Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 47
Uma Nova Realidade


Notas iniciais do capítulo

E eu volto com um capítulo enorme.
Tem uma aparição surpresa... será que vocês vão gostar?
Aproveitem o capítulo e boa leitura!!



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Eu não sabia o que tinha me dado, só sei que não podia deixar Kelly sozinha naquela casa. Quando eu vi o tamanho do sofrimento da garota, eu quis ir até onde Jethro estava e falar umas poucas e boas para ele.

Onde estava o pai super preocupado que eu conheço?

Fugir não estava no vocabulário dele. Será que depois de quase dois anos ao meu lado, foi isso que ele aprendeu?

Me dei um tapa na cabeça! Brigando comigo internamente. Como eu fui deixar as coisas acontecerem desse jeito?!

Ao ouvir passos atrás de mim, tive que respirar fundo para controlar as minhas emoções, Kelly não precisava sofrer comigo.

— Eu simplesmente amei o quartinho dela!!! – Ela disse feliz, com a irmã nos braços, Sophie tinha se acostumado com o colo da irmã e estava olhando para ela com curiosidade. – Gostei mais ainda do álbum de colagens. – Ela admitiu. – Jen...

E parou, e seu tinha aprendido alguma coisa, é que Jen e essa parada significam problemas.

— Desembucha, Kelly. – Eu abri um sorriso.

— O Ducky sabe dela?

— Sabe. Ele esteve aqui duas semanas antes do Natal, e, bem, era meio difícil esconder uma barriga de cinco meses...

— Então a Sophie do presente debaixo da árvore da casa dele... – Ela divagou.

— Eu não estou te acompanhando, Kelly.

E ela ficou vermelha.

— Bem, é que... nós passamos a Noite de Natal na casa do Ducky, e, depois que ele entregou um presente para cada um, ficaram dois debaixo da árvore.

Eu acompanhei o rubor no rosto da garota ficar ainda mais forte.

— Curiosa como sou, eu tive que olhar para ver de quem eram. Um era para você, e outro tinha o nome Sophie escrito.

Eu fiquei calada, tentando segurar o riso.

— Não ria, sou curiosa por natureza. – Ela se defendeu.

— Espero que sua irmã não seja assim! – Eu peguei Sophie dos braços de Kelly e segui para a cozinha, era hora da mamadeira.

— Então... – A voz de Kelly me seguiu. – O que era?

— O que era, o que? – Resolvi brincar com Kelly.

— Você sabe?! – Ela jogou os braços para o ar e ficou ainda mais vermelha.

— Brinquedos e alguns livros infantis, bem como alguns para se ler enquanto ela está no banho... – Respondi.

— E o seu?

— Deveria ser um livro de como resolver os meus problemas, mas Ducky sabe me agradar e me deu um lindo cachecol.

— Ah... Eu vi que ele mandou outro presente.

— Sim, um gatinho de pelúcia, enviou assim que eu contei para ele que Soph havia nascido.

Comecei a misturar o leite. Uma das minhas maiores paixões foi não ser capaz de amamentar Sophie no peito.

Assim que tudo ficou pronto, peguei a neném que já começava a chorar de fome e me sentei no sofá, nem a tinha ajeitado no meu colo e a gulosa já foi pegando a mamadeira, apoiando a suas pequenas mãozinhas em cada lado.

— É muito fofo! – Kelly se sentou do meu lado observando a irmã.

— Gulosa! – Eu falei para Sophie que não desgrudava os olhos de mim.

— Ela dá muito trabalho? – Kelly continuou a conversa que iniciamos na casa de Jethro.

— Tem dia que sim, tem dia que não, na maioria das vezes dá pra controlar. O maior problema são as consultas médicas semanais, ela ainda tem que ser checada periodicamente.

Sophie mamava com pressa, como se o mundo fosse acabar em leite. Logo ela não queria mais, e, satisfeita, empurrou a mamadeira para longe, vi que seus olhos se fechavam, um claro sinal de sono.

— Posso colocá-la no berço? – Kelly se empolgou.

— Depois do arroto, pode.

Kelly deu dois passos para trás, morrendo de medo da irmã golfar nela.

— Não quer ficar com cheiro de leite azedo? -  Brinquei.

— Não. Depois da última golfada, eu ainda sinto meu cabelo com cheiro ruim! – Ela disse e se sentou no sofá, pegando o celular e indo jogar qualquer jogo.

Comecei a ninar Sophie, pedindo aos céus que ela dormisse rápido, essa viagem de ida e volta à América tinha acabado comigo e logo cedo eu teria que estar no escritório.

Depois de quinze minutos, Sophie estava pronta para dormir, Kelly fez as honras e a colocou no berço, só para escutar Sophie abrir o berreiro assim que apagou a luz.

— O que eu fiz de errado? – Ela perguntou amedrontada.

— Creio que ela não é muito a sua fã... – Entrei no quarto e, sem acender a luz, peguei minha filha e comecei a niná-la de novo. Levou quase uma hora, mas Sophie se acalmou. A essa altura, Kelly já havia ido dormir.

— Durma bem, pequena! – Sussurrei ao ouvido de minha filha e a coloquei no berço.

Atravessei o corredor para encontrar Kelly apagada, abraçada com um travesseiro e com a luz ainda acessa.

Joguei um cobertor em cima dela, apaguei a luz e, antes que pudesse apagar a luz, escutei a garota murmurar:

— Boa noite, papai.

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As semanas vivaram mês e logo me dei conta que hoje fazia um ano que papai tinha oficialmente voltado para casa.

E um ano depois, ele está casado com outra mulher, em uma missão na Rússia, enquanto eu estou na casa da Jen, tomando conta da minha irmã mais nova...

O mundo é estranho. E a vida mais ainda.

Suspirei fundo. Essa data coincidia exatamente com a data de morte da minha mãe. Era um domingo, e Jenny tinha dado uma saída para resolver um problema no NCIS, disse que não demoraria.

Andei um lado para o outro, Sophie estava dormindo no chiqueirinho, rodeada de bichinhos e abraçada com um gatinho. Bem que ela poderia acordar, só para que eu tivesse o que fazer...

Noemi andava de um lado para outro, arrumando as coisas, se certificando que Sophie e eu estávamos bem.

Não deu quarenta minutos e Jenny chegou. Pedindo desculpas pelo atraso, ela apenas olhou para mim e disse:

— Você vai receber uma ligação hoje.

Menos de trinta segundos depois, meu celular tocou. Não reconheci o número, olhei para Jenny como se ela fosse alguma espécie de vidente.

— Atenda... – Ela me mandou.

— Alô?

— Kelly? – A voz de papai era de alívio. – Onde você está?

E aí estava, eu não podia falar para ele que estava em Londres... podia? Olhei para Jenny pedindo por ajuda.

— Diga a verdade, só não conte sobre Sophie.

Respirei fundo.

— Em Londres. No apartamento da...

Papai soltou algo que eu identifiquei como sendo um palavrão em russo.

— Você pediu por isso? – A voz dele não era lá muito agradável.

Eu vi vermelho. Ok, ela o abandonou, mas ele fez o mesmo com a própria filha! Não tinha o direito de ficar furioso comigo.

— Ela me convidou, quando foi aos EUA, para conversar com o senhor, mas como você tinha se casado e se mudado para algum lugar que eu não sei onde é, e eu estava sozinha e sem notícias, ela me convidou para passar as férias aqui com ela. Estou em Londres até o final do verão, depois volto em casa para arrumar as minhas malas e ir para a faculdade. Não precisa se preocupar! – Minha voz foi aumentando a cada palavra, no final eu estava gritando, e meus gritos acabaram por acordar Sophie que começou a chorar.

— Kells... – papai começou – Você sabe que dia é hoje, não sabe?

— Sei muito bem. – Ainda não estava feliz com ele.

— Eu só queria saber.... – E Sophie chorou ainda mais alto. Muito mais alto. – Que bebê é esse?

— Bebê? – Perguntei alarmada, olhando para Jenny que tentava acalmar Sophie de todas as formas. Sussurrei um “Desculpe” ela disse para não me importar e indicou que eu enrolasse meu pai.

Foi aí que eu não quis seguir o que ela disse.

— Esse bebê é.... – Comecei, mas Jen tomou o celular das minhas mãos e me olhou feio. Fazendo o sinal de não com a cabeça. Nunca a tinha visto com tanta raiva assim.

— Esse bebê? – A voz de papai soou alta. – Kelly?!  - Jenny soltou o telefone como se a voz de meu pai fosse algo ruim, mas continuou a me encarar.

— É de alguém, eu estou passeando em um shopping, tem uma mãe com um bebê do meu lado aqui na loja, e a bebê não para de chorar.

Papai pareceu engolir a mentira.

— Então... o senhor está aonde?

— Estou bem.

— Bem de verdade?

— Sim.

— Ainda vai demorar para voltar?

— Um pouco, devo estar em casa para o Natal.

— Claro, nos vemos lá, então.

— Kelly, você está mesmo bem? Estar aí com... – Ele não disse o nome dela.

— Estamos bem. Ela acabou de chegar perto de mim, quer conversar com ela?

Jenny me olhou horrorizada, papai ficou mudo.

Não sei o que acontecia na Rússia, mas desejei que ele dissesse sim. Ouvi uma porta bater, os passos de papai pesados contra o chão. Até que ele falou.

— Passe o telefone para ela.

Estendi o telefone para Jen. Ela olhava entre a raiva e a dúvida para o aparelho, e vi que apertou Sophie mais forte em seus braços quando pegou o celular e o colocou na orelha. Mas não disse nada.

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Eu precisava conversar com Kelly. Vinha tentando ligar para Alexandria há horas. E ninguém atendia ao telefone. Comecei a me preocupar. Hoje era uma péssima data. O aniversário de morte de Shannon e também marcava um ano que Jen tinha escrito aquela carta.

As duas me deixaram no mesmo dia.

Tentei ligar mais algumas vezes e não consegui resposta. Me desesperei, Kelly nunca ficava bem nesse dia, foi quando entrei em contato com o escritório de Londres e exigi que eles rastreassem a minha filha.

Sei que isso causaria um enorme problema, não me importava, Kelly era quem me importava agora.

Quando liguei, um dos técnicos de plantão me disse que precisava conversar com a agente encarregada da missão.

— Então chame a Agente Willows!  - Gritei.

— Senhor, não é a Agente Willows a responsável, é a Agente Shepard.

Eu não sabia o que fazer. Justo Jen e justo hoje.

— Eu vou ligar para ela vir ao escritório o mais rápido possível e a ligação foi encerrada.

Fiquei encarando o celular por um bom tempo. Ponderei o que tinha acabado de ficar sabendo.

Ter Jen como a agente responsável por coletar os dados era uma boa coisa, ela era extremamente competente, e isso significava que o quer que ela tenha tido, já estava melhor. Por outro lado, tinha que ser ela? De tantos agentes do NCIS espalhados pelo mundo, tinha que ser Jenny aquela que ficaria responsável pela nossa segurança.

Ainda olhava para o celular, quando ele começou a tocar. Número de Londres. Linha segura pelo click que pude ouvir.

— Shepard. – A voz dela soou forte e confidente.

— Eu quero que vocês rastreiem Kelly. – Não me importei em ser educado. – Eu quero falar com a minha filha.

— Kelly está segura, Jeth... Agente Gibbs. – Ela me respondeu.

— Como você sabe? Tem uma bola de cristal agora, Jen.. Shepard? – Usei o sobrenome no mesmo tom que ela usara.

Ouvi Jen respirar fundo, eu sabia como ela estava agora, olhos brilhando em fúria e rosto corado.

— Ela está comigo aqui em Londres, Jethro. Por isso sei como ela está.

Isso me pegou de guarda baixa. Melhor dizendo, isso me surpreendeu. Eu agora tinha mais perguntas para fazer, muitas perguntas.

Quem tinha procurado quem? Como Kelly tinha viajado até Londres sem a minha autorização? O que Jen queria com essa reaproximação?

Foi quando me lembrei das cartas que Kelly recebera...

E Jen estava do lado da minha filha de novo....

— Eu quero falar com ela! – Exigi.

— Ligue para o celular dela, Jethro. Sei que ela vai te atender. Precisa de mais alguma coisa? – Ela tinha voltado ao tom profissional.

Desliguei na cara dela e me arrependi assim que o fiz. Eu tive a chance de conversar com ela em um ano e joguei fora.

Passei a caminhar de volta para o apartamento, sem pensar em nada a não ser os motivos de Jen ter levado Kelly para Londres. Ao chegar, dei de cara com Stephanie, ela me olhava com raiva, dois meses de casamento e ela já dava os sinais de que queria um divórcio.

— Onde você estava? Quase chamei Callen para te procurar! – Ela começou.

— Precisava e preciso conversar com Kelly. – Tirei o celular do bolso e sem dar atenção ao que Stephanie dizia, disquei os números de Kelly.

Ela atendeu no segundo toque.

A conversa não foi agradável. Ela não estava feliz comigo, digo que minha filha, pela primeira vez, estava com raiva de mim.

Depois de nós dois termos nos acalmado um pouco e ela começar a me perguntar onde eu estava e quando eu voltava. – Duas informações que eu não poderia dar, mas comecei a pensar que talvez ela já soubesse, só queria que eu confirmasse o que Jen já havia falado. – Tive que confirmar se ela estava mesmo bem e se Jen estava com ela, acontece que não tive como dizer o nome da ruiva.

Kelly me respondeu com certeza que estava, e eu notei a sinceridade na voz dela. E me perguntou se eu queria conversar com Shepard, já que ela havia chegado.

Era uma pergunta que eu não esperava. E me peguei pensando em como Jenny estaria ao ouvir isso, ela também não esperava conversar comigo tão cedo.

— Passe o telefone para ela. – Pedi para Kelly.

Era a oportunidade perfeita para Jenny desligar na minha cara. Vi que ela demorou para colocar o telefone no ouvido. Quando o fez, não disse nada. Mas eu reconhecia aquela respiração.

Esperei um pouco, e ela, estranhamente, nada disse.

Pude ouvir que ela ajeitava algo. E ouvi um suspiro alto, como se uma criança tivesse caído no sono.

Dei mais alguns passos para longe de Stephanie que tinha chegado mais perto para entreouvir a conversa. E disse o que deveria ter dito quando desliguei na cara dela:

— Obrigado por olhar Kelly no dia de hoje. Mais uma vez.

Supreendentemente ela me respondeu.

— Sempre, Jethro. Sempre.

E a linha ficou muda. Não tinha como conversarmos o que precisávamos, não nessas condições.

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Depois da conversa, ou quase conversa com Jethro, eu acabei por ficar um tanto quanto perdida. Não esperava que ele aceitasse o convite de Kelly, e muito menos que me agradecesse.

Tentei de todas as formas esquecer aquelas poucas palavras trocadas, mas a voz dele não me deixava. Durante todo o domingo, quando a casa caía em um silêncio bem-vindo, era a voz dele que eu escutava em meu ouvido. Kelly não desgrudou de mim, e eu pude ver que essa data a afetava mais do que afetava Jethro.

Certa hora da noite, eu estava sentada no chão, aproveitando que Sophie tinha se acalmado o suficiente para poder ficar brincando sentadinha no cobertor que eu tinha estendido ali quando Kelly se aproximou.

Olhos vermelhos, e carinha triste, ela se sentou de uma vez do meu lado e, depois de encostar a cabeça no meu ombro disse:

— Eu sinto tanta falta da minha mãe! Mas tanta falta! – E começou a chorar. Eu, instintivamente a abracei apertado e tentei acalmá-la.

— Quando que a dor passa e ficam só as lembranças? – Ela perguntou entre soluços. – Você disse que um dia isso passa...

— Não tão rápido, Kelly. E dias como esse só tendem a aumentar a dor.

— Eu queria não lembrar, tem hora. Queria ser mais nova do que era quando aconteceu, assim, eu não teria nenhuma memória dela, mas ao mesmo tempo, eu não queria que ela se fosse. Eu não quero sentir essa dor. Eu sinto falta da minha mãe, eu sinto falta do meu pai. – Ela continuou a chorar.

— Eu sinto muito por não poder fazer mais nada, Kelly. Sinto mesmo. – Eu disse baixo. E enquanto Kelly chorava sem parar, eu lancei uma olhada para a minha filha, e desejei poder ser eterna para que ela nunca pudesse passar por isso.

Kelly só foi conseguir parar de chorar quando já era tarde, e, a essa altura, Sophie dormia em meus braços.

— Você vai ficar bem? – Perguntei para Kelly quando ela se levantou.

— Vou. E me desculpe.

— Nunca se desculpe, é sinal de fraqueza! – Falei com ela e Kelly abriu um sorriso.

— É claro que é! – E ela beijou a testa da irmã e me deu um abraço meio desajeitado pela presença da bebê. – Obrigada. – E seguiu para o quarto.

— Tal pai, tal filha. – Falei para mim, enquanto eu arrumava Sophie e a colocava no berço. Surpreendentemente, eu dei um banho nela, a amamentei e a dorminhoca nem acordou.

Na segunda cedo eu tive a impressão de que estava esquecendo algo realmente importante. Tinha tanta coisa em mente que não sabia mais o nível de importância das coisas. Mas algo me dizia que tinha a ver com Sophie. Assim, corri para minha mesa e, antes mesmo de conferir e-mails ou os arquivos de casos, abri a minha gaveta para pegar a minha agenda, e foi quando eu notei que haviam mexido ali.

A pessoa tentou esconder, mas evidentemente, alguém tinha tirado a minha agenda o lugar e tinha folheado. Em busca de que, não sei, só sei que tinha um dia marcado. A data do meu aniversário. E, no final da página, uma mensagem.

Tive que ler três vezes. Na quarta, meu cérebro ainda se recusava a processar.

Jethro tinha estado na minha mesa, tinha mexido nas minhas coisas e ainda tinha escrito uma mensagem de feliz aniversário na minha agenda.

Se ele tinha feito isso, por que raios me tratou tão mal na ligação? Por quê?

Estava pensando em todas as confusões que eu me meto, em todas as consequências que as minhas decisões me levam, quando Willows apareceu e disse que tinham novas informações da Operação da Rússia.

E lá ia eu não me livrar de Jethro nem tão cedo.

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Henry tinha vindo para Londres, duas semanas antes que eu voltasse para os EUA. Como Jenny havia prometido, ele dormiu no sofá. E teve que se acostumar com choro de bebê no meio da noite. E a primeira semana foi tão intensa, Sophie chorou tanto e tão alto, que quando nós dois tivemos um tempo a sós, ele simplesmente soltou:

— Pelo amor de Deus, não vamos ter filhos nem tão cedo, né? – Ele tinha os olhos verdes arregalados e desesperados.

— Não. Definitivamente não. Não quero ficar fedendo a leite azedo nem tão cedo. – Respondi para ele e estava prestes a me escorar nele quando uma nova rodada de choro começou.

— Eu fico feliz em ouvir que não terá outro bebê nessa família nem tão cedo! – Jenny passou atrás de nós no sofá e correu para o quarto de Sophie. – Aposto que o seu pai também pensa assim!

— É sempre assim? – Henry me perguntou com uma expressão assustada.

— Não. Mas Jenny está achando que os dentinhos de Sophie estão nascendo, por isso todo esse choro. Quanto à Jen. Sim. É sempre assim. Ela é leitora de mentes!! – Eu ri.

Durante a estadia de Henry em Londres, Jen fez questão de nos levar para diferentes lugares, era verão, e ela tentava sempre sair um pouco mais cedo, dizendo que estava trabalhando em outro fuso-horário.

Ela estava trabalhando no mesmo fuso-horário que meu pai.

Assim, entre visitar Londres com mais calma e passar o maior tempo possível com minha irmãzinha, as minhas férias acabaram. E uma semana antes do início oficial das minhas aulas, Jenny tirou uma folga e voou comigo para os Estados Unidos, primeiro fomos até Alexandria, onde ela, me ajudou arrumar tudo o que eu iria precisar na faculdade, isso entre aparecer no NCIS para algumas reuniões com o Diretor Morrow e cuidar de Sophie.

Na minha última noite em Alexandria, e talvez fosse a última do resto da minha vida, Ducky teve a brilhante ideia de sair para jantar. Era a minha despedida a final de contas. E foi quando eu falei para ele que depois da faculdade, que eu pretendia fazer em um tempo menor, eu iria entrar para a Marinha.

Ducky se engasgou, enquanto Jen só riu de lado, ela já sabia disso! E, Ducky, um pouco antes de se despedir e dizer que estava à disposição para o que eu precisasse, apenas me perguntou:

— Kelly, seu pai sabe sobre essa sua vontade de se juntar à Marinha?

Cocei a cabeça, não tinha lá muita certeza...

— Ah, ele sabe. E deve ter pesadelos com o dia em que Kelly se formar na Academia Naval. – Foi Jen quem respondeu enquanto colocava Sophie na cadeirinha dentro do carro.

— Viu, ele sabe! – Falei para Ducky que apenas ria da situação. Foi quando ele diminuiu o tom de voz e disse na minha direção.

— Quando Jethro e Jenny se reencontrarem, você, minha querida, vai entender o significado de “ser muito mais do que parceiros.” Você viu em um curto tempo, quando tiver a oportunidade de ver em tempo integral, vai saber porquê nenhuma outra dupla irá superá-los em parceria.

Abri um sorriso para o pensamento de papai e Jen trabalhando lado a lado novamente.

— Será que isso voltará a acontecer, Ducky?

— Não será amanhã ou daqui a um ano, mas eles vão se reencontrar.

Fiquei com as palavras de Ducky em minha cabeça por toda a noite. Torcendo mentalmente para que elas se tornassem realidade.

Na sexta-feira, bem cedo, eu fechei a última mala da minha mudança para Massachusetts. Os próximos anos definiriam a minha vida adulta e eu estava apavorada. Mal toquei no café da manhã e cada vez que o horário de nosso trem se aproximava, eu ficava ainda mais nervosa.

A viagem de seis horas foi tranquila, mesmo que tivéssemos uma bebê conosco, e comecei a perceber que Sophie fazia sucesso com qualquer pessoa. Bastava que a pessoa fixasse o olhar nos olhos coloridos dela que caia de amores. E era engraçado ver as reações de Jenny para cada mulher que vinha perguntando coisas sobre a bebê. Ela tinha um instinto protetor tão forte, que dependendo da forma como a pessoa olhava para Sophie e saía da persona da mamãe e virava a Agente Federal em menos de um segundo.

— Eles só estão elogiando a Sophie. – Falei quando ela não desgrudou o olhar de um determinado casal.

— Aquela senhora estava, aqueles dois não! – Ela inclinou a cabeça para um casal sentado algumas poltronas à frente.

— O que você acha que eles querem?

— O que querem de verdade eu não sei, mas se vierem e tentarem alguma coisa, vão sair de dentro deste trem dentro de sacos pretos.

Lancei outra olhada em direção ao casal, eles olhavam para Jen, e alguma coisa no olhar dela os instou a se levantarem e trocarem de vagão.

— Feliz?

— Eu só vou ficar quando eu descer desse trem e manter Sophie e você em segurança.

Eu dormi por um tempo, quando acordei, Jen falava ao celular e anotava algumas coisas. Por fim ela apenas assentiu e disse que a próxima parada seria Nova York.

— O que é isso?

— Dados coletados pelo NCIS.

— Você está trabalhando remotamente agora?

— Não. Só tirando algo da minha cabeça.

— A respeito de que?

— Do casal que ficou encarando você e Sophie.

Arregalei os olhos.

— Q..quem são eles?

— Tráfico de crianças e mulheres. Na próxima parada não se mexa, o NCIS, o FBI e a NYPD irão entrar no trem para prendê-los.

— Você descobriu um casal do submundo do tráfico e está calma assim? – Minha voz subindo algumas oitavas devido ao medo.

— Eu já tinha cruzado com eles, Kelly. Só precisava da confirmação de que eles ainda estavam na ativa. Estão. O próximo passo era só a consequência.

Chegamos em NY e, como Jenny havia dito o NCIS, FBI e NYPD entraram nos vagões, pedindo documentos e vasculhando os lugares. Pude ver a movimentação na plataforma quando o casal foi levado, algemado para a Delegacia.

— Muito obrigado, Shepard! – Um cara passou e agradeceu a Jenny.

— Não há de que, Will.

— Essa garotinha...

— É minha.

E o tal de Will encarou Sophie. E abriu um sorriso vitorioso.

— Eu sabia que você e Gibbs eram muito mais do que parceiros. Olha aí a prova! – Ele fez um carinho na cabeça da minha irmã e antes de perguntar outra coisa, parou e me olhou espantado.

— E ela é...

— A filha de Jethro, Kelly. Portanto, mantenha distância. – Jenny o informou.

— Deu pra notar, os olhos são idênticos. – Ele abriu um sorriso. – William Decker, trabalhei com seu rabugento pai na Europa.

— Kelly Gibbs. – Retornei o cumprimento.

— Se precisar de qualquer coisa, Senhorita Gibbs, é só ligar, sei que essa Ruiva aqui vai estar muito longe para te ajudar! – Ele me estendeu um cartão e com um aceno de cabeça, rumou para a porta, dizendo:

— E Jenny, cuide bem dessa pequena Ruiva aí! Ou vão estapear a sua cabeça!

— Vai se ferrar, William! – Foi a resposta de Jen.

Eu a olhei assustada.

— É ótima pessoa, mas é fofoqueiro que dá dó!

— É deu para notar que é gente boa.

— O que ele falou é verdade. Se precisar, pode ligar, Will deve muitos favores ao Jethro. – Vi que a face de Jen ficou um pouco sombria, o que tinha acontecido na Europa para meu pai salvar a pele de Will e ele ficar em dívida?

O trem saiu da plataforma, eram as últimas horas até Boston. E de lá alugaríamos um carro até Cambridge.

Eu dormi o restante do caminho, o balançar do trem me levando a fechar os olhos. E acabei sonhando com minha mãe.

De início ela não disse nada, apenas andava na minha frente por um caminho que eu demorei a reconhecer, mas quando fiz a associação, percebi ser exatamente o caminho pelo qual eu entrara em Harvard no dia de minha entrevista.

Ela ficou em silêncio até que eu parei e fiquei olhando para um conjunto de prédios, os dormitórios.

— Eu estou com medo. – Falei para ela.

— Não precisa. Estou com você sempre. E todos eles também. Quando precisar, filha, é só chamar. – E ela diminuiu a distância entre nós e depositou um beijo na minha testa. – Tenha paciência com seu pai. E lembre-se, tudo se ajeita no devido tempo, Kelly.  – Ela deu um passo para trás, olhou no fundo dos meus olhos, um último abraço e, antes de partir, disse:

— Estou tão orgulhosa de quem você se tornou.

Acordei com um pulo, o local onde ela havia beijado estava formigando.

— Tudo bem, Kells? – Jenny perguntou quando eu não voltei para esse mundo de primeira.

— Tive um sonho estranho.

— Quer conversar sobre?

— Minha mãe. Ela dizendo que está tudo bem. Que tem orgulho de mim. Que estará sempre do meu lado. – Não reparei que meus olhos estavam cheios de água até que sentir as lágrimas descerem por minhas bochechas.

— É claro que ela está, Kelly. – Jenny disse, passando a se sentar do meu lado e me abraçando de lado.

— Mas por que eu sonhei com ela? Justo hoje.

— Porque é hoje e você está mudando de vida, Kelly. Está deixando a segurança da sua casa, do que foi o seu mundo por dezoito anos para se jogar em algo que é desconhecido. Sua mente só quer te trazer conforto, e seu subconsciente está te dizendo que tudo vai ficar bem, que você não está sozinha. Que tem pessoas que se importam com você seja neste mundo ou no outro.

Assenti, mas eu ainda podia sentir o local onde minha mãe havia me beijado, e podia sentir seus braços ao meu redor. Talvez, só talvez, ela tinha ido deste mundo, mas no outro lado, ela deixou de ser a minha mãe e passou a ser o meu anjo da guarda.

Eu nem tinha me recuperado quando o trem parou na estação final.

Respirei fundo. Estávamos quase lá.

A viagem de carro foi curta e tranquila, já não posso dizer o mesmo sobre o campus. Centenas de pessoas estavam chegando, e era fácil distinguir quem eram os calouros e quem já estava ali há um tempo.

Fui direto na Reitoria onde nos indicariam nossos dormitórios, fiquei feliz em ser uma das felizardas que estaria mais próxima dos prédios onde as aulas seriam ministradas.

Assim, olhando um pouco perdida para o mapa em minha mão, tentei localizar onde exatamente era a minha casa pelos próximos anos. Jenny foi mais esperta e com um sorriso, descobriu logo onde era.

— Como você tem certeza de que é aqui? – Perguntei incrédula para a facilidade com a qual ela se guiou pelo Campus.

— Eu estudei nesse lugar, Kelly. E para ser bem sincera, meu dormitório também foi neste prédio. Qual o seu andar.

— Quarto.

— Sortuda, fiquei no terceiro. E era horrível ficar escutando os sons do quarto de cima!

Tentei não pensar nisso, e resolvi que era hora de encarar a realidade e começar a pegar as malas e levá-las para o quarto.

Depois de quatro lances de escadas, com Jenny contando algumas situações que deparou nas escadas e em outros andares também, chegamos na porta do meu quarto.

Ele era minúsculo. Tinha uma cama, uma escrivaninha com a respectiva cadeira, um guarda-roupas e uma bancada. O banheiro, era composto de um chuveiro, uma pia e um vaso sanitário. Era nestes vinte metros quadrados que eu passaria os próximos cinco anos.

— De início é claustrofóbico, mas você se acostuma. Sua sorte é que, por ser um quarto pequeno, não tem colega de quarto! E tem uma vista bem bonita do Campus para te distrair quando as coisas estiverem muito difíceis.

Olhei para a janela e tive que admitir, nisso eu tinha tido sorte.

— Vamos começar a desempacotar as coisas? – Jenny colocou marcha e, dentro das próximas três horas, tudo o que fizemos foi subir com as malas e organizar tudo o que eu havia trazido dentro do quartinho. E, por todo tempo, Sophie ficou brincando, ora com os próprios pés, ora com as mãos. De vez em quando, ela soltava gritinhos de felicidade.

— Está gostando da bagunça? – Jenny arrulhou para a filha. – Um dia será você! Será que vai ser tão esperta quanto a irmã mais velha e vai vir para Harvard também? 

Sophie que nada entendia do que a mãe estava falando apenas soltava seus gritinhos e um monte de sílabas incompressíveis.

— Com quantos meses você acha que ela vai começar a falar? – Perguntei para Jenny que dava uma papinha com cor estranha e um cheiro mais estranho ainda para Sophie. Tínhamos acabado de arrumar tudo e nós duas resolvemos sair para comer antes que Jenny pegasse o voo que a levaria de volta para a Europa.

— Não sei. Ela demorou para começar a chutar na minha barriga, pode ser que seja uma muda funcional igual ao seu pai, ou pode ser falante que nem eu...

— Deus nos livre de outro mudo funcional na família! – Eu falei e Jen concordou comigo.

Depois que Sophie estava alimentada, nós pedimos nossa comida. Apesar de lotado, o pequeno restaurante italiano foi rápido em nos servir. E eu vi que ali seria um bom lugar para comer, quando a comida do campus me enjoasse.

Comemos em silêncio e Jen voltou caminhando comigo até o Campus, Sophie, que estava no colo dela, apontava para tudo o que era brilhante e soltava seus gritinhos, quando a coisa que ela estava observando estava perto o suficiente, ela abria e fechava as mãozinhas como que querendo pegá-las.

— Deixe o vagalume em paz! – Jenny ralhou quando Sophie tentava seguir a luminoso bichinho com as mãos.

Estávamos na porta do dormitório. Eu me senti pequena e oprimida diante do que estava na minha frente. E a sensação de querer voltar a ser criança me atingiu. Eu estava apavorada. Não queria ter saído de casa, eu queria a proteção e o conforto da minha casa agora, do abraço de urso de meu pai, da minha cama e, principalmente, ouvir dele que tudo ficaria bem.

— Eu estou com medo. – Admiti com a cabeça baixa.

— Eu também fiquei e fico cada vez que me mandam para um lugar que não conheço. Medo é normal, mas não o deixe te paralisar, você tem que mostrar a si mesma que existe coisas maiores que o medo! – Jenny me confortou com um abraço apertado. – Quer que suba com você.

— A despedida vai ser pior lá ou aqui? – Hesitei na pergunta.

— Não adianta segurar as lágrimas Kelly. Todo mundo chora na primeira semana. É um sentimento estranho. Estamos enfim por conta própria, podemos cuidar da nossa própria vida e fazer o que quisermos, quando e como queremos, mas tudo o que nós pensamos é na nossa casa e em nossos pais. Isso é crescer.

— E como dói.

— Muito. E não vai passar tão cedo. – Ela foi sincera. – Por isso eu te falei aquilo no trem, quando precisar, pode me ligar, ou mandar mensagem, eu vou sempre retornar. Agora vamos subir que está ficando tarde e eu preciso ir para o aeroporto. – Jenny me guiou escada acima e, depois de pegar as coisinhas de Sophie, verificou tudo de novo. – Você tem que fazer amigos aqui, mas cuidado com quem você deixa entrar na sua vida, Kelly. Tome conta de si mesma, e nunca baixe a guarda. Aproveite as festas, isso aqui nunca mais se repetirá, mas não se esqueça de que você está aqui para seguir com o seu sonho de entrar na Marinha. E um último conselho...

— Que é... – Eu nem me importava de segurar as lágrimas mais.

— Cerveja barata dá uma tremenda ressaca, escolha bem sua bebida e onde você bebe. Bourbon é uma praga para dar dor de cabeça. Vodka dá reboot e nunca a misture com energético. No mais, tenha sempre uma aspirina, um remédio para azia e má digestão na bolsa e, jamais, esqueça os óculos escuros, eles salvam depois da primeira ressaca. – Ela riu.

— Eu não bebo! – Argumentei.

— Eu também não bebia. Minha primeira ressaca foi nesse campus. Uma semana sem enxergar direito por conta da enxaqueca que a cerveja ruim provocou. Confie em mim, sua primeira ressaca virá na faculdade, seja longe ou do lado do Henry.

Fiz uma careta para o que ela disse, mas anotei mentalmente os remédios indispensáveis.

Jen deixou Sophie na cama e me deu um abraço de urso, e sussurrou em meu ouvido que tudo ficaria bem e, se eu precisasse eu podia ligar a qualquer hora.

— Queria me despedir de papai. – Falei assim que ela se afastou.

— Ele não seria de grande ajuda agora, Kelly, sabe que ele não falaria muito.

— Sei. Mas eu sinto falta do abraço dele.

— E como não amar aquele abraço, hein? – Ela piscou para mim e pegou Sophie. – Dê tchau para Kelly, Soph. Agora só a veremos no final do ano, se tudo der certo.

Sophie nem se dignou a me olhar, distraída com o móbile do bebê conforto.

— Eu tentei! – Jenny se defendeu.

— Tchauzinho Sophie! Seja bem quietinha com Jen! – Beijei a ponta do nariz dela, o que resultou em uma crise de espirro.

Jen abriu a porta para sair, se despedindo com um sorriso triste, e, assim que ela saiu, meu celular tocou.

Era meu pai. Ele tinha um timing perfeito para certas coisas.

— Oi pai. – Falei, minha voz falhando por conta do choro.

— Kelly, o que aconteceu? – Ouvi todos os tons de preocupação na voz dele.

— Não quero crescer. Quero voltar a ser criança e só me preocupar em desenhar um sol e uma casinha.

— Já está em Harvard?

— Sim. Acabei de me instalar. Primeira noite e já sinto falta de casa. – Funguei.

— Tudo vai ficar bem, Kells. Se precisar, sabe que pode contar comigo.

— Eu sei, pai. Eu sei. – Eu chorava mais a cada minuto. Me joguei na cama, enquanto meu pai me contava qualquer história que eu não prestava atenção, só ouvia a voz dele e nada mais, quando eu ouvi o barulho de algo se amassando. Rolei para o lado e vi um envelope.

Abri e dei de cara com um pedaço de papel, Jen havia escrito as mesmas palavras que papai havia dito e, junto com a mensagem, três fotos, uma minha com a minha mãe, tirada há muito tempo, outra, eu reconheci como sendo uma das muitas fotos que tiramos enquanto estávamos em Paris, vi o tamanho dos nossos sorrisos e tive que sorrir junto e a última, uma foto minha com Sophie no colo e Henry do meu lado. Essa foto me fez rir ainda mais, foi tirada no mesmo dia em que Henry havia me pedido para não termos filhos tão cedo.

Abracei as três fotos e, chorando, continuei a ouvir a voz de meu pai do outro lado da linha, não sei quando dormi, mas ao abrir os olhos já era dia, a ligação de papai há muito encerrada, e seis mensagens de voz estavam no meu correio de voz.

A primeira de Ducky, me desejando boa sorte.

A segunda de Jen, me desejando boa sorte e reafirmando que tudo ficaria bem. Ao fundo pude ouvir minha irmãzinha balbuciando qualquer coisa, tomei como uma tentativa de me dizer que tudo ficaria bem.

A terceira de papai. Ele diz que eu acabei por pegar no sono e não ouvi o que ele queria me dizer. Papai acabou por engolir o orgulho e me pedir desculpas por não estar do meu lado, me desejava boa sorte e pedia para que eu tomasse cuidado.

A quarta, de Henry, tinha sido gravada há menos de uma hora. Ele diz estar apavorado e me perguntou como eu tinha conseguido dormir estando em um lugar tão diferente.

Quase que liguei para ele e disse que eu só tinha conseguido dormir porque duas pessoas conseguiram fazer a minha primeira noite um pouco mais confortável por terem feito me sentir em casa, porém desisti. Apenas mandei uma mensagem desejando sorte e dizendo que já estava com saudades.

Ele respondeu na hora, me falando que teríamos que dar um jeito de nos vermos. E logo.

Não respondi. Era hora de me arrumar e enfrentar as aulas que em esperavam.

A caminho do prédio onde seria a minha primeira aula, ouvi das outras duas mensagens. Mer e Maddie, as duas tão apavoradas e surtadas quanto eu, perguntando se poderíamos voltar a ter dez anos e esquecer essa coisa de crescer e querer ir para a faculdade.

Bem que eu queria... e como! – Foi a minha resposta para as duas. Guardei o celular e, com o pé direito, entrei na sala de aula, para me deparar com outros cinquenta rostos tão apavorados quanto o meu.

Era bom saber que não estava desesperada à toa!


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Notas finais do capítulo

Sim, Gibbs e Jenny conversaram... ou não, vai saber... e além deles teve Kelly e Henry, Deker voltou para dar um oi e eu trouxe até a Shannon... e Sophie foi a bebê fofa que ela é, muita gente para um capítulo só.
Espero que tenham gostado!
Obrigada por lerem e até o próximo.
Xoxo



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