Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 10
Corra, aprendiz


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)

obs.: Esse capítulo ficou um pouco esquizofrênico.



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 Acordei com alguns cutucões no braço. Quando abri os olhos e me senti consciente, estava da pior maneira possível. Ainda sentia um cansaço terrível por conta do dia anterior. Estava com uma fome horrível, me sentia imunda e almejava por água. Minha boca estava com um gosto muito estranho.

—Levante.- disse Thomas.

Que horas são? Pensei, mas seria inútil perguntar. De qualquer forma ainda parecia muito cedo. O Sol não costumava aparecer muito por conta do clima, que fazia tudo ficar cinza, mas estava mais escuro que o normal. Pensei que ainda estaria de madruga, mas conseguia manter a visão melhor contando com a ajuda das velas.

 Me levantei da cama e me espreguicei. Olhei para Thomas.

—Você não dormiu?

—Estava sem sono.- ele respondeu.

—Isso pode fazer mal.- disse olhando para o chão.

 Aquele chalé me dava calafrios. Desde o primeiro momento em que entrei naquele lugar, percebi que era tão ruim quanto a floresta. Eu nunca sentia privacidade, parecia estar sendo observada o tempo todo. E todas as vezes que pensava em Jeff ou Slenderman, também me vinham à mente outras criaturas que também poderiam estar ali.

 Abri minha mochila jogada no canto e procurei por algo lá fora as armas. Peguei uma foto que havia jogado no fundo da bolsa em que estava minha família. Passei o polegar sobre minha mãe, sentindo falta. Coloquei novamente a foto da bolsa e vasculhei mais. Vi um moletom preto que tinha posto lá antes de sair de casa.

—Vou me trocar...- falei.

 Saí do quarto e fui em direção ao pequeno banheiro. Fechei a porta de madeira que fez um grunhido horrível. Me olhei no espelho e vi o reflexo da miséria. Meu cabelo parecia um ninho de ratos, sujo e embaraçado. Meu moletom estava ensopado de sangue seco, assim como meu rosto, que além do sangue, também estava manchado por olheiras e pálido como a morte. Acho que poderia fazer quase vinte e quatro horas que não comia (sem contar o esquilo). Olhei para aquele sangue todo e me lembrei do dia anterior e o gosto na boca piorou. Uma ânsia percorreu minha garganta, mas me lembrei que não havia nada para vomitar.

 Tirei o moletom sujo do corpo e percebi que a roupa que usava por baixo ainda estava boa, então apenas coloquei o moletom limpo por cima desta. Olhei para o espelho novamente e abri a torneira para ver se tinha alguma coisa ali. Um fio de água começou a se derramar. Usei as duas mãos em forma de concha para pegar um pouco da água e a joguei em meu rosto todo. Repeti isso várias vezes até limpá-lo bem. Puxei a parte de baixo do moletom preto e me sequei. Penteei um pouco o cabelo com os dedos e passei o polegar em cima do corte que estava se cicatrizando. Memórias ruins me vieram novamente. Passei um pouco da água na boca e a cuspi, tentado tirar o gosto ruim. Não aguentei e bebi a água, temendo morrer desidratada. Lavei os olhos para tirar o pouco de sono que restava e saí do banheiro. Enquanto andava, minha visão parecia ficar turva e meu estômago roncava.

 Cheguei ao quarto e Thomas também estava com uma roupa diferente, ou talvez estivesse desde cedo e eu não reparei. Vestia uma camiseta cinza de manga e um casaco branco. Sentei na cama e olhei para o chão, pensando em como seria o dia. Minha cabeça doía só de pensar em tudo. Me perguntava o motivo de não ter fugido dali ainda, mesmo que me custasse a vida... a morte seria uma boa opção. Pode não parecer, mas eu realmente não havia me acostumado com nada daquilo ainda. Convenhamos, e quem conseguiria? Minha vida estava transtornada e eu sentia um vazio imenso dentro de mim, como se não importasse viver ou morrer. O vazio se misturava com os enjoos em meu estômago, ao me lembrar das vidas que tiraria para me manter viva. Minha sanidade me impedia. Aliás, quem tem sanidade quando se vive de uma maneira daquelas? Eu estava perdida.

 

 Saímos da casa e começamos a andar pela floresta. Eu estava com minha bolsa nas costas e segurava o cutelo que Thomas me deu.

—Por que Jeff faz isso?- perguntei.

—Acho que é como um objetivo de vida.- disse ele sem olhar para mim.

—Mas não é o meu.- falei.

Cinco minutos de silêncio.

—Como vamos chegar até a cidade?- quebrei o desconforto.- Não me diga que andaremos até lá.

—Jeff tem seus métodos.- respondeu.

—Que tipo de métodos?

—Para mim, ele é o Diabo em pessoa.- disse sério.

—O que...?

—Slenderman é capaz de se teletransportar naturalmente. É um ser das trevas. Acho que Jeff sentia um pouco de inveja disso. Nada que alguns rituais não o ajudassem a fazer o mesmo.

—Está dizendo que ele tem pactos com seres da escuridão?- perguntei com medo.

—Como você é esperta.- ele disse, sarcástico.

Maldição. Eu não devia estar surpresa.

 

 O vazio não saia de mim. Parecia que já não estava conseguindo mais me importar tanto com alguém, nem mesmo comigo. Me perguntei se a frieza de Thomas não era proveniente disso. Andamos mais e mais. Não queria que aquela trilha chegasse ao fim. Sabia o que me esperava, finalmente. Quando a floresta acabou, pude ver a casa dos assassinatos, onde tudo começou. Olhei para onde minha mãe e Aurora estavam enterradas, e percebi que, a dor não passa. Você só se acostuma com ela.

 Jeff nos esperava em frente à casa.

—Olá, minhas crianças.- disse ele com a voz rouca.

Olhei para o chão e segui os pés de Thomas. Não queria olhar para aquele monstro. Parei quando ele também parou e levantei a cabeça. Frente a frente com o assassino. De novo.

—Vamos logo.- disse ele sorrindo, friamente.

Ele colocou a faca no bolso do moletom e colocou uma mão em meu ombro e uma mão no ombro de Thomas.

—Fechem os olhos, assassinos. E se não quiserem morrer, não sejam curiosos.

Os fechei imediatamente, não queria complicações. Jeff começou a falar palavras completamente estranhas e não consegui identificar ao menos se aquilo era uma língua normal. Ele falou por dez segundos e então comecei a sentir desespero. Medo. Senti uma negatividade horrível ao meu redor, como se estivesse sendo observada pelo Senhor das Trevas. Tentei rezar, mas algo me impediu. Eu não estava totalmente consciente e a voz de Jeff aumentava cada vez mais e mais, o que me dava vontade de abrir os olhos e sair correndo dali. Eu não via nada, apenas ouvia a voz de dele e ruídos estranhos atrás, como gemidos de medo ou sons do vento completamente distorcidos. Aquilo tudo durou trinta segundos, mas pareceu uma eternidade para mim. Quando não ouvi mais nada, senti Jeff tirando a mão de meu ombro. Ainda não tinha aberto os olhos, mas sentia as lágrimas do desespero rolando pelo meu rosto, de alguma forma. Senti algo pontudo em minha bochecha e abri os olhos rapidamente. Olhei para o que estava me tocando e vi a ponta de uma faca. Ergui de vagar meu rosto e vi que, obviamente, era Jeff. Esperei ele fazer outra cicatriz em meu rosto, mas ele apenas disse:

—Meninas más não choram.

Tirou a faca de meu rosto e se virou. Quando olhei ao redor, percebi que estávamos em um quarto. Parecia os aposentos de um adolescente rebelde: pôsteres de bandas de rock, papel de parede vermelho escuro, bagunça por todo lado, uma guitarra jogada em um canto, um video game conectado à TV. Me parecia o quarto de Jackson, mas fiquei feliz ao ver que não era. Thomas também observava o local.

—De quem é essa casa?- perguntei.

—De uma pessoa muito ruim.- disse Jeff.- Vamos fazer isso. Menos um adolescente vadio no mundo.- e começou a andar para fora.

Eu não acreditei no que ouvi.

—Espere, Jeff.- corri em frente a ele.

Jeff me lançou um olhar mortal. Eu precisava de um bom motivo para tê-lo parado.

—O que foi?- perguntou em tom raivoso.

—Hã... v-você não acha melhor checarmos se é seguro para nós?- foi a única desculpa que encontrei.

Senti que iria morrer naquele momento, mas por incrível que pareça, ele se manteve calmo e com o sorriso sarcástico e permanente.

—Quem tentar nos impedir...- começou.

—Morre.- completou Thomas.

Jeff o olhou, analisando-o.

—Quer começar a brincadeira, pequeno aprendiz?- perguntou.

Thomas não respondeu. Começou a andar em direção à porta. Fiquei sozinha com Jeff, esperando até que Thomas limpasse a área para nós. Jeff estava com os olhos grudados em mim. Estava com medo do que poderia fazer. Eu olhava para o chão. Não ouvia nada que acontecia. Esperei por dez segundos e ouvi um grito rápido, que logo foi abafado, o que fez meu coração acelerar. Depois de um minuto, o clima estava mais tenso do que antes.

—Venha.- disse Jeff.

Ele saiu correndo do quarto e fui atrás dele. O cômodo onde estávamos era no primeiro andar, então descemos rapidamente uma escada. Quando chegamos à sala, Thomas estava com um garoto amarrado em uma cadeira com um pano na boca. Ele devia ter mais ou menos 17 anos. Tinha os cabelos tingidos de ruivo e olhos escuros. O garoto se debatia e estava com os olhos arregalados. Quando viu Jeff, não conseguia gritar por conta do pano na boca, mas fez sons parecidos. Ele se mexeu tanto que derrubou a cadeira. Thomas o levantou e Jeff riu.

—Você não imagina o quão prazeroso é ver seu desespero!- riu.

Thomas o pegou pelos cabelos, puxou sua cabeça e encostou o machado no pescoço dele.

—Quieto!- gritou.

O menino paralisou de medo. Nesse mesmo momento, uma mulher entrou na casa. Era baixa, cabelos loiros e segurava algumas sacolas de compras. Quando olhou para nós derrubou as sacolas.

—Ah, meu Deus!- gritou e correu para fora.

—Atrás dela, Wendy!- ordenou Jeff.

Arregalei os olhos e corri atrás dela, sem saber o que faria quando a pegasse. Fui para fora da casa e percebi que estávamos em um condomínio, mas não havia ninguém fora de casa, pelo menos não perto de sua casa. A mulher era lenta, então a peguei rapidamente. Pulei em cima dela e a derrubei no chão. Foi automático. A virei e cortei sua garganta. O vermelho espirrava em minha roupa e meu rosto, enquanto eu a via se afogar em seu próprio sangue. Fiquei a olhando até que, enfim, ela morreu.

—O que eu fiz...?- perguntei colocando as mãos na cabeça.

—Ei!- ouvi alguém gritar de longe.

Era uma mulher do prédio da frente, no último andar, que havia visto a cena pela janela. Eu a vi correr para dentro da casa e ouvi seus gritos, chamando outras pessoas.

—Jeff! Thomas!- gritei olhando para dentro da casa.

—Ah, que droga!- gritou Jeff.

Ele estava escrevendo seu nome na parede, com o sangue do menino. O garoto estava com a barriga aberta e seus órgãos internos caídos no chão. Jeff terminou de escrever seu último “f” e correu para fora, com Thomas atrás. Quando chegaram ao lado de fora, perto de mim, havia algumas pessoas gritando e indo em nossa direção e outras correndo para longe. “É o Jeff... o assassino Jeff!” as pessoas gritavam. Dois homens chegaram perto de nós, mas Jeff e Thomas o mataram brutalmente. Os outros moradores que viram a cena, correram para longe. Já podia ouvir as sirenes da polícia.

—Corram!- Jeff gritou.

Meus instintos de sobrevivência dispararam além de seus limites e corri como um guepardo atrás de Jeff. Nós já éramos alvos de alguns atiradores.

—Jeff! Como vamos sair daqui?!- perguntei correndo ao seu lado.

Nós corríamos por todo condomínio, que mais parecia um labirinto, despistando quem quer que estivesse em nossa cola, mas cada vez que passávamos por alguma casa, um morador se escondia ou ia nos afrontar. Eu não fazia ideia de como Jeff nos tiraria daquela. Finalmente, ele apontou para um carro que estava perto do muro do condomínio.

—Thomas!- Jeff gritou.

Thomas arremessou seu machado e com uma ótima pontaria e cortou a cerca elétrica do muro. O machado caiu para fora do condomínio. Jeff subiu na caminhonete, que disparou o alarme e com um impulso absurdo, pulou no muro e depois para fora. Thomas fez o mesmo: subiu no carro, pulou no muro e depois para fora. Eu temia não conseguir fazer isso, mesmo que o muro não fosse tão alto. Confiei em tudo que tinha dentro de mim. Corri o mais rápido que pude, pulei no capô do carro, subi em cima dele, pulei no muro e me joguei para fora. Caí de pé, mas minhas pernas se enfraqueceram e me derrubaram no chão. Minhas mãos ralaram-se. Me levantei e vi que caímos em uma rua deserta. Felizmente não havia ninguém andando por lá. Entramos em um beco e Thomas abriu um latão de lixo vazio. Entramos nele e batemos rápido a tampa.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo.



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