Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 48
Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Confesso que esse capítulo seria o princípio do fim da fic... mas eu não consegui terminar a história aqui. Não quando ainda tem muita coisa para acontecer até que a tudo isso acabe no que vemos na série. Minha culpa, sim. Mas espero que ninguém me odeie por isso!

Boa leitura!!



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E a vida seguiu o seu curso, Kelly se acostumando com a faculdade, eu lidando com Sophie e seus dentinhos nascendo, bem como suas tentativas de aprender a engatinhar.

Cada vez que ela saia se arrastando de perto de mim eu quase infartava. Não foi nem uma ou duas vezes que a danadinha escapou e, quando eu finalmente a encontrei, atrás do sofá, ela estava tentando pegar algum bicho e o levar a boca, para o meu completo desespero e para a alegria de Noemi que dizia que bebês eram naturalmente curiosos.

Kelly havia trocado o meio de correspondência, das ultrapassadas cartas, passamos a usar e-mails. E era muito mais fácil poder anexar as muitas fotos de Sophie para que ela pudesse ver o crescimento da irmã. Quando ela gostava de uma determinada foto, eu mandava a cópia física para ela, até que um dia ela me mandou a foto do mural que ela tinha feito no quarto dela, entre os milhares de post its com dicas e lembretes das matérias que ela tinha, estavam todas as fotos que ela tinha recebido de Sophie, bem como algumas que havia mandado para ela, nas cartas que trocamos e, bem no centro, as três que eu havia deixado em cima da sua cama.

Mas a melhor foto foi, com certeza, a de Sophie fantasiada para o seu primeiro Halloween.

Quando eu cheguei na loja, atrás de uma fantasia para ela, com Sophie no carrinho, a vendedora foi logo me mostrando a fantasia da Ariel, tudo porque ela tem cabelo ruivo.

Particularmente, eu nunca fui muito fã da Ariel, e não quis vestir a minha filha de sereia ingrata. Assim, perguntei por mais fantasias, queria algo diferente de morceguinho, bruxa, vampiro e princesas da Disney. Acontece que eu não resisti a essa. Vestir Sophie de Moranguinho foi irresistível.

Meia-calça listrada de verde e branco, sapatinhos vermelhos e vestido rosa com bolinhas vermelhas, sem contar a boina? Ela ficou linda!!

Eu não tirei uma ou duas fotos, eu tirei várias, e mandei para Kelly e Ducky.

Quando o bom doutor recebeu as fotos, ele ria e dizia que Sophie era a garotinha mais fofa que ele já tinha visto.

Já Kelly? Ela me ligou quando recebeu o envelope e foi meia hora só dizendo que a irmã dela era uma fofura, que essa foto merecia virar um poster. Depois levou mais meia hora para começar a pensar na fantasia do próximo ano... Kelly se perdeu nas palavras e eu tive que lembrá-la que respirar faz bem.

Novembro foi um mês tão tumultuado que a única coisa que consegui pensar foi no final da missão na Rússia, em menos de um mês Callen e Jethro já estariam livres dessa. E, até agora, nada tinha saído errado, eles funcionavam muito bem juntos.

Dezembro veio e com ele o primeiro Natal que Sophie testemunhava. Ela já estava com nove meses quando saí para que ela conhecesse a neve e assim que o primeiro floco caiu no nariz dela, ela só soube fazer uma careta e esconder o rosto atrás das mãos cobertas pelas luvas.

— É só neve, bebê! – Eu falei com ela.

Sophie balançou a cabeça, o claro sinal de que não tinha gostado daquela coisa gelada que caía dos céus e enterrou o rosto em meu pescoço.

— Vamos lá, lindeza, é Natal! – Eu brinquei com ela, antes de colocá-la dentro do carro.

Sophie começou a fazer sons de quem iria chorar, em um instante a coloquei no bebê conforto e fechei a porta. Estava indo para o NCIS, hoje era o dia da Festa de Natal.

Cheguei em tempo recorde na sede, mesmo com toda aquela neve, o trajeto foi tranquilo, estacionei na minha vaga de sempre, e vi que logo ao lado tinha um carro que não era de costume. Fiquei um pouco mais dentro do meu, observando, no fim, decidi que algum dos funcionários deveria ter trocado de carro, desci e estava prestes a abrir a porta do banco de trás, quando o elevador emitiu o seu ding e as portas se abriram.

De todas as pessoas do mundo, essas duas eram as que eu nunca imaginaria de estarem aqui. Não hoje, pelo menos. Do elevador vinha saindo Jethro e Stephanie.

Eu sabia que ela me reconheceria, não fazia tanto tempo assim. E esperava que ele me ignorasse, assim como tinha feito quando éramos obrigados a discutir algum pormenor da missão em que ele estava. Normalmente eu conversava com Callen, porém tinha dias que G estava infiltrado, e eu era obrigada a passar toda a inteligência para Jethro. Eram dias estranhos estes. Era estranho conversar com ele, lê-lo por inteiro, mesmo que por uma tela, saber quando ele concordava ou não com o que eu passava e, mesmo assim, não ser capaz de soltar uma piada, um comentário sarcástico, garantir que tudo daria certo no fim. Essa mágica havia acabado.

Ao vê-los se encaminhando para o carro que estava à minha esquerda, eu tive míseros segundos para decidir o que faria.

Tiraria Sophie de dentro do carro e a mostrava para Jethro, correndo o risco da esposa dele reconhecer a nós duas? Ou simplesmente esperava que os dois saíssem dali, rumo ao hotel mais próximo?

Foi quando algo me surpreendeu. A distância entre os dois. A clara distância de duas pessoas que não estão mais conversando, ou que não estão em sintonia, e a maior parte da hostilidade vinha de Stephanie.

Ela passou pelo meu carro como um raio, andando rápido e deixando Jethro para trás, claramente furiosa com algo, assim que chegou no carro, o encontrou destrancado, abriu a porta e bateu com força, mesmo do lado de fora, pude ouvir que Sophie se assustou com o barulho e começou a choramingar.

Jethro, por sua vez, veio em seu passo normal, passou por mim, seus olhos me estudando, minha respiração ficou presa na minha garganta. Ele olhou no fundo dos meus olhos, eu segurei o seu olhar pelo tempo que consegui. Depois ele balançou a cabeça em negação e foi para o lado do motorista, abrindo a porta e entrando. Antes que o carro partisse, eu pude ouvir Stephanie gritar:

— Não seja a próxima ruiva da lista. Você só será a substituta.

E isso selou as minhas suspeitas, o casamento às pressas de Jethro não tinha resistido à Rússia.

Tirei Sophie do carro e praticamente corri até o elevador, temendo que ele voltasse.

A festa não foi demorada, e deveria estar muito boa, tendo em vista o quanto todos falavam alto e sorriam. Eu não posso ter certeza, minha atenção estava dividida entre Sophie, que parecia ser um imã para todas as pessoas - não teve um que não passou por nós e não há tenha elogiado -, e Jethro. Eu estive tão perto dele, por que eu tive que paralisar diante de seu olhar? Por quê? Aquela era a oportunidade perfeita. E eu fui idiota o bastante para desperdiçá-la.

Estava tão desorientada com o que tinha acontecido que me vi surpreendida com a cena que se desenrolava bem na minha frente. Uma típica cena que só ocorre uma vez por ano. Sem eu nem pensar, Callen, que ainda não conhecia Sophie, apareceu com um presente para ela. Uma linda boneca de pano russa, que tinha o cabelo ruivo trançado, uma boina e usava um vestido cor de rosa.

— Acho que a pequena ruiva pode gostar. – Ele disse daquele jeito simples dele e entregou a boneca para Sophie. Inimaginavelmente, minha filha pegou a boneca e olhou na direção de quem havia lhe entregado o brinquedo, e quando ela olhou para Callen abriu o maior dos sorrisos.

— Isso não é justo! – Mina reclamou alto, vendo Sophie sorrir para G. – Eu fiquei todo esse tempo por aqui, já conheço a Sophie e ela nunca sorriu assim para mim.

Sophie olhou para Willows com seus grandes olhos curiosos, e, depois que Mina acabou sua lamuria, Soph só apontou para ela e sorriu também.

— Está feliz agora? – Callen perguntou.

— Agora estamos empatados. – Willows se ajoelhou do lado do carrinho e falou para Sophie: - Você, pequena, tem que apoiar a tia Mina. Não saia por aí sorrindo para estranhos como o Tio Callen!

A este pequeno discurso, o que Sophie fez? Só arremessou a boneca na direção de Mina.

— Isso deve ser o sinal para você ficar quieta, Mina! – Callen a provocou.

— Você a comprou com essa boneca. Vamos ver quem vai vencer a batalha no aniversário dela! – Mina disse e marchou para longe de nós.

— É isso aí, pequena ruiva! – G disse perto de Sophie e ganhou outro sorriso em resposta.

— Incrível como ela gostou de você tão rápido! – Me surpreendi.

— Crianças gostam de mim! – Callen disse divertido. – Mas você deveria ter visto como crianças gostam do Gibbs. O cara é um imã para elas! – Ele comentou.

— Nem posso imaginar, rabugento daquele jeito? – Fingi surpresa com a revelação.

— Dizem que crianças sabem quando as pessoas são boas.

— Agora você está exagerando, Callen!

— Eu só estou tentando me defender! – Ele brincou.

— Quer se defender? Procure Mina, ela deve estar querendo te matar!

Ele deu de ombros, mas foi atrás da parceira. E eu fiquei sorrindo ao ver como Sophie abraçava a boneca.

Assim que foi educado, eu fui embora, por incrível que se possa parecer, Sophie era uma desculpa e tanto para se sair mais cedo dos lugares.

Fiz o trajeto para casa, passando pelos lugares mais enfeitados de Londres, Sophie adora as luzes e para cada rua iluminada ela soltava os seus já famosos gritinhos e balançava os pezinhos feliz. Sempre tentando pegar as luzes com as mãos. E, em hora nenhuma, largou a boneca de pano, com cabelos vermelhos que Callen lhe havia dado.

Entrei na rua onde meu apartamento se localiza e notei que tinha um carro parado do outro lado do prédio, não gostei disso, minha intenção era passar direto e dar mais algumas voltas para ver se o carro ia embora. Porém, quando cheguei mais perto, notei ser o carro em que Jethro estava. Agarrei o volante com mais força. Aqui não teria como esconder Sophie, se ele me pedisse para parar.

Ao ver a minha aproximação, ele desceu do sedã que dirigia e parou escorado no capô. Eu ia passar direto, contudo, ele conseguiu ter a frieza de entrar na frente do carro e eu não tive outra escolha a não ser parar.

Pelo retrovisor interno, olhei para o banco de trás, minha filha dormia tranquilamente, assim, tomei coragem e desci do carro, fechando a porta para o que o frio não a incomodasse.

— Olá, Jethro! – Cumprimentei.

Ele ficou parado, apenas me encarando. Depois virou as costas, entrou no carro e foi embora.

E ali eu tive a certeza de que não o veria em muito tempo!

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Eu andava de um lado para o outro. Jen tinha dito que tentaria vir para o Natal, acabou que não conseguiu. Vim para Alexandria à toa, ou assim eu pensava, já que, na manhã de Natal, Stephanie entrou igual a um furacão dentro de casa, quase me matando do coração.

— Você não deveria estar na Faculdade? – Ela disparou.

— Recesso para as Festas, gênia! – Soltei. A criatura tinha acabado de me acordar de supetão e ainda queria que eu estivesse de bom humor, vai passear lá fora na neve.

— É claro. Feliz Natal, Kelly. – Ela falou ao passar por mim na escada, eu nem me dignei a responder.

Fiquei esperando pela porta ser aberta com quase um chute, e nada. Onde estava meu pai? Minha curiosidade estava me matando, Stephanie parecia estar juntando as poucas coisas dela em uma mala, parece que o casamento não tinha resistido à missão, eu sorri internamente.

Estava sentadinha com uma xícara de café na mão, somente observando a Substituta ir e vir pela casa, pegando o que lhe pertencia, e quando ela tentava pegar algo que já estava ali antes dela entrar nas nossas vidas eu só coçava a garganta, para informa-la que eu estava observando seus passos.

Meu divertimento da manhã de Natal foi interrompido pelo telefone tocando. Não era Henry, eu tinha jantado com ele e a família dele – graças aos céus, Alícia não estava à vista, vovó estava em um cruzeiro pelo Caribe, então só poderia ser duas pessoas, ou vovô, ou Jenny.

— Alô! Feliz Natal para você que está do outro lado da linha! – Cumprimentei animada, ver Stephanie sair de nossas vidas era um excelente presente de Natal.

— Feliz Natal, Kelly! – A voz de Jenny me saudou.

— Eia! Que tom de voz é esse, Jenny?

À menção do nome de Jenny, Stephanie olhou na minha direção com a cara fechada, eu sorri abertamente para ela, ó como é doce o sabor da vingança!

— Bem... - ela começou. – primeiro eu quero pedir desculpas, as coisas ficaram complicadas agora no final do ano e não deu para ir para os EUA, mas posso te garantir que seu presente vai ser entregue na remessa de urgência.

— Isso não é desculpa! E você sabe o que nos ensinaram sobre pedir desculpas, né?

Ela riu do outro lado.

Olhei para todos os lados, e não achei a chata de galocha por perto, então pude perguntar:

— E a minha irmãzinha, como está passando o primeiro Natal dela?

— Ganhou mais presentes do que deveria, grande parte por minha culpa! Mas o pessoal do escritório, Ducky e você também exageraram! – Ela sorriu.

Foi quando eu notei que Stephanie estava mais perto do que seria possível, e ela acabara de ouvir sobre Sophie. Ela me lançou um olhar que ia do ódio à mágoa e saiu batendo a porta com tanta força que o vidro trincou.

— O que foi isso?! – Jenny perguntou assustada.

— A ex-esposa número 3 indo embora com muito ódio. – Falei, minha alegria de ver o sofrimento dela tinha sido substituída pela pena, talvez, lá no fundo, ela não fosse uma pessoa ruim, só estava no lugar errado e se apaixonou pela pessoa errada.

Jenny suspirou.

— Eu acho que deveria esperar por isso. – Ela falou.

— Peraí, vocês dois?

— Eu encontrei duas vezes com o seu pai nas últimas doze horas.

— Me diga que ele viu a Sophie, que vocês dois puderam conversar... me diga que será possível Sophie passar um tempinho conosco aqui em Alexandria. – Eu agarrei o telefone com tanta força em expectativa que minha mão até doeu.

— Acho que não, Kelly. Na primeira vez, ele estava com Stephanie, ou pelo menos eles saíram juntos, mas deu para notar que nada ia bem ali. E na segunda... – ela parou para respirar fundo. – ele estava na rua do meu prédio, quando me aproximei de carro, ele parou bem no meio da rua, me fazendo frear. Ao descer e cumprimentá-lo, ele apenas me mediu de cima a baixo e depois entrou no carro e saiu acelerando pela rua. Isso foi há oito horas.  – Jenny terminou o relato e eu não sabia o que o tom de voz dela significava. Já eu, eu estava possessa de ódio por meu pai fazer isso, por todas as decisões erradas que esses dois tomaram dentro de um ano e meio.

— Ele deve chegar ainda hoje. – Falei por fim. – Mas o que ele queria indo até você?

— Não sei, Kelly. Não sei. Eu estava pronta para tentar ter uma conversa com ele.... porém... você conhece o seu pai.

Eu a entendia, contudo não entendia os motivos de meu pai. E não adiantava levar essa conversa adiante, não ia sair nada dali. Então resolvi mudar de tópico, ou voltar ao que estávamos falando antes de Stephanie sair igual à uma doida varrida.

— Bem, como não é possível entender a cabeça de meu pai, vamos para um assunto nem tão fácil. E como eu fico? Sabendo sobre Sophie e não tendo a certeza de que ele sabe sobre ela?

— Vou deixar para você resolver isso, Kelly. Fique à vontade para contar a ele ou não contar. Eu não sei mais o que faço. Te confesso que deixei outro bilhete para ele, está no porão, dentro da primeira gaveta da estação de trabalho dele. Eu fiz o que me era possível. Vou deixar na mão dele e torcer para que ele faça a escolha certa.

Eu fiquei mais perdida ainda.

— Mas eu quero saber da Sophie. Eu quero poder vê-la! – Basicamente implorei.

— Você é mais do que bem-vinda Kelly. Sempre que quiser vir, me fale e que eu arranjo a passagem para você, você já é maior, pode fazer o que bem entender. E, se me for possível ir aos EUA e levar Sophie comigo, pode ter certeza de que eu vou te procurar.

— Vai procurar meu pai, caso isso aconteça?

— Não sei, Kelly. Não sei o que passava na cabeça dele quando ele arrancou aquele carro, só sei que... que eu acho que foi o fim.

O fim. Ou será que um dia eles se reencontrariam? – Pensei comigo mesma.

— Eu nunca gostei de finais tristes. – Falei por fim.

— Ninguém gosta, mas contos de fadas só acontecem em filmes. – Jenny me falou.

— Infelizmente a realidade parece ser essa. – Disse desanimada.

— Você vai ter o seu final feliz, só não faça as besteiras que eu fiz! – Jenny me aconselhou. Eu ia começar a responder, mas escutei um choro no fundo.

— Acho que alguém está demandando atenção. – Disse, enquanto Sophie chorava alto, como se quisesse que a mãe só olhasse para ela.

—  Demandar não é a palavra certa, creio que está me mandando mesmo!  - A felicidade tinha voltado à voz de Jenny. E me peguei pesando que, sabe-se lá por quais motivos, algumas pessoas encontram a felicidade em outras coisas, talvez a felicidade de Jenny fosse ser mãe de uma garotinha ruiva.

— Então eu vou desligar...

— Espera, você não desejou Feliz Natal para a sua irmã! – Ela ralhou.

Pude notar o telefone ser movido, e depois ouvi o resmungar de uma bebê não muito feliz.

— Hei, Soph!! É a Kelly. Feliz Natal, Moranguinho!! – Falei o mais mansamente que consegui. E desejei que ela já soubesse falar para me responder.

— Feliz Natal, Kelly! – Jenny falou pela filha. – Se serve de consolo, ela abriu um sorriso ao escutar a sua voz.

— Serve. Vou levar isso em consideração. – Fingi estar um pouco magoada. E Jenny gargalhou. – Só não espere muitos presentes no aniversário. – Alertei.

— Isso é até bom, não quero uma filha mimada! – A mamãe do ano começou e teve que parar por conta da nova onda de choro. – Não adianta, Kelly. Tá mal-humorada!

— Então vai lá! Nos falamos no Ano Novo!! – Me despedi.

— Até o ano novo, Kelly! – Jen se despediu e desligou logo em seguida. E eu fui deixada a sós com meus pensamentos.

Eu poderia contar tudo para meu pai e confrontá-lo. Seria a opção certa. Por outro lado, eu estava começando a pensar que me meter no meio disso tudo poderia ser muito pior. E se meu pai tivesse resolvido ignorar tudo o que vinha de Jen de vez? Se eu ficasse falando sobre ela, ele nunca iria superá-la...

Decisões... decisões.

A vida de três pessoas balançando na minha própria decisão. Eu nem sei o que vou fazer da minha vida! Como posso tentar remediar a vida de outras pessoas?

Eu fiquei sentada na mesa da cozinha por mais tempo que seria necessário, e me assustei quando o telefone tocou novamente, era vovô. Uma conversa muito mais fácil, apesar de que ele me perguntou sobre a neta número 2 ao final da conversa e eu prometi enviar para ele as cópias das fotos que eu já tinha.

Como eu já esperava, Henry só deu notícias no final do dia, tinha acabado de sair da festa na casa dos avós. Ainda bem que ele não tinha insistido muito para que eu fosse. Falou que passaria a noite aqui comigo. Aceitei de bom grado, estava cansada de ficar sozinha.

A noite acabou por passar tranquila, tinha tempos que não ficávamos só nós dois, sem ninguém por perto. Foi fácil ficar assim.

Estava dormindo quando escutei um barulho. Parecia que alguém subia as escadas. Virei para o outro lado e afundei meu rosto no peitoral de Henry. Ignorando o barulho, era normal o pessoal subir fazendo barulho as escadas do dormitório.

Estava quase fechando os olhos quando notei duas coisas. Minha cama no dormitório não é casal. E eu não estava em Harvard!

Sentei de uma só vez na cama, desesperada. Olhei para a porta e vi um par de pés passando do outro lado. Olhei para o meu lado e Henry tinha despertado e queria começar a me perguntar alguma coisa, quando dois pés pararam na minha porta. Calei meu namorado com a mão e indiquei as sombras por baixo da porta. Henry arregalou os olhos.

— É o seu pai? – Henry me perguntou sem emitir nenhum som.

Confirmei com a cabeça.

— O que vamos fazer? – Ele tornou me perguntar sem falar.

Dei de ombros, nada vinha à minha mente. Eu estava apavorada, se papai pegasse Henry dormindo na minha cama, ele iria matá-lo, e a desculpa de que já tenho dezoito anos não cola quando se trata de Leroy Jethro Gibbs.

— Kells, você tá aí? – A voz dele veio do outro lado da porta.

Eu tive que espremer um travesseiro no meu rosto para abafar o meu grito de desespero.

Olhei para Henry, e fiz a única coisa que poderia pensar. Mandei que ele se levantasse bem devagar e se escondesse no único lugar possível. No guarda-roupa!

Ele me olhou cético.

— Quer morrer, então? – Perguntei enquanto entregava as roupas dele e procurava uma para mim.

Henry, sensatamente se vestiu e entrou no guarda-roupa. Eu me joguei na cama, mandando o segundo travesseiro para debaixo da cama e me deitando no meio.

— Pai?! – Respondi, tentando disfarçar o pânico da minha voz.

— Posso entrar? – Ele perguntou.

Dei uma última olhada em torno do quarto, não tinha nada do Henry à vista, ou melhor, tinha, as chaves do carro dele e o celular. Catei os dois pus o celular no silencioso e escondi tudo debaixo do travesseiro.

— Pode.

Ele abriu a porta cauteloso. Acho que ele não sabia o que esperar de nos vermos depois de mais de seis meses.

— Oi pai. – Minha voz soando mais calma do que eu achava ser possível.

— Kells. – Ele andou pelo meu quarto, até que se escorou no guarda-roupa. Precisei de todo o meu autocontrole para não agarrar a ponta das cobertas de nervoso e torci para Henry nem respirasse lá dentro.

— Como foi a viagem? Stephanie já esteve aqui.

— É, eu notei. Ela não falou nada?

— Não, entrou muda e saiu calada, mas eu estava no telefone com vovô praticamente o tempo todo. – Lembrei da regra 7, sempre seja específico quando mentir.

— Sei. Quer sair para tomar café? Acho que temos muito o que conversar, inclusive a sua visita à Londres.

— Sim, café fora, ótima ideia. E sim, temos que conversar.

— Vou deixar você se arrumar, então. Te vejo lá embaixo. – O semblante de papai nunca esteve tão cansado.

—  Me dê quarenta minutos. Vou tomar um banho e me arrumar.

Ele aceitou de primeira e saiu fechando a porta. Dei um suspiro de alívio. Mas ainda não estava à salvo.

Levantei em um pulo, arrumei a cama, Henry abriu a porta do guarda-roupa e tentava escutar os passos do meu pai.

— Você fica aqui dentro até que eu te mande mensagem, dizendo que tudo está limpo. Saia pela porta da cozinha, papai nunca tranca aquela lá. E não volte aqui hoje. - Sibilava para meu namorado, enquanto procurava alguma roupa para vestir, não planejava voltar ao meu quarto, para não chamar atenção para o cômodo, e, consequentemente, para Henry.

Entrei para o banho e torci para que papai não tivesse desconfiado de nada e resolvesse voltar ao meu quarto para arrancar a pele de Henry. Saí, meia hora depois e parecia que nenhum assassinato tinha sido cometido.

— Está pronta, Kells? – Ele perguntou do pé da escada.

— Só vou pegar a minha bolsa! – Falei e corri para o quarto, Henry estava sentado na minha cama. Dei um selinho nele e prometi informá-lo quando fosse seguro ir.

Saí de casa deixando o pobre preso no meu quarto. Essa tinha sido por muito pouco!

—-------------------

 O ano de 2001 começou como deveria, muita neve, trabalho e o aniversário de Sophie chegando cada vez mais perto.

Parecia até surreal que há um ano eu a estava carregando em minha barriga e hoje ela já ensaia os primeiros passos e primeiras palavras. Agora entendo o motivo dos pais falarem que o tempo passa rápido. E, mesmo que eu não tenha dormido muito nos últimos dez meses, eu não poderia estar mais orgulhosa da minha filha. Estar mais certa da decisão que tomei.

Sophie era tudo para mim.

Kelly dava notícias semanais, e, assim que voltou para Harvard me ligou com a notícia de como Jethro quase tinha pegado ela e Henry quando chegou da Rússia. Eu ri durante todo o telefonema. Jethro só poderia estar muito cansado para não notar o genro dentro daquele quarto, ou talvez, tenha resolvido ignorar.

Não, ele não notou, Gibbs jamais perderia a chance de poder atirar no moleque que estava com a garotinha dele. Na verdade, ele notou, só não quis se encrencar ainda mais com a filha, essa era a minha aposta final.

Kelly, a cada ligação, me cobrava mais fotos da irmã, e, também me implorava para que, assim que ela começasse a falar, era para colocá-la no telefone. E tudo o que eu fazia era concordar.

Assim, o mês de janeiro passou. Fevereiro chegou e trouxe o dia dos namorados. Grande coisa, ver todos aqueles balões em formato de coração. A única coisa que eu percebi foi a inflação no preço do chocolate.

— Maldito feriado. – Reclamei quando paguei pela caixa de bombons, que estava absurdamente cinco libras mais cara.

— Vai caçar um namorado e para de reclamar moça! – Uma adolescente me xingou.

Olhei para a atrevida garota, ela estava de mãos dadas com um garoto. Parecia ser o primeiro namorado dela, pela idade que aparentavam e apenas balancei negativamente a minha cabeça. E tive que morder a língua para não dizer que o namoro dela não duraria. Ninguém era obrigado a conviver com o meu mau humor.

Saí da loja com Sophie no meu colo, ela sim, estava contente abraçada com a Boneca Russa que Callen havia lhe dado e balbuciava qualquer coisa.

— Está gostando da sua boneca, bonequinha? – Esfreguei meu nariz no dela e ela me olhou feliz. – pelo visto está!

Estava prendendo minha filha no assento quando ela me surpreendeu;

— Mama... – ela disse, me estendendo a boneca. – Mama. – Ela apontou para o cabelo da boneca e puxou uma mecha do meu.

Eu quis chorar. Sophie acabara de falar a primeira palavra. Minha garotinha tinha o dom de saber me surpreender quando eu mais precisava.

— Sim. Eu sou a mamãe. E você é a Sophie.

— Mama! – Ela repetiu, balançando os pezinhos e abrindo um sorriso.

Sorri de volta para ela. – Obrigada, filhota! – Beijei o topo da cabeça dela e fechei a porta, era hora de voltar para casa. Meu feriado não seria tão ruim, depois dessa.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso... e só tenho que dizer que não resisti em não escrever esse sufoco da Kelly!
E, Sophie... essa garota tem o mesmo dom do pai de descobrir quando Jenny está mal!
Spoiler do próximo capítulo: teremos o início da esquipe de Gibbs no NCIS!
Fico por aqui, obrigada a você que está acompanhando!
xoxo



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