Razões para viver escrita por J S Dumont


Capítulo 2
Capitulo 2 - Se sentindo especial


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, voltei com um novo cap. de "Razões para viver", obg por quem comentou no primeiro, e peço que comentem nesse também ;)
curiosa para saber o que acharam...
bgs bgs e até o proximo!



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2. Se sentindo especial

— Então garoto, por que você é tão quieto? – a garota nova, que agora sei que se chama Katniss perguntou, ela me olhou com atenção, parecia curiosa, tanto que eu sentia que ela me olhava como se eu fosse um objeto diferente, algo antes nunca visto e que ela estava louca para conhecer.

Eu ia colocar um pedaço de bolo de carne na boca, mas acabei desistindo, e então a olhei com as sobrancelhas franzidas.

— Vai, me fala sobre sua vida... – ela disse, dando de ombros. – Eu já falei muito sobre a minha!

Isso era verdade, ela ficou cerca de uns dez minutos falando sobre a vida dela sem parar, ela tinha me contado que havia se mudado há pouco tempo para cidade, sua mãe chama-se Effie, é professora de Inglês, ela tinha conseguido vaga de trabalho em uma escola da região e por isso elas se mudaram para cá, os pais dela são divorciados e o pai dela Charlie, mora em outra cidade, ela parece se dar bem com os dois, e aceitou muito bem a separação deles, ela costumava sempre passar as férias na casa do pai.

Enquanto ela falava, notei que ela movimentava as mãos de um jeito que achei interessante, ela parecia sentir cada palavra que falava, ela era intensa, e olhar para ela parecia bem mais interessante do que falar sobre minha vida que não tinha nada de legal na verdade, muito pelo contrário, se eu contar sobre minha vida em vez da conversa ser legal, provavelmente eu iria deixá-la depressiva.

— Eu não tenho o que falar da minha vida... – falei.

— Claro que tem, fale da sua família! – ela falou, apoiando o rosto em sua mão, e me olhando ainda com um sorriso no rosto, naquele momento, enquanto a olhava meu estomago despencou.

O que eu vou falar da minha família? Que os meus pais são uns drogados, que serve apenas para ficarem sentados no sofá, assistindo televisão e sendo sustentados pelo governo? Não era algo legal para se contar no primeiro dia em que você conhece uma menina, na verdade não era algo legal para se dizer nunca, então simplesmente desisti de comer e me levantei da mesa.

— Deixa para outro dia, eu vou ao banheiro, e depois vou ao armário pegar os meus livros para assistir a próxima aula... – falei, mas na verdade usei isso como desculpa apenas para me livrar da conversa.

— Mas você nem terminou de comer! – ela falou, pareceu ter ficado decepcionada.

— Eu estou sem fome! Nós nos vemos depois... – falei, desviando o olhar, pois se eu ficasse olhando para aquela garota, eu iria querer sentar novamente na mesa e ficar ali, apenas olhando ela falar.

— É então está bem! – ela respondeu, olhei para ela e vi que ela olhava para baixo, parecia mesmo desapontada com minha atitude.

Respirei fundo, antes de dar as costas e sair do refeitório, rápido, para não desistir. Eu passei pelos outros alunos e depois de sair do refeitório andei rapidamente pelo corredor, entrei no banheiro masculino e sem parar continuei caminhando até chegar á divisória, entrei nela, fechei a porta, e me sentei no vaso sanitário.

Soltei um suspiro, cruzei os braços e olhei para baixo, enquanto pensava naquela garota simpática de olhos cor de chocolates que acabei de conhecer.

Era por isso que eu nunca tinha amigos, era por isso que eu preferia ser invisível, eu sabia que quando alguém fala com a gente, depois de falar sobre eles, eles querem que a gente também fale sobre nós, e ai que era o problema, eu nunca tinha o que falar de mim, eu nunca tinha nada para falar, era até legal os ouvir falando sobre suas vidas que pareciam ser extremamente diferente da minha, mas não era legal quando eles ficavam quietos e esperavam que eu falasse algo tão legal quanto eles falaram.

Então preferia assim, ficar sem falar nada. Assim para eles eu continuava sendo um mistério e também assim, eu não sentia vergonha.

Senti os meus olhos arderem e eu quis chorar, passei uma mão nos meus olhos, enquanto algo amargo descia por minha garganta, eu sabia que era o choro. O sentimento horrível que eu tentava camuflar. Era melhor assim... Ficar longe da garota, continuar sem amigos, eu tinha que voltar a ficar invisível.

***

O que pode ser pior do que ficar sem amigos é ter que voltar para casa, e precisar encarar a realidade, mas eu precisava me conformar, era essa a minha vida e eu precisava respirar fundo e aguentar. Afinal, aceitar é sempre mais fácil.

— PEETA MELLARK DESCE LOGO AQUI E LAVA ESSA MALDITA LOUÇA! – ouvi minha mãe gritar de repente, como de costume.

 Eu soltei um suspiro cansado enquanto fechava o caderno que eu usava na escola, em seguida me levantei da cama, eu estava treinando a minha escrita, mas como sempre eu não estava tendo grandes avanços.

Sai lentamente do meu quarto e caminhei pelo corredor, senti um calafrio, quando parei na escada e avistei a minha mãe parada ali, me olhando como um animal furioso, pronto para me dilacerar, os seus olhares nunca eram diferentes, sempre muito visíveis de que eu a incomodava, talvez porque ela nunca tinha tido vontade de me ter, e eu não entendia o motivo disso, já que sempre era eu que fazia tudo para ela.

 - ANDA MOLEQUE! – ela falou já impaciente com minha demora. Comecei a descer os degraus lentamente, enquanto a olhava fixamente, mesmo querendo não conseguia desgrudar os meus olhos dos dela. – O que você estava fazendo que demorou tanto? – ela perguntou.

— Lição! – falei, e a voz quase não saiu e então ela riu.

— Lição? – ela disse e riu mais ainda, como se o que eu tivesse dito tivesse sido mesmo engraçado. – Você realmente perde seu tempo com isso? Moleque, será que você não vê que puxou a burrice do seu pai? Você não vai chegar a lugar nenhum com os estudos, isso é para playboyzinhos, é para garotos que nascem com algo, ai dentro... – ela bateu de leve seu dedo indicador na minha cabeça. – Mas você não nasceu com um cérebro útil, não tem essa capacidade, escola não vai te levar a lugar nenhum, o certo é segurar o rabo no seguro desemprego, ou você está se achando melhor do que a gente hein moleque?

— Não... – falei.

— Então vai lavar louça vai, vai fazer alguma coisa! – ela disse, empurrando-me em direção a cozinha, e enquanto eu entrava na cozinha, eu a ouvia resmungar: “Moleque idiota” e depois barulho do sofá, provavelmente ela já tinha sentado a bunda gorda dela lá.

Enquanto lavava a louça, pensei novamente naquela garota de olhos cor de chocolate, e só de lembrar-se dela eu fiquei me perguntando em pensamentos se ela iria falar comigo amanhã e se ela falasse o que eu iria dizer. Será que ela está chateada comigo? Se estivesse ela tinha a completa razão para isso...

Eu não havia visto mais ela desde que a deixei no refeitório e fui para o banheiro chorar feito um garoto idiota, tudo bem que minha atitude havia sido ridícula... Mas por um lado eu sabia que se ela não falasse comigo era melhor, só que por outro, eu queria continuar tendo ela como uma amiga. É legal ter alguém para conversar, mesmo que no meu caso eu apenas escutasse e não tivesse muito para dizer.

Após terminar de lavar louça, passei pela sala e vi que minha mãe já estava dormindo no sofá, aproveitei e fui correndo para o meu quarto, acreditando que agora o resto da noite eu teria um pouco de paz, deitei em minha cama, parei os olhos no teto, e estranhamente eu sorri.

Sim, eu sorri enquanto pensava nela, em Katniss, pela primeira vez em minha vida uma garota me notou de verdade no meio daquele bando de alunos. O que ela fez poderia ter sido algo simples, para muitos sem importância alguma, mas para mim era diferente, era algo pequeno, eu sei. Mas para mim tinha uma grande importância, a maior importância do mundo, pois pela primeira vez em toda minha vida, naquele momento, eu senti-me especial.

***

No outro dia sai de casa antes de minha mãe acordar, parecia que ela havia se levantado durante a madrugada para beber, pois assim que entrei na sala, senti que o ambiente estava com um fedor de suor misturado com bebida alcoólica, fiz uma careta, enquanto saia da sala rapidamente e ajeitava a minha mochila nas costas, hoje teria que ir a pé para a escola, então sai mais cedo de casa, pronto para caminhar.

Fora bom respirar um ar fresco, já que o de casa não estava muito bom, caminhei lentamente e cheguei quase em cima da hora na escola, pronto para seguir para a aula que eu tinha mais dificuldade, que é a de Língua Inglesa.

Como sempre, eu fui para o fundo da sala, mas diferente dos dias anteriores, hoje eu decidi olhar as carteiras em volta, a procura da garota branca e de olhos cor de chocolates, até que então eu a encontrei, ela estava sentada na ultima carteira da segunda fileira, olhei para ela por alguns segundos e notei que hoje os seus cabelos escuros estavam presos em um alto rabo de cavalo, só que diferente de ontem, hoje ela não sorria, ela apenas me olhou por poucos segundos e logo depois os seus olhos desviaram-se para o caderno dela, que já estava em cima da carteira, aberto. Ela estava chateada comigo. Eu senti isso.

Expirei o ar, tirei a mochila das costas e a coloquei no chão ao lado da minha carteira, em seguida abaixei a cabeça e sentei na penúltima carteira da primeira fileira, em poucos minutos eu senti-me tentado a olhar para ela novamente, mas eu não tive coragem, afinal, ela parecia estar brava comigo e eu não tinha certeza se seria bom eu me aproximar para pedir desculpas, pois se ela me desculpasse e depois perguntasse novamente sobre minha vida, novamente eu não teria o que dizer.

 - Esquece ela Peeta! – falei para mim mesmo.

 Fora então que uma mulher entrou na sala, eu não a conhecia, mas ela estava com uma maleta, que logo me fez imaginar que deveria ser a substituta do professor de Língua Inglesa, ele deve ter tido problemas, e faltado. Logo pensei.

— Bom dia! – ela foi falando, assim que colocou a maleta em cima da mesa do professor e seguiu para o meio da sala, ela olhou a sua volta e ainda demorou alguns minutos para a sala ficar quieta e prestar atenção nela. – Hei, alunos, oi! – ela acenou para que finalmente todos olhassem para ela. – Finalmente, bom, meu nome é Katherine, serei a nova professora de vocês de Língua Inglesa!

Escutei cochichos na sala, mas não olhei a minha volta, continuei observando aquela mulher, ela deveria ter trinta anos no máximo, ela era branca, de olhos e cabelos castanhos, os cabelos estavam presos em um coque e ela tinha um sorriso bonito, eu fui descendo os meus olhos para observar a sua blusa social branca e a calça social cinza, ela usava um sapato preto de salto alto. Logo pensei no fato de como as mulheres gostavam de usar salto alto, com exceção de minha mãe que só vivia arrastando um chinelo velho pela casa.

Vi quando uma das alunas mais inteligentes da sala levantou a mão, nunca decorei o nome dela, mas eu sabia que ela sabia ler como ninguém, ás vezes eu a via com livros enormes na mão e ficava me perguntando quando conseguiria ler assim como ela.

— O que aconteceu com o nosso professor? – ela perguntou. Katherine então sorriu.

— Ele foi promovido, agora ele trabalhará como orientador e não mais como professor... – ela explicou.

Eu gostava do professor de Língua Inglesa, embora eu não escutasse quase nada do que ele falava.

— Bom, vamos continuar da onde o professor parou... – ela disse, abrindo sua maleta e tirando o livro de língua inglesa de lá de dentro, ela o abriu e ficou calada por alguns segundos, apenas analisando as páginas, até enfim, continuar. – Abram o livro na página cento e doze... – ela mandou.

Olhei a minha volta para observar os alunos abrindo os livros na pagina pedida pela professora, suspirei, comecei a abrir minha mochila, peguei o livro, mas não estava muito animado a abri-lo.

Ouvi o barulho do salto alto da professora batendo no chão da sala, notei que ela estava se aproximando de mim, subi o olhar rapidamente para perceber que ela estava olhando exatamente em minha direção. Aquilo me deixou nervoso, afinal, as pessoas quase nunca me encaravam da forma que ela estava me encarando.

— Não vai abrir o livro? – ela perguntou para mim.

— S-sim! – falei.

— Ótimo, abra e leia o poema para nós! – ela falou e no mesmo minuto meu coração disparou fortemente, senti o meu rosto esquentar e até as minhas mãos tremeram, pensei em dizer para professora que eu não queria ler, mas antes que as palavras saíssem de minha boca, ela já tinha se afastado.

Engoli em seco, abri o livro na página em que ela pediu e olhei para o poema, as palavras pareciam dançar diante dos meus olhos e aquilo me deixou extremamente nervoso.

— Hei, pode ler! – ela falou, e mesmo sem olhar para ela eu sabia que ela estava falando comigo.

Respirei fundo, peguei o livro na mão e notei que minhas mãos estavam tremendo, eu olhei a minha volta, e vi que vários pares de olhos estavam olhando para mim, inclusive o de Katniss, agora eu não estava invisível, e não estava sendo nada legal ser notado.

Voltei a olhar para o livro e tentei ler as primeiras palavras:

— U-u-um-ma pa-pa-pala-lav-vra, uma palavra m-mo-morre, q-quaando é, é, é di-di-ta! – gaguejei em voz alta, e senti o meu rosto inteiro esquentar, logo ouvi a risada dos alunos, e eu sabia porquê eles estavam rindo, porque eu era burro, não sabia ler direito, e agora todos sabiam disso.

— Parem! – a professora mandou, e os alunos imediatamente pararam de rir, a professora olhou para mim, com um olhar sério. – Continue! – ela pediu.

Respirei fundo novamente, e até senti uma gota de suor escorrer por minha testa, eu já estava extremamente nervoso, limpei o suor, passei a mão no meu cabelo e tentei então continuar a leitura:

— Dir-se-ia, po-po-pois eu di-digo, que ela na-na-nasce ne-ne-nesse dia! – continuei, gaguejando.

— Professora, desse jeito, nós vamos terminar esse poema amanhã! – ouvi uma voz de um garoto reclamar, mas nem levantei o rosto para ver quem era. Novamente escutei risadas, risadas que fizeram meu coração doer, doer o suficiente para eu sentir a extrema necessidade de fugir, eu fechei o livro, já irritado e o joguei dentro da mochila.

— Eu já mandei vocês pararem de rir, vocês não estão sendo nada legais com o seu colega! – ela reclamou, mas a sala continuou cochichando e rindo, e já eu não aguentei mais ficar ali, levantei-me da carteira, peguei a mochila e sai quase correndo da sala, enquanto notava que todos estavam olhando para mim, rindo, com exceção dela, os meus olhos pararam em Katniss por alguns segundos e vi que ela era uma das poucas, que não ria de mim.

***

A professora me chamou, mas eu não voltei atrás, decidi sair da sala o mais depressa possível, eu só me senti melhor quando eu já estava bem longe.  Agora no pátio da escola, sentei em uma das arquibancadas, como era horário de aula, o local estava todo vazio, e só então pude me dar conta de como o pátio da escola era grande, quando está repleto de alunos parecia que ele diminuía de tamanho.

Cruzei os braços e olhei para baixo, nunca havia me sentido tão burro em toda minha vida, naquele momento eu senti que tudo que minha mãe falava era verdadeiro, que alguns nasciam para serem inteligentes, pois seus cérebros eram mais evoluídos do que de outras pessoas, essas que não tinham cérebros evoluídos nasciam para serem apenas só mais um, um ser humano que ia ser dominado pela classe alta, que nunca conseguiria ser mais nada do que um simples fantoche nas mãos da classe dominante. Ou isso, ou ser sustentado pelo governo que é o caso dos meus pais, que entrou no seguro desemprego e não saiu nunca mais dele.

Senti os meus olhos marejarem, mas me segurei para não derramar as lágrimas de vergonha, eu não gostava de chorar, pois para mim o choro não servia para nada, a não ser nos deixar mais tristes e fracos. E eu acho que já estava triste e fraco o suficiente, não precisava de mais.

— Ah você está aqui, já te procurei pela escola inteira! – ouvi uma voz feminina falar a minha frente, assustado eu olhei para cima e então avistei Katniss olhando para mim, com um sorriso de leve no rosto, não parecia brava, e não parecia estar ali para rir da minha cara.

— Você não deveria estar na aula? – perguntei.

— Ué, se você saiu correndo, por que eu não podia sair também? – ela falou e se sentou ao meu lado, encarei-a com um olhar envergonhado, afinal, ela havia visto todo o vexame que passei na sala de aula.

— Não foi de você que a sala toda deu risada... – falei, desconcertado, desviei o olhar e encarei os meus pés.

— Aquela professora foi mó sem noção, não sei porquê escolheu você para ler o poema, foi tão obvio o que aconteceu, você ficou com vergonha, é tímido por isso gaguejou! – ela falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo, então eu a olhei.

— Na verdade, eu que não sei ler direito, nunca consegui aprender, sou burro! – falei, com vergonha de admitir isso para ela, tanto que não tive coragem mais nem de olhá-la. – É como minha a mãe fala a escola não vai me levar a nada, pois a escola é só para pessoas inteligentes, se não aprendi a ler até hoje, nunca vou aprender a ler...

— Como? – ela disse, eu olhei para ela e vi que ela me olhava com os lábios entreabertos. – Sério que sua mãe fala isso? – ela perguntou, mordi os lábios e concordei com a cabeça, acredito que meu rosto deva estar todo vermelho. – Mas é claro que você pode aprender, para de se chamar de burro que você não é, todo mundo tem dificuldade em alguma coisa, eu, por exemplo, tenho dificuldade em história, na verdade falto cochilar em quase todas as aulas, é um tédio! – ela revirou os olhos.

— Você pelo menos sabe ler! – falei.

— Mas você também pode aprender, só não pode desistir e se entregar, qual é, está na cara que você é inteligente, aposto que se eu te ensinar você aprende rapidinho... – ela falou.

Encarei-a com as sobrancelhas franzidas.

— Você vai me ensinar? – eu perguntei surpreso com a atitude dela.

— Sim, e em pouco tempo, aposto que você vai estar lendo mais rápido do que eu! – ela falou, se levantando e ficando parada bem na minha frente. – E nem pense em dizer não viu? Eu sou uma garota mimada que não aceita nãos! – ela disse, me fazendo sorrir, primeiro pelo fato dela ser engraçada e segundo porque nunca ninguém havia sido tão legal comigo como ela estava sendo.

— Obrigado! – agradeci, olhando-a fixamente, ela sorriu para mim. – Você nem deveria querer me ajudar, não fui legal com você ontem! – acrescentei, olhando para baixo.

— Relaxe, todos tem seu dia ruim, vamos esquecer, certo? Então, a partir de amanhã, depois da aula, eu vou te levar para minha casa, e lá você vai entrar no mundo dos livros...

Então eu a olhei com um leve sorriso no rosto.

***

Katniss é uma garota de classe média, ela não mora muito longe da escola, só são três quadras, o bairro em que ela vive não era ruim, ele era limpo e vi que as pessoas que andavam por ali eram bem arrumadas, sorridentes e simpáticas, gostavam de dar boa tarde e muitas estavam levando os seus cachorros para passear, olhá-los me fez me lembrar de que quando eu tinha seis a oito anos eu vivia insistindo que queria ter um cachorro, mas a minha mãe nunca deixou, pois dizia que era mais uma boca para alimentar e mais sujeira para limpar, segundo ela eles também fedia, mas tenho certeza de que eles fediam bem menos do que ela.

Assim que cheguei em frente a casa de Katniss, notei que as casas eram todas parecidas, nenhuma delas eram enormes, mas também não era pequena, só que o que achei mais legal da casa dela é que lá dentro ela era bem limpa, tinha um cheiro bom, os moveis eram novos e tudo era bem arrumado, eu não costumava entrar em lugares assim, e também o local não dava nem para comparar com o meu bairro.

O meu bairro sempre fora muito sujo, as casas eram feias, e nas ruas não encontrávamos pessoas alegres, andando com os seus cachorros e muito menos bem vestidas, todos eram parecidos com os meus pais, e os poucos que sorriam ali, eram os homens mal vestidos que ficavam em grupos na rua, eles passavam o dia todo fumando cigarro e rindo de tudo. Era o tal dos “desocupados”, esses não precisavam de muito para ser felizes, ou achavam que eram felizes.

— Pode sentar! – Katniss disse, assim que paramos na sala de estar dela, reparei que ela tem um sofá branco, cheio de almofadas, ele tinha cheiro de novo, logo lembrei que ela tinha acabado de se mudar.

Sentei e olhei em volta, reparei que a televisão dela era duas vezes maior que a minha.

— Mãe, chegamos! – ela gritou, perto da porta da sala.

— Chegamos? – ouvi uma voz feminina falar, e então uma mulher entrou na sala, ela parecia ter em torno de quarenta anos, é muito branca, de olhos azuis claros, cabelos loiros e curtos, é esbelta e alta, o rosto lembra um pouco a Katniss. Os olhos dela pararam em mim, ela parecia confusa.

— É esse é meu novo amigo, o Peeta! – ela falou então ela sorriu de uma forma simpática.

— Oi!  - ela disse, se aproximando, levantei do sofá para cumprimentá-la. – Meu nome é Effie, sou mãe da Katniss!

— Ela me falou sobre a senhora... – comentei, cumprimentando-a com o aperto de mão.

— Vamos estudar língua inglesa! – Katniss comentou.

— Ah sério? Você falou para ele que sou professora de língua inglesa? Se vocês precisarem... – ela começou.

— Já sei mãe! – Katniss interrompeu.

— Bom, vou preparar algo para vocês comerem, usem a sala de jantar, será melhor para estudarem! – ela falou, parecia não se importar de eu estar na casa dela, muito pelo contrário, parecia contente, bem diferente da minha mãe, que provavelmente expulsaria Katniss aos gritos, e ainda a xingaria de vadia.

Effie se virou e então saiu da sala de estar, então voltei a olhar para Katniss.

— Você tem uma mãe legal! – comentei para ela.

— É ela é, mas às vezes ela me tira do sério, só que é normal né, são coisas de mãe... – ela falou se sentando no sofá e jogando sua mochila no chão. Voltei a me sentar também, enquanto ainda a olhava fixamente. – A sua também deve encher o saco às vezes não é?...

Eu queria dizer: “na verdade ela enche o saco o tempo todo”, mas não consegui, apenas assenti com a cabeça, voltando a olhar a minha volta, achando cada parte daquela casa muito legal.

Continua...


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