Nico di Angelo odiava quando o natal começava a se aproximar, por tal motivo ele estava jogado em sua cama, com a porta e janela fechadas, sua música nos fones abafando o toque natalino que corria por toda a casa que ele simplesmente não entendia como eles conseguiam escutar aquelas músicas todos os dias do ano.

Os toques da porta passaram despercebidos pelo garoto, ele observava com tédio o espelho vendo sua pele branca que seu pai adorava comparar com a neve do lado de fora, os cabelos negros lisos e os olhos de mesma tonalidade destacando-se na pele alva, as roupas de tons escuro o fazia se destacar no meio do vermelho, vede e branco da fábrica.

A porta se abriu depois da decima quinta vez que Hades di Angelo, pai do garoto, bateu ali e não obteve resposta, de automático o menino tirou os fones de ouvido confuso.

— Nico, venha, precisamos conversar! — falou sério e saiu do quarto esperando ser seguido.

O di Angelo franziu o cenho confuso, mas se levantou e seguiu seu pai pelos corredores de sua casa e fábrica de brinquedo, a decoração natalina o dava nos nervos, mas tentou focar no homem a sua frente que trajava uma calça branca, assim como sua blusa dando destaque a um sobretudo vermelho quentinho.

— Ano que vem você vai fazer vinte e cinco anos, Nico — Hades o lembrou do fato, quando o notou ao seu lado circulando pela fabrica — isso significa muita coisa, principalmente que meu trabalho será passado a você.

— O que? Não! — Nico retorquiu irritado de imediato, parando de andar, ele sabia que eventualmente o destino o faria assumir o trabalho de seu pai, mas ele não queria.

— Filho, por favor! — Hades se incomodou com alguns elfos os olhando confuso. — Ser o Papai Noel é um trabalho de extrema importância e você sabe disso.

— Eu não quero, seu sempre deixei isso claro, eu não vou ser a merda de uma Papai Noel! — ele falou alto sem se importar com os olhares que estavam fixos em si.

— O Natal é de extrema importância, Nico, nós já tivemos essa conversa, os poderes inevitavelmente irão para você e se você não estiver pronto até o ano que vem o Natal será um desastre e ruirá, podendo acabar, eu não posso fazer esse serviço para sempre — Hades advertiu também ficando irritado.

— Então que deixe acabar o Natal, quem se importa? É um feriado completamente sem sentido mesmo, crianças mimadas ganhando presentes e eventualmente elas param de acreditar em toda essa lengalenga de Papai Noel, eu não quero e não vou ser prisioneiro de um serviço tão irritante e sem sentido como andar em um treno ridiculamente desconfortável viajando o mundo dando presente para crianças que “se comportaram” naquele ano, aonde de qualquer maneira seus pais descrente vão os entupir de presentes e os mimarem de qualquer jeito — ele elevou seu tom de voz irritado e começando a gesticular mais do que deveria.

— O Natal é de extrema importância para a harmonia, paz....

— E blah, blah, blah... você fala isso todos os dias do ano, todos os anos desde que eu nasci, mas adivinha eu não me importo e não vejo o motivo de um monte de criança mimada interferir na paz e harmonia do planeta — Nico revirou os olhos cruzando os braços.

— Nico essa é sua função, seu trabalho e você vai assumi-lo! Querendo ou não seus poderes vão se despertar e você vai fazer o que nasceu para faze-lo, amanhã mesmo começaremos a procurar sua noiva e ano que vem eu terei perdido meus poderes e você ganho os seus...

— Noiva? Que merda você está falando agora? — o mais novo o cortou irritado e confuso.

— Todo Papai Noel precisa da Mamãe Noel, as voluntárias foram treinadas a vida inteira para isso e vamos começar os preparativos para a escolha da perfeita — Hades falou como se fosse obvio, vendo o filho rir.

— Acha mesmo que vai me obrigar além de trabalhar e me casar com uma estranha?  — Nico não acreditava como seu pai poderia ser insano em achar que ele o conseguiria obrigar.

— Nico... — Hades falou mais manso dessa vez e cansado, o filho com certeza se não fosse o futuro Papai Noel teria ganhado carvão todos os anos por sua cabeça dura como uma pedra.

— Não, eu nem sou o mais velho, por que eu tenho que ter esse cargo? Não deveria ser a Bianca? — citou sua irmã mais velha, era mais justo, ela nasceu primeiro.

— Você sabe que o trabalho é seu, Nico!

— Só por que eu sou homem? Não é justo! Aposto que a Bia adoraria se vestir de vermelho e sair entregando presente gritando Hou-hou-hou para os céus aleatoriamente e dançando com as renas que ela tanto ama, afinal aquelas renas tem um sério problema comigo, elas nem gostam de mim e sim dela!

— Nico, você não pode fugir das suas responsabilidades! — Hades afirmou sentido o peso daquela discussão, que estava longe de ser a primeira, muito menos a última em suas costas.

— Me obrigue então! — e com isso ele saiu batendo o pé, de fato ele poderia ter todos os poderes do Papai Noel e o cargo de levar o Natal ao mundo, mas se ele não quisesse ninguém poderia o forçar a fazer.

E aquela história de noiva chegava a ser ridículo, aquele tinha sido o basta para o di Angelo, anos e anos ouvindo que ele teria que fazer o trabalho que ele tanto detestava para manter a época que ele mais odiava viva simplesmente não fazia sentido, então sem hesitar ele saiu da fábrica, ele não ficaria mais ali, nenhum dia sequer, queria ver se pai tentar lhe forçar a assumir seu cargo.

Nico andou por horas pelo o deserto de neve do Polo Norte, se ele não fosse completamente imune ao frio com certeza teria acabado por morrer no caminho, mas conseguiu chegar sem maiores problemas na cidade mais próxima da fábrica, era uma pequena cidade típica natalina, de longe ele conseguia ver as luzes de Natal decorando o local, ao se aproximar conseguiu ouvir o coral cantando musicas típicas da época e isso apenas o fez ferver mais em raiva, revirando os olhos e observando uma grande árvore que se destacava no centro da cidade.

E foi olhando e xingando o objeto que ele se viu esbarrando em alguém com certa brutalidade, as sacolas que a menina entulhava contra seu corpo foram ao chão, junto de um gritinho assustado, afinal ela também não tinha visto o di Angelo e ela só não caiu de bunda, pois ele consegui ter o reflexo de segurar a cintura dela, indo um pouco pra frente tropeçando, a mantendo contra seu corpo.

— Desculpe! — os dois falaram em uníssono, e ela sorriu minimamente corada pelo frio.

Nico se abaixou para ajuda-la a pegar as sacolas, depois que ela estava em segurança em pé sem perigo de ir ao chão.

— Obrigada, são tantas sacolas que eu não prestei atenção na rua, me desculpe mesmo — ela falou arrumando algumas sacolas na mão.

— Sem problemas! — Nico forçou um sorriso, mesmo querendo dar um revirar de olhos ao notar que eram tudo brinquedos que provavelmente deveriam ser para apenas uma criança mimada qualquer.

Chegava a ser ridículo, seu pai se esforçava para colocar as crianças comportadas em uma lista adequada para elas ganharem presente e independente disso ou não os pais a enchiam de coisa dizendo que foi o Papai Noel mesmo sendo um capeta em pessoa.

— Uau, você está congelando — ela sentiu a pele gelada dele, arregalando os olhos — Minha casa é logo ali, por que não vamos até lá e eu te sirvo um chocolate quente?

E antes que ele pudesse dispensar ela começou a andar o deixando com algumas sacolas em mão e sem oportunidade de negar.

— Meu nome é Thalia Grace a propósito, qual o seu? — ela perguntou escondendo uma mecha do cabelo negro de volta na touca preta com um pompom vermelho.

Ele engoliu em seco e suspirou se forçando a ser educado.

— Nico di Angelo! — respondeu a seguindo arrumando as sacolas na mão.

— Belo nome! — ela sorriu, estreitando os olhos azuis elétricos e girando para olha-lo, ela tinha um sorriso tão convidativo e sincero que Nico se surpreendeu, afinal ele a quase tinha derrubado no chão era difícil ter bom-humor em tal situação.

— Obrigado! — Ela parou em frente a uma casa, subindo as escadinhas e abrindo a porta acendendo a luz indicando que ela estava vazia. — Aqui suas sacolas!

Nico optou por não adentrar a casa, afinal ele não queria ficar.

— Não vai entrar? — ela perguntou confusa, o observando atentamente.

— Eu acho melhor não, mas agradeço a oferta! — sorriu sem jeito.

— Você vai passar o Natal com alguém?

— Ah... — ele engoliu em seco — não, eu estou sozinho!

Ela negou e o segurou pela mão o puxando para dentro de casa negando com a cabeça.

— Agora mesmo que você fica, ninguém passa o Natal sozinho se eu posso escolher! — ela afirmou fechando a porta e o puxando para a cozinha.

A casa ainda não tinha decoração de Natal e cheirava a produto e limpeza como se tivesse sido limpa recentemente depois de muito tempo, ele conseguiu ver algumas malas ainda na sala de jantar.

— Você não é daqui? — Nico questionou, sendo sentado em uma banqueta da cozinha.

— Não, na verdade eu morava em Nova York, mas oficialmente estou morando aqui — ela sorriu minimamente —, mas eu tenho o costume de passar todos os natais aqui de qualquer maneira.

Ela se virou colocando as coisas para fazer o chocolate quente no fogo.

— Realmente não precisa...

— Olha, eu sei que é estranho, não nos conhecemos, mas acho que deveria ficar com a gente, é quase Natal e eu ainda acredito que ninguém deveria passar sozinho, vai ser divertido!

O di Angelo respirou fundo, ele estava fugindo do pai dele, e ele não tinha para onde ir, e o último lugar que seu pai iria o procurar seria na casa de alguém tão ligada ao Natal como aquela garota parecia ser, então talvez fosse uma boa se esconder ali por enquanto.

— Tudo bem, mas vai me deixar ajudar a preparar o chocolate quente! — ele falou se levantando, forçando um sorriso e parando ao lado dela.

— Claro! — ela sorriu, indo até o rádio e ligando a música de natal e se deixando cantarolar enquanto pegava algumas xicaras para eles se servirem.