Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 95
Todos Podem Sonhar Com a Família Perfeita, Não Podem?


Notas iniciais do capítulo

Quem pediu a noite de cinema?
E aqui encerra a saga de Gibbs tomando conta de Sophie, e claro... saberão o que Kelly tinha em mente!!
Boa leitura!



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Não tinha jeito. A situação de Sophie era deplorável. Não tinha uma parte dela que não estava coberta de pó.

— Mamãe, eu estou com sono. – Ela murmurou.

— Agora você está com sono? Até cinco minutos atrás você queria ficar no porão trabalhando com o seu pai. – Ralhei com ela enquanto procurava na mala o que iria precisar para dar um verdadeiro banho nela.

— Mas mamãe.... – Ela continuou.

Ouvi Kelly abafar uma risada, e quando olhei na sua direção ela disfarçou em uma tosse. Mas dava para ver que ela estava adorando toda aquela situação.

— Sophie, direto para o banheiro. – Ordenei para uma birrenta ruiva. – E nada de ficar murmurando baixo por aí igual a .... – Tornei a falar.

Leroy Jethro Gibbs! – Foi Kelly quem manifestou meu pensamento.

— Por que todo mundo fica me comparando com meus pais?! – Sophie choramingou de dentro do banheiro.

— Eu não vou falar de novo!! – Alertei minha filha.

Ainda procurava o bendito do creme para desembaraçar quando Kelly parou do meu lado e me encarava curiosa.

— Encarar é falta de educação, Leroy Jethro Gibbs. – Chamei-a da mesma forma que ela tinha chamado a irmã.

Kelly deu um sorriso e me fez mais simples e mais difícil das perguntas.

— E você, vai ficar desse jeito?

Encarei o meu estado no espelho.

— Vou dar banho em Sophie e vou embora. Nada que eu não resolva. – Respondi sincera.

— Você pode ficar por aqui... – Ela disse sem mais nem menos.

Olhei de volta para ela.

— Encarar é falta de educação. – Ela retrucou meu olhar com a mesma resposta que tinha dado.

— Não, Kelly. Não vou ficar. Venho buscar Sophie no domingo, como tinha combinado com seu pai.

— Tem espaço para você dormir aqui. E, por mais que não seja a sua mansão de Georgetown, é confortável...

Minhas malas estavam no meu carro. Eu tinha dispensado o meu detalhamento de segurança. Mas não poderia ficar. Já tinha ficado tempo demais, quando me puxaram para a famigerada carpintaria.

— Kelly....

— Bem, se você não tiver roupa nenhuma, pode pegar alguma do meu pai. Ele não pareceu se importar quando eu e Sophie pegamos os moletons dele. – Ela deu de ombros e foi para o quarto dela.

Mal sabe Kelly que o meu “pijama” é uma das camisetas de Jethro, a velha blusa que eu peguei naquela manhã em Marselha.

Finalmente achei o creme e pude acalmar a ferinha que gritava por mim.

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Estava escutando Jen xingando Sophie enquanto dava banho nela. E cada vez que a mãe ralhava, minha caçula apenas retrucava, “Mas mamãe.”

Subi as escadas devagar, e vi Kelly parada na porta de seu quarto, ela tinha um sorriso divertido no rosto.

— Conheço essa cara, Kelly. O que você tem nessa cabeça? – Disparei parando do lado dela.

— Nada. – Seu sorriso aumentou, principalmente porque as reclamações de Sophie ficaram mais altas. – Foi diferente, hoje... – Ela ponderou pensativa.

— Sim, foi. – Respondi.

— Acho que eu nunca poderia imaginar o que aconteceu. Mas eu gostei...

Olhei de novo para Kelly e estudei o seu rosto. Ela tinha que estar planejando algo.

— Não me olhe assim, Marine! Não tem nada de errado. Eu só estou.... feliz! – Ela jogou as mãos para o alto. – E, bem, eu tomei conta do banheiro da sua suíte.

— Notei...

— Mas o senhor nem foi lá! – Ela protestou.

— Você não está coberta de poeira...

— Droga. Mas mudando de assunto. Eu convidei a Jen para ficar.

Tinha pensado nisso. Mas ela já havia dado uma desculpa para não ficar mais cedo. Dormir aqui seria fora de cogitação.

Como eu não respondi, Kelly continuou.

— Ela disse que só vai acabar de arrumar a Sophie e vai para casa. Mas ela vai ficar lá sozinha? Que ideia! Ela bem que poderia ficar! – E ela me olhou com significado dessa vez.

— Se ela disse não, Kelly...

— Ela disse não mais cedo, e ficou. E viu como foi? Por que ela teria que ir embora agora? Olha a hora, são quase uma e meia da manhã e a filha dela está aqui!

— Eu não decido por ela, Kelly.

— Mas você pode convencê-la. Você sabe fazer isso!

— Você está querendo demais, Kelly.

— Talvez eu só esteja tentando abrir seus olhos, Leroy! – E ela entrou para o quarto. – Se ela ficar, eu posso ceder o meu quarto, durmo com a Sophie. Ou ela pode dormir com o senhor... – Ela fez cara de inocente e disse que tinha que olhar algo. – Ah, quando a Soph sair, pede para ela dar um pulinho aqui, quero conversar com ela!

Antes que eu pudesse responder, Jen e Sophie saíram do banheiro. O cabelo da minha filha, devidamente seco e arrumado, muito diferente do que estava pela manhã.

— Agora meu cabelo está apresentável? – Ela perguntou em um muxoxo.

— Agora está. – Eu respondi indo na sua direção e dando um beijo em sua testa. – Kelly quer conversar com você.

— Tá bom... – A mini ruiva me deu um aceno de cabeça e bateu na porta do quarto da irmã, perguntando se poderia entrar. Algo, definitivamente, que aprendeu com a mãe.

Jen rapidamente entrou no quarto para guardar as coisas de Soph. Sua aparência um pouco pior do que já estava, devido ao vapor do banheiro. Eu parei na porta e a vi organizando as coisas e a cama de Sophie.

Cocei a garganta para chamar a sua atenção.

— Eu já sabia que você estava aí, Jethro. Reconheço a sua respiração. – Ela disse se virando.

— Então, por que não falou nada?

— Estava esperando para saber o que você quer, a casa é sua. – Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e buscou por sua bolsa.

— Fique. – Eu disse.

Ela me encarou com as sobrancelhas levantadas.

— Não. – Foi a sua resposta seca.

— Está tarde, e você não vai dirigir sozinha até sua casa e passar o restante do final de semana lá, sem ninguém.

— Jethro... não. – Ela hesitou. E era disso que eu precisava. Precisava vê-la quebrar a fachada de Rainha do Gelo que ela havia construído com perfeição nos últimos meses.

— Uma noite, Jen. Que mal faz?

— Para mim e para você? Nenhum. Para Kelly e Sophie? Todo. – Foi a resposta que recebi.

— Kelly vai entender.

— Mas a Sophie não. Ela não vai saber separar isso aqui da realidade. Ela...

— Ela me disse que já notou que nós dois não estamos conversando normalmente.

Jen engoliu em seco. A culpa era nossa. Mas ela parecia se sentir ainda mais culpada.

— Fique e ela vai ver que não estamos brigando.

— Uma noite, um final de semana, não mudam nada.

— Mudam tudo, Jen. Tudo.

A respiração dela ficou presa na garganta. Falar do passado doía muito mais nela.

— E então?

A resposta que eu queria não veio dela, mas de uma ação de Sophie, que mais dormindo que acordada, simplesmente escorou na minha perna e entregou para a mãe uma camisa e uma calça minha.

— Para você, mamãe. Você também tem que tomar banho.

Eu abracei os ombros da minha caçula e olhei para Jen. Ela seria capaz de falar não, agora?

— Tudo bem, eu vou tomar banho, guarde um pedaço da cama para mim. – Ela deu um beijo no alto da cabeça da filha e foi em direção ao banheiro.

— Não... minha cama não é tão grande quanto a sua. A do papai é que é grande! – Ela disse com um enorme bocejo. Enquanto eu a ajeitava na cama.

— Vai dormir então... – Jen tentou sair da saia justa que nossa filha tinha nos colocado. – Vou dormir com a Kelly.

— Kells já tá dormindo....

E eu notei que isso era o plano que Kelly tinha em sua mente.

— Sofá... foi tudo o que Jen disse quando fechou a porta do quarto de Sophie atrás de nós e rumou para o banheiro.

— Nem pensar. Você está chegando de viagem.

Recebi uma encarada completa de Jen, com direito a bochechas vermelhas e olhos faiscando.

— Se a Sophie acordar de noite, e descer para beber água, ela vai te ver lá, e como você vai explicar isso? – Eu disse.

E pela primeira vez, em muito tempo, eu vi Jenny Shepard ficar sem palavras. Definitivamente, Sophie era o seu novo ponto fraco.

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Chefinha: Eu sei que vocês ainda estão acordados!

AMETony: Isso é sério? São quase duas da manhã!

Chefinha: SIM! Importante!

LabQueen: Novidades?

Chefinha: Interessantíssimas!!!

MossadNinja: O que aconteceu?

ElfLord: O que eu perdi?

AutopyGremlin: Mas isso lá são horas?!

Chefinha: Jenny chegou mais cedo.

AMETony: Seu pai tá vivo?

LabQueen: Meu Deus! Ela viu o cabelo da Sophie!

Chefinha: Sim... ela viu. E sim, meu pai está vivo.

AMETony: Mas vivo quanto?

Chefinha: Tony, pode parar. E vivo, bem vivo. Ela não se importou.

LabQueen: NÃO?!

MossadNinja: Sério?! A Jenny viu o Pingo de Gente parecendo um leão e não se importou??

ElfLord: A Diretora aceitou normalmente?

AutopsyGremilin: Deve ser o jetlag... por isso ela ficou tão tranquila.

Chefinha: Sim. E até riu da situação!

AMETony: Estamos falando a mesma Jenny?!

LabQueen: Da Jenny, JENNY??

Chefinha: Sim... Ela ainda tá aqui...

LabQueen: Conte com detalhes. Eu preciso saber que esses dois ainda tem jeito.

Chefinha: Com detalhes não vai dar, mas saibam que ela chegou e viu que nós três estávamos no porão. Depois de ser convencida por meu pai, ela acabou por ficar. E vai dormir aqui.

LabQueen: ONDE?

AMETony: ONDE?

Chefinha: É aí que o meu plano começou a funcionar...

ElfLord: Que parte?

Chefinha: a parte mais convincente....

AutopsyGremlin: Não é justo envolver uma criança em um plano desses. Mas o que ela tem que fazer mesmo?

MossadNinja: Você colocou o Pingo de Gente para executar?

Chefinha: Pode apostar que sim. Como dizer não a uma garotinha ruiva, caindo de sono? Ainda por cima, depois de ficar uma semana sem vê-la?

AMETony: Você, Kelly, é terrível.

LabQueen: E a Sophie fez tudo direitinho?

Chefinha: Até agora sim...

ElfLord: Será justo colocar uma criança para fazer isso?

AMETony: Ela não é uma criança qualquer, McTonto. É a filha deles! Eles vão ceder de vez em quando!

LabQueen: Ainda mais que ela sabe fazer carinha de pidona!

MossadNinja: Ótimo..., mas onde estamos agora? A Coronel ainda é oficialmente a noiva...

Chefinha: É, eu sei disso..., mas nessa semana, tenho certeza de que meu pai não ligou para ela.

AMETony: Explique.

Chefinha: Soph disse com todas as letras que não gosta dela. Meu pai não iria arriscar que a outra ruiva ficasse sabendo que a Coronel apareceu por aqui...

AutopsyGremlin: Sophie é a nossa maior arma!

MossadNinja: Mas o que ela fez?

Chefinha: Passou o recado para frente.

AMETony: Que recado?

Chefinha: Pensem bem, você chegou de viagem, sua filha tá parecendo que veio da idade das cavernas, você está morta de cansada, na casa do seu ex parceiro...

AMETony: mais que parceiros, né?

MossadNinja: Pelo amor de Deus, Tony!!

Chefinha: posso continuar?

LabQueen: Vai logo, que eu já fiz a pipoca.

Chefinha: Aí você já passou um bom pedaço da noite ali. De repente, você está pronta para ir embora para a sua mansão enorme e vazia, quando a sua filhinha linda chega com uma pilha de roupas e te entrega, falando que você também merece descansar...

ElfLord: Mas ela deu alguma desculpa?

Chefinha: Sim. E Sophie respondeu na hora. Disse que a mãe não cabia na cama dela, mas que a cama do papai era maior...

MossadNinja: É incrível como ela faz isso.

ElfLord: E agora?

Chefinha: A casa está escura..., mas duvido que ela esteja dormindo no sofá... não ouvi ninguém descer as escadas...

LabQueen: Eu precisava dessas fotos... Para esfregar na cara da coronel...

Chefinha: Calma... tudo a seu tempo... eu só preciso de uma coisinha agora.

AMETony: Que é?

Chefinha: Colocar em uma mesma sala: Mala Sem Alça, Agente Especial Gibbs, Diretora Shepard, Sophie e euzinha.

AMETony: Isso vai ser muito bom de assistir!

AutopsyGremlin: Tomara que a sala fique inteira depois dessa reunião...

MossadNinja: Se a Coronel não sumir depois dessa....

LabQueen: Eu sei sumir com ela....

ElfLord: E isso será quando?

Chefinha: Tudo ao seu tempo, Lorde Elfo. Só queria passar a fofoca, sabe como é... vai que isso chega perto dos ouvidos de uma certa mala... boa noite para vocês...

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Fiquei parada na porta do quarto contemplando a cama. Jethro ainda estava no banho, o que significava que eu ainda tinha chances de ir embora.

Meu estômago dava voltas... tinha quanto tempo que nós dois não dividíamos a mesma cama? A sensação era a mesma do primeiro dia de Marselha.

Resolvi que nem pela minha filha eu faria isso. Peguei um cobertor e um travesseiro e estava indo dormir no sofá quando uma mão fechou a porta com um suave click.

— Você não vai para o sofá. – Foi o que ele disse sério.

— E não vou dormir na sua cama. Kelly pode ter aprontado essa, mas eu não vou cair em mais nenhuma que venha dela.

— Você não vai para o sofá e as duas outras camas dessa casa estão ocupadas. Só sobrou essa. – Jethro disse, ainda parado bloqueando a porta.

— Tenho o chão. – Respondi seca.

— Você nunca foi muito adepta de dormir no chão, Jen. Na cadeira sim. No chão nunca.

E ele trouxe Positano de volta....

— Vamos, eu não mordo. – Ele passou por mim, e tomou o seu lugar na cama.

Passei a mão por meu pescoço.

— Na verdade, Jethro, sim. Você morde.

Ele deu um sorriso triunfante de lado e me encarou. Apontando o lado vazio da cama com um menear de cabeça.

Caminhei em direção à cama e me ajeitei de maneira a ficar o mais distante dele quanto fosse possível. Mas era difícil, a cama não era tão grande, ele ocupava mais da metade dela, e, tinha aquela atração irresistível que emana dele e me puxa como se fosse gravidade.

E eu sabia de uma única coisa, essa noite não iria fazer nenhum bem para mim e para os sentimentos que tento enterrar a tanto tempo.

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Jen pode até ter resistido. Ter se deitado o mais longe de mim que fosse possível e colocado um travesseiro entre nós. Mas, no fim, eu sabia que ela acabaria assim. Bem assim. Deitada no meu peito, me usando como seu travesseiro particular.

Dormir nunca foi uma de minhas preferências. Nessa semana que Sophie passou aqui, tudo o que fiz foi fingir que dormia, tinha medo de que algo acontecesse com ela durante a noite. Mas a pestinha tinha o sono pesado, dormia a noite toda, com a exceção da primeira noite...

Às vezes eu ia no quarto dela só para conferir se tudo estava bem e me pegava observando como ela dormia. De lado, um tornozelo cruzado com o outro, abraçando o travesseiro ou algum de seus bichos de pelúcia. Exatamente como mãe.

E nessa noite, dormir foi ainda mais difícil. Mesmo depois de toda a bagunça que fizemos no porão. Ter Jen de novo ao meu lado, depois de quase um ano, também não estava ajudando. Aquela estranha força que parecia nos atrair estava presente. Mais forte do que nunca. E eu tive que resistir em não a puxar na minha direção, e deixá-la sob meu abraço.

Estava acordado, fitando o teto escuro, atento aos sons que ouvia. Escutava Kelly digitando no computador, mesmo com a porta fechada. Podia ouvir que Sophie nem se mexia na cama. E tinha o ressonar de Jen ao meu lado.

Olhei para ela quando ela murmurou qualquer coisa ininteligível. Ela remexeu mais uma vez. Isso era incomum dela. Chamou pela filha e virou de lado. Para o meu lado.

Mais por um antigo instinto do que por qualquer outra coisa, afaguei seu ombro, como se quisesse dizer que tudo ia ficar bem. E ela respondeu ao meu toque. Disse meu nome e, acabou aqui. Deitada em meu peito. Como ela fez tantas vezes enquanto estávamos na Europa.

Abracei a sua cintura. Deixando-a mais confortável. E tentei imaginar a cara dela quando acordasse. Com muito sono, um tanto desorientada pelo lugar diferente. E com as bochechas vermelhas, sabendo que tinha sido ela quem tinha se virado e me usado de travesseiro.

É, e eu sentia falta daquelas bochechas vermelhas...

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Eu acordei mais cedo do que seria permitido para um sábado de folga. Todavia tinha um motivo para isso. O mais silenciosamente que consegui, cheguei no alto da escada, definitivamente ninguém dormira no sofá. A porta do quarto de papai ainda estava fechada e, tendo em vista que eu não escutava ninguém zanzando pela casa, ele ainda estava lá dentro, com ela.

Coronel Mann, seus dias de futura Sra. Gibbs, estão contados!!!

Assim, eu fui acordar minha adorada irmãzinha que tinha um papel muito importante nesse meu plano.

Quando abri a porta, a pobrezinha dormia tranquilamente abraçada aos bichinhos dela. Era maldade acordá-la, mas também era necessário.

— Sophie... – Chamei baixinho.

E a pestinha nem se mexeu.

— Soph... – Falei mais alto, mas eu não poderia gritar, ou eu acordava o casal do outro lado do corredor.

— Eu... – Ela respondeu sem abrir os olhos.

— Preciso da sua ajuda...

— Que horas.... – Ela não terminou devido ao enorme bocejo.

— É cedo...

— É sábado.

— Esqueceu que a sua mãe está aqui....

Isso funcionou. Ela já ia gritando quando tive que pedir que ela ficasse quietinha.

— Lembra do nosso plano?

— Sim... você falou dele ontem...

— Hora de você entrar em ação, de novo.

— E como? – O sorriso de minha irmã me dizia que ela adorava uma bagunça.

— Vamos fazer o café da manhã e você vai entregar ao papai e à Jenny.

— Onde eles estão...

— No quarto do papai.

— Sério?! – Ela arregalou os olhos, agora sim, plenamente desperta.

Eu só meneei a cabeça.

— Então vamos. – Ela sussurrou e me puxou o mais silenciosamente pela escada abaixo.

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Eu não fazia ideia da hora, sei que, para meus padrões era tarde. Mas tinha tanto tempo que eu não dormia...

Dormir. Eu tinha conseguido dormir. E pelo visto tinha conseguido pela noite toda.

Fiz menção de me levantar, e foi quando eu senti um peso em meu peito.

Olhei para baixo e vi uma cabeleira ruiva. E a noite anterior passou diante de mim.

Ela tinha aparecido e tinha ficado. Por duas vezes. E agora ela estava assim, com a cabeça em meu peito e abraçava apertado a minha cintura.

Falando em abraçar.... minha mão deve ter parado ali por acidente. Mas ela está dormindo mesmo...

Fiquei observando Jen dormir. Por alguns minutos me esquecendo de onde estava, de tudo o que acontecia entre nós e me permiti voltar ao passado, e a todas as manhãs desde Marselha que eu acordei com ela assim.

E, sem querer, eu repassei minha vida desde Paris. Toda ela. Os seis anos longe dela. O dia em que eu a reencontrei no MTAC, o dia do sequestro de Sophie e quando eu fiquei sabendo sobre a nossa filha. A conversa no escritório dela....

A conversa. Aquela conversa. Nossa promessa que iríamos tentar superar tudo pelas meninas, mas, principalmente, por nós.

E depois... dessa vez eu nem poderia dizer que ela tenha escondido tudo de mim, porque ela tentou me alertar... da mesma maneira que me alertou sobre a existência da Sophie e eu só fui acreditar quando eu a vi.

Nós dois estávamos noivos antes da explosão. Estávamos juntos.

E como que lendo os meus pensamentos, Jen se mexeu, virou a cabeça de lado e o cordão que eu já tinha notado que ela carregava apareceu. A corrente era comprida demais para alguém tão pequena e com cuidado eu a puxei.

E, na outra ponta não tinha um pingente ou qualquer coisa parecida. Tinha duas alianças. As alianças que usamos como disfarce em Paris. As nossas alianças. Eu peguei a menor. Nossas iniciais gravadas ali. E uma data. O dia em que nos reconciliamos na sala dela.

E eu pensando que tudo aquilo.... Isso explicava muita coisa, inclusive os olhares desapontados de Abby e Ziva. A distância que Jen tomou de mim quando a Hollis... As tiradas de Kelly. Todas as defesas que Sophie fez da mãe.

Estava olhando para as alianças atônito. Eu tinha que fazer algo e rápido... antes que eu perdesse Jen de vez. Seja para qualquer outro cara ou para a missão que ela trabalhava tão secretamente.

Uma batida na porta me trouxe para a realidade.

Sophie, ainda de pijamas e pantufas e um tanto descabelada, vinha com uma bandeja de café da manhã. Cutuquei Jen sem soltar o abraço.

Ela se remexeu, me pediu mais cinco minutos. Eu sorri para a Ruiva parada ao pé da cama.

— Vocês duas são iguaizinhas! – Eu disse um pouco mais alto.

Ela gargalhou. Aquela risada de criança que é sempre gostosa de se ouvir, ainda mais pela manhã.

Jenny também ouviu, mas não tinha acordado por inteiro.

— Nossa filha trouxe o café da manhã... – Murmurei no ouvido dela.

A essa altura, Sophie já tinha colocado a bandeja no pé da cama e se sentado por lá, achando muita graça de a mãe demorar para despertar.

Jen começou a murmurar o meu nome, o da filha e algo como isso ser impossível, quando ela despertou de vez e com um pulo.

— SOPHIE?!

— Bom dia mamãe! – Ela tinha um lindo sorriso no rosto. – Bom dia papai!

— Dia, Soph. – Respondi a ela e olhei para Jen.

Notei que Jen brigava com os pensamentos, claramente tentando se explicar para nossa filha.

— Dormiu bem? Deu pra descansar? O papai é um travesseiro confortável, né? – A Ruivinha continuou com as melhores intenções.

Jenny, por sua vez, ficou com a cara toda vermelha. O tom mais escarlate que eu já tinha visto. Eu não consegui segurar a gargalhada ao ouvir Sophie me chamando de travesseiro.

— Sophie... a mamãe... – Mas ela não conseguia formular uma desculpa coerente sobre tudo isso. Em completo desespero, ela olhou para mim, pedindo por ajuda.

Eu poderia dizer qualquer baboseira que a pequena acreditaria em mim. Mas não mais. Não quando eu sabia o que eu tinha perdido.

Jen tinha se sentado na cama e tentava arrumar o cabelo, nervosa com a situação. Sophie tinha se esgueirado pelas cobertas e estava no colo da mãe, falando que se a gente não comesse logo, o café esfriaria.

— Sophie... eu adorei a surpresa... – Jenny tentou recomeçar.

— Mas.... – A pequena tombou a cabeça para analisar a mãe. E dessa vez o olhar não lembrava a mim ou a Jenny. Era a Sophie propriamente dita, com seus olhos únicos, um de cada cor nessa manhã.

— Mas a mamãe estava muito cansada – Eu respondi por Jen a abraçando de lado e, consequentemente, abraçando Sophie também. – E ela não conseguiu acordar mais cedo.

— Ninguém acorda cedo em um sábado! – A pequena protestou. – Só a Kelly! Mas ela é doida!! – E aí estava a mentora de tudo isso!

— Falando de mim pelas costas, Soph? – Kelly apareceu na porta do quarto. – Espero não estar atrapalhando nada, mas vim tomar café também!

Eu sorri. Definitivamente Kelly tinha um plano para me fazer ver o que eu estava perdendo e, usava descaradamente a irmã mais nova.

Olhei para o lado e Jenny tinha a cabeça enterrada nos cabelos da nossa pequena, estava vermelha e sem respostas ou explicações.

— Não vai comer, Jenny? – Kelly perguntou.

— Vou. – Foi a resposta abafada que ela deu.

— Mamãe... seu rosto está quente! A senhora está doente? – Sophie percebeu o rubor no rosto da mãe, não pela cor, mas pelo calor que esquentava suas costas. E se virou para encará-la.

Vi Jen respirar fundo, engolir em seco e encarar a minha filha por cima dos ombros da Sophie.

— Você me paga. – Ela disse muda.

Kelly deu um sorriso de quem vai continuar aprontando. Roubou uma panqueca e chamou a irmã mais nova para ajudar com a cozinha e nos deixar comer em paz.

Quando as duas meninas desceram as escadas e já estavam na cozinha. Jen me encarou.

— Se eu descobrir que isso tem, de alguma forma, dedo seu.... – Ela disse furiosa.

— Não tem... – Eu disse contra a sua têmpora. E senti que ela se arrepiou.

Ela se afastou. Eu apertei meus braços com mais força ao redor de sua cintura.

— Jethro... o que você pensa que está fazendo? – Ela disse assustada.

— Tentando te fazer entender que, o que seja que aquelas duas estejam aprontando, eu estou de acordo com elas.

— Você enlouqueceu? Esqueceu que está noivo? – Ela cuspiu a última palavra e tentou se afastar.

— Você tem certeza disso? Viu alguma aliança na mão de alguém? Ou acreditou no que Kelly disse? Eu não estou noivo de ninguém, Jen, Kells agiu por impulso e tirou uma conclusão precipitada.

— Mas a Coronel ainda...

— Tentando reatar. Mas acabou.

E ela ficou petrificada. Eu aproveite o peguei o colar no pescoço dela. As duas alianças batendo uma na outra.

— Não...  – Ela murmurou. – Eu não posso me dar essa esperança... não de novo. – Seus olhos cheios de água.

— Jen... 

— Jethro, apenas pare. Acho que... – Ela tentava controlar as lágrimas. – Não fomos feitos para ficarmos juntos. Sempre acontece alguma coisa para nos separar. Por favor... eu não quero nos machucar de novo. E tomou as alianças de minha mão.

Eu não esperei que ela dissesse mais nada, peguei seu rosto em minhas mãos, olhei no fundo dos olhos dela.

— Dessa vez foi somente a minha culpa que nos separou. Por favor.

Ela tentou sair do meu aperto.

— Não faça isso... eu não tenho forças para...

— Resistir a mim? – Perguntei, mas antes que ela pudesse confirmar ou me contradizer, eu a beijei.

Ela resistiu, não por muito tempo. E me beijou apaixonadamente seus olhos ainda molhados.

— Não chore, - Eu disse quando paramos. Ela ainda tinha as mãos presas em minha camisa como que para provar a si mesma que aquilo era real.

— Eu não sei onde isso vai nos levar, Jethro. Eu tenho medo....

 Eu tentei acalmá-la.

— Não precisa. Eu não vou a lugar nenhum, e não vou deixar você sair da minha vida também, Jennifer Shepard. Nunca mais.

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— Já terminou? – Sophie murmurou, nada feliz de estar trabalhando em um sábado de manhã.

— Quase, e não reclame. Você também é culpada por isso, o chocolate foi a sua ideia!

— Chocolate é sempre uma boa ideia, Kelly!! – Ela disse sorrindo.

— É uma ótima ideia para dar dor de barriga e atacar a sua enxaqueca se você continuar comendo desse jeito! – Tentei tirar a vasilha com chocolate derretido da mão dela. Só que a criaturinha era escorregadia e conseguiu se livrar de mim e sair correndo com a vasilha na mão.

— Quero ver você pegar!! – Ela me desafiou.

— Sophie! Eu tenho que lavar isso!!

— Não!! Eu vou acabar de comer esse restinho!!

— Mas não vai mesmo! – Fui para a sala atrás dela e ela correu, rindo da minha cara, para a perto da porta.

— Não me faça ter que te derrubar para pegar isso.

— Você não sabe fazer isso! Só a Tia Ziva consegue derrubar todo mundo! – Ela disse convencida.

— Se você não notou, Senhorita Cheia de Certeza, você está encurralada, não tem para onde correr, então vai ter que me entregar a vasilha. – Eu fiquei de frente para ela, não tinha como ela escapar.

Mas ela é esperta. Com um sorriso bem traiçoeiro, ela mergulhou a colher no chocolate e, espirrou na minha cara, abrindo a porta e saindo correndo, de pantufas, para o jardim.

— SOPHIE PODE VOLTAR AQUI, SUA PESTE RUIVA!!!

— Só o Tony pode me chamar de Peste Ruiva!! – Ela cantarolou da calçada.

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Eu ainda estava tentando absorver tudo o que Jethro havia falado. E estava tentando controlar as minhas emoções. Eu não poderia cair de novo assim por ele. Não poderia. Mas como falar isso sendo que eu nunca deixei de amar esse teimoso??

Uma parte de mim estava realmente furiosa por ter cedido. Por ter ficado para a sessão de carpintaria, por ter dormido aqui, enquanto eu tinha a minha própria casa e cama e, ainda mais, por ter deixado que ele controlasse a situação completamente, desde que Sophie entrou carregando a bandeja de café da manhã até o beijo.

Eu tinha prometido para mim mesma que isso não iria acontecer, e aqui estava eu, prestes a dar uma outra chance para nós.

 Eu ainda tinha muito o que pensar sobre isso, mas fica difícil quando esse par de olhos fica me encarando como se me visse pela primeira vez.

E eu estava a milímetros de, literalmente, me jogar em cima dele e aplacar essa enorme saudade que eu estava de senti-lo, quando escutamos Kelly gritar.

Jethro, que já estava beijando minha clavícula, deu um sonoro suspiro.

— Justo agora?

E então ouvimos a risada de Sophie e, claramente, ela desafiava a irmã a fazer algo.

Não sei o que aconteceu, mas Kelly ficou realmente brava.

— SOPHIE PODE VOLTAR AQUI, SUA PESTE RUIVA!

— A coisa tá séria lá embaixo. – Eu disse afastando Jethro de mim, e tentando sair da cama.

— Kelly já é grandinha, sabe lidar com isso.

Até que ouvimos:

— Eu vou te trazer a força para dentro dessa casa, sua criaturinha diabólica!

O único som que ouvimos foi a gargalhada de Sophie.

— Jethro, não tem jeito... Sophie só vai entrar se....

E ele se levantou de uma única vez, colocou uma blusa e desceu as escadas, e, se fosse possível, estaria soltando fumaça pelas orelhas. Eu fui logo atrás, Kelly não precisava levar bronca... mesmo que ela já tenha passado da idade para isso.

Mas assim que chegamos ao pé da escada nos deparamos com uma cena...

— Isso aqui é chocolate? – Ele me perguntou.

Olhei para ele. Kelly adorava o doce, mas tinha alguém que era ainda mais apaixonada...

— SOPHIE SHEPARD-GIBBS, SE VOCÊ NÃO ENTRAR NESSA CASA EM CINCO SEGUNDOS .... – Nós gritamos ao mesmo tempo.

Kelly foi a primeira a aparecer. Estava com o rosto e a blusa, com uma generosa camada de chocolate os cobrindo.

— Eu tentei! – Ela falou levantando as mãos em sinal de rendição.

Jethro só assoviou. E em um piscar de olhos a causadora do caos apareceu.

Ela entrou de mansinho, um sorriso inocente no rosto. Seu pijama sujo de chocolate assim como suas pantufas igualmente sujas. Antes de dizer qualquer coisa, analisou o ambiente e nossos rostos.

Logicamente não viu ninguém que poderia ajudá-la.

— Eu tenho direito a um advogado? – Ela perguntou inocentemente.

Olhei para minha filha, inacreditavelmente ela tinha conseguido irritar ainda mais o pai...

— Advogado?! – Jethro disse descrente...

Ela sabiamente ficou quieta ao ouvir o tom de voz do pai...

Sophie olhou para mim, para Kelly, para Jethro e para a vasilha onde o chocolate estava....

— Eu vou ter que limpar isso aqui, não vou? – A carinha dela era de quem não sabia como tudo aquilo tinha acontecido, mas pelo menos não deu nenhuma desculpa.

Eu balancei a cabeça afirmando. Jethro só deu passagem apontando para a cozinha...

Ela passou de cabeça baixa, mas escutei ela murmurar:

— Eu só queria comer o restinho do chocolate, Kelly não precisava ter gritado... e eu nem gosto de acordar cedo... ainda mais em um sábado.

Kelly segurou a risada e subiu para se trocar. Jethro olhou para a caçula e para mim.

— Ela é bem a sua filha, mesmo! – Dissemos ao mesmo tempo.

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Eu juro que tinha me esquecido que tinha chamado a equipe para assistir a um desenho no sábado à noite... Juro...

Papai não estava muito feliz, primeiro porque Sophie fez aquele estrago todo, talvez eu também tenha estragado algo com a minha gritaria, mas saí ilesa, depois porque Henry apareceu.

E papai, mesmo depois de longos oito anos, ainda tem ódio do meu noivo e olha que o casamento é dentro de alguns meses...

Então, estávamos na mesa de jantar, comendo tranquilamente. Sophie ainda cabisbaixa. Jenny tentando não rir da situação. Eu queria curtir minha família e papai... bem, ele poderia ajudar se não fosse pelos olhares horrorosos que ele estava dando ao meu noivo. Toda vez que Henry tentava escorregar a mão e deixar ela descansando no meu joelho, papai dava um jeito de tossir ou fazer qualquer outro barulho que o assustava.

Foi em um desses momentos que a campainha tocou, de novo.

— Quem pode ser agora? – Sophie, curiosa como sempre, perguntou para ninguém em particular.

— Volte a comer. – Jenny mandou.

Papai se levantou, sem antes lançar outra de suas encaradas para Henry, e foi atender a porta.

Nem dois segundos depois:

— GIBBS!!!!! BOA NOITE!!! – Era a voz de Abby.

Jenny se engasgou do meu lado.

— Oi Chefe! – Tony disse ao entrar.

Eu não sabia onde enfiar a cara e Jenny, se pudesse, tinha pulado a janela.

Ouvi Tim e Ziva cumprimentarem o meu pai.

— Posso saber o que aconteceu? – Ele quis saber.

— Kelly não falou? Vamos assistir Monstros S/A com a Sophie, e aproveitar que a Ziva nunca viu... – Tony explicou.

— Kelly?! – Foi tudo o que papai disse.

Eu olhei para Henry pedindo por ajuda. Me senti na pele de Jen. A situação era a mesma que eu a tinha colocado pela manhã. Ele me olhava confuso.

Jenny se virou para mim e respondeu baixinho:

— Carma existe!

A única pessoa que poderia ter dito qualquer coisa era Sophie. Mas ela, depois do castigo e ter sido tratada com um pouco de frieza durante todo o dia, ficou bem quietinha na cadeira dela, acabando de jantar.

E foi quando todos olharam para a mesa de jantar. E eu ainda estou processando as feições de todos.

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 Que Kelly já tinha aprontado eu já sabia, que a gritaria pela manhã tinha atrapalhado, também. E a situação só piorou quando o engomadinho chegou, sem avisar.

Henry ficou para o jantar, convenientemente se sentando perto de Kelly. E cada vez que uma das mãos desse menino escorregava para debaixo da mesa, eu tinha que olhar torto para os dois.

Eu já tive a idade dele e já fiz coisa muito pior do que escorregar uma mão para debaixo da mesa. Então, o olhar de inocentes nos rostos dos dois não me enganava.

Jenny do meu lado tentava a todo custo se manter composta e ainda brava com Sophie, que estava estranhamente calada para ela.

Kelly até começou uma conversa ou outra, Jenny sempre seguia a linha e as duas ficaram batendo papo com alguns pitacos do garoto. Eu fiquei calado e Sophie se manteve quieta, não querendo se encrencar mais depois do castigo dessa manhã onde ela teve que limpar cada gota de chocolate que respingou pela casa, além de lavar a blusa da irmã e o pijama dela.

E nesse clima o jantar seguiu. Até que a campainha tocou.

Ouvi Sophie falar a primeira frase em horas. E Jenny mandá-la voltar para a janta. Quem diria...

Quando abri a porta fui recebido por Abby e um de seus abraços de urso...

Atrás dela, DiNozzo, McGee e Ziva.

O que raios eles estavam fazendo aqui?

Foi quando Tony respondeu.

Assistir um desenho. Com a Sophie. Ideia da Kelly.

Comecei a pensar que deveria ter colocado Kelly mais vezes de castigo quando era mais nova.

Mas tinha um outro problema.

Jenny.

Ela estava aqui. Tinha passado o dia inteiro aqui.

E ninguém da equipe sabia.

Quando o quarteto alcançou a sala de jantar, eles estranharam a presença da Diretora. Porém, se tinham algo para dizer, ficaram calados.

Jenny manejou a situação muito bem, e tendo em vista que Sophie era a única que poderia contradizer qualquer coisa ali, e que a pequena ruiva estava tentando não entrar em um novo castigo, a equipe engoliu a desculpa.

— Mas, então... podemos ver o desenho? – Abby disse animada.

— Claro que sim!! – Kelly se levantou e levou a louça para a cozinha, ajudando Jenny.

— E você, Peste Ruiva, não vai sair correndo para pegar o DVD para gente? Eu trouxe pipoca caramelada! – Tony perguntou para Sophie.

Ela coçou a cabeça, e depois de pensar, subiu devagar as escadas.

— Que clima de velório que ela está!! O que bicho picou ela?

— É mordeu, Ziva! – Todo mundo disse.

— Castigo. – Foi o que Jenny respondeu.

— De novo?! – McGee estranhou. – Mas ela tem que aprender disciplina. – Ele completou depois que tanto eu quanto Jenny olhamos para ele com cara feia.

Abby já estava espalhando as almofadas e ela e Ziva brigavam para saber quem iria se sentar aonde. Quando Sophie desceu com o DVD na mão e entregou para Tony, ainda sem abrir a boca e sem dar um abraço nele.

— Vamos lá, Peste Ruiva. Anime-se. Eu sei que você gosta desse. – Ele disse a colocando nos ombros. O que normalmente a fazia rir.

— Gosto... – Ela estava bem monossilábica. E Tony a desceu e ficou encarando a pequena, creio que pensando que ela havia sido trocada ou abduzida por alienígenas.

— Uma semana do lado do pai e ela ficou assim... imagina se passar um mês! – Kelly disse rindo. Sophie só se encolheu.

— Andem, já tá tudo pronto! – Abby gritou.

Olhei para os lugares que eles tinham ocupado.

Tinha sobrado dois lugares duplos. Se a intenção deles era deixar Kelly ao lado de Henry, eles conseguiram, pois minha primogênita puxou o noivo com ela e se sentou perto da lareira.

Jenny, sem nem pensar, se sentou no chão, com Sophie no colo, bem longe do local onde eu me sentara que, infelizmente, era ao lado de Tony.

Mentalmente eu xinguei Kelly por essa ideia.

DiNozzo era pior que criança e, depois de muito perturbar, trocou de lugar com Jenny. Ela, a contragosto, deixou Sophie no chão e veio se sentar do meu lado, deixando um espaço bem grande entre nós. Algo que tanto Ziva quanto Abby notaram. E Tony, agora no chão, dividia com Sophie aquela pipoca melada.

Noite interessante para as fofocas de segunda no prédio. - Pensei.

Enquanto Sophie gargalhava com uma das palhaçadas que a bola verde, que ela tanto ama, fazia no filme, eu notei, realmente o Mike Qualquer Coisa era parecido com o Tony.

— Hei, Ruiva... – Chamei por ela.

Ela, que estava deitada de bruços no chão se sentou e me olhou interrogativamente.

— Bem que você disse que o Mike era exagerado igual ao DiNozzo. – Pisquei na direção dela.

Tony fez uma cara de ofendido e tentou se defender, mas o estrago estava feito. Não teve uma pessoa que não começou a comparar as graças da Bola Verde com os ataques do Agente Sênior.

— Poxa, Peste Ruiva, achei que você estava do meu lado. – Ele disse em tom de derrota.

— E eu estou. O Mike é o meu personagem favorito. – Ela respondeu o abraçando.

— NÃO!!!!! – Ziva, Kelly, McGee e Abby gritaram juntos. – Tudo menos isso!!!

Agora que ninguém vai aguentar DiNozzo.

— Olha a cara de ciúmes! – Ouvi Jen murmurar para mim enquanto todos os outros tentavam bater em Tony com uma almofada e, por consequência, acabavam por acertar a ruivinha no processo. A essa altura alguém tinha pausado o filme para que a guerra de almofadas pudesse continuar.

— Peraí que eu te protejo, Peste Ruiva!! – Ele dizia enquanto desviava de quase todas as almofadadas. Ziva era a única que acertava todas, diretamente na cabeça dele. Sophie ria da situação, mesmo que estivesse, teoricamente, apanhando também.

Só para acabar com a confusão, peguei Sophie e a coloquei sentada entre mim e Jen, passando o braço por trás de seu pescoço, e ela, manhosa como só ela é, aproveitou e apoiou a cabeça no meu colo e os pés no colo da mãe. E, assim, poderíamos assistir ao final do desenho em paz.

— Ixii.... tem alguém com ciúmes aqui!! – Kelly cantarolou. E Jen não aguentou e caiu na gargalhada.

— Será que você pode parar? – Sibilei na direção de Kelly. Falar qualquer coisa com Jen era querer morrer.

— Ah, não!! Não mesmo... – Kelly sorriu triunfante.

E o resto da noite foi a perseguição ao DiNozzo, que não podia abrir a boca que era chamado de Mike, e a mim...

Eu sabia que a ideia da Kelly seria terrível.

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Depois das piores e melhores horas em família no sábado à noite, o domingo passou preguiçoso, tendo aprendido a lição de evitar a todo custo fazer qualquer coisa com chocolate perto da minha irmã, preferi deixar a dupla dinâmica se resolver.

Eu ainda não sabia o que realmente tinha acontecido entre os dois. Abby, Ziva, McGee e, principalmente, Tony haviam me mandado milhões de mensagens querendo saber se Jibbs estavam juntos. Até mesmo Henry queria saber.

A grande verdade é: não sei.

Eles não dividiram o quarto de sábado para domingo. Sophie, sei lá o porquê, teve um pesadelo, a equipe ainda estava aqui, ela tinha dormido pouco antes do fim do desenho e, como ainda era cedo, resolvemos jogar uma partida de pôquer, quando a pequena acordou gritando.

Todo mundo quis ir lá para ver o que estava acontecendo, mas foi papai e Jen quem subiram e só papai desceu. E não soube nos dizer com o que ela havia sonhado.

Terminamos o jogo, sem necessidade de dizer o vencedor, papai ficou muito feliz de blefar em cima de Henry e fazê-lo apostar tudo o que ele tinha, só para que ele perdesse. Com mais essa vitória creditada ao Chefe, Tony falou que estava indo, o que foi a deixa para o restante da equipe ir, lógico, depois que cada um subiu até o quarto de Sophie para ver se ela estava bem.

Henry ficou mais um tempo, mas logo papai tratou de inventar um jeito de mandá-lo embora também.

 E, com uma Sophie se recusando a deixar a mãe sair do lado dela, Jen acabou por dormir no quarto com a filha.

O domingo preguiçoso virou velório quando papai pediu para Sophie começar a arrumar a mala. Ela estava voltando para a casa dela em Georgetown.

Eu arrastei a minha estadia o quanto pude, mas tive que ir antes de todos, meu destino sendo mais longe. Deixei meu pai com cara de triste na calçada, mesmo que Sophie estivesse no colo dele e voltei para Anápolis.

Todavia, antes de entrar no carro, eu bem que tentei arrancar a verdade dele, ou qualquer pista de que ele pudesse voltar para quem ele pertence. E ele sendo ele, não me disse nada. Não me desencorajou, mas não deu esperanças contudo.

E, enquanto eu estou aqui, neste trânsito dos infernos, para tentar chegar no meu lugar de treinamento estou pensando no papai.

Depois de uma semana com Sophie colada nele – porque ela pode ser um grude quando quer – e um final de semana com a casa lotada igual foi, ele voltaria para a solidão costumeira e nem tão bem-vinda mais.

Pedi mentalmente que ele desse uma de maluco e fosse parar na casa de Jenny. Nem que fosse com uma desculpa de que Sophie havia esquecido alguma coisa....


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Notas finais do capítulo

Podem gritar Aleluia, porque agora sim o Gibbs se lembrou de tudo!!!
E as coisas até dariam certo, se Sophie não tivesse aprontado e Kelly não tivesse gritado...
E sobre a sessão de cinema, é claro que finalmente Tony DiNozzo foi devidamente comparado com Mike Wazowski!! E para quem assistiu ao desenho, deve ter reparado nas semelhanças também, para quem não assistiu, recomendo!
Obrigada por terem lido até aqui!
Até o próximo!!
xoxo
P.S.: Sophie vai fazer com que os pais envelheçam antes da hora... ou talvez só faça o pai ter um AVC mesmo...



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