Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 93
Pai e Filha


Notas iniciais do capítulo

Está na hora de Gibbs relembrar como é ser pai solteiro... Jenny foi para Paris e Sophie está ficando com o papai... boa sorte pra ele e boa leitura para vocês!!



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E a semana seguinte passou como se fosse um borrão, depois da notícia de sexta-feira à noite, eu já nem ligava se a terceira guerra eclodisse. Contudo, fingi que nada me abalava e me mantive composta, principalmente quando encarei Jethro.

E parecia que ele estava me perseguindo. Era eu pisar no elevador e ele dava um jeito de estar esperando no andar de baixo. Ele não comentou nada do noivado comigo. Nem uma palavra, mas a notícia parecia que tinha se espalhado pela equipe dele.

Ziva e Abby pareciam até mesmo ressentidas com o que ouviram, Tony e McGee ficaram mais quietos, Ducky foi quem demonstrou um pouco de compaixão comigo, mas não chegou a comentar nada.

Em casa, Sophie fazia de tudo para me alegrar, chegou até mesmo a montar uma sessão de cinema com um dos meus filmes preferidos, Orgulho e Preconceito, na noite de quarta-feira. Assim que cheguei em casa, minha pequena estava me esperando na porta, com o maior dos sorrisos no rosto e uma taça de sorvete nas mãos, que me entregou depois de me abraçar.

— Boa noite, mamãe! – Ela me saudou. – Nada de trabalhar hoje. Vamos ver um filme e a senhora vai esquecer todos os problemas, nem que seja por pouco tempo! – Ela tomou minha bolsa e minha pasta das minhas mãos, me entregando a taça de sorvete. – Pode deixar que levo isso para o seu estúdio. – Saiu correndo com os meus pertences e voltou para onde eu estava parada, ainda chocada com a atitude dela.

— Por que tudo isso? – Perguntei quando ela voltou pulando pelo corredor.

— Na semana que vem a senhora vai para a conferência em Paris. Achei que a senhora precisava de um descanso antes de ir para lá. Quer tomar um banho antes do filme? – Ela apontou para a sala.

Olhei para a nossa sala de TV, Sophie tinha coberto o chão com dois colchões e várias almofadas e travesseiros, realmente convidativo para se ver um filme.

— Sim, eu vou tomar um banho, depois dessa taça de sorvete. – Falei e peguei uma generosa colher do doce. Depois de acabar e Sophie se prontificar em lavar a vasilha, falei: - Não comece sem mim. – Subi para meu quarto com o intuito de realmente esquecer todos os meus problemas nem que fosse por hoje e aproveitar a companhia da minha menina.

Assistimos ao filme e acabamos por dormir por lá mesmo. Acordei no outro dia com a chegada de Noemi. Me assustei, achando que tinha perdido a hora. Por muito pouco não perdi.

Era hora de encarar outro dia como se tudo estivesse perfeito.

E assim a semana acabou. O final de semana foi tranquilo, passei o sábado à noite e boa parte do domingo arrumando a mala de Sophie, que passaria a semana com o pai, e depois arrumando as minhas malas, lógico que com os devidos pitacos da minha Miniatura, sem contar o desfile de moda quando ela achava uma peça de roupa que não conhecia ou não se lembrava. Foi divertido e quando dei por mim, a segunda-feira chegou, e com ela era a hora de me despedir de minha filha e ficar longe dela por uma semana.

Com todo o serviço adiantado no escritório, - resolvi não deixar nada acumulado para que Jethro simplesmente não ignorasse os relatórios e me entregasse tudo exatamente como deixei - era hora de chamá-lo até a minha sala para passar a única recomendação referente à Sophie.

Eu mesma fiz a ligação e menos de um minuto depois, ele entrou de seu jeito costumeiro em meu escritório, dessa vez me procurando, já que eu não estava em minha mesa, e sim no sofá.

— Boa tarde, Jethro. – Disse e ele se virou na minha direção.

— Me chamou, Jen? – Como ele ainda tinha a coragem de me chamar de Jen?!

— Sim. Chamei. Você está lembrado de que Sophie vai ficar com você nessa semana...

— É claro. – Ele me interrompeu. – Ou você resolveu deixá-la com uma babá?

— Não... já está tudo pronto, ela vai ficar com você... – Respondi e notei que Jethro ficou até aliviado, mas ainda tinha algo, que eu não consegui definir o que era, escondido em seus olhos azuis e isso me deixou em alerta. - Tem certeza de que vai conseguir lidar com ela, Jethro? – Perguntei ansiosa.

— Ela é minha filha também, Jenny. E eu cuidei de Kelly.

 - Sei disso. E cuidou muito bem...

— Então por que esse medo?

— Não é medo... é que ela não dorme na sua casa desde... – Parei de falar e mordi o lábio inferior.

— O México! – Ele completou. – Eu sei que me esqueci dela, mas isso não quer dizer que...

— Ok. Entendi. - Estendi as minhas mãos para o alto em sinal de rendição. - Não vamos brigar, não hoje e não por conta dela. Só te peço uma coisa, Jethro.

— Vai passar o sermão da mãe preocupada? – Ele deu um meio sorriso como que me provocando. Revirei os olhos para sua atitude de falsa supremacia e continuei.

— Não a deixe dormir de cabelo molhado. Só isso. Você se vira com o resto. – Disse com um sorriso.

— Só isso?! – Ele pareceu surpreso com a falta de recomendações.

— Precisa de mais? Você já tomou conta de uma criança de seis anos, sabe como elas agem. Só não se esqueça de que a Sophie é um pouquinho mais...

— Selvagem.

— Eu ia dizer impetuosa.— Respondi zangada. Mas ele estava certo, às vezes eu me perguntava se Jethro tinha sido tão levado quando criança. - E não se esqueça que você vai agir como Diretor em Exercício. É só uma semana, não imploda esse prédio, por favor! – Continuei.

— Tomo conta da Sophie nos seus piores dias, mas...

— E vai tomar conta da Agência também. – O cortei, sei que das duas atribuições que passei a ele, virar “Diretor” era a que ele queria evitar a qualquer custo.

— Quando você parte? – Ele me perguntou, trocando de assunto.

— Já estou saindo para pegá-la na escola, vou deixá-la na sua casa e depois rumo para o aeroporto. Você tem certeza de que não quer ficar em Georgetown?

— Ela tem que se acostumar com a minha casa também. – Ele disse. – E depois, ela não me ajuda com os móveis de Kelly desde o ano novo... Eu ainda não esqueci a famigerada desculpa de “o meu porão é frio” – Ele fez aspas com a mão e imitou o tom de voz da filha mais nova ao falar.

— Ela adora sua casa, Jethro, principalmente o fato de você estar fazendo os móveis de Kelly! – Eu defendi a minha pequena. – Aliás, ela quer muito saber como tudo vai ficar depois de pronto.

Isso pareceu aliviar a expressão dele, mas eu notei que ele estava pensando em algo.

— Diga o que está na sua cabeça ou você vai sufocar, Jethro.

Ele me olhou com os olhos arregalados.

— E não faça essa cara. Sei ler você e vejo essa mesma expressão toda vez que Sophie não entende algo ou quer perguntar qualquer coisa que ela não entende e tem receio de que eu vá ficar chateada com ela.

— Acha que ela vai ficar bem comigo? – Ele soltou com clara preocupação.

— Você está achando que ela vai querer ir embora sem mais nem menos? – A surpresa estampava em minha voz.

— É que ela está mais acostumada com você, Jen. Vocês duas são muito ligadas.

— É a sua chance de criar um vínculo maior com ela, Jethro. Sophie te ama! E se serve para te acalmar, não parou de falar que iria ficar na sua casa pela última semana! Quanto a isso, não tenha dúvidas.

Me levantei do sofá e conferi as horas.

— Bem, vou indo, tenho que pegá-la e passar em casa para pegar nossas malas, que horas posso deixá-la na sua casa?

— Assim que quiser, eu já estou indo para lá.

Respirei fundo, mesmo sabendo que minha menininha estava ficando com o pai, ainda era difícil dizer adeus a ela, mesmo que por poucos dias...

— Ok, vou indo, e dentro de mais ou menos uma hora e meia vou passar lá.

Ele nada disse, apenas chegou perto de mim o suficiente para me dar um beijo na testa e rumou para a porta, mas eu sabia, que por trás daquele semblante sério e confiante, ele não estava cem por cento certo de que essa semana correria bem.

Eu, por outro lado, estava certa de que nada de ruim aconteceria.

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— Então quer dizer que a Sophie vai ficar com o Gibbs por uma semana? Que fofo! – Abby disse.

— Foi isso que Kelly me passou! – Tony disse com ar conspiratório.

— Kelly é a nossa maior mina de informações que existe! – Jimmy comentou.

— Sim, mas nem o Gibbs nem a Diretora podem sonhar com isso! – Eu disse na defensiva e olhando por sobre o ombro. Os dois eram mestres de aparecerem sem o menor barulho.

— Calma, Ziva! Você é quem tem algumas histórias sobre o passado deles e não quer conta nada! – Abby ralhou.

— Não tenho nada de novo. Podemos voltar ao assunto, principal. – Eu até sabia uma ou outra coisa sobre o passado dos dois, mas em respeito à minha amizade com Jenny e à minha cabeça, afinal não quero ser estapeada, eu não contaria nem mediante tortura.

Nesse momento o computador de Abby apitou, indicando que tinha chegado uma mensagem no programa de chat.

— É de Kelly! – Ela disse.

— O que ela tem de fofoca agora? – Perguntamos curiosos

Ela apenas virou a tela para nosso lado, nos mostrando a janela do bate papo:

Chefinha: Papai está nervoso. Tem medo de Sophie pedir para ir casa!! Mal sabe ele que a pestinha está contando os dias!

— Isso não é fofo? – Abby abraçou seu hipopótamo de pelúcia ao falar, para logo digitar na velocidade da luz:

LabQueen: Estamos todos aqui! Alguma outra notícia?

Chefinha: Jenny vai deixá-la na casa do meu pai dentro de noventa minutos!

LabQueen: É o Tony, quando você vem?

Chefinha: Só no final de semana, Tony. Ou se o mundo acabar dentro daquela casa.

LabQueen: É a Ziva... Duvido que isso vá acontecer. Sophie é calma. Se a gente tirar o fato de que ela adora ficar sentada no telhado e nos peitorais das janelas, é claro...

Chefinha: Nem me fale, Ziva. Quase dei um troço quando a vi sentada no peitoral da sacada em NY. Se meu pai pegar uma cena dessas é capaz de trancar TODAS as janelas só para evitar que algo de ruim possa vir a acontecer!!

LabQueen: Quem será que ela puxou?

Chefinha: Meu pai! Com toda certeza!! Vovô Jack disse que ele era terrível. Creio que o lado da Jenny deve ter dado uma amenizada.

LabQueen: Mas a Jenny quando quer dá medo! É o Jimmy.

Chefinha: Ela é a Diretora, é o papel dela. Mas é um amor de pessoa! Disso eu posso ter certeza.

LabQueen: Se o seu pai te ver defendendo-a assim, você tá encrencada.

Chefinha: Falando nisso, a Coronel Mala Sem Alça ainda está por aí?

LabQueen: Não... E não apareceu nessa semana. E tenho certeza de que nem vai aparecer na próxima, Sophie a odeia!

Chefinha: A maçã não cai muito longe da árvore. Vou ver se consigo sair mais cedo no sábado. Estou tendo uma ideia para despachar a Mala Sem Alça para bem longe e sem direito a retorno, e vou aproveitar que a Sophie está por perto, para colocá-la no meu plano...

LabQueen: Eu gostei disso! Todos nós gostamos!

Chefinha: Vocês não perdem por esperar. Tenho que ir, me passem as novidades que meu pai não me passa!! Bjs

LabQueen: Tchau e bem na hora, o raposa prateada tá saindo do elevador agora!! Bjs de todos nós!

Foi a conta de Abby trocar a tela e Gibbs pisar no laboratório.

— Achei que vocês tinham relatórios para fazer? Por que estão aqui?

— A Abby tinha uma atualização, não é? – Tony começou.

— Sim, e como você demorou, Gibbs, eu chamei a cavalaria!

— Então, vocês podem subir, e Abbs, pode falar.

Corremos para o elevador e deixamos Abby encrencada, ela não tinha nada.

— Mas ela não tem nada! – McGee disse com pesar, já dentro do elevador.

— Ela vai falar sem parar um monte de termos técnicos, e depois o Chefe vai embora. Ele tem algo mais importante para fazer hoje. Além de ser Diretor Interino... – Tony completou.

— Mas... – Eu chamei a atenção dos dois. – O que será que a Kelly vai aprontar para mandar a Coronel para bem longe.

— Não faço a menor ideia, mas quer saber? Eu já tô dentro! – Tony disse com o maior dos sorrisos no rosto.

— Por que eu acho que não vai dar certo? – Murmurei para mim mesma.

— Certo vai dar. – McGee disse com confiança.

— Como você tem tanta certeza disso, McCerteiro?

— Simples. Nem a Kelly nem a Sophie gostam dela. Vai ser questão de tempo até a própria Coronel notar isso e notar que não pode competir com as DUAS filhas do Chefe. – Tim respondeu.

Tínhamos acabado de chegar no andar de nossa sala quando McGee terminava de falar, e foi a conta, porque Jenny estava passando perto das janelas rumo aos elevadores.

— Essa foi por pouco! – Sussurrei para os dois.

— Nem fala. Se a Jenny descobre que vamos usar a filha dela, de novo, em um plano para juntá-la com o Gibbs, ela manda a Sophie para um colégio interno na Suíça! E nunca mais veremos a Peste Ruiva... – Tony terminou com pesar.

Espero que toda a confiança de Kelly valha a pena, porque se der errado, acho que vamos todos procurar empregos novos mais cedo que poderíamos prever...

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— E você, mocinha, se comporte! Não quero voltar da França e saber que você aprontou. – Estava ajoelhada na porta da casa de Jethro, me despedindo de minha filha. Não era a primeira vez que fazia isso, mas nunca era mais fácil.

— Eu vou ficar bem, mamãe. – Ela me garantiu balançando sua cabeça, fazendo os seus cabelos voarem. - E vou respeitar o papai e todo mundo da equipe, se eu ver algum deles, é claro...

— Então me dê um abraço e um beijo que eu já estou atrasada. – Pedi.

Ela veio rapidamente e me abraçou apertado. E eu não queria soltá-la.

Melvin coçou a garganta atrás de mim. Estávamos em cima da hora, já. Dei um beijo no topo de sua cabeça e fiz menção de me levantar. Me espantei com a mão de Jethro estendida em sinal de ajuda. Aceitei-a e acenei um obrigado.

— Não se esqueça do que eu te falei, hein? – Sophie estava agarrada em minha cintura.

 - Não vou mamãe. – Ela me garantiu. Eu tinha que ir, antes que ela começasse a chorar, e eu também.

— Pode ir tranquila, Jen, ela vai ficar bem, não é, filha? – Jethro bagunçou os cabelos dela e a olhava sorrindo. – E você se cuide. – Pediu.

— Não esqueça, por favor, nada de deixá-la dormir de cabelo molhado! – Disse para ele.

Minha miniatura de olhos estranhos apenas meneou a cabeça.

Um último beijo e um aperto de mão, e parti.

Eu estava indo para a França, o país onde tudo começou de verdade. E estava indo sem minha filha e sem ele. Não seria a mesma coisa. Metade de mim estava ficando nos EUA.

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Não era a primeira vez que Sophie ficava comigo, antes de eu tirar uns meses e ir para o México, ela costumava passar o tempo aqui. Mas nunca tanto tempo, ou sem Jen estar por perto em Georgetown.

E a pequena estava claramente sem jeito. Perdida no meio da sala, ela balançava seu bichinho de pelúcia. Aquela coisa verde, redonda e com um olho só.

— Quem é esse mesmo? – Perguntei apontando para a bola verde nos braços dela.

Mike Wazowski! Do desenho Monstros S/A. O senhor quer ver? – Ela me estendeu o bichinho.

— Mas ele é um tanto... feio... – Eu disse.

Ela me olhou ofendida, o mesmo olhar da mãe. Eu sorri para isso.

— Ele é engraçado!! E de tão exagerado, me lembra o Tony! – Ela deu uma risada.

— Acho que gosto menos ainda dele. – Eu disse piscando.

Ela tornou a rir, mas defendeu o Agente Sênior.

— O senhor gosta do Tony. Se não gostasse não batia tanto na cabeça dele!!

— Está se julgando a esperta? – Me agachei para ficar da altura dela.

— Não. – Ela balançou a cabeça negativamente, seus cabelos ruivos, que estavam soltos, acompanharam o movimento. – A mamãe me disse! – Falou com convicção.

— E o que mais a sua mãe te disse? – Eu estava curioso para saber o tanto e sobre o que Jen conversava com a nossa filha.

Ela cruzou os braços e estreitou o olhar.

— Confidencial! – Ela tentou soar séria.

— Confidencial? – Eu disse em dúvida, mas não segurei a risada.

— Sim. Eu não falo das conversas da mamãe com o senhor. São secretas! – Ela sussurrou a última parte.

— Então tá. – Levantei as mãos em sinal de rendição e me levantei do chão. – Então, senhorita cheia de segredos com a mãe, pega essa bola verde que vou te levar para o seu quarto.

Mike Wazowski!! – Ela rebateu. – Eu deveria ter trazido o Mushu! E a Annia e o Timmy... – Ela murmurou.

— Igualzinha a mãe! – Essa semana seria interessante.

— Como assim? – Sophie parou no meio da escada e me olhava com a testa franzida. Mais parecida com a irmã mais velha dessa vez.

— Nada não, Ruiva. Vem. – Estendi minha mão para ela, que aceitou, e me seguiu. – Só mais uma pergunta, quem é Muxoxo?

Mushu!!! E é o meu dragão! O senhor já viu ele!

— Você tem um dragão? – Perguntei para perturbá-la.

— É de pelúcia, pai! E ele é fofo!

— Fofo... sei...

— Pena que ficou lá em casa... – Ela disse chateada e eu pressenti que teria que ir até Georgetown para pegar esse bicho.

— Aqui também é sua casa. – Falei com cuidado, mas mostrando que ela poderia ficar à vontade.

— Eu sei. – Fui pego desprevenido com o tamanho do sorriso que ela me lançou. – E eu gosto de ter duas casas!

— Gosta? Isso é bom...

— Só não gosto do fato de o senhor e mamãe não estarem conversando como antes...

Eu e Jen estávamos em uma relação um pouco mais fria nos últimos dias, mais precisamente desde que Kelly tinha espalhado uma notícia nada correta por aí, mas tentamos manter as aparências perto de Sophie. E, pelo visto, nossos esforços foram em vão.

Olhei para a miniatura de Jen que me dava a mão e ela me encarou esperando uma resposta ao que tinha falado. Céus, ela seria terrível...

— Então... – Sophie continuou com a sobrancelha levantada.

— São coisas de adultos, Soph. Nada que você vá entender. – Tentei tirar isso da cabeça dela.

— Falou igualzinho à mamãe. Mas eu ainda acho que tem mais coisa... tipo aquela Coronel loira que tá sempre lá dentro do NCIS... – Ela fez uma careta quando disse a patente de Hollis.

— Você quer dizer a Hollis?

— É esse o nome dela? – Ela fez uma careta.

— Sim.

— Ahn... tá...  Nome feio.... E eu não gosto dela. – Ela foi direta e depois desconversou. – É aqui onde vou dormir?

Se Kelly já me perturbava indiretamente sobre isso, Sophie não teve problema nenhum em dizer o que pensa. E assim como a irmã, Sophie estava redondamente enganada quanto Hollis. Kelly interpretou o que viu de forma errada e espalhou a notícia. Eu não estava noivo da Hollis, nós dois tínhamos terminado.

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Tinha colocado Sophie na cama há algumas horas. Jen tinha me garantido que ela dormia a noite toda, e que só uma coisa poderia acordá-la. Tempestades.

Dei uma boa olhada para o tempo. Estava nevando, ou seja, Sophie dormiria a noite inteira. Porém, só por precaução, eu não tive coragem de descer para o porão. Primeiro, porque tinha prometido que ela me ajudaria, segundo, estava com receio de que algo pudesse acontecer com ela, afinal, era um local fora da sua rotina e, até mesmo estranho.

Minha preocupação era tanta que até resolvi dormir no quarto ao invés do sofá. Estava lá, deitado e de olhos abertos quando ouvi movimentos no quarto em frente.

A porta foi aberta e pude ver o facho de luz que emanava do quarto de Sophie, assim como a sombra de dois pezinhos.

Sophie parou no corredor, acho que pensando onde eu poderia estar. E, cautelosamente abriu a porta.

— Papai?! O senhor tá aí? – Ela perguntou em um sussurro.

— Entra filha.

Ela, ainda parada na porta, coçou a cabeça e se balançou nos próprios pés.

— Sophie.... – Chamei. – O que foi? – Acendi a luz da cabeceira da cama para poder olhar seu rosto.

— Não consigo dormir. – Ela falou triste abraçando o bichinho verde.

— Deve ser culpa do Mike aí! – Brinquei com ela.

Ela abraçou o boneco com mais força e olhou na minha direção. Eu entendi o que ela queria antes que ela pudesse falar.

— Vem aqui. – Bati na cama para que ela subisse. E ela hesitou.

— Sua mãe não te deixa dormir com ela?! – Perguntei.

— Deixa! Quase sempre! Mas ela fala que eu tenho que me acostumar a dormir no meu quarto também. – Mas, mesmo assim, ela não se mexeu.

— Ela está certa.

Sophie balançou a cabeça concordando comigo e deu um sorriso, se voltando para o corredor.

— Onde você vai? – A essa altura eu já estava sentado na cama.

— Dormir... ou tentar... – Ela disse com receio. – Desculpe ter te acordado papai. – Ela começou a fechar a porta.

Me levantei e com dois passos a alcancei e a virei na minha direção.

— O que foi, Ruiva? – Me ajoelhei na frente dela.

E minha filha tinha os olhos arregalados, e receosos. E apenas me encarava em silêncio.

— Você sabe que pode me falar tudo, não sabe?

Ela tornou a balançar a cabeça confirmando.

— Então.... 

— Eu não consigo dormir. Tô com saudades da mamãe!! – Os olhos dela se encheram d’água. - E eu esqueci o Mushu... E eu.... – Ela soluçou alto.

Abracei a pequena. E entendi o que ela queria.

— Você não quer ficar sozinha naquele quarto, não é? – Perguntei beijando o topo da sua cabeça.

— Não. – Ela murmurou me abraçando forte.

— Vamos fazer um trato?

Sophie deu um passo atrás. Os olhos ainda molhados.

— Que trato?

— Amanhã nós passamos na casa da sua mãe em Georgetown, pegamos o seu bichinho de pelúcia, pode ser?

— S... sim.

— E, por hoje, vamos ver se a sua mãe já chegou em Paris, o que você acha?

— Mas como? – Ela me olhou curiosa, enquanto eu limpava as grossas lágrimas que caiam.

A peguei no colo e peguei meu celular. Calculei o fuso horário e o tempo de voo. Jen já tinha chegado em Paris há algumas horas. Muito provavelmente estava dormindo ou descansando para se acostumar com o fuso, mas ela não se incomodaria em conversar com a filha.

— Liga para a sua mãe. – Entreguei o celular para Sophie que me olhou espantada. - Anda. Ela já chegou em Paris.

Sophie pegou o telefone e discou os números de cabeça.

— Sabe de cor? – Perguntei espantado.

— Sei... mamãe me mandou decorar o número dela, o seu e o da Kelly. – Ela respondeu simplesmente. – Mas eu também sei o do Tony e o da Tia Ziva.

Ri com a informação, sempre disse que Jen seria uma ótima mãe.

Ela levou o telefone ao ouvido e esperou a chamada ser atendida.

Pude ouvir o suspiro cansado de Jen quando ela atendeu o telefone, já que Sophie estava sentada em meu colo com a cabeça apoiada no meu peito.

— Shepard...

— Mamãe?!

— Filha?! Aconteceu alguma coisa? – Ouvi o tom preocupado de Jenny.

— Não, mamãe. Tá tudo bem. Eu só não consegui dormir. Tô com saudades. Aí o papai me emprestou o telefone para poder ligar para a senhora. – Sophie se explicou. E eu podia jurar que Jen tinha relaxado do outro lado.

— Sei... também estou com saudades, Sophie. Mas você tem que deixar o papai dormir.

— Eu sei, mamãe. Eu já pedi desculpas... – Ela disse pesarosa e eu dei um peteleco no nariz dela e ela me sorriu triste.

— Tudo bem..., mas não faça isso de novo. Nós combinamos que eu iria te ligar pela manhã. – Jenny tentou convencer a filha do melhor horário, mas ela também já deveria estar querendo ligar há um bom tempo.

— Eu lembro..., mas eu queria conversar com a senhora antes de dormir também. – A pequena implorou.

— Sophie... o que você quer? De verdade, filha. – Jenny já tinha percebido o que estava acontecendo.

— Só saudade mesmo mamãe. – Sophie confirmou.

— Seu pai está perto?

— Sim, ele tá aqui! Quer falar com ele?

— Quero. Agora a mocinha vai para cama e deixa o seu pai dormir, ele tem que trabalhar amanhã e a senhorita tem aula.

— Tudo bem, mamãe. Bom dia para senhora. – Sophie disse triste

— Boa noite, filha, e durma bem, te amo. – Jenny disse do outro lado da linha.

— Também te amo, mamãe. – Ela respondeu e me passou o telefone. – Mamãe quer falar com o senhor, papai.

Mal tinha colocado o telefone no ouvido e escutei Jen:

— Jethro, ela não é assim. Deve estar estranhando o quarto. Quando nos mudamos para os EUA foi a mesma coisa. Mas ela tem que dormir lá, ou vai te incomodar a semana inteira.

— Jen... eu sei. Ela é criança e está em outra casa. Além de ter esquecido o bichinho dela.

— Isso é desculpa. Ela não quer dormir sozinha, Jethro. Ela é manhosa quando quer.

Olhei para baixo, Sophie tinha se ajeitado no meu colo, sua cabeça em meu peito, notei que seus olhos fechavam devagar.

— Ou só precisava de colo... – Eu disse sem pensar.

— Não me diga que você a colocou no seu colo e agora ela está com a cabeça apoiada no seu peito, com o ouvido bem em cima do seu coração? – Jen me perguntou, mas pude ouvir o sorriso em sua voz.

— Está sim... algum problema? – A esta altura, Sophie já dormia, sua mão segurando meu braço.

A risada de Jen foi surpresa para mim.

— Quando ela era um bebê e não conseguia dormir, eu a apoiava em meu peito e a deixava com a cabeça em cima do meu coração... em menos de cinco minutos ela acalmava. Acho que o som de um coração batendo é tão calmante para ela quanto é para mim. – Pude notar que ela ainda sorria enquanto falava. E eu voltei no tempo. Jen quando tinha um pesadelo ou não conseguia dormir sempre apoiou a cabeça no lado esquerdo de meu peito.

— Com certeza deve ser mesmo. – Eu respondi, mas não sei se ela entendeu todo o significado da frase.

— Já dormiu?

— Sim. E ela começando a falar! – Respondi maravilhado, tentando entender o que Sophie poderia estar dizendo.

— E também chuta, forte! – Jenny me alertou. – Então, se não quiser acordar com a perna roxa, ponha ela na cama dela, Jethro!

— Nah! Deixa a menina aqui. – Falei como se Jen estivesse no quarto comigo, vendo Sophie dormindo, como eu sabia que um dia nós dois tínhamos ficado.

— Jethro? – Jen me chamou.

— Oi. – Lembrei que estava em uma ligação, não conversando pessoalmente com ela.

— Muito obrigada por cuidar da nossa filha. E agora vá dormir, já é tarde em Alexandria. – A voz dela um sussurro.

— E você vá descansar, Jen. Seu dia está mal começando.

— Tchau Jethro. – E eu pude jurar que antes dela desligar, ela disse te amo.

— Tchau Jen. - Disse para a ligação encerrada.

Passei a prestar atenção em Sophie dormindo em meu colo. Ela me lembrava ao mesmo tempo, Jen e Kelly.

Me ajeitei da melhor maneira para que ela não acordasse, mas a deixei ali, dormindo em meu peito, a cobri, e antes que apagasse as luzes, dei um beijo de boa noite no alto da cabeça ruiva dela.

— Boa noite, filha.

Ela suspirou alto e sussurrou:

— Boa noite, papai. – E ela se ajeitou da forma que queria e caiu em um sono pesado.

Já tinha tanto tempo que eu não tinha uma criança para tomar conta que não dormi, velei seu sono tranquilo pelo restante da madrugada. Rindo quando ela começava a falar coisas sem sentido e, abrindo um sorriso quando conseguia identificar os nomes que ela falava e, dentre eles, quando ela disse “papai”. Apesar de eu estar em clara desvantagem pela quantidade de vezes que ela chamou pela mãe.

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A manhã seguinte foi ao mesmo tempo complicada e tranquila. Sophie só tinha um defeito, não gostava de acordar cedo de jeito nenhum e, enquanto pôde, ficou dormindo. Quando fui tentar acordá-la pela terceira vez, tive que procurar com muito cuidado, pois a pestinha tinha se enrolado nas cobertas e escondido o rosto debaixo dos travesseiros, para fingir que não estava ali.

— Isso não vai funcionar comigo, Soph. Vamos lá, hora de levantar, a senhorita já está atrasada!

Ela murmurou algo ininteligível.

— Se não se levantar agora, eu vou te dar um banho frio! – Ameacei.

Ela, com muito custo, apareceu no meio das cobertas, o rosto ainda demonstrando todo o sono que tinha e seu cabelo totalmente bagunçado.

Coçando os olhos ela soltou:

— Tô doente. Não posso ir pra escola!

— Doente?! – Cruzei os braços e olhei para ela com cara de descrente.

— Sim... muito. – Ela tentou afirmar.

Encarei a minha filha. Ela me olhou de volta.

— Não deu, né? – Fez uma careta.

— Não, Sophie. Não deu.

— Com a mamãe também não cola.... mas eu sempre tento!

Tive que segurar o sorriso. Estava imaginando-a tirando a Jen do sério pela manhã.

— Precisa de ajuda para se arrumar?

— Não... mamãe sempre arruma meu cabelo, mas o senhor não tem cara que sabe fazer isso... – Ela deu de ombros.

— É, eu não sei. – Confirmei.

— Então tá... eu vou com ele assim mesmo.

— Acho bom você pentear o cabelo antes.

Sophie coçou a cabeça, e me olhou com a cabeça tombada.

— Tudo bem.... e papai...

Eu já tinha aprendido que quando ela faz essa cara e chama por “papai” nunca acaba em coisa boa.

— Diga...

— Eu posso escolher a roupa que o senhor vai trabalhar hoje?

Eu olhei para ela, que diabos ela queria dizer com isso?

— Vai se arrumar, filha, logo!

— Mas papai!

— Sophie.... – Eu não terminei de dizer o nome completo dela, pois ela saiu correndo do quarto, arrastando o bichinho de pelúcia dela.

Trinta minutos depois a maior discípula que Jenny Shepard poderia pensar em ter, entrou na cozinha, devidamente arrumada e com um arquinho verde com um laço enorme na cabeça, mas nada feliz com o fato de que eu já estava arrumado.

— Que foi? – Perguntei para o bico que ela fazia.

— O senhor não me deixou escolher a sua roupa!

— Sophie!

— A mamãe sempre deixa! – Ela disse com um muxoxo.

— Eu não tenho tanta roupa quanto a sua mãe!

Ela não estava convencida...

— E por que você iria querer me arrumar? – Perguntei vendo que ela não comia as panquecas com muito entusiasmo.

— Porque eu gosto! Eu não posso escolher a minha roupa para ir para a Escola, tenho que usar uniforme, então eu escolho a da mamãe. Ela é Diretora, tem que ir bem arrumada! E como o senhor está ocupando o lugar dela, tem que ir bem arrumado também!

— E eu não estou bem arrumado?!

A ruivinha apenas balançou negativamente a cabeça.

Olhei o relógio, estava realmente cedo.

— Tudo bem... – Aceitei a derrota. - Acabe seu café da manhã e você pode...

— Eu já tô acabando!!! – Ela disse alegre.

Eu estava perdido nessa semana... nesse ponto a Jen não me ajudou em nada. Por que ela tinha que ensinar a Sophie a fazer isso? E por que a Sophie tinha que sair tão à mãe no quesito roupa?

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Depois de deixar a “Senhorita Entendida de Moda na Escola”, segui para o Estaleiro. Mal tinha colocado o pé no andar e Abby, Tony, Ziva e McGee estavam me enchendo de perguntas.

De início, achei que era sobre algum caso que havia chegado, porém percebi que eles queriam saber de Sophie e como ela tinha passado a primeira noite longe da mãe.

— E então, Gibbs, me diz, ela ficou bem? Ela chorou? Você não brigou com ela por conta disso, não, né? – Abby foi quem mais se preocupava.

— Foi bem, Abby.

— Bem mesmo, Chefe? Nada de anormal?

— Tudo tranquilo, Tony.

— Ela não quis ir dormir com você, não, Gibbs? Crianças, ainda mais na idade dela, costumam estranhar a casa... – Essa foi Ziva.

Eu parei e todos eles bateram uns nos outros quando tropeçaram em mim.

— Sophie não quis dormir no quarto dela, mas depois que conversou com a Jen... Jenny, se acalmou e dormiu.

— Com você???? – Ziva e Abby juntas.

— Sim. E se querem saber, ela fala, chuta e ainda por cima arremessa o bichinho de pelúcia! Já que eu acordei com ele na minha cara!

Tony e McGee seguraram a risada.

— Qual dos bichinhos de pelúcia? Ela tem um monte. – Eles quiseram saber.

— Um de um desenho que ela jura que quer que eu veja! – Comecei a andar para o escritório de Jen.

— Bem que a gente podia fazer uma sessão pipoca no MTAC, né?

Voltei e dei um tapa na cabeça do DiNozzo.

— Já calei, Chefe.

— Agora vocês voltem ao trabalho!!

— Sim Chefe! Sim Gibbs!

— Só uma perguntinha, Gibbs – Abby disse com um sorriso no rosto – Foi a Sophie quem escolheu a sua roupa hoje?

Respirei fundo. Será que era tão óbvio assim?

— Foi. – Respondi me virando para a sala, mas não perdi o sorriso trocado entre as meninas.

— Sophie tem bom gosto. – Foi o que eu escutei.

Sim, Sophie tem bom gosto e a incrível capacidade de ser extremamente convincente quando quer.

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O Chefe nem tinha fechado a porta quando todos falamos.

— Temos que contar para a Kelly!!

McGee foi logo abrindo chat que Abby havia criado.

ElfLord: Você está aí, Kelly?

Chefinha: Novidades?????

ElfLord: Sim! Estamos todos aqui, o seu pai acabou de chegar...

Chefinha: Ele disse algo?

ElfLord: É a Abby. Sim, ele disse!! Meu Deus!

Chefinha: C.o.n.t.e.m t.u.d.o.

Nós íamos responder, mas o próprio chegou atrás da mesa.

— Vocês estão fazendo o que? Mandei voltarem ao trabalho.

— Trabalhando, Chefe! Estou pesquisando... – McGee começou a tagarelar sobre alguma coisa que ninguém entende na sua linguagem de nerd.

Acontece que a telinha com o chat aberto continuava piscando, Kelly era insistente.

— E o que é isso piscando na tela, McGee? Espero que não seja aquela coisa que vocês ficam conversando.

Abby engoliu em seco, Ziva fingiu que não viu. McNerd começou a suar frio. Se o Chefe descobrisse que estávamos falando dele pelas costas, de novo... então, eu tive a brilhante ideia de... tropeçar nos fios e desligar o computador do McGee.

— Tony?! – Ziva me xingou.

— Tropecei nessa quantidade de fios que sempre têm aqui na mesa do Novato! Pode arrumar isso, um dia vai ser sério! Imagina se fosse a Peste Ruiva?!

O Chefe me olhou estranho. McGee chorava pelos arquivos que ele teria que restaurar. E meu celular começou a apitar, indicando que tinha chegado, uma mensagem, uma não.... umas quinze.

— Não vai atender, DiNozzo? – A sobrancelha levantada do Chefe me deu a nítida impressão de que ele sabia o que nós estávamos fazendo e quem estava me mandando as mensagens.

— Deve ser só a Beth... conheci ela em um bar há duas semanas, pegajosa.... – Tentei sair pela tangente.

Ele não comprou a mentira, mas quem compraria? E disse que estava saindo para um café.

Quando as portas do elevador se fecharam, achei seguro abrir o telefone.

As mensagens eram de Kelly.

Me conte o que aconteceu?

Dá para responder? Sei que o McGee está online.

DINOZZO EU VOU ARRANCAR A SUA CABEÇA!!

O que está acontecendo?

Falem logo ou eu vou encrencar vocês na próxima vez que eu os vir!

Eu odeio ser ignorada, e você sabe disso!!

DiNozzo, seu lesado!! Abre logo essa boca e me conta!!

Ele tá por aí, não tá?

Ferrou!!

O que ele leu?

Quem perdeu a cabeça primeiro? Doeu? Eu sei que sou a próxima.

MAS SERÁ QUE NÃO TEM NINGUÉM VIVO NESSE PRÉDIO?? O QUE ACONTENCEU DURANTE A NOITE???

Vocês são os piores amigos que alguém pode ter! E os piores informantes!!

Ele matou todo mundo?! Porque se matou, eu vou ligar para a Jen!!

E essa era a última mensagem...

— Paciência não é o forte dessa família mesmo! – Abby disse quando lemos a última mensagem.

— Resume pra ela o que nós vimos e como ele está vestido! – Ziva falou.

— Pode fazer isso, eu fico vigiando. – Entreguei meu celular para ela e deixei que ela se ferrasse quando o chefe chegasse.

Resumindo: Pingo de Gente chorou com saudades da mãe. Seu pai ligou para Jenny para que ela se acalmasse. Depois disso ela dormiu, pelo visto, o resto da noite, mas tem mais, o Pedaço de Gente chuta, fala e, arremessou o bichinho de pelúcia no seu pai. Sim, Sophie só conseguiu dormir junto com o seu pai. E, a parte mais interessante, Gibbs deixou que Sophie escolhesse a roupa que ele está vestindo hoje.

 A resposta de Kelly veio no chat.

Chefinha: Eu quero foto desse Marine bem vestido!!!!! Kkkkkkkkk Se vira Abby! Queria ter estado lá para ver a Sophie mandando nele!!

Chefinha: Imagino a cara do meu pai quando ele acordou com o bichinho na cara.

Chefinha: Como foi que a Sophie conseguiu convencer o meu pai a deixar que ela escolhesse a roupa dele? Alguém pode descrever?

AMETony: Falando nisso, você pode me informar qual dos bichos que é?

Chefinha: Por quê? Quer fazer sessão pipoca?

AMETony: Pensei nisso, mas quase perdi a cabeça.

Chefinha: Você quer fazer uma sessão de cinema justo na única semana que o meu pai vai cuidar da Soph sozinho? É claro que ele não vai deixar! Quer exclusividade sobre a filha mais nova, sua anta!

AMETony: Não precisa falar assim, me ofendeu! Você sabe qual que ela levou com ela?

Chefinha: Ela tem dois que são inseparáveis. Ou é Mike Wazowski de Monstros S/A ou é o Mushu de Mulan. Mas Soph não me falou nada.... Alguém para me informar sobre a roupa???

AMETony: Gosto dos dois desenhos.

MossadNinja: É claro, você não cresceu, Tony!!! Ele está de terno, abandonou a camiseta por baixo da camisa E ESTÁ USANDO UMA GRAVATA!!!  Sua irmã combinou as cores, está todo em tons de azul!!! Olha até onde o poder da sua irmã mais nova vai.

Chefinha: EU NÃO ACREDITO!!! ELA TEM O MARINE NAS MÃOZINHAS DELA!! E voltando aos filmes, você já assistiu, Ziva?

MossadNinja: Não...

Chefinha: São ótimos. Deveríamos mesmo fazer uma sessão pipoca... que tal sábado? A Sophie vai embora no domingo à noite lá de casa...

ElfLord Eu topo. Eu também (É a Abby!!)

MossadNinja: Por mim, ótimo.

AMETony: Eu levo a pipoca caramelada!!

Chefinha: Papai vai ter um treco, mas vai ser divertido! Vou indo, qualquer novidade, me informem!!! Bjs

Nem pudemos nos despedir, pois o Diretor em Exercício passava pela sala. E não teve uma pessoa que não olhasse para ele hoje.

— Ainda aqui, Abbs?

— Já estou descendo, Senhor Elegância! E Gibbs? – Ela gritou de dentro do elevador – Você deveria usar mais azul e mais gravata!

Se o chefe pudesse, ele tinha arrancado aquela gravata. Mas como quem escolheu foi a filha mais nova, e como quem elogiou foi a Abby, ele só subiu as escadas praguejando mesmo.

— Definitivamente temos que tirar uma foto dele vestido assim!! – Ziva falou com um sorriso.

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Pensei em buscar Sophie depois da escola, mas aí percebi que Jen tinha enchido a agenda da menina com aulas de todos os tipos. Ela tinha feito questão de deixar os horários da nossa filha bem à vista. Assim não corria o risco de eu tirá-la antes da hora das aulas. Olhando para tudo aquilo, eu tinha certeza de que a pequena iria chegar morta de cansada em casa.

E, entre tentar controlar a agência e resolver o caso que apareceu, o expediente terminou; Cynthia bem que tentou me fazer assinar uma pilha de relatórios urgentes, mas deixei todos eles no canto da mesa de Jen. – Eu tinha que cumprir uma promessa que tinha feito a uma garotinha no meio da madrugada.

Peguei Sophie na escola de idiomas, ela entrou feliz, e nem tão cansada quanto achei que estaria, dentro do carro, já falando pelos cotovelos.

— Isso é estranho!

— O que é estranho, filha?

— Não ter o Melvin dirigindo!! Nos dias de semana, mamãe quase não dirige...

Olhei para ela pelo retrovisor.

— E onde você quer chegar com isso tudo?

— Eu adoro o Melvin, ele é legal e sempre tem uma bala para me dar..., mas é estranho ter alguém escutando a nossa conversa. Não hoje!! Mamãe sempre fala mais quando ele não está por perto. Sabe, ela adora dirigir... às vezes a gente só sai pela cidade passeando, só para ela poder deixar o trabalho de lado, e enquanto ela dirige, nós duas vamos cantando as músicas que ela tem no pendrive... já o senhor, papai, por mais que esteja ocupando o cargo da mamãe, não tem segurança nem motorista.... e eu prefiro assim...

— Prefere?

— Sim. Quem tem segurança e motorista é pessoa famosa... nós não somos famosos!!

— Se você diz... – Mal sabia a pequena que a mãe dela vivia saindo nos jornais. E eu me perguntava como ela ainda não tinha descoberto isso.

Chegamos na casa de Jen em Georgetown, Sophie parou na porta e ficou me esperando, eu tirei a chave do bolso e dei passagem a ela, com menos de um segundo, ela corria escada acima.

— É só o Muxoxo.

MUSHU, PAI!!! – Ela me respondeu rindo.

Aproveitei que escutava os passinhos dela pelo segundo andar e fui dar uma olhada pela casa. Claramente Noemi passou aqui. Estava tudo organizado. Com a exceção de um lugar.

O escritório de Jenny.

Não que a bagunça imperasse. Jen nunca fora bagunceira, mas dava para notar que a mesa era um lugar sagrado, onde ninguém poderia pôr a mão. Havia algumas pastas empilhadas no canto da mesa. Nenhuma do NCIS pelo que notei. E a única coisa de onde eu poderia ter um pouco de informação era um bloco de notas que ficou sob a mesa. Na hora de sair Jenny deve ter esquecido de guardar.

Não tinha muita coisa escrita. Apenas um nome, ou melhor apelido. La Grenouille, o prefixo de um jato, e um horário.

Jenny estava trabalhando em algo, o que era?

Dei uma outra olhada nas pastas, ela não seria doida de deixar algo assim à vista, mas ela pode muito bem ter deixado à vista para não chamar atenção.

E dentro da última pasta, eu encontro uma foto, um nome – Rene Benoit— e uma frase que eu, até então, nunca teria atribuído à Jen, “Eu vou matar você!”

Memorizei bem o rosto, o nome do homem e seu apelido e notei que o conhecia. Eu já o tinha visto pessoalmente, em um baile. O mesmo que Jen ficara paralisada feito uma estátua. Seria esse homem o responsável por toda a dor dela naquela tarde e noite em Paris? Eu tinha que confrontar Jen sobre isso. Naquela noite eu jurei que acabaria com quem quer que tivesse feito mal a ela. E minha promessa não mudou.

Seja o que ele tinha feito, eu ajudaria Jen até o final.

Ainda estava com o arquivo na mão quando Sophie apareceu na porta do escritório.

— Pronto, papai, já tá tudo aqui!

— Tudo?! – Levantei o olhar para a porta, ela tinha um dragão preso ao braço direito, um urso azul no esquerdo e, saindo da mochila, os cabelos ruivos de uma boneca eram visíveis.

— O que tem na mochila?

— Além da Annia? Desenhos!! Podemos assistir no final de semana?

— Mas e os móveis da casa da Kelly? – Caminhei em direção a ela, já a escoltando para fora da casa...

— Dá tempo de fazer as duas coisas!! – Ela me garantiu com um sorriso.

— Imagino que sim.... Jennifer Shepard. – Respondi para a cópia exata da minha ex-parceira.

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 A semana passou voando. Entre uma reunião e outra e esperar o melhor horário para poder falar com a minha filha, eu nem tive tempo de aproveitar Paris. Isso, sem contar a minha escapada de 24 horas para a Rússia, logo no terceiro dia, que era, teoricamente, um dia vago na minha agenda. Para todos os agentes do detalhamento de segurança, a Diretora estava indisposta com dor de cabeça, a verdade é que eu sai pelas escadas, peguei um taxi até o aeroporto e voei para a Rússia com meu passaporte civil. Nada que alguém fosse desconfiar, se eu desse as desculpas e as provas certas.

Assim, não pude passar pelos lugares onde, há oito anos eu fui feliz. Apreciar as ruas e casas onde toda aquela loucura aconteceu. Olhando hoje, eu realmente não sei como Jethro e eu saímos vivos dessa operação. Talvez porque não nos importamos tanto assim, ou estávamos realmente focados no que tínhamos que fazer ou, no fundo, e eu gostava mais dessa hipótese, confiávamos tanto um no outro que entregar a nossa segurança e a nossa vida nas mãos um do outro era a coisa mais lógica a se fazer, pois ali, éramos só nós dois mesmo.

Por conta de algum protesto, a trânsito estava sendo desviado. Meus seguranças não gostaram disso. Mas eu conhecia muito bem aquela área, era onde ficava o apartamento que dividimos. E, como se fosse o destino, passei bem em frente ao nosso ex-esconderijo. Lá dentro sim, havia muitas memórias. Boas e ruins. A melhor de todas deveria estar atazanando Jethro até que ele perdesse a paciência de uma vez por todas.


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Notas finais do capítulo

Gibbs que lute com a mania de Sophie de querer arrumar todo mundo!!!
E sim, a Coronel foi despachada para bem longe, só que ninguém sabe... ainda.
No próximo capítulo tem mais um pouco dos terrores que Gibbs está passando com a filha caçula!!
Até lá!! E muito obrigada a quem leu!!

xoxo



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