Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 17
A feira (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu gostei tanto deste capítulo :3
Espero que vocês gostem tanto quanto eu



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773173/chapter/17

As horas se passaram, o sol raiou. Enfim o dia da feira. E como se o destino conspirasse contra Bill, era uma manhã perfeitamente ensolarada, nem uma nuvem turbulenta ameaçando chegar e espantar todo mundo com uma tempestade.

Isso, sim, seria um dia perfeito.

Em vez disso, Bill teve que se arrastar para fora da cama e fingir que teve uma noite revigorante.

Chegando na cozinha, ignorou todo mundo, pegou uma xícara de café e bebeu um grande gole. Ao observar Mabel conversando animadamente com Soos, olhou para os lados e percebeu que alguém estava faltando. É mesmo, Dipper tinha ficado dormindo no telhado na noite anterior. Será que ele estava bem?

De qualquer forma, ter acordado antes de Dipper foi muita sorte de sua parte. Agora ele só precisava engolir suas panquecas e sair o mais rápido possível. Não precisaria enfrentar olhares e inventar desculpas para evitá-lo.

— Oi, gente — disse Dipper, sentando-se ao lado de Bill.

O demônio quase se engasgou com o café. Dipper observou o amigo se atrapalhar todo e lhe lançar um sorriso sem graça.

— Dormiu bem? — perguntou em um tom irônico que só Bill reparou.

— Sim, claro. — o demônio limpou a garganta.

Bill estava desconfortável com o modo que Dipper o encarava, como se pudesse enxergar através de sua alma. Tomou mais um gole de sua bebida para se recuperar do susto e enfrentar o possível confronto. Felizmente, foi nesse exato momento que Mabel abriu a porta para sair. Durante a manhã inteira ela estivera andando de um lado para o outro como um hamster hiperativo.

— Pessoal, eu e o Soos vamos nessa. Quem vem com a gente?

— Eu também vou — disse Melody, que tinha chegado mais cedo para ajudar.

— Não esquece de mim! — Bill aproveitou a deixa e se levantou, ignorando o olhar de Dipper às suas costas.

— Onde está o tivô Stan? — disse Mabel.

— Ele já está acordado e foi para a feira faz uma meia hora — disse Soos.

— Dipper, você vem? — perguntou Mabel com impaciência.

O garoto tinha acabado de sentar e mal tinha trocado de roupa. Se pedisse para que esperassem, iria atrasar todo mundo. Além disso, dali até a feira era uma caminhada de apenas cinco minutos.

— Ah, não... Tudo bem. Eu prefiro ir depois.

— Tá bom, te vejo mais tarde.

Bill não pôde evitar cruzar olhares com Dipper uma última vez antes da porta ser fechada. Ele não parecia nada satisfeito. Bill engoliu em seco e voltou-se para o outro lado.

Tudo bem, tudo estava ocorrendo como o planejado. Não podia deixar que Dipper tomasse todo o seu tempo naquele dia, pois tinha muito o que fazer. Se apenas a conversa da noite anterior não tivesse ocorrido, talvez as coisas tivessem sido mais fáceis.

Ao chegar na feira, Bill rapidamente posicionou o seu robô no lugar e ajustou as configurações. Até agora não havia ninguém que não fosse da organização do evento, muito menos pirralhos para atormentar, então tudo estava tranquilo.

— Bem-vindos à Feira do Mistério! — disse o robô, tirando o seu chapéu em um cumprimento.

Mabel parou para dar uma olhada.

— Nossa, o Stanbô ficou muito melhor do que eu imaginava.

— Você ainda não viu nada.

Bill pegou o controle e apertou um botão.

— Sou eu, Stan, o charlatão! —- disse o robô cantando e sorrindo largamente enquanto balançava os braços na frente do corpo em uma dança simples. — Os pirralhos me deixam doidão, por isso pedi pro meu irmão construir um robozão!

— Hahahaha, incrível! — Mabel bateu palmas.

— Eu disse que ia sobrar tempo de fazer uma dancinha da vitória.

 Soos se aproximou de repente, sem perceber que estava falando com o Stan falso.

— Stan, você quer bandeiras amarelas ou vermelhas naquela barraca? Stan?

Bill e Mabel olharam um para o outro. Discretamente, Bill apertou outro botão e o Robô soltou:

— Soos, você é o melhor funcionário que eu já tive.

Os olhos de Soos começaram a lacrimejar e ele abraçou o Stanbô, emocionado.

— Depois de tantos anos! Eu sabia que por trás desse homem ingrato e mal-humorado tinha um coração sensível.

— Soos? O que está fazendo? — perguntou o verdadeiro Stan, que tinha chegado por trás e o encarava de sobrancelhas franzidas.

— Fica quieto, Stanbô! Não tá vendo que estamos tendo um momento de união?

— Você vai quebrar o robô abraçando ele assim!

Passado o momento emocional, todos voltaram aos seus postos nas barracas e esperaram os visitantes chegarem. Quando viu que já havia bastante gente e Stanbô estava funcionando como o esperado, Bill decidiu que era hora de zarpar.

 

 

 

"Podem ir, eu prefiro ir depois."

Claro que Dipper preferia ir depois, sozinho. Não é como se ele tivesse combinado de passar o dia com alguém ou coisa do tipo.

Na noite anterior, Bill tinha dito que iria para a roda gigante com ele, mas, nesta manhã, sumira de sua vista na primeira oportunidade, como de costume.

Talvez Dipper estivesse pensando demais. Bill podia ter simplesmente esquecido o combinado. Além disso, só porque ele tinha ido embora não significava que não iam se encontrar depois. Mas não, aquele demônio estava realmente agindo de maneira estranha nos últimos dias.

Deixar Dipper dormindo no teto e cobri-lo com um casaco era uma coisa tão fofa, tão sem-noção e, ao mesmo tempo, tão Bill. Se não fosse o lugar onde acordou e o casaco do amigo, Dipper poderia facilmente ter esquecido do que aconteceu ou pensar que tudo se tratava de um sonho.

Como Bill podia ser tão legal em alguns momentos, e, no segundo seguinte, estar distante de novo?

— Quer uma panqueca, meu bem? — Abuelita chegou com um prato de panquecas.

— Obrigado, não estou com fome.

— Bobagem. — Abuelita encheu seu prato de panquecas. — Você precisa comer pra começar bem o seu dia.

Dipper olhou para a refeição. A cara das panquecas estava muito boa, mas nem isso conseguia animá-lo.

Um padrão estava surgindo no comportamento de Dipper ultimamente. Ele se preocupava demais com Bill, e as ações dele tinham grande impacto sobre seu emocional. Quando o demônio passava tempo com ele, Dipper ficava feliz, quando demonstrava não se importar, Dipper ficava triste.

Por mais que odiasse admitir, Dipper tinha experiências com romances fracassados o suficiente para saber o que isso significava.

Sim, talvez ele estivesse gostando um pouco de Bill.

Não foi difícil de perceber, visto os sinais já mencionados e sua reação naquele dia, no monte de folhas. Dipper se interessar por garotos não era comum, mas já aconteceu.

Apesar de tudo, admitir que tinha uma queda era bem diferente de tentar alguma coisa ativamente, coisa que Dipper nunca fez. Ele se sentia ofendido, de alguma forma, injustiçado por ser afastado desse jeito. A única coisa que ele queria eram explicações, será que era pedir demais?

Dipper comeu sua primeira fatia de panqueca, soltando um suspiro. Bom, se Bill quisesse ser besta e ficar evitando-o sem motivo, podia fazer isso à vontade. Quem iria sair perdendo era ele.

Algum tempo depois, Ford apareceu na cozinha. Os dois terminaram de se aprontar e foram para a feira juntos.

A clássica feira do mistério estava montada e funcionando a todo vapor. A roda gigante se erguia no centro do terreno, imponente, e várias outras atrações estavam dispersas ao seu redor, no chão de terra. Um cheiro delicioso de fritura se espalhava pelo ar.

— Bem-vindos à Feira do Mistério! — disse Stan na entrada, tirando seu chapéu. Estava vestindo seu terno de costume, mas tinha um sorriso perturbador no rosto.

— Oi, Stan — falou Dipper, surpreso.

— Este é o robô — explicou Ford.

— Tem razão… Estava educado demais.

Os dois riram.

— Está animado? — perguntou o tivô Ford.

— Sendo honesto? Nem tanto.

— Você parece meio pra baixo, o que aconteceu?

— É só uma pessoa que vem agindo de um jeito estranho. Queria falar com ela, mas parece que está me evitando.

Assim que disse isso, ele avistou Wendy em uma barraca. Ela estava conversando e rindo e acenou para Dipper de longe quando o viu. Ele acenou de volta, um pouco sem graça. Lembrou-se da última vez em que tinha a visto, na piscina. A situação toda ainda o deixava constrangido.

Ford olhou para o sobrinho-neto e para a jovem alternadamente, começando a ligar os pontos.

— Como vai com a Wendy?

— O quê? Por quê? — Dipper estranhou.

— Você seguia essa menina para todo o canto. A gente fingia que não sabia, mas estava óbvio que você gostava dela.

O garoto deu um riso abafado.

— Isso foi três anos atrás. Agora ela está namorando, está em outra. Mabel também está namorando, até Soos está namorando, mas eu nunca namorei. Estou começando a pensar que tem algo de errado comigo.

Ford não pôde deixar de sorrir, pois parecia que estava falando com uma versão mais jovem de si mesmo.

— Na sua idade, Stan e eu éramos exatamente assim. Nunca tivemos sorte com garotas, mas pelo menos podíamos contar um com o outro.

"Legal", pensou Dipper, "Inabilidade social é coisa de família".

— Agora, se isso te consola, entre nós três, acho que você é quem tem mais probabilidade de conseguir uma namorada — comentou Ford.

— Como assim? Explica isso direito.

— Bom… Um tempo atrás foi divulgada uma pesquisa sobre sapiossexualidade. Ou seja, pessoas que se sentem atraídas por inteligência.

O olhar de Dipper era cético e risonho. Não sabia aonde o outro queria chegar. O tio-avô continuou.

— Os entrevistados pareciam preferir pessoas mais inteligentes que 90% da população. Só que, curiosamente, quando a pessoa era mais inteligente que 99% da população, ela perdia um pouco da atração. — Ford deu de ombros e sorriu. — Eu não fico falando disso, mas sabemos que seu tio-avô Stan não tem uma inteligência excepcional, certamente não mais que 90% da população. Eu, por outro lado, sempre fui inteligente demais. As pessoas me viam como um ser de outro mundo. Mas você, Dipper… Acho que talvez você esteja entre os 9% que têm sorte.

Dipper ficou abismado. Ninguém nunca tinha lhe dito um elogio parecido. Ele era… estatisticamente mais atraente, baseado em sua inteligência.

— Puxa, obrigado — Em outra situação, talvez Dipper tivesse abraçado o tio-avô, mas se contentou em apenas sorrir para ele.

— Então, o que está esperando? Vai logo pra feira, esses jogos não vão se jogar sozinhos!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ele é Will" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.