Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 19
A feira (parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Uuhuhuhuhuhuuhuh

MAUHAUSHUAHSUHAUS



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— Se você sair agora, não vai ter conversa depois.

Bill deteve-se. Então ia ter que ser assim. Virou-se com cautela, sabendo que um passo em falso acarretaria consequências desastrosas.

— Isso é uma ameaça?

— Eu não sei. — Ele deixou o ar escapar dos pulmões. — Honestamente, eu nem sei se te conheço. Aquele Will que eu conheci, aquele que conversou comigo no telhado, que me ajudou a cortar a grama… Ele sequer existe?

Era visível a tristeza por trás de sua voz. As palavras atingiram Bill como um soco. Ele suspirou e baixou a guarda.

— Eu devia saber que isso não era uma boa ideia.

— O que você quer dizer? — Dipper perguntou, aproximando-se.

— Eu estraguei tudo de novo. Sinto muito.

A preocupação do garoto humano só estava aumentando.

— O que você fez?

— Eu achei que, se eu me afastasse de você, tudo seria melhor. Tanto pra mim quanto pra você. Meu plano era me afastar lentamente, sem você perceber… Mas fui muito brusco, e você percebeu.

Dipper não estava entendendo mais nada.

— Se afastar de mim? Por quê??

O demônio continuou seu monólogo, ignorando a pergunta.

— Quando você me procurava e eu não estava por perto, eu estava me escondendo.

— Isso é loucura — Dipper desabafou.

Bill ficou em silêncio.

— … Você não acredita em mim, não é?

— Não, eu acredito!

— Vem, eu posso te provar que é verdade. Vamos para um lugar mais privado. Vou te mostrar.

— O quê? Will!

Dipper se viu arrastado até uma parte mais densa da floresta de pinheiros, afastado da feira.

— Eu vou te mostrar o que eu estava fazendo enquanto você me procurava — disse o demônio.

— Você não precisa. — Dipper tentou intervir.

Foi inútil. Bill fez com que se sentassem juntos embaixo de um pinheiro. Sem escolha, o garoto resolveu aceitar e ver o que o outro queria lhe mostrar. Como da primeira vez em que os dois embarcaram em um sonho juntos, no sótão, o demônio pousou a mão na testa de Dipper, iniciando assim a conexão empírica.

No mesmo instante, eles fecharam os olhos e sua mente entrou em um estado entorpecente. A sensação era de ter mergulhado em água e dado uma cambalhota. Ao emergir do lado oposto, os dois se encontraram no conhecido cenário cinzento, envolto por pinheiros e céu nublado. As únicas coisas coloridas eram Bill e Dipper.

— Vamos ver… Eu preciso te mostrar o quintal da cabana, ontem…

Enquanto o demônio tentava encontrar as memórias em seu mostrador, o humano reparou em algo curioso. A forma de Bill continuava igual. Ao invés de retomar sua forma triangular antiga, como tinha acontecido no primeiro sonho compartilhado, Bill continuava humano, mesmo em sonho. A única diferença era que, ao invés de usar as roupas habituais, Bill vestia um belo terno amarelo que realçava seus ombros, com uma barra longa triangular na parte de trás. Usava ainda uma gravata borboleta e detalhes em preto.

— Droga, o que tem de errado comigo? — murmurou Bill.

— Tá tudo bem, não precisa me mostrar — disse Dipper, rápido, mas no mesmo segundo o outro anunciou:

— Pronto! Consegui!

O ambiente ao redor começou a se transformar. O quintal da cabana chegou a aparecer, mas logo tudo se distorceu e deu lugar a um ambiente completamente escuro. Dipper olhou ao redor, confuso, e levou um susto ao encontrar um garoto iluminado por um holofote, de costas, alguns metros à sua frente. Parecia outra versão de si mesmo. À frente dele tinha mais alguém… Outro Bill?

— Não! — exclamou o Bill real ao lado de Dipper. — Tá tudo errado! Tá tudo errado, droga, volta!

— O que é isso? — indagou o garoto, porém, quando olhou para o lado, o Bill verdadeiro não estava mais lá. Com um frio na barriga, mas muita curiosidade, Dipper se aproximou da cena à sua frente.

— Admite logo que você gosta de mim — dizia o seu duplo para o demônio. — Pode parar de fingir.

— Você está começando a soar como sua irmã.

Dipper não teve tempo de processar, pois, no momento seguinte, todos estavam caindo em uma pilha de folhas impossivelmente grande. A queda foi suave. Assim que sentiu chão firme debaixo de si, o garoto se levantou e se deparou com uma cena chocante: O seu duplo e Bill se beijando.

Foi nesse instante que Dipper se deu conta de que aquilo só podia ser um sonho de Bill. Isso explicava por que ele reconheceu a visão, ficou desesperado e tentou mudá-la. Um sorriso se formou no rosto de Dipper. Era tão estúpido. Ele estava adorando tudo aquilo.

Do outro lado, o Bill real estava lutando para interromper o sonho.

— Pare! Pare agora! Por que você não me obedece? — ele gritava para quem quer que estivesse no controle do sonho. — Você não tem o direito de fazer isso comigo! ARGH!

Bill pensou no que aconteceria quando Dipper tomasse conhecimento do sonho e sua barriga gelou. A cena do beijo, ou, pior, a parte que o Bill de forma humana aparecia para zombar do outro, eram absolutamente privadas. Não podia deixar isso acontecer.

— Acorda! — ele deu um tapa em si mesmo, mas nada aconteceu.

Desesperado, ele tentou se recuperar e imaginar seu corpo, sentado debaixo do pinheiro. Começou a imaginar seu coração batendo, a sensação de sentar na grama, o corpo suado por baixo do suéter.

No segundo seguinte, ele já estava acordado no mundo real. Mexeu os braços, como se fosse um milagre, e olhou para Dipper, que também estava acordando. Os dois se encararam.

— Quanto você viu?

O rosto de Dipper estava sério.

— Eu vi até meu duplo humilhar você, daí você começou a gritar e destruir tudo.

Parecia que Bill estava prestes a cometer autoflagelamento. Ele levou o punho à testa, transtornado. Quantos deslizes ele podia cometer no mesmo dia?

— Com licença, Will.

O garoto interrompeu a corrente de pensamentos ruins. Lentamente, tirou o tapa-olho de Bill. Pela primeira vez em muito tempo, ele via o rosto de seu amigo por completo. Aquele olho amarelo não era feio, muito pelo contrário, combinava com o rosto dele. Era uma pena que ele tivesse que se esconder o tempo todo atrás daquela coisa.

Então Dipper fez algo que nunca, nem em um bilhão de anos, achou que ia fazer. Não era uma decisão racional. Tudo era absurdo e confuso, mas aquela não era a hora de ficar pensando. Todos os acontecimentos das últimas semanas estavam culminando neste exato momento.

Que se dane.

No momento seguinte, ele tinha avançado para a frente, de joelhos, e seus lábios encontravam os de Bill.

Uma sensação de euforia percorreu todo seu corpo, e ele se permitiu sentir o cheiro e o calor do outro. Era diferente de tudo o que já tinha experimentado, mas ainda assim muito bom. Demorou um tempo para cair a ficha de Bill, mas, quando aconteceu, ele correspondeu ao beijo.

Tudo durou apenas alguns segundos.

— Eu não entendo — disse Bill, atordoado. Tinha um lindo sorriso nos lábios.

Dipper também não conseguia conter o sorriso.

— Eu gosto de você, seu bobo. Mesmo sabendo do seu passado.

— Você entende que eu sou um demônio, né? Isso que você tá vendo é só uma casca. — Ele apontou para o próprio corpo.

— Nas últimas semanas você não agiu como um demônio.

Bill sacudiu a cabeça.

— Eu fiz você sofrer! Isso é o que acontece toda vez que eu me aproximo de você.

— Tudo bem, é só não fazer mais! — Dipper deu de ombros.

— É sério! Eu sou perigoso — o Demônio falou alto e agarrou os pulsos do outro.

— Meu Deus, para de tentar fazer eu me afastar de você! — Dipper se desvencilhou. — Será que eu vou ter que te beijar de novo?

Os dois se encararam por um segundo.

— Não estou reclamando — disse Bill —, só acho que não é a escolha certa da sua parte…

No instante seguinte, Bill já não conseguia falar, pois sua boca estava participando daquela dança maluca que os humanos faziam com a língua. Era um ritual com que ele não se importaria de se habituar.

E assim eles continuaram por bons minutos, tomados por sensações, como se o mundo todo tivesse parado e a única coisa que importasse fosse aquele pequeno pedaço de universo ao pé de um pinheiro.


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Notas finais do capítulo

Amo o Niah porque ele permite colocar imagem no meio do capítulo.
(sim eu que desenhei essa imagem)
(é muito específica da fanfic pra ser uma imagem qualquer)
Vai ver meu insta, pô
Ou meu DeviantArt
Tanto faz
https://www.instagram.com/p/CH-eJLRBK8U/?utm_source=ig_web_copy_link
https://www.deviantart.com/balalacahill/art/Billdip-Kiss-in-the-Woods-862547360

Aliás, aleluia? Ahahahaha
Espero que vocês não desistam da história agora, porque o melhor da ação está por vir.



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