Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 61
Capítulo 57


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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(...) Segundo o que afirmam. Rosie Ambers deveria se chamar Lyssa Artois Beaufoy. Marie e Allan Beaufoy são um casal de naturalidade francesa, residentes na Itália. Ambos realizaram buscas por 2 anos pela criança que nunca foi achada. Ontem a noite, sexta feira (17), o casal reuniu as últimas provas com o DNA de Rosie. O teste de maternidade e paternidade foi considerado positivo. Isso torna a selecionada a segunda herdeira de sua família, atrás de Oliver Artois Beaufoy, o ex noivo de Sua Alteza Real, princesa Delfina (...)

...

Assim que li a notícia decidi de primeira ligar para meus pais e explicar sobre a situação.

Eu precisava avisar meu suposto pai biológico também, então mandei uma carta por fax para Sullivan que a encaminhou para a casa abandonada. Esperava que Brian recebesse.

...

'Fiz o que pude para te achar, mas quando se trata de Marie, as coisas ficam perigosas. 

Evite contato com Marie e sua família. Não converse com ela, não confie nela se disser que veio em missão de paz.'

...

E eis o que eu estava fazendo: andando pelos corredores de um hospital em Roma, a caminho do quarto de Marie. Pelo que me informaram, ela estava internada por pneumonia, mas já estava quase de alta.

Osten segurava minha mão desde que passamos a seguir por uma área isolada, livre de olhos curiosos. Ele cismou que não queria me deixar ir sozinha, e Oliver ia à nossa frente. De vez em quando, lançava um olhar para trás, nos olhando com deboche.

O reencontro com o italiano se deu no aeroporto. Ele andou até mim abrindo os braços. Eu quis morrer porque precisava abraçá-lo, já que as câmeras nos rodeavam como abutres.

"Apenas siga o roteiro", Oliver sussurrou e eu tive que me segurar para não empurrá-lo. Era difícil que ele não estivesse envolvido com o teste de DNA positivo, mas eu não conseguia entender o motivo, pois ele claramente teria sua preciosa 'herança' compartilhada comigo.

Percebi que tínhamos chegado ao corredor do quarto quando notei seguranças especiais.

"Vou ficar na porta, qualquer coisa me chame", Osten me olhou de maneira significativa antes que eu entrasse.

Marie Artois Beaufoy usava óculos de grau e segurava um livro. Havia um monitor acompanhando seus sinais vitais. Ela sorriu para mim, sua aparência era um tanto cansada. 

Allan se levantou da poltrona de acompanhante para me dar um abraço quase que sufocante.

"Ah, que saudade! Fez uma boa viagem?"

"Sim, obrigada."

"Lyssa..."

Voltei-me para de Marie, cujos olhos agora estavam cheios d'água.

"...Oi", sorri. Ela estendeu a mão, me dando a entender que queria que eu me aproximasse. Fiz isso devagar.

"Mais perto!"

Me certifiquei de higienizar as mãos antes de segurar a mão que ela estendia. Ela envolveu a minha outra com outra também.

"Eu te amo, minha filha." ela olhou no fundo dos meus olhos. "Você não tem ideia do quanto eu esperei por esse momento..."

Allan se aproximou passando as mãos no cabelo da esposa, enquanto essa caia num choro contido, com o direito ao chacoalhar de ombros e ruídos esganiçados saindo pela garganta.

Eu que ainda estava com o pé totalmente atrás por causa da carta de Brian, refletia sobre o fato de que tinha uma escolha a fazer: ou acreditava em Brian, ou em Marie.

Ela apertou as minhas mãos por um tempo e no fim as beijou.

"Quando eu sair daqui, vamos recuperar todo o nosso tempo perdido. isso é uma promessa."

Só pude assentir.

"Você deve estar bem confusa..." disse Allan "Com o teste sendo negativo, depois positivo, mas finalmente temos uma boa explicação."

Os dois olharam para Oliver, e ele se pronunciou.

"Eu fiz o teste ser negativo por pura birra com você, por causa dos mal-entendidos entre nós e porque você sempre foi contra eu e Delfina. Mas me arrependo por isso. Me desculpe." sorriu como que culpado. "Antes tarde do que nunca, não é, maninha?"

"...Tudo bem."

"Precisamos tirar uma foto desse momento...", disse Marie.

Osten acabou sendo chamado para tirar a foto. Seu olhar de estranheza para a situação, quando entrou, só durou uma fração de segundos. Oliver veio para o meu lado passando os braços ao redor dos meus ombros, enquanto Allan ficou do outro lado da cama. 

Após devolver a câmera, Osten cumprimentou Allan e em seguida Marie, sendo questionado por ela sobre em quanto tempo a Seleção acabaria. 

"Se você e Lyssa se casarem, queremos uma visita a cada seis meses. Sei bem que a vida de um diplomata é bem atarefada no exterior, mas você pode dar um jeito de mandar ao menos a Lyssa para nos visitar..."

"Sim, senhora."Osten assentiu. "Vou garantir isso."

O sorriso de Marie se alargou mais.

"Era essa a certeza de que eu precisava ouvir. Não demorem a anunciar logo esse noivado." ela então olhou para mim." Lyssa, não sei se você teria tempo disponível, mas você tem direito a um cargo na nossa empresa."

"Empresa...?"

"Artois, de cosméticos." Oliver me esclareceu." Ela não deve conhecer, mãe. Ainda não expandimos para Illea, lembra?"

"Ah, verdade... Enfim, Lyssa, nossa família tem prioridade no gerenciamento da empresa, e eu gostaria que você assumisse esse negócio junto com o seu irmão, pelo menos uma parte dele."

Olhei para Oliver confusa.

"Achei que seu ramo de trabalho fosse diplomacia."

"Sempre foi um ofício temporário", deu de ombros. "Sou o vice-presidente da empresa, e depois que nosso querido vovô partir, sou eu que assumo. O comando é sempre passado para os primogênitos da família. Nossa mãe era a herdeira, mas não estava em condições de assumir o comando, então me prepararam para isso desde pequeno."

Marie e Allan pareceram satisfeitos quando concordei conhecer a filial em Roma, a fim de ver como funcionava o trabalho por ali.

O assunto pareceu morrer, e Osten comentou do horário avançado e que era melhor que fossemos logo para o palácio italiano, para onde o restante do pessoal tinha ido direto do aeroporto.

"Vocês viajaram, devem estar cansados mesmo." disse Allan" Mas antes, temos uma surpresa para você".

Encarei os dois passarinhos dourados que ele retirou do bolso e deixei que Allan o colocasse em mim, sob o olhar emocionado de Marie e irônico de Oliver. 

Nos despedimos com a promessa de que eu deveria visitar a casa dos Beaufoy, assim que Marie fosse liberada do hospital.

"Obrigada por me acompanhar hoje." dei um beijo leve em sua bochecha de Osten assim que entramos no carro. "Mas não precisa vir comigo das próximas vezes, basta a segurança. Relaxa..." falei depois de receber um olhar sério. "Com toda a atenção que recebemos da mídia, não acho que Marie faria algo."

Ele olhou para cima e respirou fundo.

"Sinto que estamos diante de uma encruzilhada. Não dá para te impedir de vê-los, mas também não dá para baixar a guarda. "franziu a testa. "De qualquer jeito, não acho que a minha presença faça alguma diferença para sua proteção."

"Pois é, na hora de uma confusão, qual de nós dois seria a prioridade dos seguranças?"

"Rosie."

"O quê? É verdade, pensa bem,"

"Eu estava me referindo ao fato de que não tenho treinamento militar. Isso que você disse é um absurdo. Faça-me o favor e não mencione isso nunca mais."

"... Ok. Desculpa." me senti uma tonta por não considerar o pavio curto que ele era quanto se envolvia o tópico 'superproteção'. Segurei sua mão deitando a cabeça em seu ombro. "É sério, desculpa. Não fica chateado comigo."

Osten não permaneceu de cara fechada encarando a janela. Ele beijou o topo da minha cabeça. Senti um olhar rápido do motorista sobre nós e um sorrisinho de sua parte.

Só esperava que aquilo não virasse uma fofoca, mas ele parecia ser muito profissional. Aliás, na ida para o hospital eu tinha notado pela conversa dele e Osten que eram velhos conhecidos. O nome dele, se não me engano, era Caleb.

"Esqueci de te mostrar" o príncipe quebrou o silêncio e retirou uma carteira do bolso."Kerttu me enviou algumas fotos de Eleanor, essas são as suas cópias."

As fotografias foram tiradas no hospital onde Eleanor nasceu. Uma delas mostrava Kaden e Josie com a filha, outra envolvia o restante da família.

"Ah, obrigada. Pelo visto, mais uma menininha para te forçar a brincar de boneca", comentei.

Ele me olhou com ironia.

"Deixo para Kerttu esse posto de paparicagem."

"Ela vai fazer questão...", sorri. Kerttu estava radiante numa última foto segurando a nova priminha.

...

"Ele é um poço de educação. Fez questão de mostrar o palácio para nós."

 "E Charles que me perdoe, mas o rei Nathaniel é um gatinho."

"Audy, sua louca." Amy balançou cabeça. Só ri.

Nathaniel era parecido com Lorenzo, mas um grande ponto que os diferenciava era que seus olhos não eram verdes, e sim azul acinzentado. Além disso, ele deixava uma barba rala crescer.

O rei ficou acordado para esperar eu e Osten. Eu não tinha conversado muito com ele até então, mas era simpático e um tanto na dele.

Como estava tarde não tive a mesma apresentação do palácio que o restante, mas Audrey e Amy fizeram questão de me mostrar assim que acordamos: Os cômodos reservados para pinturas e esculturas, principalmente grego-romanas, a sala de música, o pequeno jardim central, além dos imensos salões.

Tinha apenas um cachorro ali em Roma: o de Nathaniel, um pointer italiano. O resto dos animais ficava em um castelo a umas 4 horas de carro dali, em Nápoles. E embora Nápoles não fosse a residência oficial da família real italiana, era, de longe, o local preferido da família, onde passavam a maior parte do ano. Era lá que estavam Nicholetta e seu marido Phillipo.

Delfina e Violet chegaram em Roma naquela manhã. Fiquei sabendo que Lorenzo só chegaria à noite.

 "Quer dizer que as pinturas daqui não são só do acervo? Tem pinturas feitas pela própria família real italiana?" Katie perguntou a Delfina na sala de refeições, depois que a princesa comentou sobre uma delas.

"Ah, sim, estão com nossa assinatura inclusive. Fizemos aula de artes desde pequenos."

"Mas apenas ela e Lorenzo desenvolveram." disse Nathaniel" Não tenho dotes artísticos como eles."

 "Mas ele já fez uma escultura com dez anos. Querem ver?"

O rei lançou olhar de quem se sentiu apunhalado pelas costas para Violet, o que arrancou risadas da mesa.

"Tá rindo de quê, Osten? Aquilo não foi feito só por mim, você disse que daria um jeito de arrumar e piorou mais ainda a situação."

O príncipe segurando as mãos em rendição.

"Eu definitivamente preciso ver esta estátua." 

"Está escondida no fundo da sala de esculturas e, por final, sem assinatura" Delfina disse a Jade.

"E quanto aos dotes musicais, Majestade?" Suki perguntou" Da parte de Osten eu já sei que ele canta maravilhosamente bem."

"Ah, é mesmo?" Nathaniel encarou o amigo que ficou sem graça no mesmo instante com os olhares de todos. Prendi o riso. Era tão raro ver Osten daquele jeito... "Bom, respondendo sua pergunta, eu toco um pouco de violão, e não a situação não é tão humilhante como com artes."

"Ele canta também, uma gracinha" Delfina disse, ignorando o olhar feio."Sabe de uma coisa, deveríamos ir a um Karaokê, como antigamente. Dessa vez com as meninas. Só assim para fazer eles cantarem."

As mulheres em geral adoraram a ideia. Audy se empolgou do meu lado.

 "Podem marcar", disse Osten. "Mas eu aviso que não vou cantar."

Um coro de desaprovação.

"Ah, Osten, por favor." Ophelia riu. "O que as pessoas fazem num karaokê se não rir umas das outras desafinando?"

"A questão não é desafinar." ele balançou a cabeça.

"É o quê, então?" ela ergueu as sobrancelhas. "Medo de cantar? Timidez não combina com você."

"Você não presta." ele balançou a cabeça. "Ok, eu vou."

Palmas, com o predomínio das de Delfina.

"Como Osten já me pediu, o tempo que estiver comigo em Nápoles vai ser um descanso para vocês, meninas. Sem essa de reuniões. E vou marcar o karaokê, talvez até aqui em Roma, numa hora em que todos tiverem a agenda disponível."

...

"Eu preciso da ajuda de vocês." 

Paige voltou à sala onde tínhamos acabado de ter um reforço de italiano.

"Vai demorar muito? Porque a gente tem que se arrumar..." Jade apontou para o punho simulando um relógio.

"Vai dar tempo... Podem vir comigo, por favor?" 

Seguimos ela até seu quarto.

"O discurso de hoje é muito importante pra mim." falou assim que nos acomodamos." Eu só preciso que olhem esse texto e me digam se mudariam alguma coisa." estendeu uma folha, segurei-a no impulso. "Eu não sei se contei para vocês, mas tenho cidadania italiana."

Paige planejava se mudar para Itália com a família antes mesmo da Seleção. Agora que estava pensando em seguir a carreira de diplomacia tudo o que ela mais queria era entrar numa universidade daquele país.

Osten a deixou ficar mais tempo justamente pelo objetivo da visibilidade que teria em eventos como esse. Professores de Universidade de Roma, fora políticos e diplomatas iriam ouvi-la falar. 

As criadas que vieram com Paige acharam o discurso uma maravilha, mas ao verem que continuava insegura sugeriram que ela o mostrasse para alguma integrante da Elite.

"Por que não pediu ajuda para a Ophelia?"Jade perguntou "Ela não é a 'rainha dos discursos'?"

"Ophelia tem quase que os mesmos objetivos que eu. Sei que ela não é competitiva, nem de passar a perna, mas seria um pouco estranho... E quanto a Suki e Katie, "Continuou antes de ser novamente questionada" Eu não acho que elas acreditariam em mim quando digo que não estou mais na competição."

"Competição? "Jade riu." Pois é, tem gente que se ilude com uma facilidade..."deu uma olhada rápida em minha direção cruzando os braços "Eu claramente sei quando um homem não está afim. É por isso que fiz como você: nem perdi o meu tempo. Osten me perguntou se eu queria ficar por algum motivo e eu disse que precisava de uns contatos de moda."

Enquanto eu processava aquela nova informação, Jade arrancou o discurso de minha mão e passou a lê-lo com afinco, pontuando em seguida que o primeiro e segundo parágrafo eram bons. Gostou também do restante e denotou que Paige poderia melhorar algumas frases de efeito no final.

"E você, Rosie?" 

Paige me entregou novamente a folha. Sorri.

"Admito que não tenho um olho muito bom para opinar..."

"Deixa de drama."Jade murmurou. Encarei-a." Você vai fazer isso o tempo todo como princesa e não é possível que não tenha aprendido alguma coisa com esse tanto de aulas."

"...Está tão claro que o Osten e eu..."

"Ah, pelos céus, faça alguma pergunta inteligente!"

Paige acabou por rir, me pedindo desculpas pelo ato. 

"Não se preocupe, já estou acostumada com Jade."me virei para essa." Sabe o que eu não entendo? Por que continua implicando comigo se não me enxerga mais como concorrente?"

"Acha que eu implico contigo?" Ergueu as sobrancelhas "Eu só digo verdades quando quero. Sinto muito se te ofendi." disse a última parte com ironia.

"Muito cara de pau..." comentei com Paige, assim que ficamos sozinhas.

...

O jantar ocorreu num enorme salão com paredes de vidro, no próprio palácio italiano. Deu mais gente do que eu esperava. Infelizmente decidi ir pelo caminho mais longo até as mesas que estavam reservadas, precisando parar diversas vezes para conversar com desconhecidos.

Pelas conversas e olhares que dei ao redor identifiquei políticos italianos, estudantes recém formados em relações internacionais, diplomatas, seus assessores, estagiários e aprendizes, além de pessoas que claramente eram celebridades locais. 

Troquei um olhar de alívio com Audrey e Amy quando nos vimos livres. Contornamos uma estátua religiosa no jardim, para nos desviar de um mar de pessoas, mas chegamos ao local onde entrevistavam Katie, Suki e Osten.

Eles estavam de frente para nós, o que me permitiu lançar um aceno para o príncipe, que para minha surpresa correspondeu, causando a curiosidade do repórter.

"Osten me paga!"

Audrey e Amy vieram rindo atrás de mim depois que eu finalmente fui liberada da entrevista, que por sinal foi a respeito da viagem.

"Olha quem está aqui." Audy disse quando sentamos.

Lorenzo estava conversando com Nathaniel, Delfina e alguns políticos.

Eu não estava muito atualizada quanto às fofocas, por isso me interessei pelo assunto comentado entre as criadas: o rei Nathaniel possivelmente tinha uma namorada. 

Um funcionário local fofocou para uma delas que viram um joalheiro famoso por fazer aneis de casamento para a família real italiana visitando o palácio pela manhã para conversar com Nathaniel.

"Eu aposto que a namorada dele está nessa festa!" comentou Audrey.

"Eu espero que ela seja um moça de valha a pena." disse uma das criadas que viera com Jade."  Sempre ficou muito claro que ele era perdidamente apaixonado pela rainha Bianca."

"Eu chorei horrores com a reportagem do acidente, eu sempre achei Bianca incrível." disse outra.

"Foi um drama só, mesmo..."

Amy tocou meu braço.

"Você não deveria estar circulando por aí? Sabe, conversando com essa gente?"

Meneei a cabeça.

"Pela primeira vez num evento eu estou completamente em paz. Não me faça voltar para o ninho de cobras."

"Rosie. Sessão de fotos da Elite. É obrigatório. Venha." 

Não tive escolha a não ser seguir Jade. Nos direcionaram para fora do salão por um instante. As fotos seriam de frente para o jardim. Suki parou ao meu lado e fizemos contato visual.

"Boa noite."

"Boa noite." ela me respondeu com um sorriso mínimo. Saiu andando assim que o fotógrafo nos liberou.

Me aproximei de Paige, após ouvir o anúncio de que os discursos aconteceriam dentro de cinco minutos. 

"Tudo certo?"

Ela deu de ombros.

"Odeio o fato de que só o que eu disser hoje possa me tirar uma grande oportunidade."

"Você está super preparada. Vai dar certo."

Acompanhei-a até a área reservada para o discurso, mas assim que ela começou a falar com Nathaniel e Ophelia vi que não era muito necessária ali. 

Resolvi voltar à mesa. Quase não notei a pessoa que vinha em minha direção. Teria sido um esbarrão se Osten não estendesse as mãos para segurar meus ombros.

"Isso foi bem clichê." Ri.

"De bom humor... Achei que ainda estaria com raiva de mim."

Olhei-o séria, mas seu sorriso me contagiou.

"Bom, não foi bem sua culpa, não é?" 

"Você, por acaso, pretende dormir cedo hoje?" ele perguntou de repente, olhando possivelmente alguém atrás de mim, porque fez um sinal de quem pedia para aguardar. "Vou tentar resolver um assunto do trabalho durante a festa e talvez dure um pouco mais. Se importa de... me esperar?"

Franzi a testa. Ele parecia estar sem graça.

"Claro que te espero, como sempre o único horário que podemos conversar é esse. E não se preocupe. Resolva seus problemas primeiro."

Osten assentiu e levantou a mão para ajeitar meu cabelo, muito rapidamente, por estarmos em público.

"Até mais tarde, Ma princesse."

 Retomei a caminhada. Um dos pontos ruins daquela viagem era que o tempo que eu passava com Osten era mais escasso até do que na época em que ele tinha um milhão de encontros com as selecionadas.

Da mesa, tinha-se uma boa visibilidade do palco onde estavam Paige e Ophelia. Jade se sentou ao meu lado. 

"Algumas modelos querem fotos com a gente depois discurso." ela anunciou.

"Ah, sério? Ok."

"Que foi? Não quer?"

"Não sou muito fã de fotos, não sei se percebeu, mas vou sim."

"Claro, pelo bem da sua reputação." rolou os olhos." É incrível como você teve sorte depois daquelas notícias. Quase nem se fala mais sobre o seu affair com Tyler."

Dei de ombros.

"Não estamos em Illea para saber como está toda a situação. Talvez seja o que mais se comenta por lá quando se cita o meu nome."

"Devem estar mais concentrados na sua revelação como a 'nova Beaufoy'. Você é uma maldita sortuda. Está rica, mesmo se por algum motivo não casar com Osten."

"Achei que você fosse rica." 

"Nem toda modelo é." 

Tanto quanto Ophelia se saíram muito bem. Paige claramente um pouco mais nervosa do que Ophelia, que estava o puro entusiasmo naquele palco. Fiquei feliz por elas, que foram apresentadas por Benjamin por algumas pessoas assim que tudo terminou.

  ...

Delfina riu mais uma vez de minha expressão incrédula e limpou pincel de vermelho para escolher amarelo. 

"Eu e o Aaron só estamos saindo. Não é nada oficial, mas em breve vai ser. Por enquanto, guarde segredo, tá?"

"Pode deixar."

Seria um surto quando aquela notícia saísse. Eu estava muito feliz pelos dois, porque o príncipe alemão era um fofo e muito apaixonado por ela. Delfina me contou algumas coisas que aconteceram até que ficassem juntos.

"Osten está demorando, hein..." ela comentou.

Quando ela veio me chamar para passar um tempo na sala de pintura com ela após a festa, Amy acabou soltando que o Osten viria me ver mais tarde.

Suspirei.

"Acho que ele vai mandar recado de que não pode daqui a pouco, pelo horário já avançado. A ligação era com alguém no exterior e tinha que ser agora, por causa de fuso horário, algo assim."

"Não sei se já te falei, mas o lema dela é responsabilidade antes de diversão. É um péssimo hábito. Pode que ele te deixe no vácuo algumas vezes para trabalhar."

"Ele já faz isso."Nós rimos."Mas eu gosto de vê-lo trabalhando. Ele se sente muito feliz assim, isso me contagia. Só não consigo gostar da mesma coisa, aí já é demais."

Ela achou graça.

"Eu particularmente também não vou muito com esse ramo de trabalho. Eu já te falei que gosto de arquitetura, não é? Sempre quis seguir a carreira..."

"Sim...E por que não...?"

"Eu achei que era mais fácil começar trabalhando com meus irmãos. Fui aconselhada, na verdade. "franziu a testa enquanto delineava o telhado de uma casa de campo. "Mas pretendo mudar isso em breve."

"Você tem o meu apoio."

"Obrigada." sorriu melancólica" Meu sonho era ter uma vida 100% reservada. Estudar, trabalhar no anonimato, não dever satisfações a ninguém. Ser princesa tem seus prós e contras. Perdemos um pouco das liberdades... Não é tudo que se pode fazer."

"Sim, eu sei... Já pensei muito sobre isso. Eu acho que o pior de tudo é a mídia e estar no centro das atenções."

"...De tudo, o jeito é não pirar e tentar aproveitar ao máximo o que a vida proporciona." Piscou.

Osten acabou realmente me dando o bolo. As meninas me avisaram, quando cheguei ao quarto, que ele havia passado para cancelar, e que me desejava 'uma boa noite'.

 ...

 Bati a porta do quarto pela manhã. O príncipe italiano me olhou com surpresa ao atender.

"Bom dia, Lorenzo. Desculpe atrapalhar. É bem rápido... Vim devolver isso..." Estendi a caixa com o colar.

Lorenzo sorriu de canto.

"Você planejava me devolver já faz um tempo, né?"

Assenti sem graça.

Ouvimos um barulho. Nos olhamos e vi que pensamos igual. Era melhor eu ir logo antes que nos vissem e interpretassem as coisas errado. Dei um aceno apressando-me para meu quarto, onde Amy e Audrey me esperavam para terminar a maquiagem.

Meu itinerário do dia seria um tanto diferente do resto da Elite...

O bairro onde a família Beaufoy morava tinha diversas outras mansões localizadas às margens do rio Tibre. Detectei a casa antes mesmo de estacionarmos, devido às fotos trazidas por Allan quando ele foi a Illea para me conhecer.

Como o esperado, a casa tinha tom salmão e um portão branco. No jardim da frente destacavam-se tulipas brancas e vermelhas. O chão da sala de estar era coberto por um tapete que dava a sensação de que iria engolir os pés de quem passasse por ele.

Avistei alguns quadros da família: fotos de Oliver em diferentes idades, de Allan e Marie em eventos e de Marie com um senhor de idade e duas mulheres que se pareciam com ela.

"Acho que você iria preferir conhecê-los pessoalmente", disse Allan, apontando para uma porta de vidro. Ela dava para uma grande piscina, com mesas, guarda-sóis e espreguiçadeiras. Havia também um outro jardim ao longe, de frente para o rio, onde havia um cais e uma lancha. 

Allan me pediu para acompanhá-lo em um elevador, em vez de subir por uma escada lateral. Fomos para o último andar, onde havia um ambiente semelhante a uma sala de estar.

Travei por um instante ao ver os vários pares de olhos apontados na minha direção.

"Como sou filho único e meus pais já faleceram, todos aqui são da família da sua mãe." disse Allan. Reconheci o homem idoso e duas mulheres loiras "Seu avô Marcel, sua tia Margot, sua tia Madeline."

A diferença entre as duas era que Margot tinha cabelos mais ondulados e Madeline parecia ser um pouco mais nova e cabelo curto em corte Chanel.

"E estes são seus primos, filhos de Margot: Isaac e Danielle." Continuou apontando para um garoto moreno adolescente e uma menina loirinha que usava maria-chiquinhas e um macacão rosa-claro, de no máximo uns 7 anos.

Me surpreendi quando a menina tomou a dianteira vindo em minha direção com os braços abertos.

"Salut.(Olá)" me olhou sorridente "Je suis Danielle.Tu peux m'appeler Dani (Sou Danielle. Você pode me chamar de Dani)."

 Abaixei-me para abraçá-la melhor, sentindo meu coração derreter e deixando de lado, por um instante, qualquer reserva que eu tinha com quanto a conhecer aquela família.

"Salut, Dani", respondi, aumentando seu sorriso.

Para o meu desespero ela começou a disparar palavras em francês. Estava muito feliz em ser minha prima, assistia a Seleção, e a partir de certo ponto só comecei a assentir, até que ela parou me encarando.

"Désolé...(Desculpe)".Pedi que ela pudesse repetir a última parte. Sua mãe é que me salvou.

"Ela perguntou se você pode apresentar ela para a família real de Illea." 

"Ah, sim, claro."

Margot trocou algumas palavras com a filha, provavelmente explicando que eu ainda não era fluente em francês.  

"Eu e Danielle acompanhamos tudo sobre a Seleção e desconfiamos desde o início que você poderia ser a Lyssa" Margot se aproximou para me abraçar.

"Descobriram pelo colar que eu usei em um dos jornais oficiais?"

"Você usou alguma vez?! Ah, não foi por isso. Eu apenas vi semelhança. E Oliver nos confirmou quando viu o colar com você."

Encarei o italiano, que estava de braços cruzados apoiado em um dos móveis. Ele piscou para mim com uma expressão zombeteira.

"Eu sempre soube que esses colares seriam o maior elo de nossa família", disse uma voz masculina bem polida. Marcel parou ao meu lado e tocou o colar que eu resolvi usar naquele dia. "Eu os fiz em homenagem a sua avó, Nina. Foram tantos momentos felizes…”

Madeline e Isaac me cumprimentaram em seguida. Eles eram mais reservados.

Marie chegou pelo elevador cinco minutos depois, vindo de cadeira de rodas e sendo assistida por uma cuidadora. Os demais funcionários da casa foram apresentados. Reconheci o joalheiro que havia levado o colar embora na ocasião em que o teste de DNA deu negativo em Illea. 

Fomos direcionados para a mesa, onde estava sendo servido o almoço. Logo começou um interrogatório, mais protagonizado por Marie e Margot, a respeito da minha vida em Columbia e sobre alguns aspectos da vida no palácio de Illea.

Descobri que Marcel, Madeline, Margot e meus novos primos moravam na França. Madeline controlava uma filial da empresa Artois naquele país, enquanto Oliver cuidava da filial da Itália e antes dele Marie, na época em que se mudou para Itália com Allan.  

"Joga cartas?", Marcel perguntou.

"Ah, sim, por quê?", respondi.

"É uma tradição de família."

Féfille, a tartaruga que Allan comentara comigo em Illea foi trazido por ele. Passei alguns segundos com ela na mão e depois Danielle começou a brincar com ela.

Enquanto jogávamos na sala, Marcel então começou a contar algumas histórias sobre a família Artois. Os três colares foram feitos porque meus avós gostavam de assistir ao voo de gaivotas, geralmente no fim da tarde, na beira do rio Sena.

Minha avó Nina amava isso. Ela faleceu de câncer quando Marie, Margot e Madeline eram crianças. Deu para sentir que Marcel sentia muita falta dela.

  ...

O barulho parecia ter vindo do corredor à esquerda do meu quarto. Desviei minha rota para lá. Um guarda e uma criada passaram correndo por mim e chegaram antes.

"O que vamos fazer com ele?"

"Não faço ideia."

Osten e Lorenzo estavam de frente para um Nathaniel largado no chão. O cheiro que senti era de vinho, o que explicava os cacos de vidro quebrado.

Lorenzo bufou e agachou para erguer o irmão, e Osten ajudava-os a se equilibrarem, até que me notaram.

"Deixa comigo, Osten."

"Certeza?"

Lorenzo assentiu tomando a direção oposta.

O guarda impediu a criada de pegar os cacos com a mão e lhe disse que vigiaria o piso enquanto ela buscava ajuda para faxina.

 "O que aconteceu?" Falei depois que saímos andando pelo corredor.

Osten pediu que fossemos até um local mais reservado, que acabou sendo o jardim.

"Você sabe que Nathaniel ficou muito mal depois que a esposa dele morreu." Assenti já entendendo o rumo da conversa, unindo os fatos com as fofocas das criadas... " E agora que ele se apaixonou outra vez, acabou de levar um fora."

"Ah... coitado."

Atualizei Osten sobre o que ouvi na festa, deixando-o atordoado.

"Nathaniel costuma ser bem discreto... Esses funcionários são muito bons observadores."

"Desculpa a curiosidade, mas quem é a pessoa que..."

"Paige."

Encarei ele por um momento.

"Paige, a Paige Stuart?!"

"Ela mesmo." assentiu" Também fiquei surpreso quando flagrei os dois num clima de romance em um dos dias que passamos lá naquele resort de Carolina. Não sei muito bem os detalhes, mas pelo que ouvi de fofoca do Lorenzo, tudo começou bem antes, no aniversário de Kerttu: Nathaniel pisou no vestido dela e rasgou, ajudou ela a voltar para o quarto sem descobrirem,  depois procurou ela, pediu mil perdões, e de exagero, para compensá-la, até comprou um vestido novo e enviou para ela..."Meneou a cabeça rindo" Como você diria, algo bem clichê."

"Socorro..."ri" Então a Paige gosta dele?" 

"Pois é. Por mais que negue, é notório que gosta. Jade viu tudo acontecer e nos falou que teve que consolar ela e que era para procurarmos o Nathaniel."

"Ah..."

"Paige deixou bem claro pra mim que queria continuar na Seleção, porque se identificou com meu ramo de trabalho e queria aprender um pouco mais. Talvez Nathaniel tenha se precipitado pedindo ela em casamento assim tão de repente... Ou talvez... ela só queira seguir o caminho dela, e ser uma Rainha seria algo que a atrapalhe a fazer o que gosta."

"... Entendi. Mas eles não precisam ficar noivos agora. Podem namorar, já que ela mesmo me disse que está se mudando para Itália com a família. E, tecnicamente, ela não poderia trabalhar com Relações Internacionais ainda sendo esposa dele?"

"Até que poderia, mas pode ser que ela queira seguir a carreira por conta própria." franziu a testa. "É o que dá a entender."

"Acho que ela poderia tentar conciliar. Mas a vida é dela. Só espero que os dois não saiam machucados."

Ele assentiu.

"Como foi lá hoje?"

"...Sinceramente, estava esperando demais pessoas com a personalidade do Oliver. O bizarro é que me trataram como uma visita, sendo super prestativos. Mas não sei se devo me preocupar ou não com isso. Enfim, é esperar para ver."

Eu lhe contei um pouco mais sobre a Dani e como ela queria muito conhecer Kerttu; além de minhas impressões sobre a família. Osten, em certo momento, olhou para o pulso. Imaginei o que diria.

"Olha, são por volta de oito e quarenta."

 "E você tem outra reunião?"

"Quê? Não, não." segurou minha mão e sorriu." Não pretendo dar o ninja hoje. Eu ia dizer que aqui nesse palácio também tem cinema..."me olhou sugestivo.

Tinha realmente um bom tempo que não víamos algo.

...

Acordei um pouco indisposta, não só por dormir tarde, após decidirmos maratonar alguns episódios de uma série, mas principalmente depois de lembrar o meu cronograma. Deveria conhecer a empresa enquanto a Elite e Osten estavam com algum compromisso com os políticos de Roma.

A empresa ficava no centro da cidade, em um edifício comercial. Conforme subíamos e andávamos pelas sessões de trabalho, os funcionários paravam o que estavam fazendo para cumprimentar Oliver, que pelo visto parecia feliz com essa imagem de 'o ditador'.

"Vamos lá, maninha. Temos muito o que conversar", disse Oliver assim que Allan se foi conversar com um amigo da empresa. Ele fez um sinal para um funcionário trazer café e se sentou em sua poltrona com vista para os demais prédios.

Eu já havia tomado café da manhã, então só aceitei a água que vinha na bandeja.

Oliver cruzou os braços e ficou em silêncio até que o funcionário se retirasse.

"Seria negativo de qualquer jeito para a paternidade", ele falou. "Mas positivo para nossa mãe. Eu sempre fui um menino bem curioso", deu de ombros. "Descobri várias das escapadas com os amantes. O acidente dela, por falar nisso, foi em uma. Eu tinha seis anos."

"Hum..." O mais irônico é que ele disse tudo isso com um tom de reprovação, como se o caso Delfina/Clarabella nunca tivesse existido. "Realmente descobriu que eu era sua irmã só com o aviso da tia Margot?"

"Quando voltei a Illea pela segunda vez, eu ainda considerava isso um surto dela e da Danielle, até que a Aimée me falou sobre o colar."

Cruzei os braços.

"Se você quis manchar a minha imagem com aquela mentira sobre eu e Osten, me afastar da família, por que trouxe isso à tona agora?"

"Porque eu fui um estúpido. Só por isso." Ergui as sobrancelhas. "Eu estava cometendo um grande erro, admito. Sendo mesquinho com esse papo de herança, de não querer dividir dinheiro com ninguém. Essa empresa precisa de um pouco mais de visibilidade, de status e patrocínios para poder sair das ruínas depois de um grande esquema de corrupção..."

"Isso..."

"Você, uma selecionada famosa, muito provavelmente a próxima princesa de Illea, promovendo tudo isso aqui", ele apontou ao redor. "Sem dúvidas, muito mais promissor."

Ri afônica.

"Mais faturas só com uma notícia?"

"Simples. Mais evidência, mais investidores e contratos. Mas, quem eu quero enganar?", ele riu. "Você nunca entenderia esse mundo dos negócios", rolou os olhos. "Vamos, não faça essa cara, você também tem a ganhar com isso!"

"Você, Marie, Allan, Marcel... são um bando de desesperados", me levantei. "Não quero nada que venha de vocês. Seu interesse é que eu não seja uma pedra no seu sapato quanto à herança, não é? Me deixem de fora dos projetos de vocês, e eu doo a minha herança para você. Pode ficar com tudo."

Ele me impediu de abrir a porta, fechando-a e trancando.

"Eu não sabia que você era tão ingênua", meneou a cabeça. "Entenda. Você não está em condições de decidir nada aqui. Se você quer doar sua herança, o problema é todo seu. Mas o seu papel é fazer um bom teatro para a mídia, em todos os eventos possíveis. Ou você ajuda, ou ajuda", ele sorriu. "A não ser que queira uma notícia incriminando seus pais adotivos por terem tentado roubar você e o colar."

Eu queria poder jogar na cara dele que aquela chantagem não passava de um blefe barato. Mas não poderia jamais subestimar uma família rica e uma rede de contatos exímia para fazer um boato daqueles prejudicar a única família que eu tinha.

"Pelo visto, estamos de acordo", disse Oliver, retirando um papel do bolso. "Promete não amassar, nem rasgar, por mais que esteja fervendo de ódio, maninha?" Ele estendeu o papel. "Vou esperar lá fora. Você precisa ler isso primeiro."

Eu achei que aquilo era um contrato.

Me surpreendi ao ver que tudo estava escrito à mão.

À Lyssa Artois Beaufoy,

ou melhor, Rosie Ambers.

Acredito que crescer longe do seio dessa família tenha sido a melhor coisa para você. Sinto muito que tenha que voltar a ela, e também pelo que vou te contar. Mas você tem o direito de saber a sua história.

Marie nunca foi apaixonada por Allan da mesma forma que ele era por ela. Fui a primeira da família a me dar conta de que ela o traía. Minha irmã e seu pai Brian se conheceram em um dos restaurantes preferidos dela. Eu sabia exatamente o horário em que ela saía para encontrá-lo, era a hora em que ela colocava a melhor peça de roupa, o melhor perfume, as melhores joias... 

Mas nem todo romance vinga. Da paixão ao ódio infinito por Brian: é assim que eu descreveria a situação. Quando ela ficou grávida de você, quis abortar. Mas ela tinha dois problemas: a sociedade já sabia sobre seu bebê e Allan estava muito empolgado com a ideia de outra criança. Eu nunca fui muito próxima de Marie, mas os empregados mais chegados da minha irmã me informaram sobre o esquema que ela tinha feito de sumir com você assim que você nascesse.

Não era justo acabar com a vida de alguém que não tem nada a ver com toda a situação. Então fiz um plano alternativo. Investiguei a vida de Brian antes que ele voltasse para Illea e contratei uma das criadas demitidas que iria se mudar para lá na mesma época. Ela me ligou para informar que havia te entregado. O colar foi uma maneira de comprovar para Brian que o bebê era de Marie.

Infelizmente, queira ou não, agora você está atrelada a nós. Oliver já deve ter falado sobre as condições. Se tiver um pingo de juízo e amor pelos seus parentes, não vai querer compartilhar essa informação com outros. Pedi a Oliver que entregasse essa carta e logo depois a jogasse fora.

De sua tia, Madeline.

O confuso é a carta soava como uma ameaça, mesmo vindo de alguém que claramente quis me proteger no passado.

Oliver estava na porta da sala. Entreguei-lhe a carta e ele a rasgou no mesmo instante.

"Independente do que você pense a respeito, espero que cumpra seu papel e fique quieta. De agora em diante, vamos precisar nos encontrar de tempos em tempos. Quero você aqui na Itália nos eventos que eu te chamar."

"Ok", assenti, seguindo na direção dos guardas.

  ...

Uma sala foi reservada em um karaokê às 19h. Todos começaram a entrar na fila para cantar, e as criadas eram as mais animadas. De início, eu não estava muito no clima, mas me convenci de que precisava mesmo esfriar a cabeça. 

Delfina me puxou para uma música em trio com ela e Jade. Paige e Ophelia cantaram com Audrey. Mais tarde chegaram Nathaniel, Osten e Lorenzo.

O rei pediu para cantar um solo. Percebi que estava mandando uma mensagem romântica à Paige. E duas músicas depois ela mandou a sua resposta: de que precisava de tempo/espaço, o que fez Jade revirar os olhos com raiva.

"Agora é sua vez! Você prometeu!"

Ophelia puxou Osten, e empurrou-o para o palco.

"Podemos cantar em dueto." Suki sugeriu indo também, ao que o príncipe assentiu.

Osten iniciou canto e, sinceramente, America não estava enaltecendo o filho atoa. Ele estava super envergonhado, mas geral estava amando. Suki me assustou com a sua voz um tanto arrastada.

Ela cantava a música de teor romântico olhando diretamente para ele, algo que não passou despercebido por ninguém. Osten me lançou um olhar sem graça, e os comentários começaram ao meu redor.

"Vou mandá-la para casa." Ele sussurrou quando passou por mim."Ela pediu por mais tempo, mas está bem claro que está sendo difícil demais para ela."

Assenti.

"Me avise assim que for conversar. Quero ter uma última conversa com ela."

"Ok."

Encarei Suki de longe. Quando sua música terminou, ela foi para a mesa bebendo um copo de vez. E não parou por aí. Alguns minutos se passaram com ela pedindo cada vez mais bebidas, e eu não aguentei.

"Ei... ela está bebendo demais, não acham?" falei com as criadas que a acompanhavam.

"Estamos tentando conter, mas..."

"Não estou bebendo demais!" Suki se levantou, quase se desequilibrando com o ato.

"Suki, cuidado..."

"Céus, você é MUITO FALSA" empurrou meu braço. "Fica aí como se fosse um amorzinho de pessoa, como se realmente se importasse comigo!"

Todos pararam de falar e até mesmo Violet interrompeu o canto devido o volume de sua voz.

"...Você sabe que me importo de verdade com você. Só descansa um pouco, tá?"  

"Quer saber? EU CANSEI."

Claro. Ela estava bêbada. Mas não achei que isso a levaria a fazer o que fez. Suki passou por mim parando diante de Osten e puxou-o pela camisa dando-lhe um típico beijo cinematográfico.

Ele se afastou imediatamente, e Suki empurrou as amigas que tentavam puxá-la para longe do príncipe

"QUAL É O PROBLEMA DE VOCÊS? POR QUE NÃO POSSO BEIJAR ELE SE TEM GENTE SE BEIJANDO POR AÍ À VONTADE? Não é verdade, Rosie?" me encarou " Você e Lorenzo. Contem para o Osten!"

Osten encontrou meu olhar numa fração de segundos. Apenas consegui negar com a cabeça. Ele desviou o olhar calado e estendeu a mão com um sinal de pare quando Lorenzo o chamou.

Não quis reparar muito ao redor, mas vi que Audy estava com a mão na boca, e Amy pasma. Suki riu com sarcasmo.

"Só eu percebi? Estava na cara, desde sempre, que esses dois se amam." ela apontou para Osten."Se você perdoar ela por isso, eu vou entender que é um completo idiota." 

   "Ok, isso aconteceu, mas a Rosie não retribuiu." Lorenzo disse assim que Suki foi levada contra sua vontade para o banheiro "Osten, vamos conversar melhor lá fora, pode ser?"

"Não precisamos. Você mesmo esclareceu." o tom de voz dele foi estranhamente neutro" Coloquem outra coisa para tocar. A noite não pode parar por aqui"

Jade se moveu andando até a caixa de som. Ophelia foi ajudá-la. Senti alguém segurar a minha mão. Delfina. Ela me olhou com pena.

"Osten, dá para vir comigo de uma vez?"

"Se quer tanto, então vamos." ele se levantou, seguindo o italiano.

 ...

A porta do quarto foi aberta relativamente rápido. Olhei no fundo de seus olhos.

"Osten, eu só adiei o momento de te contar, porque não via uma maneira de..."

"Eu sei. Não quero explicações."me cortou" Eu sinceramente acho que você podia ter me dito antes...Mas não se preocupe, não estou bravo com você. Não tem por quê estar." Tocou minha bochecha, me puxando para um abraço duradouro quando meus olhos embaçaram de vez. 

"Desculpa."

"Rosie..."

"Precisa de desculpas sim!"

"Ok, se você diz..." ele se afastou após alguns segundos. "Não pense que estou te expulsando, mas vou precisar olhar uns documentos antes de dormir."

Meu coração apertou quando o encarei. Estava na cara que ele precisaria de um bom tempo para assimilar aquilo. Era só uma justificativa para ficar sozinho.

"Tudo bem. Boa noite, Osten."

Eu lhe daria tempo, assim como ele sempre deu para mim.

Ele sorriu.

"Boa noite, Rosie."

 


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Notas finais do capítulo

Sendo honesta, esse cap era pra ter sido mais fluffly e não depressivo...
(Não me matem kk)



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