxou os ombros, se deixando perder naquele olhar.

 Não tinha pena neles.

 Sua cabeça começou a trabalhar a mil por hora, buscando algum motivo plausível para Tony FUCKING Stark estrar na sua frente, rindo carinhosamente e olhando para ele como se ele fosse desaparecer a qualquer segundo.

 Não era eufemismo dizer que Peter sentiu uma pontada de medo na boca do estômago.

 — O que foi que eu fiz? — Peter perguntou, assustado, voz baixa e cautelosa. A mudança de tom deixou o sr. Stark confuso.

 Então um motivo mais do que plausível veio na sua mente, e surpreendentemente soou perfeito.

 — É por causa do Homem-Aranha? — Peter perguntou, uma nova onda de excitação passando pelo seu corpo, bem obvia no modo como ele falou.

 Se o sr. Stark estava aqui por causa do Homem-Aranha isso quer dizer que ele tem interesse no vigilante, isso também quer dizer que Peter tem uma pequena chance, bem lá no fundo, de no futuro, se tornar um Vingador.

 Um sorriso enorme surgiu em seu rosto com esse pensamento. Se fosse verdade, isso significa que ele não vai mais precisar morar nas ruas e que ele vai trabalhar ao lado de grandes heróis que já salvaram o mundo mais de uma vez. Ele vai em missões com eles, vai falar com eles... pode até mesmo ser amigos deles.

 Porém, o entusiasmo de Peter não durou muito. O sr. Stark levantou ambas as mãos, sinalizando para Peter se acalmar antes que ele surtasse, o que, particularmente, já estava acontecendo desde que ele acordou.

 — Não garoto, não estou aqui por causa do Homem-Aranha, estou aqui por causa de você — Tony afirmou com uma certeza tão grande que fez Peter duvidar novamente se tudo isso era real.

 Ele inclinou a cabeça para o lado, completamente confuso. O que o bilionário queria com ele? Peter, de todas as pessoas no mundo?

 — M-Mas... por quê? — Ele perguntou, deixando claro em sua voz e rosto o quanto estava confuso com toda essa situação. Nada na sua mente fazia sentido agora.

 Tony encolheu os ombros, soltando um suspiro pesado enquanto olhava para Peter no fundo dos olhos, como se estivesse procurando por algo a muito tempo esquecido. Ele hesitou antes de responder, como se estivesse buscando as palavras certas.

 Peter sentiu o calor correndo pelo seu pescoço até o seu rosto, dominando também as suas orelhas, quando seu estômago trovejou, anunciando a fome, como sempre presente em corpo. Ele abaixou o olhar e se encolheu, tendo plena certeza de que o sr. Stark ouviu.

 Era impossível não ouvir.

 — Bem garoto, é uma longa e cumprida história. Quer ouviu enquanto comemos alguma coisa? Meu relógio biológico diz que já são seis e meia — Sr. Stark disse, ganhando um olhar arregalado de Peter.

 Ele estava realmente o chamando para comer. Peter, de todas as pessoas? Por quê? O que está acontecendo. O que Peter tinha de especial? Ele era apenas um garoto órfão, sem lar e completamente quebrado por dentro, o que Peter tinha que o diferenciava das demais pessoas?

 Tá. DNA aranha.  Mas o sr. Stark não podia saber disse. Certo? Ele sabia que ele era o Homem-Aranha? Mas o bilionário não agia como se soubesse. Ele já disse que não estava aqui por causa do Homem-Aranha, mas por qual motivo Peter seria importante?

 Peter foi tirado de seu pequeno transe quando Tony se levantou, o piso rangendo com a mudança de peso. Ele engoliu em seco, deixando os edredons de lado e se levantou.

 Na mesma hora foi como se todo a calor tivesse sido tirado do seu corpo e Peter estremeceu. Ele resolveu deixar isso de lado e esconder o seu tremor o máximo possível do sr. Stark.

 Ele não era muito bom nisso.

 — Vamos, conheço um ótimo lugar — Peter congelou quando os braços do homem rodearam seus ombros, lhe puxando mais para perto e lhe envolvendo num calor confortável. Ele não teve reação, nem ao menos pode lutar contra isso.

 Tony Stark estava lhe tocando, sem nojo ou receio.

 Ele realmente estava guiando-o para fora do quarto, para o corredor escuro do prédio e em direção as escadas.

 Por um momento, Peter hesito, se lembrando das conversas que Mary várias vezes teve com ele: — Nunca confie em estranhos! Ela dizia, mas Peter realmente duvida que Tony Stark, o Homem de Ferro, fosse lhe machucar, ainda mais quando Peter não esboçava nenhum tipo de ameaça.

 Além do mais, se esse fosse o caso, seu sentindo aranha estaria completamente louco agora.

  — Sr. Stark eu... eu não entendo? O que o senhor está fazendo aqui? — Peter perguntou quando ambos já estavam se aproximando do que um dia foi o hall de entrada de um prédio em bons estados, mas que agora estava caindo aos pedaços.

 O homem ao seu lado suspirou, engolindo em seco, mas se recusou a se afastar de Peter. Ele podia até mesmo sentir os dedos do sr. Stark acariciando seus ombros, um leve aperto reconfortante.

 Peter se encolheu ao toque, não exatamente hesitando, mas sim confuso. Ele não tem lembranças da última pessoa que o tocou assim, sem nenhuma malicia ou segundas intenções. Era... estranho.

 — Eu estive te procurando por um tempo... — Sr. Stark disse, deixando Peter mais confuso ainda. Havia um tom de melancolia em sua voz, cheio de dor e ansiedade, uma mistura única de sentimentos que Peter conhecia bem.

 Por algum motivo, sua garganta fechou com essas palavras, e Peter se viu obrigado a respirar pela boca. Ele olhou de soslaio para o sr. Stark, amaldiçoando os óculos escuros quando ele se viu incapaz de encontrar com os olhos do homem mais velho.

 O homem se afastou — já que ambos não podiam passar pela porta lado a lado — e seguiu para fora logo depois de Peter. Ainda um pouco confuso e agora batendo os dentes de frio, Peter foi escoltado até um carro luxuoso, preto e reluzente.

 Antes da porta abrir, ele viu seu próprio reflexo no vidro, deixando claro o quão desgrenhado e sujo Peter estava. A visão fez seu próprio estômago embrulhar em repulsa.

 Ele estremeceu com a ideia de sujar aquele carro, e por isso deu passo para trás.

 O sr. Stark pareceu confuso, olhando para Peter com uma sobrancelha levantada, questionando silenciosamente a reação do garoto. Ele alcançou o ombro do mais jovem mais uma vez, dando um aperto reconfortante e surpreendentemente quente.

 — O que foi Pete? — Peter sentiu seu coração gaguejar ao ouvir o sr. Stark chama-lo pelo apelido, somente pessoas próximas faziam isso. Era estranho, por mais que Peter se sentisse lisonjeado em ser chamado assim pelo bilionário. — Podemos conversar no carro, o caminho é meio longo. Se estiver com medo, não precisa se preocupar, posso garantir que não vou fazer nada. Eu só quero conversar

 Peter mordeu o lábio inferior, olhando para o homem por cima dos cílios, um rubor envergonhado colorindo suas bochechas. Ele se sentiu pequeno ao seu lado, o que lhe causou outro tremor e um déjà vu.

 Ele se lembrou então do homem que sempre aparece em seus sonhos.

 Peter balançou a cabeça, jogando o pensamento de lado. Ele corou mais ainda quando precisou admitir o motivo de não querer entrar no carro. Encolhendo os ombros e preferindo encarar as suas mãos enluvadas me vez do bilionário, Peter começou a falar:

 — Eu... eu vou sujar seu carro sr. Stark... — Peter admitiu, baixinho e tímido. Isso fez o aperto em seu ombro ficar mais forte.

 Longos segundos se passaram antes do homem mais velho estender a mão livre e abrir a porta do carro, gesticulando para Peter entrar.

 — Isso não é um problema Peter — Ele garantiu, chamando completamente a atenção do menor. — Além do mais, prometo a você que está mais quente lá dentro do que aqui fora

 Ainda relutante, Peter resolveu seguir o que o sr. Stark disse e entrou no carro, evitando tocar no banco ou em qualquer outra coisa com as suas mãos. A porta fechou e o homem contornou o carro rapidamente, entrando no banco do motorista.

 Assim que a chave girou na ignição, um var quente se espalhou por todo o carro, rodeando Peter, que soltou um suspiro feliz com isso.

 Essa era a magia de um aquecedor.

 Ele relaxou os ombros, mas ainda evitou tocar em alguma coisa, com medo de sujar o carro tão limpo e exuberante quanto esse. Peter se perdeu olhando ao redor, para todas as tecnologias espalhas pelo painel, sedento para descobrir o que cada um daqueles botões acionava — seus dedos coçaram com o desejo de estender a mão e aperta-los, mas Peter se segurou. Ele nem ao menos notou quando o carro saiu do meio fio e eles começaram a andar pelas ruas.

 — Cinto — O homem disse, sério, mas quando Peter olhou para ele, foi capaz de vez um sorriso leve estampado em seu rosto.

 O bilionário havia deixado os óculos escuros de lado, revelando um par de olhos cansado, mas ainda exibindo em brilho de felicidade. Peter também não pode deixar de notar a forma como os seus olhos estavam úmidos e os rastros de lágrimas secas.

 Ele realmente se sentiu preocupado e cauteloso, tentando pensar em alguma coisa que realmente faria o Homem de Ferro chorar.

 Peter hesitou antes de alcançar o cinto e passa-lo pelos seus ombros, como se isso fosse deixar um rastro de sujeira para trás; mas ele enfrentou isso só porque o sr. Stark pediu/mandou.

 Os dois logo caíram em um silêncio confortável, com apenas um leve zumbido do aquecedor o preenchendo — alto apenas para Peter, já que ele dúvida que o sr. Stark fosse ouvir.

 Peter estava se sentindo deslocado, por isso ele passou a olhar apenas para a sua mão, e não para a rua, ou para o carro, ou para o sr. Stark. Suas mãos estavam cobertas por uma luva esfarrapada, que nem ao menos servia direto; os dedos eram cortados, aquecendo apenas o necessário. Eram antigas e ele as conseguiu no abrigo, claramente destinadas a uma criança.

 O carro então parou no semáforo e o sr. Stark estendeu a mão para o porta luvas, abrindo ele apenas ao apertar um botão. Ele então puxou para fora um par de luvas limpas, de lã, que pareciam ser bem mais quentes do que as que Peter usava.

 Elas eram cinzas.

 — Aqui, pode usar — Peter sentiu um calor subir pelo seu corpo quando percebeu que ele estava ganhando um presente de Tony Stark.

 Ele, de todas as pessoas.

 — Obrigado senhor! — Ele disse, abrindo um sorriso cheio de dentes para o mais velho.

 Peter foi rápido em puxar as velhas e rasgadas luvas para fora das suas mãos, lutando quando a lã ficou presa em alguns dedos. Ele podia sentir o olhar do mais velho em seus ombros e, quando ele se virou para olhar, viu que o sr. Stark estava olhando para a sua mão direita agora descoberta.

 Peter seguiu o olhar do mais velho, olhando para a sua mão. Nela a pele era irregular, mais clara e rosada que o resto, levemente enrugada. Costuma ser pior ainda, uma cicatriz bem feia, mas a mordida da aranha aliviou um pouco ela, mas não chegou a sumir completamente.

 Seus poderes não podiam apagar completamente as cicatrizes, deixando leves marcas para trás, as linhas quase invisíveis em suas costas são uma prova disso.

 Peter se lembra de ter isso desde de que acordou no orfanato, antes de Mary e Richard... antes de Skip, mas nunca se preocupou em realmente saber o porquê de sua mão ter uma enorme cicatriz.

 — Eu não sei o que é isso — Ele disse assim que o carro voltou a andar, virando a mão direita para que o bilionário pudesse ver mais com clareza. — Parece uma marca de queimadura, mas eu não me lembro como consegui. Talvez seja de nascença ou algo assim... não sei — Ele deu de ombros, não levando o assunto muito a sério.

 O silêncio caiu sobre eles e Peter aproveitou parta tirar a outra luva, finalmente enfiando as mãos no novo par que o sr. Stark tinha lhe dado. Servia perfeitamente e ele sorriu para si mesmo quando percebeu que suas mãos estavam, pela primeira vez em quase um mês, realmente aquecidas.

 — Eu sei... — O homem disse depois de mais alguns segundos em silêncio.

 O jovem aranha se virou para encara-lo, cenho franzido e olhos arregalados, levemente confuso com o que o homem disse e ao mesmo tempo tentando entender o que significava. Se Peter não tivesse uma boa audição, ele diria que ouviu errado, mas havia uma espécie de dor e magoa em sua voz, algo que fez a frase se tornar ainda mais nítida.

 — Hum? — Peter questionou silenciosamente, não omitindo sua confusão.

 Na verdade, desde que ele acordou ele está confuso, apenas tentando entender o que estava acontecendo agora. Peter estava esperando pacientemente uma resposta, não querendo pressionar o sr. Stark a responder, mas ainda assim ansioso.

 — Eu sei como você conseguiu —Ele disse de novo e dessa vez Peter pode ver de camarote quando um par de lágrimas grossas rolaram pelas bochechas do sr. Stark.

 Seu coração começou a correr rapidamente de novo, se perguntando o que ele fez de errado para fazer Tony Stark chorar, assim, do nada. Pânico se instalou em seu corpo rapidamente e Peter abriu a boca para jogar um monte de desculpas esfarrapadas, mas foi impedido pelo próprio homem.

 — Solda quente — Ele disse, sua voz falhando no final miseravelmente. O bilionário precisou limpar a garganta para continuar. — Você era... curioso demais. Vivia pegando as coisas, mesmo as que não devia

 Peter sentiu um nó se formar em sua garganta e a confusão dominar a sua mente mais do que antes. Ele estava agora respirando pela boca de forma irregular, quase implorando pelo ar.

 O que estava acontecendo? Por que o sr. Stark estivesse falando sobre ele assim, como se o conhecesse? Como se ambos fossem amigos há vários anos? Como se ele fosse um velho conhecido que passou anos fora e agora estava de volta?

 E por que isso era tão reconfortante? Um sentimento estranho de acolhimento que fez a garganta dele fechar.

 Isso era impossível! Peter se lembraria. Ele era incapaz de esquecer um encontro anterior com Tony Stark.

 — Como... como sabe disso? — Peter perguntou em um sussurro, incerto do que dizer. Ele observou mais e mais lágrimas rolarem pelo rosto do mais velho antes que ele se julgasse incapaz de continuar dirigindo e puxasse o carro para uma vaga qualquer.

 Ele apertou um botão e trancou as portas. Peter não se incomodou com isso. Seus sentidos ainda estavam tão calmos quanto o mar. Peter queria que eles se manifestassem, lhe dissesse alguma coisa; qualquer coisa! Mas as coisas continuaram tão calmas como nunca, e ele não sabia se devia ou não confiar nos seus sentidos; aqueles que o salvaram tantas e tantas outras vezes.

  — Eu queria esperar um pouco mais — O sr. Stark disse, se virando para encara Peter frente a frente. A visão dos olhos vermelhos e cansados do homem fizeram seu estômago revirar novamente. — Até você estar confortável comigo, mas não acho que sou capaz de aguentar nem mais um segundo disso...

 Peter mordeu o lábio inferior, se sentindo sem palavras e sem opinião sobre como essa conversa estava indo, nem o que tudo isso significava. Ele olhou para o homem esperando uma resposta, uma explicação para as lágrimas e o porquê de ele estar aqui agora.

 Peter prendeu a respiração inconscientemente quando o bilionário voltou a falar, suas palavras escondendo uma dor agonizante.

 — Eu tive um filho uma vez... até que ele foi levado de mim. Eu nunca mais vi ele, mas algo dentro de mim me dizia todos os dias que, em algum lugar, ele ainda estava vivo. Foi essa esperança que me fez criar um... protocolo — O sr. Stark estava lutando para conseguir falar, lutando contra as lágrimas que não paravam de vir.

 Algo na mente de Peter clicou, a lembrança do capitão Stacy e daquela policial falando sobre o “Protocolo Bebê Desaparecido”, ao mesmo tempo que olhavam para ele com pena.

 Seu coração começou a bater violentamente, deixando Peter incapaz de fazer qualquer outra coisa que não fosse ouvir o sr. Stark. Ele lutou contra um pensamento idiota que floresceu no fundo da sua mente, pareceu tão bobo e irreal, mas ainda persistiu.

  E se... não. Não era possível. Ele podia não se lembrar de seus pais biológicos, mas a ideia de Tony Stark ser seu pai é completamente insana! Ele não podia ser filho de um gênio, do homem que ele sempre admirou desde que descobriu sua existência.

 Isso soava como uma brincadeira de mal gosto.

 — Esse protocolo iria me avisar se caso um dia, alguém com as mesmas digitais dele aparecesse. Nunca teve um resultado. Você sabe, as digitais de uma pessoa são únicas. Nem mesmo gêmeos idênticos tem as mesmas digitais — O homem fez uma pausa, secando as lágrimas que ainda caiam pelo seu rosto. Fungando, o sr. Stark tomou um momento para respirar, olhando para Peter com carinho.

 Isso enviou um arrepio por todo o corpo do menor, junto com uma picada em seus olhos. Peter sentiu sua garganta fechar, uma onda de sentimentos fortes demais para ele controlar.

 Ele optou por apenas esperar, não tendo certeza do que pensar ou fazer, enquanto seu coração martelava em seu peito com força, chegando a ser doloroso.

 Peter pensou em tudo que aconteceu na sua vida, tudo desde o orfanato; Mary e Richard, um casal que ele aprendeu a amar e a chamar de “pais”. Ele pensou em Skip, em seu sorriso cheio de malicia e nas coisas que aconteceram. Ele pensou em Phlipe, em John e Marie, nos amigos que ele afastou e nunca mais viu.

 Ele pensou no homem na sua frente. Na ideia dele ser seu pai.

 — Onze anos depois, um garoto no Queens é preso por roubar uma mercearia e pela primeira vez o protocolo é acionado. E eu estava dormindo... — Sr. Stark fez uma careta. — Eu não fui rápido o suficiente, quando cheguei na delegacia o garoto já tinha dado um jeito de deixar uma câmera fora do ar e fugir do local sem que ninguém percebesse

 Peter viu quando as lágrimas nublaram a sua visão, a realização disso tudo caindo sobre ele rapidamente. Não podia ser real, isso não podia está acontecendo.

 Ele não era digno disso! Ele era apenas uma criança quebrada, sem futuro. Peter não merecia um pai, principalmente um como Tony.

 Tantas pessoas no mundo e justamente ele, uma criança quebrada em pedaços, jogado fora por todos que ele conheceu. Ele era filho de Tony Stark. De todas as possibilidades, ele era filho de Tony Stark.

 Algo na sua mente não queria aceitar. Para ele, isso tudo era um absurdo, algo inimaginável, simplesmente impossível de acontecer. Mas ainda assim as memórias de sol, calor, areia e mar faziam bem mais sentindo agora.

 Isso enviou uma dor para o seu peito! Um dor que ele não soube como lidar. O sentimento de que ele estava perdendo alguma coisa agora estava explicado; era isso que ele estava perdendo, escondido nas profundezas da sua mente, onde apenas os seus sonhos sabiam da verdade.

 O sr. Stark morava na Califórnia até pouco tempo atrás, onde o mar está por todo o lado. Ele tinha uma casa ao lado do mar. Ele provavelmente tinha robôs também.

 Robôs que podiam pegar pelúcias de cima de uma estante.

 Os sonhos. Os sonhos que Peter sempre tem, aqueles que são felizes e que parecem lembranças de uma outra vida, remetem ao seu passado, a muito tempo esquecido.

 O homem, aquele que Peter chama de pai em seus sonhos, é o sr. Stark.

 Os robôs, os brinquedos, os toques, tudo eram lembranças distantes de uma vida que tinha sido esquecida no fundo da sua mente. Quase apagadas.

 Peter se sentiu doente, arfando de repente pelo ar, mas ao mesmo tempo perdido nos olhos do sr. Stark.

 — Achar você garoto. Essa foi a coisa mais difícil que eu já fiz — O bilionário disse, secando os olhos mais uma vez, apenas para que mais lágrimas viessem. — Nem Ultron foi tão complicado assim

 As mãos do bilionário alcançaram seu rosto, o emoldurando, e só então Peter percebeu que tinha perdido a luta contra as lágrimas, que agora caiam pelas suas bochechas livremente.

 O toque era quente, nostálgico, de uma forma que Peter não sabia como explicar. Ele engoliu em seco, ainda tendo a sensação de que tudo era um sonho lindo, mesmo que as mãos do homem estivessem ali para provar que era real.

 Sr. Stark limpou as lágrimas com os polegares.

 — Eu — Peter tentou falar, mas se viu incapaz. Ele pigarreou e tentou mais uma vez. — Eu não sei o que dizer...

 — Então diga que nunca mais vai desaparecer ou fugir de mim de novo — O sr. Stark voltou a chorar livremente e Peter se viu sendo puxando para um abraço desajeitado.

 O calor inundou seu corpo e seus sentidos e ele se deixou relaxar nos abraços fortes, apoiando a cabeça no ombro do mais velho. Ele arfou novamente por ar, desesperado para fazer aquela dor em seu peito ir embora.

 Peter não se lembra da última vez que se sentiu assim, quente e protegido, rodeado por uma abraço forte. Ele fechou os olhos, inspirando profundamente, o cheiro familiar de loção pós-barba invadindo seus sentidos. Logo, ele também estava agarrando seu casaco com todos as forças, se sentindo pela primeira vez depois de Mary e Richard, realmente seguro.

 A sensação era tão boa que Peter desejou nunca mais se afastar.

 Ele se deixou levar, nem ao menos reparando que as suas próprias lágrimas estavam molhando o casaco caro e chique do sr. Stark — ele deveria chama-lo assim?

 Em algum momento, Tony começou a afagar os cabelos de Peter, fungando. O jovem aranha percebeu então que podia tranquilamente ouvir as batidas acelerados do coração do maior, um som reconfortante e que acalmou todo o seu corpo.

 Eles ficaram assim por um tempo, longos minutos incontável. Peter estava tão confortável que ele simplesmente não se importou. Até o sr. Stark — pai? Tony? Peter realmente não sabia como chama-lo agora — quebrar o abraço, puxando para trás. Um enorme sorriso cheio de dentes no rosto, mas também com os olhos vermelhos.

 Ele alisou o cabelo de Peter com carinho, afogando os cachos amorosamente, fazendo com que ele se inclinasse mais ao toque, realmente carente de algo desse tipo; sem malicia.

 Peter nunca percebeu o quanto era bom ter um pouco de atenção, o quão amado ele se sentia enquanto o sr. Stark fazia isso. Ele desejou que o sentimento nunca fosse embora.

 — O que você prefere? Restaurante ou comer em casa? — Sr. Stark perguntou, fazendo Peter levantar uma sobrancelha. Vendo a confusão do filho, o mais velho tentou explicar. — Comer em um restaurante cercado de gente enquanto nós dois botamos o papo em dia ou comer na Torre na frente de uma televisão assistindo um seriado qualquer?

 O queixo de Peter caiu com isso, fazendo com que o mais velho dessa risada da sua reação. Ele piscou atordoado, processando o que o mais velho acabou de dizer.

 Seu coração pulou.

 — Ah... a-a-a T-Torre dos Vingadores? — Peter perguntou, engolindo em seco quando recebeu um aceno positivo do homem mais velho, junto com uma risada.

 — É aonde eu moro


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

~~ See Ya Later



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Protocolo - Bebê Desaparecido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.