Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 18
A feira (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Há quanto tempo!
Estou empolgada de novo com a escrita da história. As coisas vão começar a esquentar daqui pra frente...
É bem louco porque parece que eu esperei um tempão por isso.
Vamos ao capítulo, espero que gostem ^^



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Depois de se despedir do tivô Ford, Dipper começou a rir. Sim, Wendy… Aquela conversa que eles tinham acabado de ter era por causa dela. Com certeza.

Falando em Wendy, ela estava na frente de uma barraca que parecia interessante. Ele se aproximou para dar uma olhada.

— E aí, Dipper, tá ligado neste novo jogo? — falou ela, feliz com a chegada do amigo. — Ele se chama "Gaste Dinheiro Nessa Barraca Imbecil". Quer uma bola?

Dipper observou uma mesa no centro da barraca, com uma pilha de latas equilibradas sobre ela. Os prêmios pendurados em volta eram os mais diversos, de todas as cores e tamanhos. Foi quando ele olhou para a vendedora da barraca e percebeu que não era ninguém mais, ninguém menos que sua irmã.

— Mabel, o que você está fazendo aí? — disse, surpreso.

— Você esqueceu? — ela estava mal-humorada pela primeira vez em muito tempo. — Temos que tomar conta de uma barraca este ano.

— Eu achava que o tivô Stan tinha desistido da ideia.

— Pois é, eu também.

Wendy estendeu uma bola pequena e colorida para Dipper.

— Vamos lá, tenta uma vez.

Ao pegar a bola, ele percebeu que ela era muito leve, como as de piscina de bolinha. Não era preciso ser um gênio para saber que aquilo era uma furada.

— Você tá de brincadeira. Isso não derruba nem um castelo de cartas.

— Está dizendo que não consegue? — Wendy olhou pra ele com um olhar desafiador.

— Sim, e provavelmente mais ninguém.

— Shh, shhh — disse Wendy, tentando fazer o garoto se focar. — Não questiona, só tenta.

Ainda que cético, ele entrou na brincadeira. Pegou impulso e atirou a bola com a maior força possível sobre a pilha de latas, mas ela era tão leve que, com uma brisa suave, mudou de direção e foi parar na cara de Wendy.

— Ai! Que droga, me acertou! — protestou ela.

— Ah, me desculpa! — desesperou-se Dipper. Não era possível, o olho da Wendy atraía bolas de brinquedo, era a única explicação.

— Estou brincando. — Wendy riu, mostrando seu rosto intacto. — Isso aqui não machuca ninguém.

— Ufa. — Dipper recuperou-se do susto. — Ainda bem.

Ele olhou novamente para a barraca com a pilha de latas, os prêmios perfeitos e a bola murcha.

— Stan. Uma atração honesta, será que é pedir demais?

Assim que disse isso, os três ouviram a voz do dito cujo em um tom robótico vindo de outra barraca a alguns metros de distância.

— Seus moleques. Larguem a barraca. Aqui não é a casa da mãe Joana.

Surpresos, os garotos vândalos largaram o canetão que estavam usando para riscar a barraca e saíram correndo.

— Não. Voltem mais. Aqui.

Escondido atrás de um arbusto, o Stan verdadeiro observava seu sósia com um grande sorriso no rosto. 

De uma maneira bizarra, a estratégia do robô estava funcionando. As pessoas ficavam tão surpresas ao perceber que aquele homem esquisito era um robô que se assustavam e iam embora.

Bem, quase todas as pessoas. Havia um homem e uma mulher que chegaram perto, curiosos. A mulher olhou para os lados e acabou avistando Stan.

— Oi, com licença. O senhor é responsável por este robô? — Ela se aproximou.

— Eu? — disse Stan, saindo do arbusto e limpando a roupa. — Erm, o que te fez achar isso?

— Está literalmente na sua cara. — Ela indicou o rosto dele.

— Se a senhora for da polícia, foi tudo um engano.

— Não! — A mulher riu. — Fique calmo, eu sou da West Coast Tech. Esse projeto é impressionante, o nível é alto até para nossos estudantes experientes. Só por curiosidade, saberia nos dizer quem fez?

Os gêmeos estavam tão entretidos na conversa alheia que nem perceberam quando as amigas de Mabel chegaram.

— Oi! Que barraca legal! — elogiou Grenda.

— Vocês têm até um unicórnio! — Candy ficou impressionada.

— Amigas! Que bom que vieram! — disse Mabel, sorrindo.

— Posso pegar uma bola? — pediu a menina de porte avantajado.

Mabel explicou brevemente como o jogo funcionava e lhe entregou uma bola.

A grandona segurou o projétil e concentrou-se. Todos aguardavam com expectativa, pois, se alguém conseguiria vencer esse jogo, seria a Grenda. Como uma jogadora de beisebol, ela pegou impulso e atirou a bola direto para a pilha. Seria um strike, mas o plástico da bola era tão frágil que ela amassou e caiu murcha ao bater contra a lata. Os espectadores soltaram um murmúrio decepcionado. Então um papel descolou da lata atingida, revelando que, na verdade, aqueles eram pesos de cinco quilos usados para medidas. Todos arregalaram os olhos.

— Eu quero atirar esses pesos na cara do seu tio-avô — irritou-se Grenda.

As meninas começaram a conversar novamente, deixando Dipper e Wendy para fora do grupo.

— Como passou estes dias sem mim? — provocou Wendy.

O garoto deu de ombros e sorriu. O dia estava agradável, havia cheiro de comida no ar e um murmúrio gostoso de gente conversando.

— Estou inteiro. E você? Veio com mais alguém?

— Não… Esse tipo de rolê não é muito a praia dos meus amigos, mas eu precisava sair um pouco.

Os dois visitaram uma barraca de comida e saíram com duas salsichas empanadas no espeto, com formato de ponto de interrogação.

— Acho que a minha veio com defeito. — Wendy riu. O ponto de interrogação dela parecia mais uma orelha.

Os dois continuaram conversando. No meio da conversa, Dipper olhou para a salsicha empanada de formato esquisito e lembrou-se do amigo que não estava ali.

“Bill ia gostar disso… Onde será que ele está agora?“




Com expressão focada, Bill tentava pensar em uma saída para seu problema técnico. Depois de perder um tempão tentando fazer o portal funcionar, ele tinha descoberto que o problema não era a máquina, e sim a energia no ferro-velho, que era limitada demais. Ele estava acostumado com o porão e seu gerador especial de alta voltagem, mas, no novo local, não era possível construir algo assim. O sistema de energia comum dos humanos não tinha a potência necessária, e o único lugar além da cabana em que ele teria acesso a esse tipo de tecnologia era em centros tecnológicos fora da cidade.

Enquanto ele pensava, um gato de rua chegou e sentou a bunda cheia de pelos em cima de seus papéis.

— O que você está fazendo aqui? — Bill irritou-se.

No dia anterior, enquanto o demônio dava uma pausa no trabalho e comia um lanche, o gato tinha se aproximado dele. O animal começou a se esfregar e pedir comida. Bill já estava cheio, então deu o resto para ele. Ledo engano. Desde então o gato nunca mais largou do seu pé e teimava em voltar para o barraco no ferro-velho por mais que Bill o enxotasse de lá.

— Sai daqui! Xô! — Bill empurrou o gato para fora da mesa. O bicho miou em protesto e mostrou os dentes. 

— Hssssssss!!! 

— “Hsssss” pra você também! HSSSSSS!!! — Bill retrucou.

O gato ficou quieto de repente e foi embora. Bill imaginou que tinha dito algo muito ofensivo para deixá-lo assustado.

Uma lanterna tinha caído da mesa na tentativa de expulsar o bicho. Bill se abaixou para pegá-la. Ainda estava funcionando.

De repente, ligando e desligando a lanterna, uma ideia passou pela sua cabeça.

O portal era luz e podia ser manipulado como luz. Assim como uma lanterna, cujos feixes de luz fazem a sombra ficar maior ou menor dependendo da distância e ângulo focal, Bill poderia desenvolver um dispositivo que ampliasse os raios e os espalhasse, mesmo com uma energia menor. Desta forma, ele apenas precisaria de uma moldura para o portal que refletisse a luz emitida para o centro.

Esse dispositivo amplificador já existia, era uma simples lente de aumento. Quem sabe até mesmo a lente de um binóculo servisse, aquele que ficava guardado no sótão da cabana.

Sem esperar mais um segundo, Bill levantou-se do balde que chamava de banco e partiu novamente para a cabana do mistério.




— Ei, essa aqui ficou legal! — Wendy mostrou uma foto que tiraram na cabine fotográfica com o Stanbô. Nesta foto os dois fingiam que eram estrangulados pelo robô.

— Eu gostei desta. — O Stanbô estava vestindo um tapa-olho pirata e os dois faziam caretas ao seu lado.

Os dois continuaram a conversar no meio do barulho da feira. Dipper riu, mas, ao abrir os olhos, avistou um garoto loiro de camiseta amarela andando no meio das pessoas, a alguns metros de distância.

“Bill??”

Sem pensar direito, Dipper foi atrás dele, mas o perdeu de vista na primeira esquina. Será que Bill realmente estava ali ou tinha sido apenas uma ilusão?

— O que foi, Dipper? — Wendy foi atrás dele.

— Eu achei que tinha visto alguém… Mas pelo visto foi só impressão minha.




Eram os últimos ajustes. Bill apertou o último parafuso e tirou a poeira do painel. Tinha sido terminado em tempo recorde, estava tudo pronto para ligar o portal e viajar rumo a outra dimensão.

O demônio deu uma boa olhada em sua invenção. Então era isso. Sua estadia na terceira dimensão terminava naquele dia. Bill sentia-se orgulhoso, animado, com uma sensação de trabalho bem feito.

Ele podia ter ligado o portal neste momento, ele devia ter ligado. Por outro lado, sabia que seria perigoso ligá-lo e não ir embora. As anomalias gravitacionais seriam reconhecidas pelos habitantes, as quais eram ainda mais fáceis de notar durante o dia. O mais seguro era ligar e zarpar imediatamente.

A mão de Bill já estava segurando a alavanca, mas, por algum motivo, ele não conseguia puxar.

Tinha sido quase um mês em que tinha vivido como humano, e, por mais que muitas vezes fosse difícil, na maior parte do tempo era tolerável. Tinha comidas deliciosas pra comer, pores do sol pra ver e pessoas que genuinamente se importavam com ele. Nada disso havia na outra dimensão.

Relutante, ele soltou a alavanca. Preferia ir embora à noite, quando seria mais seguro. Além disso, teria um tempo extra para se despedir do lugar.

— Você toma conta do portal pra mim? — ele disse para o vira-lata que o encarava com seus grandes olhos felinos, enquanto arrumava as coisas para voltar à cabana. — Não deixe ninguém chegar perto.

O gato começou a dormir. Bill foi embora silenciosamente.




Dipper estava olhando para a roda-gigante de longe. Dava pra ver o sol atrás dela, começando a se aproximar da roda, sinalizando o começo da tarde.

— O que você tá olhando? — Wendy seguiu o olhar do amigo. — É mesmo, nós ainda não fomos na roda-gigante! Vamos lá?

— … Tudo bem, por que não?

A essa hora da tarde, Bill ainda não tinha chegado. Será que ele ia sequer aparecer na feira? Não fazia sentido ficar esperando por Bill para ir à roda-gigante, mas, ainda assim, eles tinham combinado. Isso era tudo no que Dipper pensava enquanto esperava na fila.

— Okay, o que está rolando? — perguntou Wendy, na segunda volta da roda gigante. Os dois estavam sentados um ao lado do outro.

— Hã, como assim? — Dipper voltou sua atenção para a amiga.

— Pensa que eu não reparei? Você está avoado, não escuta o que eu digo, parece que está toda hora procurando alguém. Quem você tá procurando, cara?

— Deu pra perceber? — O garoto surpreendeu-se.

— Desembucha.

Ele olhou para baixo, para as pessoas que pareciam pequeninas.

— Você acertou. Eu tinha combinado de vir com alguém nessa roda-gigante, mas nada de aparecer até agora. Daqui a pouco começa meu turno na barraca e eu não vou poder sair.

— U-uhhh, um encontro — a amiga provocou.

— Não era um encontro! — falou Dipper com convicção. — Bem, pelo menos eu acho que não.

Wendy riu com respeito.

— Poxa, então você tá mesmo gostando de alguém! Você nunca me falou de ninguém antes.

Claro que não,” pensou Dipper, “eu estava muito preocupado babando por você.

— Bom, se quiser desabafar, eu estou aqui.

Ela admirou a paisagem ao redor. Dipper soltou um suspiro e resolveu se abrir.

— Okay, vou te contar o que tá rolando. Poucos dias atrás estava tudo normal entre a gente. Nós começamos a nos aproximar, e parecia que ele estava a fim de mim…

— Espera, é um garoto?! — Wendy interrompeu.

— É! O que foi? Você sai por aí beijando meninas e eu não digo nada.

— Tá, só que você é novidade! — Ela riu. — Enfim, continue.

Dipper estava vermelho como um pimentão.

— Onde eu estava? Ah sim, nós estávamos nos aproximando, só que do nada ele começou a me evitar. Achei que fosse coisa da minha cabeça, mas, não, ele realmente está me evitando e agora não consegue nem disfarçar.

— Você não fez nada que deixou ele magoado?

— Não! É aí que tá, eu não faço a mínima ideia do que pode ter sido, e toda vez que tento falar com ele, ele vai embora.

Wendy se encostou no banco.

— Ah, se eu fosse você, eu desencanava. Quando ele quiser ele vai falar com você. — Ela deu de ombros.

— Fácil pra você, a pessoa mais desencanada do mundo.

— Sei lá. Só sei que parece que vocês precisam ter uma conversa, cara.

O garoto pensou um pouco.

— Quer saber? Você tem razão. Vou ir atrás dele, tentar tirar isso a limpo.

— É isso aí! — disse ela, dando um soco no ombro do amigo. — Depois me conta como foi.

 

 

 

Apesar da nova decisão de Dipper, Bill realmente não apareceu, e o turno de Mabel na barraca acabou. Ela estava livre, mas seu irmão ainda tinha horas de sofrimento pela frente.

“Vamos ir para a roda-gigante se você quiser, Dipper” — o garoto ironizou enquanto esperava alguém aparecer na barraca.

Com tempo de sobra, ele começou a refletir.

A queda que ele tinha por Bill era muito diferente da que tinha por Wendy. Dipper sempre soube que gostava de Wendy, desde o momento que a viu sentada atrás do balcão da loja de presentes mascando chiclete. Ela era legal, engraçada, bonita. Mas Bill, até pouco tempo atrás, só o irritava. Até que, de repente, ele começou a ser engraçado, fazer brincadeiras e o cobrir com cobertores. E bonito ele sempre foi.

Que desgraça.

Nesse meio tempo, algumas famílias apareceram para jogar na barraca, mas saíam bravas quando descobriam que era uma fraude e descontavam em Dipper. Sinceramente, ele estava torcendo para todo mundo passar reto.

As horas passaram e o sol se aproximava do horizonte, entrelaçando-se com as barras da roda-gigante. Quando ficasse escuro, simbolizava o fim da feira.

Foi nesse clima que ele avistou, não muito longe, um garoto sentado em um banco, observando o pôr do sol. Será que era uma visão novamente ou realmente era Bill?

Devagar, Dipper deixou a barraca. Aproximou-se e sentou no lado vazio do banco.

— Oi, Will, tudo bem?

O olhar de Bill era engraçado. Parecia que tinha visto uma assombração.

— Admirando o pôr do sol? Que novidade — observou Dipper.

— Pois é… — Bill deu um sorriso estranho. — Eu parei um pouco pra descansar, mas já tenho que ir andando. Até logo.

Sem esperar resposta, o loiro se levantou para ir embora.

“Tá de zoeira?”, pensou Dipper.

“Parece que vocês precisam ter uma conversa, cara.”

Bill ia dar seu primeiro passo, mas Dipper agiu mais rápido. Ele se levantou e agarrou seu pulso em um só gesto. Bill ficou parado como uma estátua, sua franja longa cobrindo o rosto.

— Will, para. Precisamos conversar.

O demônio virou-se com uma expressão calma, levemente curiosa.

— O que foi? — disse inocentemente.

— Pode parar de fingir, eu sei que você tá me evitando.

A risada de Bill pareceu tão genuína que deixou Dipper constrangido.

— De onde você tirou isso? Eu tava ocupado com o robô, sabe, essas coisas dão trabalho.

"Essas coisas dão trabalho", como se Dipper também nunca tivesse montado um aparelho eletrônico na vida. Ele se sentiu insultado e elevou o tom vocal.

— Eu não sou idiota, tá bom? Passei várias vezes ontem pelo robô e você não estava lá!

— Eu devia estar pegando ferramentas, sei lá! Nem tudo gira ao seu redor! Olha, não tenho tempo pra isso. A gente conversa depois.

Bill estava prestes a ir embora de novo, como as vezes anteriores, mas dessa vez Dipper estava farto e não ia deixar passar. Ele afirmou em tom firme:

— Se você sair agora, não vai ter conversa depois.

Bill deteve-se. Então ia ter que ser assim. Virou-se com cautela, sabendo que um passo em falso acarretaria consequências desastrosas.


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