Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 62
Capítulo 58




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Pulei o café da manhã no quarto e estava tentando respirar um pouco naquele jardim do castelo de Nápoles. Amy e Audrey me acompanhavam.

"Vai mesmo conversar com ele?"

"Não é por um mal entendido que vou deixar de falar com o Lorenzo."

Elas ainda estavam muito incrédulas com o que houve.

Senti que Audrey, em especial, ficou um tanto chateada por não ter contado antes sobre o beijo do italiano. Mas ambas não me lançaram olhares de julgamento, como a maioria dos presentes naquele karaokê.

Meu destino ficava no lado oposto àquele andar. Lorenzo estava me esperando sentado em um corredor com vista para o gramado e jardins com caminhos pavimentados, fontes ornamentais e fileiras simétricas entre as árvores.

"Oi."

"Ei"

O italiano me lançou um sorriso amigável quando me aproximei e sentei ao seu lado. Ele estava desenhando uma cachoeira, que logo elogiei, com uma foto ao lado como molde.

Ficamos em um silêncio desconfortável.

"Está vendo aquele aquele caminho de pedras, perto dos pinheiros?" Ele apontou para uma das janelas de vidro.

"Ah... sim? "

"Por ali fica uma passagem secreta para sair do palácio, é pelo subterrâneo. Eu, Delfina, Osten, e até Nathaniel já usamos para sair. Alguns dos meus cachorros são vira-latas, percebeu?"

"Achou eles na rua?"

Ele assentiu, e eu ri, antes que sua expressão voltasse a seriedade.

"Olha, isso tudo é culpa minha... Lembra do dia em que saímos para passear por Madrid?" Concordei. "Saí para beber a noite, com alguns conhecidos de Martina e voltei bem tarde para passar a noite no palácio."

Franzi a testa até me lembrar que Martina era aquela prima do príncipe espanhol que andava com Delfina e Lorenzo em algumas exposições artísticas. Ele seguiu com a explicação.

"Suki aproveitou o momento em que eu estava quase entrando no quarto... Ela fez perguntas sobre você e eu. Eu não lembro exatamente o que falei, posso ter aumentado as coisas, talvez..."

"Não se desculpe, Lorenz..."

"E em algum momento falei que te beijei." balançou a cabeça. "Sei disso porque perguntei a ela no dia seguinte. E, olha, ela me disse que pode não acreditar em mim e em você, mas não iria dizer uma palavra ao Osten. Ela me disse que queria que ele gostasse dela pelo que ela é, não por causa de uma 'traição' ".

Ergui as sobrancelhas. Isso até fazia um pouco de sentido: a asiática me disse durante nossa discussão na canoa que queria uma competição limpa.

Respirei fundo.

"Pelo lado bom, pelo menos não temos que nos preocupar com Suki espalhando notícias falsas por aí...Realmente não é do feitio dela fazer isso. Ela estava claramente fora de si no karaokê,"

"E quanto ao Osten..." Ele prosseguiu.

"Já falei com ele."

"Eu também. Osten é o meu melhor amigo, e eu já vi ele sofrer por minha irmã ter ficado com Oliver. Não era minha intenção investir em alguém em quem ele também estivesse interessado. Mas... vocês não eram tão próximos- romanticamente dizendo- há tempo atrás, então eu não pensei duas vezes em dizer tudo o que sentia de uma vez. Sabia que não teria como te ver com frequência e você parecia ser muito fechada." Sorriu melancólico "Eu acabei até te assustando algumas vezes."

"Sim, um pouco."sorri" Sempre fui preconceituosa, e associei você e também Osten com algumas pessoas que não foram muito boas para mim no passado..."

"O... Tyler?" Lorenzo parecia chocado.

"Nãoo!" Ri. "O Tyler sempre foi um amigo muito bom pra mim. Eu já gostei dele, inclusive, e acho que ele também já gostou de mim, em algum momento. Mas nos gostamos em tempos diferentes." dei de ombros." Não era para acontecer. De qualquer forma, eu me sinto feliz por não perdemos a amizade quando eu me declarei por uma carta."

"Hum... senti a indireta." Lorenzo sorriu de lado quando o olhei sem graça e soltou um risinho."Calma, já superei o seu fora."

Quase me escapou um 'alguém vai te fazer muito feliz um dia', mas isso seria muito indelicado de minha parte, visto que eu não tinha certeza se Lorenzo ainda tinha algum sentimento guardado.

"Eu espero que Osten não guarde muito rancor, "continuou dizendo com um rosto pensativo." Não tive muito como ter certeza quando falamos... De qualquer jeito... Vou tentar falar mais com ele quando viajarmos a negócios amanhã."

"Entendi..."

Osten e Lorenzo iriam para Veneza numa reunião de caráter comercial, enquanto o resto de nós ficaria os últimos dias na Itália com Delfina. O italiano sugeriu de evitarmos falar sozinhos dali para frente, até que todos esquecerem essa 'fofoca', e também para evitar que ela aumentasse.

"Uma pena que não vou poder te mostrar muito da Itália, como te falava. Mas por enquanto, minha irmã pode fazer as honras. Tem umas ilhas muito interessantes por aqui."

...

A princesa Delfina se comportou como uma guia de turismo nos levando a dois museus no primeiro dia. Vimos galerias repletas de esculturas de figuras mitológicas, imperadores e cidadãos da antiguidade greco-romana, além de artefatos pompeianos, incluindo vestígios da famosa erupção do Monte Vesúvio.

No segundo dia, fomos a outra região da cidade para comprar lembranças turísticas. Aparentemente, Nápoles era bem mais caótica do que Roma,com maior quantia de ruas estreitas e movimentação de habitantes pelos comércios locais. Isso deixou a segurança bem alerta.

Carros de escolta, lugares sempre reservados para entrar. Tivemos pouco contato com a população.Delfina lamentou disso comigo, num desabafo.

Pelo visto, sempre foi assim que ela conseguiu 'aparecer em público'. O café em que entramos era com certeza um dos preferidos da princesa. Ela conhecia todos ali.

O chef foi apresentando os doces, lembrei de Tyler, ele com certeza iria gostar de saber um pouco sobre a receita de cada um deles. Perdi a conta de quantos doces napolitanos comi.

Consegui decorar alguns: Sfogliatella era uma massa recheada de baunilha ou limão em forma de concha; Pastiera napoletana, uma torta de frutas cristalizadas com aroma de laranjeira; Struffoli, pequenas bolinhas de massa frita, crocantes por fora e macias por dentro, cobertas com mel quente e enfeitadas com confeitos coloridos.

Saímos dali em direção à orla, às margens do Mar Mediterrâneo. Era possível ver o próprio Vesúvio no horizonte da baía. Ao cair da tarde, o céu se transformou em uma mistura de tons suaves de azul e rosa. A luz do sol refletiu na água, criando um brilho que se estendeu até o horizonte.

À medida que nos aproximávamos da embarcação que Delfina havia alugado, Amy e Audrey discutiam animadamente se era um barco ou um iate. Eu mal prestei atenção, meu olhar estava fixo em Suki, que estava na ponta do cais.

Ela não foi embora como a maioria apostava. Participou de tudo conosco, sempre muito calada, em qualquer lugar que íamos. Eu sentia os olhares que as mulheres trocavam entre nós.

"Viu? Isso é um iate" Disse Audy anunciou triunfante assim que entramos. "Tem móveis aqui dentro."

A sala de estar era espaçosa, com muitos assentos e um balcão que separava o ambiente da cozinha. Uma cômoda com um espelho exibia retratos de Delfina com a família em outras ocasiões naquele iate.

Osten e seus irmãos estavam em algumas fotos com eles. Suspirei em frustração. Ele nunca viajava sem se despedir.

Delfina se aproximou enquanto as mulheres se acomodavam.

"Estou planejando isso há um bom tempo. Há tantos protocolos de segurança para serem feitos, você ficaria entediada se eu te contasse. Vai se acostumando...", ela revirou os olhos e aumentou o tom. "Tenho uma caixa de som por aqui, meninas. Quem quer escolher a primeira música?"

Em um instante, estávamos de volta ao karaokê: uma cantoria sem fim. Finalmente Audy estava se divertindo de verdade. Ela estava um tanto arredia ultimamente, até arranjou uma discussão com as criadas que acompanhavam Katie que comentavam o tempo todo minhas atitudes, me rotulando como falsa. Que assim como 'menti' para Osten, era falsa com todas etc. Eu já nem tinha mais paciência para lidar, sinceramente.

Aquilo de certa forma estava se amenizando, mas eu não estava muito no clima como o resto. Suki também não parecia estar se divertindo muito. Ela bebia uma limonada que tinham servido.

Senti que Ophelia estava tentando de todas as formas nos aproximar, a mim e a Suki. Ela me puxou de repente para um sofá onde Suki estava e iniciou um assunto super aleatório sobre significados de nomes e homenagens.

Delfina tinha origem grega, o de Ophelia vinha das obras de Shakespeare... O nome de Amy eu já sabia ser uma homenagem à família coreana. Fiquei surpresa ao descobrir que o nome de Lee também tinha referências à Ásia, devido ao fato de que a mãe de Amy era uma velha conhecida de Delillah das gêmeas e tinha prestado apoio ao parto delas.

"Acho que de todos o nome da Rosie é o mais óbvio", comentou Ophelia.

Meneei a cabeça.

"Meu nome é uma homenagem a uma flor também.", disse Suki de repente, olhando em minha direção. "Significa lírio. Não tenho certeza, mas acho que em hebraico. Me disseram uma vez", ela deu de ombros. Em seguida, ela se levantou e se aproximou de mim. "Podemos conversar?"

Quem estava por perto levantou a cabeça na mesma hora para nos encarar. Segui Suki em busca de uma área isolada.

Passamos por Violet, que percebeu nossa dificuldade em encontrar um local sem ninguém para ouvir o que diríamos, nem mesmo seguranças. Ela estava com Luigi, o guarda italiano com quem ela namorava e que inclusive me ajudou a reverter a armação de Oliver durante o casamento de May. Ambos apontaram para a escadinha.

Suki e eu subimos até chegarmos a um quarto improvisado com uma televisão e uma vista para o convés, onde a guarda podia nos ver, mas não nos ouvir. Sentei na cama e Suki fez o mesmo. Concentrei-me na ondulação do mar.

"Recebeu meu cartão?"

Assenti. Ele chegou logo na manhã seguinte ao karaokê. Assim que Suki retornou à sobriedade, ela me pediu desculpas pelo escândalo.

"Você não tem que se justificar pelo que disse. Estava fora de si."

Ela me olhou com um sorriso devastado. "Acredito que pelo menos uma explicação você merece."

"Não precisa repetir, é serio. Eu não culpo você pelo que houve. Me desculpa, Suki. Não foi certo da minha parte enrolar para te dizer que Osten e eu..."

"Rosie, chega. Você nem sabe do que tá falando."

Ela se ergueu da cama.

"Perdão. Como?" Levantei também.

"Sobre ser honesta." Seu olhar ficou um tanto perturbado. Um riso sarcástico lhe escapou. "Desde o primeiro dia da Seleção, meu objetivo era fazer amizades que não me atrapalhassem a conquistar o Osten. Phoebe parecia flertar com qualquer homem bonito que surgisse. Emma falava o tempo todo sobre como sentia saudades de casa e da faculdade de enfermagem. E você..." Ela focou em meu rosto. "Eu tive pena de você."

Eu meio que já tinha entendido seu ponto, mesmo assim perguntei para confirmar.

"Por eu ter ficado sozinha?"

"Todas as meninas meio que te odiavam por ser filha de uma ex-selecionada e depois pela sua amizade com a princesa Kerttu. Era doloroso te ver querer sair da bolha da timidez. Tudo o que você queria era ser simpática com todas e que não te desprezassem."

Encarei-a apenas, não tive como formular uma resposta.

"Eu não fui honesta em me aproximar," continuou. "Achei que você era alguém sem chances na Seleção, então decidi uma companhia, pelo pouco tempo que você fosse ficar. Mesmo quando Osten largava todo mundo para te ensinar na biblioteca... Eu não desconfiei que era algo mais. Emma e eu até comentamos que devia ser pena do príncipe, que ele queria te ajudar pelo seu pânico em falar em público no Jornal Oficial. E vocês dois sequer tinham encontros..." Ela sorriu amarga. "Mas eu vi que estava errada quando descobri que Osten e você quase sempre iam para biblioteca à noite."

Meu coração martelou assim que ouvi sua sentença.

"Como..."

"Ouvi o que pude, como a idiota ciumenta que fui," ela rolou os olhos. "Mas isso não é o que importa. Você me confundiu, Rosie. Com toda essa sua proximidade com o Lorenzo, por um bom tempo, eu pensei que tinha um romance proibido com ele."

"Ah, Suki..."balancei a cabeça."Eu já te falei mil vezes que..."

"Eu sei. Eu devia ter me tocado quando você passou a se dedicar a todas as tarefas de diplomacia, a sair mais com Osten à luz do dia..." uma pausa. " Acho que, no fundo, eu só queria acreditar que tinha alguma chance com Osten, se você não estivesse no caminho."

"... Ei, Suki! Calma aí, não precisa sair desse jeito" Tentei segurá-la, sem sucesso, mas ela parou sua trajetória repentina para a saída e se virou para me encarar.

"Acho que você já tem material o suficiente para me odiar."

"E quem te disse que te odeio?"

Ela me olhou com ironia.

"Para de se enganar, Rosie. Eu sei que você quer se dar bem com todo mundo, mas não tem porque a gente conservar uma amizade depois disso."

Respirei fundo.

"Ok, eu odeio ser tratada com pena, e me irritou muito a confusão que você causou com esse mal entendido, mas não é por isso que não quero mais olhar na sua cara.Eu acho que agora, mais do que nunca, a gente precisa deixar o passado pra trás. Recomeçar... seria bom."

Ela desviou o olhar mais uma vez.

"Não me leve a mal. Eu gosto de você. Mas não dá pra te encarar depois de tudo."

Eu conhecia aquela expressão, era a mesma eu fazia quando estava à beira das lágrimas.

"Ok, tudo bem, eu sei que não é fácil assim. Te dou espaço."

"Obrigada."

"Mas, por favor," segurei ela uma última vez."Não me ignore pelo final da viagem, nós..."

"Não precisa disso."foi enfática."Vou embora com vocês para oaeroporto amanhã, mas não vou para Grécia, estou indo para casa."

...

"Mais um jantar público... Estou ficando um pouco- muito- entediada com isso e vocês?"

"Pelo menos é o último aqui da Itália, pense assim" disse Amy.

Desci ainda desanimada. Repassava sem parar as palavras de Suki. Percebi que não importava o que eu dissesse: seria bem difícil voltarmos a nos falar. E eu odiava admitir que era melhor deixá-la em paz de uma vez.

Tive um súbito interesse pela decoração no corredor que levava a um dos salões. Arranjos de rosas, pétalas de rosas e um buquê de lírios bem na entrada.

"Isso aqui tá parecendo é um casamento, não uma recepção para a prefeitura de Nápoles. Não acham?"

Elas não me responderam.

Haviam muito mais flores lá dentro. As palmas e assobios me deixaram um pouco desnorteada. Talvez meu coração tenha quase parado. Olhei para o cartaz em uma das paredes, encontrando, por fim, minha resposta.

'Feliz aniversário, Lyssa.'

Em meio aos convidados identifiquei a Elite, as criadas, Osten,toda a corte italiana e a família Artois/Beaufoy.

Eu não me lembrava da data da minha verdadeira certidão, apresentada por Allan quando ele foi a Illea.Muito menos esperava que organizariam uma festa com a família de Delfina, sendo a princesa e Oliver ex noivos.

"Feliz aniversário!" Allan estava radiante. Ele veio até mim empurrando a cadeira de rodas de Marie. Abaixei-me para receber um beijo na bochecha.

"Lyssa, meu amor...feliz aniversário!"

"Eu e sua mãe queríamos te dar essa pequena lembrança... "

Abri a embalagem sob seus olhares ansiosos. Ganhei uma caixinha de música dourada com a gravura de garota deitada sob uma árvore na capa interna e um disco que rodava com o som clássico de 'For Elise' de Beethoven.

Agradeci e tentei sorrir da maneira mais sincera que pude, olhando principalmente para Allan. Afinal, pela carta que li no escritório de Oliver, ele podia não ser meu verdadeiro pai, mas sempre foi o único empolgado com o meu nascimento. A ideia de 'sumir' comigo foi de Marie.

"Você merece tudo, Lyssa! Daqui em diante vamos fazer um milhão de festas para compensar o tempo perdido!"

"Rosie, Marie. Já falamos sobre isso.Ela gosta do nome adotivo."

"Ah, mas para mim sempre será Lyssa. Não tem problema não é, meu amor?" A mão de Marie acariciou meu rosto. Tentei disfarçar minha repulsa.

"Você pode me chamar como quiser, Marie."Foi impossível segurar a ironia. Uma voz interna me alertou, ao ver uma compreensão e reação supostamente ácida em sua face."Há...desculpa,mãe.Ainda estou me acostumando."Balancei a cabeça devolvendo seu olhar com ainda mais 'doçura'.

"Maninha..." Pela voz e frase eu já sabia quem me tocara no ombro.

O sorriso que captei no rosto Marie antes de me virar não cessou o meu nervosismo.Afinal, o acordo tinha sido muito claro: eu precisava manter a postura e jamais provocar a ira daquela mulher se quisesse proteger minha família adotiva.

"Parabéns!"Oliver me deu um verdadeiro abraço de urso."Se comporte bem essa noite, querida irmã. Queremos te ver com um sorriso muito bonito nos jornais, amanhã de manhã."

"Não precisa pedir."sorri de volta, esperando que uma pequena loirinha viesse correndo em minha direção para um abraço.

"Joyeux anniversaire!"

"Merci, Dani." Retribuí o abraço.

"Belle robe!"Apontou para meu vestido lilás meio debutante e bufante que relutei em usar, mas que escolhi depois de Audrey implorar dizendo ser essencial para ocasião. Agora tudo fazia sentido.

"C'est toi qui es belle" (Vocé é quem está bela),

Ela sorriu envergonhada com meu elogio. Seu irmão Isaac foi breve com um oi, um parabéns e um sorriso polido. Eu tentava adivinhar mais uma vez se ele não tinha nada contra mim, devido ao seu tom meio seco, porém cheguei a duas suposições: ou timidez, ou apatia era parte de sua personalidade. Provavelmente a segunda opção.

A mãe deles, tia Margot, abriu os braços com um sorriso de orelha a orelha.

"Tudo foi ideia de Delfina, um grande trabalho tivemos para esconder isso de você. Amy e Audrey, certo?" As meninas assentiram do meu lado." Obrigada por ajudarem com a surpresa!"

"Por nada, Sra."

"Ah, nada de senhora." Margot ergueu os braços."Sou divorciada!"

"Ah, sim, claro." Audy sorriu nervosa.

Margot tinha um jeito mais espontâneo. Senti isso desde que ela me interrogou naquele almoço. Ela parecia transbordar alegria com a ideia de achado sua 'sobrinha perdida'. A maneira como queria saber onde estudei, quais eram os meus hobbies, amigos, sonhos...

Já a tia Madeline, a autora da carta, era mais fechada. Ela carregava os presentes de ambas: perfumes e brincos.

"Felicidades, Rosie.Espero que goste." falou com um sorriso contido. Agradeci-a, vendo Marcel Artois se aproximar com um grande embrulho.

"Eu queria te dar algo personalizado... Como já nos disse que gosta de violinos, me dispus a fazer esse arco".

"Obrigada...Eu gostei muito. Vou usar sempre."sorri de volta.

Meu avô Marcel tinha uma forma polida de falar que me lembrava muito o meu avô materno, Josh, que por coincidência também amava música.

A saudade bateu. Ele e minha avó Annie enviaram uma carta para o palácio de Illea e eu recebi graças ao fax passado por Sullivan: perguntaram sobre como eu estava me sentindo em conhecer minha família biológica. Também disseram que nos próximos dias estariam enviando o meu presente de aniversário para palácio de Illea.

Pisquei com um flash repentino durante o abraço com Marcel. Ele se afastou e colocou a mão no meu ombro para mais uma foto.

"Estamos aqui para cobrir o seu aniversário. Se importaria de fazer uma entrevista mais tarde?" perguntou a repórter. Apenas assenti.

Refleti sobre o fato de que o homem que estava ao meu lado não fazia questão de agir como um avô atoa: ele estava a espera de um momento como esses, de aparências.

Aliás, aquilo seria a novidade do ano para os noticiários: o modo como Delfina, Lorenzo, Nathaniel, seus pais e demais parentes aceitavam numa boa a família do ex noivo da princesa. E como esse ex noivo estava pleníssimo numa roda de conversa com Lorenzo, Osten, Nathaniel e Phillipo, o marido de Nicholeta.

Bolei teorias sobre as intenções que os Artois/Beaufoy tinham com aquela noite. Possivelmente estavam investindo numa reaproximação com a realeza para lidar melhor com as críticas da sociedade e manter uma boa impressão para a empresa Artois. Enquanto isso, a família real italiana não sairia perdendo. Por que desperdiçar a chance de passar uma imagem positiva de 'perdão,misericórdia, reconciliação'?

Me preocupei como Delfina estava lidando por dentro com aquilo, mesmo já tendo seguido em frente com Aaron, que era de longe muito melhor do que Oliver.

"Estou aqui, em nome da Elite e de Osten."Ophelia se aproximou primeiro com o presente."Nós conversamos e chegamos a conclusão de que você iria gostar disso... Esperamos ter acertado." sorriu.

"Não foi assim tão difícil, a Rosie é meio óbvia quanto aos gostos."

"Xiu." Paige repreendeu Jade."Não estraga a surpresa!"

Recebi uma trilogia completa com os títulos sequenciais de 'A fábula das estrelas', 'A fábula da Lua' e 'A fábula da Terra'.

"Fui eu quem escolhi, porque já li essa maravilha!"disse Ophelia." E o marcador foi ideia e produção de Paige." Ele tinha o formato de uma rosa, o que achei muito fofo.

Foi só na hora em que elas foram me abraçando que percebi que Suki tinha mais algo.

"Obrigada, Suki. Eu amei."

Ganhei um cartão de aniversário e um cachecol produzido por ela.

"Que bom que gostou." Seu sorriso de volta para mim foi triste. Ela deu espaço para Osten, instintivamente continuei vendo ela se afastar. Nem o encarei direito até ouvir sua voz me parabenizando.

"Aguente firme" sussurrou enquanto me envolvia. Foi tudo tão rápido. Não tive muito tempo para definir se ele estava desanimado, cansado do trabalho ou ainda ressentido por só descobrir por terceiros sobre o beijo de Lorenzo.

Delfina já me guiava em direção a uma caixa.

"Tenho que dar crédito ao Lorenzo pela ideia"

Um violino.

Me senti desconfortável com os possíveis comentários das mulheres quando fui abraçar o italiano, mas não deixei de fazê-lo.

"Eu gostei muito, obrigada." disse aos dois.

"Ah, Amy, se prepare, agora Rosie vai voltar a repetir os mesmos trechos sem parar lá no quarto."

Olhei feio para Audrey, que me jogou um beijo no ar, gerando algumas risadas.

Apesar de ter gostado eu estava num mini desespero por dentro. Já tinha o meu de Columbia, o doado pela rainha Eadlyn, e que ficou em Illea, e agora um terceiro.

"Repetição leva à perfeição, muito bem!" O comentário foi da tia Margot que chegou mais perto para avaliar o instrumento."Agora você toca para nós!"

Lorenzo e Delfina acharam cômico o meu pânico. Eles me tentaram me ajudar a convercer a tia Margot de estreiar o violino mais tarde, mas ela insistiu tanto que cedi.

Deslizando meu arco pelas cordas do violino, toquei o trecho mais fácil de música clássica que lembrei.

Cada nota preenchia o espaço ao meu redor, trazendo uma sensação de conforto. Eu estava com saudades de tocar, e apesar de não gostar muito dos olhares direcionados a mim, não senti tanto constrangimento quanto achei que sentiria.

"Vou mostrar o vídeo para os alunos."Margot continuou."Você vai adorar conhecer a escola. Quando puder, claro!"

Quando conversamos sobre o assunto naquele almoço, em Roma, acabei descobrindo que ela era uma professora de música na França. A ideia de conhecer o local tinha me deixado de certa forma animada, por mais que eu não tivesse certeza se toda a receptividade dela era genuína.

"Tia Margot, podemos fazer uma pausa?"

Ela havia me puxado para conversar com vários desconhecidos.

"Ah, tadinha. Você está com uma carinha de cansaço..." sorriu, aparentemente compadecida." Já está acabando, faz parte dessas obrigações chatas de família, falar com todos os convidados, como você deve ter percebido."

Após o parabéns, precisei tirar muitas fotos em um cenário improvisado e no jardim, pois ao ver de Marie deveríamos ter um álbum com 'o primeiro aniversário de Lyssa'.

"Festa maravilhosa" comentou Orabella quando eu e a tia Margot nos aproximamos dela e de sua filha Clarabella.

Violet me disse que seus pais e tios continuavam sem saber sobre o caso de Clarabella e Oliver, e que plano era que isso continuasse assim, por pedido que Delfina, que vinha, pouco a pouco, retomando o diálogo com a prima.

Aproveitei o assunto que as quatro mulheres entraram para me desvencilhar um pouco e andar livremente pelo salão.

"Ei, Rosie." Ophelia me chamou. Ela tinha criado um laço instantâneo com minha prima Danielle, e passou a fazer traduções das frases em francês da loirinha.

"Ela te perguntou qual sua flor preferida."

"Ah... certo. Sempre que me perguntam isso digo alguma que diferente. Preferia rosas quando era menor, por causa do meu nome, depois me encantei mais por camélias por serem parecidas com as rosas, porém com mais detalhes para desenhar. Parecia ser um desenho criativo. Mas eu sempre gostei de orquídeas por causa do meu pai, e acho que comecei a gostar de lírios por causa da princesa Kerttu... enfim, acho que não tenho uma preferida."

Ophelia me olhou meio atônita e eu ri.

"Compliquei a sua tradução, não é?"

"Não, relaxa! Eu dou um jeito." Ela saiu explicando devagar, apontando para as rosas e lírios que tinham sido colocados na decoração ali perto, para que Danielle pudesse entender melhor. Olhei ao redor, reparando que Suki não estava mais presente.

...

A família Artois/Beaufoy deixou o palácio pela manhã, assim como nós.

Reparei que o clima entre Osten e Lorenzo ainda estava estranho no momento em que nos despedimos da família real italiana. Eu quase perguntei ao Lorenzo, mas acabei desistindo. Apenas ouvi suas sugestões de museus- que eu nem sabia se teríamos tempo para visitar- na Grécia.

Delfina me fez prometer que a ligaria no mesmo dia em que Osten fizesse a proposta de casamento. Ela queria contribuir com ideias para cerimônia, vestido etc, e só não prolongou a conversa, porque o restante de sua família veio falar comigo.

Suki me deu um último aceno, acredito que por educação. Observei até que ela sumisse pelo outro terminal do aeroporto da Itália, junto dos seguranças e das duas criadas, que pareciam bem tristes por não poderem continuar a viagem.

Passei por Osten que conversava com o piloto na entrada do avião. Ele me lançou um sorriso breve e voltou a prestar atenção no homem. Respirei fundo e segui as meninas até os assentos.

"Essa viagem está sendo ótima" disse Amy quando nos acomodamos" Mas confesso que toda vez que a gente entra num avião, tenho vontade de que o destino final seja Illea... Saudades de casa."

"De casa ou do Sullivan?"

"Dos dois." Amy revirou os olhos ao responder Audrey." E o Charles?"

"Ah, ele vai bem" A loira sorriu de modo despretensioso.

"Sullivan tá ocupado demais para conversar. Eu fico pensando que sei lá... talvez ele tenha desistido de mim." Amy desviou o olhar para o chão.

Audrey agiu primeiro dando um meio abraço na amiga.

"Mas não é como se ele não gostasse de você. Lembra, Rosie? Do último dia que saímos de Illea. Eu fiquei morrendo de inveja! Charles nunca me beijou daquele jeito..."Audrey disse quase com um bico. Concordei com ela. A cena tinha sido muito fofa.

Sempre quando eu pensava na Grécia, imaginava aquela famosa ilha de Santorini com construções brancas à beira mar. Não fomos para lá.

Nosso destino foi a famosa Atenas, uma cidade também costeira, com ruínas de templos, relevo e construções bem coloridas. A vegetação do local era tinha muitos pinheiros e oliveiras.

É claro. Não entendi uma só palavra dos habitantes.

Achei interessante Osten precisar de traduções pela primeira vez, pois grego ainda não estava em sua lista de línguas faladas fluentemente. Por sorte, a família real grega falava nosso idioma.

O rei Leandro, um idoso de aproximadamente 70 anos, tinha um filho mais velho de meia-idade chamado Alexander e outros dois irmãos com famílias representadas em nossa recepção.

O nome que eu já sabia previamente era o de Pietro, de vinte e oito anos, filho mais velho de Alexander e neto de Leandro, sendo, portanto, o segundo na fila de sucessão do trono grego. Foi para ele que Delfina tinha sido prometida pelo acordo de suas famílias, antes que Oliver entrasse em cena e a livrasse daquele casamento arranjado.

"É uma pena que Jason não esteja aqui," lamentou o monarca. Ele disse que Jason, irmão mais novo de Pietro, de 26 anos, estava a negócios na África com a esposa." Osten e meu neto costumam entreter a todos com partidas acirradas de tênis."

"Essa é nova. Baseball, futebol, esgrima, natação, canto, vôlei e xadrez. Mais algum talento escondido?"

Osten deu de ombros sem graça com o comentário de Katie.

"Também é mestre na enrolação. Fala a verdade, Osten! Por que tanto tempo na Seleção? Aproveitando um pouco de cada uma? Não está errado, todas são irresistíveis. Brincadeira, tá, senhoritas?"

O príncipe Pietro sorriu de modo galante em nossa direção, enquanto seu avô emitia um pigarro descontente.

Eu já sabia por que Delfina não queria se envolver com ele de jeito nenhum: ele tinha uma certa fama assumida de galinha e gostava de fazer comentários inconvenientes, só para ver o circo pegar fogo.

Pelos céus, além de ir longe demais, agora ele era um homem casado.

Observei Helena, a mulher com quem Pietro casara há menos de um ano. Loira, olhos azuis, bronzeada, uma pinta na bochecha esquerda, muito bonita. Pietro também tinha uma beleza que não era de se ignorar. Também loiro, com pele bronzeada, estatura alta e atlética, olhos verdes. Eram um casal de aparências, sem dúvida alguma.

"Agradeceria se não envolvesse as participantes da Elite em suas brincadeiras, Pietro. Mas respondendo à sua pergunta: todo o tempo da Seleção, inclusive a viagem, já estava nos planos e foi conversado com elas. E já estamos acabando, não se preocupe."

Osten emendou o seu discurso apresentando cada uma de nós.

"Ah, sim, a irmã de Oliver Beaufoy." Leandro me encarou com um sorriso formal. "Ele é um bom parceiro de negócios."

"Uma pena que esteja largando a diplomacia," comentou Alexander.

Pareceu uma eternidade ali em pé. Katie criou um assunto forçado com Helena sobre vestidos gregos, e depois ouvimos algumas histórias do rei Leandro sobre a história de amizade entre a família real de Illea e da Grécia.

Assim que fomos liberados para os quartos, segui Osten pelo corredor, chamando-o a tempo de ele alcançar a escada.

"Oi, fala," sorriu.

Como algumas criadas vinham passando, acabei mudando o assunto inicial.

"... Eu não entendi uma coisa."abaixei o tom mesmo assim" Essa família real, eles me odeiam por ser irmã de Oliver, ou..."

"O quê?! Não!" balançou a cabeça. "Oliver sempre se deu muito bem com essa família. Eles gostam dele. Não é à toa que ele conseguiu... você sabe."

"Livrar a Delfina do acordo, sim."

"Fique calma." Sua mão passou pelo topo de minha cabeça. "Mas se em algum momento Pietro disser ou fizer algo desnecessário, me avise. Eu preciso ir agora, mas nos encontramos no almoço, ok?"

"Ok..." assenti.

...

Osten nos levou até um prédio que funcionava como a embaixada de Illea. Alguns diplomatas que ele conhecia estavam ali com suas companheiras. Após as fotos tiradas para a diversão da impresa, os homens se dirigiram à cobertura, deixando as mulheres reunidas numa sala.

A princesa Helena também veio. Ela dominava a conversa junto a Katie e Ophelia. Um frio passou pela minha barriga quando elas comentaram sobre as missões diplomáticas.

Como Sammy tinha comentado no jantar na Nova Ásia, esses serviços poderiam durar anos no exterior.

"Alguns casais se divorciaram. Mas, no geral, os casamentos dão certo, não se preocupem."

Uma senhora de meia idade se apresentou como Anika. Ela tinha feições asiáticas. Era da Índia e atuava junto ao marido na Grécia há mais de 10 anos.

"Casamos jovens, mais ou menos com a idade de vocês. Atuamos juntos desde sempre. Aprendemos muito juntos." Sorriu. "Já passamos por quase toda a América e África, depois permanecemos aqui em Atenas."

"É de certa forma um baque se acostumar com a solidão no início da missão diplomática, quando você e seu marido vão para um lugar que não conhecem ninguém e ainda não têm amigos..."

"Você citou um ponto interessante, Georgia," Aziza, vinda do Quênia, tomou a palavra. "Quando saí do meu país pela primeira vez, sofri bastante com a saudade de meus parentes. Mas o verdadeiro desafio começou com a criação dos meus filhos. Como nem sempre estamos fixos em um país, eles precisam se adaptar. Fazer amizades novamente, se adaptar à nova cultura... Acho que é mais difícil para eles."

"Eu passei um pouco por isso," Ophelia assentiu. "Meus pais eram diplomatas. Toda vez que eu me mudava, chegava a ser um pouco... solitário. Mas com o tempo, todos se acostumam. Acho assim."

Sorriu, sendo retribuída.

"E também... Não acho que chega a ser um tédio completo.Só porque estamos como acompanhantes, não significa que ficamos de mãos abanando." Essa era a esposa de um diplomata vindo do Chile. "Várias de nós se envolveram em projetos sociais, ambientais, de animais, de escolas..."

"E meu marido me acompanha, no caso." Essa era uma diplomata da Austrália. "Ele é veterinário, então sempre atuou em ONGs nos lugares em que moramos."

"São ótimas ideias," disse Katie. "Eu particularmente adoro projetos envolvendo educação."

As mulheres ficaram interessadas nos seus relatos de ações sociais. Ophelia também comentou sobre os eventos de caridade que participou com os pais e emendou falando sobre os estágios que já fizera com eles, explicando que queria ser diplomata desde jovem.

Ela estava empolgada, e isso deixou Katie silenciosamente possessa. Jade aparentava esconder o riso, Paige ouvia tudo atentamente, enquanto eu tentava a todo custo não divagar tanto, caso me fizessem alguma pergunta. Isso, por sorte, não aconteceu.

...

O encontro com os diplomatas terminou com um jantar no palácio grego. Tentei me inserir em algumas rodas de conversa, ainda que permanecendo como ouvinte.

"Tenho muito orgulho desse rapaz. Achei que teria trabalho com ele como aprendiz, porque pelo que ouvi, desde criança ele nunca foi um menino fácil de domar. Mas descobri que é um prodígio nessa área."Benjamin deu uma leve batida no ombro de Osten, que riu.

"Não exagere, Benjamin."

"Não estou, e você sabe bem disso.Não demorou muito para que o discípulo superasse o mestre. Negócios são com ele mesmo."

"Já que estamos falando no assunto, Osten," o homem, cujo nome não me recordava, era o Ministro do Comércio da Grécia." Acho que sua sugestão sobre a exportação de azeite de oliva..."

Quando o assunto começou a ficar um tanto técnico, aproveitei que Ophelia, Katie e Paige estavam entretidas como expectadoras fieis e me afastei do grupo.

Vi que Amy e Audrey estavam numa mesa do salão com vista para o mar.

"Esse peixe é assado no forno com azeite, limão, alho e ervas, como orégano e salsa."

Ambas ouviam a explicação que estavam tendo por uma das garçonetes que falava nosso idioma. O que me deixou desnorteada é que Jade estava com elas.

"Eu chuto que esse é um robalo." Disse Jade, ao que a garçonete assentiu." Meu pai me ensinou a fazer uma sopa com ele."

"Ah, sim. Posso trazer um prato de Psarosoupa, está no menu."

Elas agradeceram e a funcionária garantiu que voltaria em alguns minutos.

"Em pensar que minha mãe estava comentando de você..."disse Audy e Jade entortou a cabeça.

"Eu explico," continuou Amy. "Todo mundo estava querendo saber quem era a cozinheira misteriosa que estava fazendo uma sobremesa melhor que a outra e deixando para o povo da cozinha.E Delillah, a cozinheira-chefe, que é a mãe de Audrey, não queria nos contar."

"Ah, entendi..."

"Já pensou em fazer culinária? Você realmente tem um dom!"

Percebi que isso inflou o ego de Jade.

"Eu realmente gosto de culinária, mas é mais um hobbie pra mim. Não chega nem perto do amor que eu tenho por moda."

"Ah, sim, moda. Suas colunas são muito boas, aliás. Poderia dar umas dicas para Amy. Ela está planejando em cursar isso, sabe?"

"É sério?" Jade se voltou para Amy."Vai deixar o emprego no palácio? Porque pelo que eu saiba em Angeles não tem esse curso."

"Ih, verdade..."Audrey lançou um olhar que parecia ser de desculpas para Amy, e ambas me olharam, o que só aumentou a minha interrogação.

"A profissão de criada pode ser boa para minha amiga, a Lee, irmã da Audrey" Amy esclareceu para Jade" Mas não é para nós. A gente cresceu no palácio na época de transição do fim das castas, ou seja, tecnicamente não tínhamos mais a obrigação de termos o emprego de criada. Mas, querendo ou não, os filhos dos funcionários do palácio tinham certa preferência para assumirem os cargos... Foi o que aconteceu: nos acomodamos com o que estava disponível de trabalho. Fizemos apenas o ensino básico da escola, mas não concluímos os últimos anos, porque não nos víamos saindo dali."

"Mas, ultimamente, eu e a Amy... andamos pensando na possibilidade de ceder nosso lugar. Acho que demorei muito tempo para decidir, mas agora quero fazer faculdade, de botânica! Planejei com o meu namorado Charles. Ele também quer sair do palácio. Primeiro vamos conseguir um emprego ali em Angeles e entrar num programa de ensino para adultos, já que não terminamos a escola. Depois pensamos em entrar na universidade. Já Amy, que gosta de moda..."

"Estou pensando em mudar de província."Amy disse com um sorriso fraco sorriu."Mas ainda tenho algumas... indefinições."

Seu olhar estava perdido, e eu sabia porque: Sullivan. Ela tinha acabado de começar um relacionamento com ele.Segurei sua mão, e ela ergueu o olhar para mim.

"Você, Audrey, Charles e Sullivan vão se dar muito bem, tenho certeza. Tudo vai se encaixar. O emprego de Sullivan se precisa em todo lugar."

"Eu espero..."ela suspirou, aceitando meu abraço.

"Bom... como Rosie já deve ter soltado para vocês, e se não disse estou falando, estou fora da competição pelo Osten. Quero em fazer faculdade em Clermont depois da Seleção. Recomendo muito fazer lá..."

...

"E quem diria que a gente iria passar o jantar inteiro fofocando com a Jade." Disse Audrey.

"Nem me diga."Rolei os olhos."Ela deu boas dicas para você, Amy, me surpreendeu. Sério."

"Sim, foi legal da parte dela."sorriu." A gente queria ter feito uma surpresa pra você com o assunto da saída, não era para Audrey abrir a boca!"

"Ué? Escapoliu! Aliás, obrigada, Rosie. Você quem me fez a sugestão sobre o curso de botânica. Eu neguei a princípio, mas procurei saber sobre isso..."

"Que isso..."sorri."E quando vocês planejam...sabe, ir?"

"Ainda estamos decidindo.Mas não se preocupe, se sairmos logo, nenhuma outra equipe te arruma no dia do seu casamento."

"Acho bom mesmo." semicerrei o olhar.

Voltei a me concentrar na música que treinava no violino. Ou a tentar, pelo menos. Meus pensamentos estavam me traindo a todo momento.

"Estou saindo, daqui a pouco volto."anunciei, guardando o instrumento.

"Onde vai?"

"Vou ver se Osten está acordado. "As duas se entreolharam e eu acrescentei."Preciso falar com ele, mas não demoro, tá?"

"Não, tudo bem." disse Audrey" É que é bizarro. Normalmente era o contrário: ele que tomava a iniciativa de vir."

Deu um riso concordando com a cabeça.

"Realmente..."

Ouvi um resmungo de Audrey quando dei as costas, provavelmente Amy lhe deu uma cotovelada, ou algo assim. Respirei fundo. Se até elas estavam achando estranho a situação ter se invertido, eu deveria ficar preocupada?

Precisei reunir coragem durante o trajeto. Tentei explicar para um guarda que não sabia onde ficava o quarto do príncipe e precisava que ele o chamasse para mim.

Me surpreendi quando o homem me indicou uma porta e se retirou do corredor.

"Está aberta, é só entrar."

Ouvi sua resposta após bater. Hesitei por um momento e abri bem devagar.

"Sou eu...a Rosie."

Não tinha aberto o suficiente para vê-lo, mas ouvi o barulho de uma mesa sendo arrastada. Seus passos se seguiram à porta sendo escancarada por ele.

"Por essa eu não esperava..."franziu a testa e se autoavaliou."Continuo apresentável?"

Assenti vendo seu sorriso aumentar. Com exceção de quando o vi nadar ou lutar esgrima, nunca tinha visto-o sem um visual formal. Ele estava com uma camiseta de manga longa e calça moletom.

"Desculpa atrapalhar...você deve estar trabalhando ou até indo dormir e..."

"Estou trabalhando, no caso. E você sabe que não atrapalha" Osten me puxou para dentro antes de fechar a porta. Andei após ele vendo que sua escrivaninha continha documentos e uma xícara de café pela metade, com uma garrafa térmica ao lado.

"Nossa...Deixa eu adivinhar, Nova Ásia?"

"Estamos tentando uma nova negociação eles." ele levantou um papel " Essas são as minhas ideias de abordagem para a próxima reunião.Estava finalizando... Mas, por que você...?"

"...Bom, tem um tempo que eu estava querendo conversar melhor com você, mas nunca temos oportunidade."Respirei fundo olhando em seus olhos." Eu queria saber se está tudo bem mesmo... com que ouve com Lorenzo."

Pela sua expressão e revirar de olhos, senti que deveria ter ficado quieta.

"Ainda isso?! Eu já falei que mil vezes que sim, Rosie."

"Eu sei, mas você está estranho."

"Estranho?"

"É... digo. A gente não se falou direito desde o que houve, e já tem uns dias. Eu queria saber se você realmente estava bem com tudo, ou se temos que conversar sobre isso."

"Não."ele negou com a cabeça."Definitivamente você está enxergando coisa demais onde..." ele esfregou o dedo nos olhos."Vamos esquecer isso, ok? Desculpa se eu fiz parecer que estava com raiva."

Suas mãos alcançaram meu rosto, que ele delineou com os dois polegares antes de beijar minha testa. Um sorriso estava em seus lábios. Com um suspiro tranquilo, inclinei-me para frente.

Tinha um bom tempo que não nos beijavamos. Me dei conta do quanto sentira falta daquilo. De como os beijos dele podiam ser suaves e intensos.

Meu coração batia mais rápido contra o meu peito, enquanto suas mãos encontravam caminho até minha cintura. Em um instante, me vi sentada sobre uma superfície fria, provavelmente a bancada próxima. Ele deixou alguns selares sobre meu pescoço, voltando a procurar meus lábios com veemência.

"Eu preciso terminar o documento..."

"Sim, eu sei..."

"Vai ser bem rápido."

Ele me levou até o sofá, ajeitando a almofada e perguntando se eu queria algum cobertor, ao que neguei. Também me ofereceu um livro de ficção para ler.

"Ophelia que me recomendou isso aí, mas até agora não tive tempo para começar."

Eu ri.

"Ela é a melhor quando se trata de referências, pode deixar que ficarei bem."

Senti o olhar dele no início, provavelmente checando se eu estava bem mesmo, mas aos poucos, o príncipe se concentrou completamente. Desde então passei a observá-lo. Delfina estava certa quando disse que o lema dele era 'responsabilidade antes de diversão'. Ele se dedicava genuinamente ao trabalho e isso era admirável.

Era nostálgico estar ali ao lado dele. Como quando ficávamos calados na biblioteca, cada um com o que se distrair com a leitura. Naquela época, Osten ainda era 'o príncipe Osten Schreave', alguém simpático com quem eu gostava de ter um laço de amizade que me lembrasse o que eu tive com Tyler, no máximo uma paixonite muito bem negada pela minha pessoa.

Não esperava me envolver tanto assim com ele...

Sorri quando Osten bocejou pela quarta vez e me pus de pé.

"Estou indo, tá?Amanhã conversamos, sem problemas."

"Hein?" Ele se levantou no ímpeto.

"E você precisa terminar isso e dormir.Se não tiver horas de sono, vai se estressar mais ainda e não vai conseguir absorver nada do que ler."

"Por que de repente tá falando igual a minha mãe?"

Eu ri.

"Boa noite, Osten. Seja um bom menino e durma bem."

"Ei."

Depositei um beijo rápido em seus lábios antes de ir. 

 


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