Bati palmas orgulhosa pelo esforço de cada um naquela música.

Susi, Kerttu, Klaus, Susi, Corine, Giselle,Valerie e Stefan.

"Estou muito feliz o resultado de vocês. Continuem assim e vocês vão longe... Bom..."Suspirei. "O nosso tempo acabou. A meninas tem compromisso agora, não é? Com os  ajustes de vestidos."

"Isso." Valerie assentiu.

"Eu não acredito que essa foi a nossa última aula."Susi falou dramática" Ai, por que tudo o que é bom dura pouco?"

Revirei os olhos rindo.

"Ei, você vai poder dar aula para gente na viagem? Antes do casamento." 

"Eu não sei... Não tenho certeza." Respondi Kerttu.

"Você está livre a tarde? Podemos ter outra aula?" 

"Tenho aula de italiano." O rosto de Susi murchou, bem como dos demais." Mas, sei lá, posso tentar conversar com minha instrutora."

Mal disse as palavras e quis pegá-las de volta,porque coloquei expectativa. E agora precisaria convencer Grace, a pessoa que fazia questão de me intitular preguiçosa, de que matar a aula dela seria por uma boa causa.

Respirei fundo.

Um problema de cada vez.

" Ei, Rosie, espera! Eu queria te fazer uma pergunta."

Dei espaço para Stefan passar na nossa frente pela porta, e mais uma vez notei seu olhar frio para o príncipe Klaus.Ambos tinham sobrado para fazer dupla nas últimas aulas, e eu pude confirmar que o motivo de Stefan estar com cara feia no dia da chegada das famílias reais,era por causa da presença do alemão.

Eu ainda não tinha achado um momento para conversar com Stefan. Nem sei se ele iria se abrir... Além disso, embora mas eu desconfiasse de que Klaus fizesse parte da turma de crianças que intimidaram Stefan no dia do aniversário de Kerttu, não podia deixar também de reparar na personalidade do loirinho: Ele era tão fofo com todo mundo... estava difícil julgar.

"Sim. Pode falar."

"Será que eu posso tentar dois instrumentos: Violino e violoncelo?

"Contanto que tenha tempo para cada um, não vejo problema."

"Tocar os dois é parecido, não é?"

"Acredito que sim.Ao menos, sabendo ler a partitura do violino, deve facilitar muito para violoncelo."

"Klaus, Mama hat dir gesagt, du sollst kommen."

"Minha mãe está me chamando." Klaus esclareceu notando minha expressão viajante." Mas eu vou fazer aulas deles quando voltar! Obrigado!"

Acenei de volta para ele vendo-o seguir Anelise e Kayla para outra ala. Reuni minhas forças antes de ir atrás de Grace.

...

Audrey e Amy foram para a sala de costura. Sorri, pois, finalmente, naquela tarde, apenas Lee ficaria. Corri para o guarda roupa, e peguei a embalagem. Lee me encarou perdida.

" O que é isso?"

"Um presente e, antes que pergunte, não é meu. Estou servindo como mensageira."

"Quem me deu? Eduard?" Cruzou os braços." Pelo seu sorriso,sim,e é bem típico dele.O meu aniversário não está nem perto!"

" Você não vai nem abrir?" Questionei assim que ela meu deu as costas e retomou seu trabalho de costura na cama.

" Abre pra mim?"

"Claro que não!Tem que ser você! Lee...Lee..."

A quinta vez foi a gota d'água para ela jogar os tecidos para longe.

"VOCÊ NÃO PROMETEU QUE NÃO IRIA MAIS BANCAR A CUPIDO? O que aconteceu?"

Meu queixo caiu.

Consegui fazer a Lee gritar?

"Me desculpa...mas ele pediu e eu não consegui negar."

"Tá,tá... tudo bem. Me desculpa você pelo ataque de nervos "Esfregou a testa."Eu não...eu não quero isso. Sinto muito. Diz isso pra ele." Desviou o olhar para pegar os panos próximos à varanda.

"Eu acho que, se você quer rejeitar o presente, deveria ir na ala hospitalar e conversar com ele...Ou melhor, não rejeite, por favor! O Eduard te deu com muito carinho. Se você simplesmente desprezar, eu garanto que não vai fazer bem para nenhum dos dois! "Coloquei o presente no seu colo. "Por favor,só dê uma chance. Isso é muito legal. Eu já vi o que é."

Após me encarar uns segundos, Lee se deu por convencida e abriu. Ela quis esconder, mas eu captei sua surpresa ao ver a caixinha.

Pelo que Eduard tinha me dito, ela queria muito uma...

"Ele jogou mesmo na barraca? Eu falei pra ele não fazer isso." Lee falava mais consigo.

"Coloca para tocar..."

Ela me olhou e deu uma bufada antes acatar ao pedido.

Ficamos em silêncio ouvindo a música clássica e vendo a bailarina rodar.

"É linda. Não vou devolver."

Trocamos um sorriso breve. Aproveitei para ir ao guarda roupa e pegar a muda de roupa.

" Onde vai?" 

"Para a luta. Literalmente." Ri de sua expressão." A Phoebe chamou todo mundo para esgrima de última hora. E como não podemos lutar de vestido..." Ergui o uniforme entrando no banheiro." E depois tenho que dar a aula uma aula extra de violino."

...

 "Está pegando o jeito, hein, Rosie."

Ophelia riu quando derrubei a minha dupla e passei a pedir desculpas sem parar. Lydia não ligou. Ela se levantou sorrindo e quase me pegou desprevenida com um golpe.

Continuamos a lutar. Ela era muito ágil e o que eu mais fazia era recuar, levando bronca de Stefan e Phoebe que assistiam à 'batalha' como juízes. 

"Tem certeza que é a sua primeira experiência com esgrima?"

" Sim, não é tão difícil."

Lydia respondeu fazendo um gesto para que eu me aproximasse. Suspirei atendendo ao pedido.

Quando me defendi de sua investida, resolvi ir com tudo para acabar com aquilo. Acertei-a na barriga e as palmas foram maiores que o esperado.

Assim que retirei o capacete- que era muito quente, por sinal- consegui ver que os novos expectadores eram Osten, Oliver, Delfina, Clarabella e Violet. 

"Como Rosie venceu, vai ter que esperar Ophelia e Cintia disputarem, mas alguém que chegou quer batalhar?"

Todos responderam à Phoebe que queriam acompanhar até o fim das partidas. Enquanto a nova disputa começava, me desloquei até Lydia, que guardava o capacete e as armas na mesa. 

"Ei. Eu sei que você gostou de jogar, então...pode ir no meu lugar se quiser" Ela me olhou confusa "Eu estou cansada e com preguiça. Sendo bem honesta."

"Eu não acho muito justo... você deveria ir."

"Por favor! Por favorzinho." Fiz a minha melhor cara de gato abandonado. Ela suspirou.

" Ok." Riu"Mas não posso garantir que as outras concordem." 

"Não vai dar nada. Eu não quero,mas você quer. Fim de papo.Nem mesmo Phoebe me arrasta de novo para um duelo!"

Ela,enfim,concordou me deixando satisfeita por poder me juntar à Emma e  à Heather do outro lado da sala. Ambas tinham sido derrotadas respectivamente por Jennifer e Phoebe, e agora só seriam plateia. 

" Que sono é esse?" 

Pisquei os olhos atônita após bocejar. Osten se ofereceu para guardar o capacete e a minha arma. 

"Que horas você foi dormir ontem a noite?" Me olhou de canto.

"A culpa de eu estar um caco é sua e de Delfina. Falaram até não sei que horas, e olha que eu nem estou falando de ter sido deixada de vela."

" De vela?!" Ele quase engasgou.

" É. Ah... bem. Não foi com esse sentido que eu falei..."Ri"  O que eu quero dizer é que você fofocaram tanto que fiquei até perdida. Mas é a infância de vocês. Eu fico muito feliz por estarem se falando mais agora."

"Eu também."Sorriu dando uma olhada na direção da princesa. "Mas sobre ontem..."Esperei pelo resto. Ele parecia estar numa luta interna para escolher as palavras."Me desculpe por vomitar em você"

"Ahhh,sim... Faz parte!"Ri.

"Me desculpe mesmo."Osten segurou meu ombro. Comprimi o riso diante de seu olhar sofrido." Eu não sei o que deu em mim. Sou muito cuidadoso quanto a saúde e.."

"Como eu disse: acontece."Sorri reconfortante.

O melhor de tudo tinha sido chegar no quarto vomitada. Lee quase teve um treco por ver a parte da frente do meu vestido num estado deplorável.

"Isso nunca mais acontece. Prometo."Ele balançou a cabeça sério." Tem... além disso, tem algo mais de que eu possa ter feito?"

"Você não se lembra de nada?"Perguntei mais para confirmar.

Eu imaginava que a ressaca tinha sido feia.Tyler me disse, nessas situações,  qualquer raio de luz lhe irritava no dia seguinte.

E não só eu reparei na diferença: As meninas só falavam sobre como Osten estava bonito com aquele visual de óculos escuros em pleno café da manhã. Achavam que tinha a ver com o fato dele precisar sair com algumas pessoas de seu serviço...

A princesa Delfina não estava  melhor que Osten. Encarava o prato como se encarasse o infinito. 

"Eu me lembro... está tudo borrado na verdade. Sei que estava com você e Delfina. E uma mesa caiu. Eu acho que cai..."

" Você caiu muitas vezes."

"Mesmo?!"

Concordei e ele fechou os olhos assentindo.

"Que vexame..." Riu nervoso" Fora isso, algo muito grave?"

Dava para ver a linha de aflição em sua testa. Não era de fato grave o fato de ele ter quase me beijado, mas era melhor não dizer nada.

"Eu sei que você dançou." Delfina disse parando ao meu lado e explicou o momento que eu iria poupá-lo de saber." Aquela dança que você e Lorenzo fizeram quando perderam a apostas. Uma boa performance, pelo que lembro."

Osten olhou na hora para confirmar se episódio era real. 

" Awnnnnn, ele ficou vermelhinho. "

"Ai, Delfina." O príncipe reclamou por quando a princesa ter apertou seu nariz.

Ri também, e ela o abraçou de lado.

"Mas você arrasou dançando, não é, Rosie?"

"É... Disso não posso discordar." Assenti.

"SCHREAVE." A voz foi cortante na sala." O que você acha de um duelo?"

"Agora?"

"Se não, quando? Vamos aproveitar a plateia. A luta das moças pode esperar."

"Com certeza! "disse Phoebe " Quem mais além de mim concorda que quer muito ver o príncipe lutar?"

A maioria ergueu a mão com ela.

"E viva à democracia" Osten sussurrou num tom irônico. Tanto ele, quanto Oliver foram se trocar.  

"Ai, isso vai ser o máximo!" Delfina parou do meu lado."Osten e Oliver sempre foram competitivos. Para jogos, desafios, corridas...Sempre uma briga pelo primeiro lugar. Quando crescemos,  ficou tudo mais difícil. Não no sentido da competição! Isso eles sabem fazer de forma mais amistosa... Ficou mais difícil nos reunirmos. E é muito estranho lidar com quem a gente estava acostumado a falar, mas depois de ficamos longe por tempo demais..."

Seu tom partiu mais para o desabafo, e eu meio que me identificava com aquilo.

"Osten sempre foi um irmão mais velho para mim. Ele me protegia de alguna duques, duquesas  e outros membros de família reais esnobes... Mas, de um tempo para cá, as coisas mudaram drasticamente." Ela me encarou, antes de soltar uma informação inesperada. "Eu sei que você já sabe que eu sou a ex dele. E que isso é um segredo." disse tudo num sussurro. "Ele me contou hoje pela manhã. Estamos nos falando bem mais agora. Ainda bem... E eu sinto no que devo isso a você, porque eu o conheço: Osten só muda de ideia mesmo se alguém iluminar a mente dele com uma conversa realista."

"Bom... de nada." Assenti.

"Muito bem, guerreiros, se preparem!" Phoebe tomou as rédeas. Ela tinha acabado de vencer Lydia. Agora, os dois oponentes estavam se posicionavam no centro da sala.

" Só para saber, seu sigilo continua de pé, não é?"  Violet me perguntou num momento de distração da princesa com Clarabella.

" Sim. Pode deixar."

Parecia até que ela tinha adivinhado meu conflito interno: eu me questionava sobre contar ou não a Osten sobre o caso de Oliver e Clarabella. Não queria que ele ficasse decepcionado comigo quando a verdade viesse a tona e ele soubesse que eu não lhe falara. Por outro lado, eu nem queria imaginar no que ele faria ao saber daquilo. Não iria pensar duas vezes em confrontar Oliver. E não 'amistosamente' como ele estava fazendo naquele exato momento.

 Eu diria até que eles estava se divertindo tanto quanto a plateia. Toda vez que Oliver tentava acertá-lo, ou desviava rindo, ou rebatia com a maior facilidade e uma brincadeira provocativa que, com certeza, irritava o italiano.

Os murmúrios ansiosos aumentaram quando Osten quase atingiu Oliver: O chamado 'toque' na esgrima. Oliver começou a avançar encurralando Osten, esse deu escapou para o lado, fazendo a espada do oponente acertar a mesa de capacetes. 

Mais alguns segundos, e Oliver conseguiu o que queria.

"Olha... tenho até que tirar o chapéu, ou melhor capacete."Osten retirou o objeto rindo. Meneei a cabeça e mirei o teto enquanto o resto ria.

O duque inspirou.

"Errado. Empatamos por conta da última vez que lutamos. E eu tenho uma proposta. O que acha fazermos a final ao ar livre?" 

"Não é uma boa ideia. Acho que por hoje já deu."

"Ah, qual ê? Você já está cansado, ou amarelou de decidir isso como um homem de verdade?"

Eu não era o príncipe, mas podia sentir a raiva fluindo por minhas veias.

"Vamos lá. Suas namoradas vão..."

"Elas não são minhas namoradas. São selecionadas."

Oliver riu de escárnio. 

"Tanto faz, mas as selecionadas... essas adoráveis garotas vão adorar ver um Grand Finale."

"Se vamos! Por favor, Osten!"

"Uma partida só!"

"Por nós!"

Lydia e Ophelia imitaram Phoebe juntando as mãos.

"E por mim também! Vai, padrinho, anima!" 

Osten suspirou e passou a atenção de Delfina para mim. Dei de ombros sorrindo. No entanto, percebi que talvez ele quisesse um apoio para sair daquela situação.

"Olha, gente, eu acho que se o Osten..."

"Eu aceito o desafio."

Não demorou muito para todos descerem. Encontramos Suki em um banco do jardim.

"O que está fazendo?"

"Estudando. Óbvio."

"Você desperdiça as melhores partes da vida, porque fica nessa de ser a perfeitinha. Já perdeu o primeiro duelo do príncipe, não vou te deixar perder o segundo!"

Phoebe roubou seu livro e saiu correndo na direção do aglomerado. A asiática rolou os olhos.

"Depois eu mato ela, mas eu bem que queria conversar com você, um instante..." Segurou meu braço." Ontem a noite, eu saí para trocar um livro na biblioteca, e ouvi sua voz vindo de algum lugar nas escadas. Segui o som e te vi conversando com um guarda na entrada do terceiro andar... Por quê você estava lá?"

Lembrei de ter acompanhado os guardas levando Osten aos tropeços até seu quarto, e de ter explicado para o guarda que vigiava as escadas principais sobre Osten, Delfina e eu termos usado o caminho alternativo para chegar ali. Por isso, ele não me notara indo ao terceiro andar pela escadaria maior.  

" Ah.. então..."

Hesitei. Não poderia revelar a bebedeira de Osten e Delfina.

" Você estava com o príncipe?"

" É, sim! E-eu estava com ele e Delfina."

"Vocês três?" Franziu a testa." Por quê?"

"Apenas conversando. Delfina e ele são colegas de infância e, o papo estava bom... passamos do horário."

" Ok... só que isso não explica muito o fato de você ter permissão de ir até o terceiro andar."

Encarei sua face entendendo tudo.

Ciúmes. 

Ela se sentia ameaçada por mim, porém não iria dizer com todas as letras.

"Delfina me chamou até lá ontem a noite. E, sabe, se posso ou não estar no terceiro andar, não importa. Você é tão importante quanto eu nessa competição. Confie mais em si mesma." Parecia até uma piada. A cena comigo segurando no ombro de uma pessoa, e a encorajando. "Não precisamos desconfiar uma da outra. Somos amigas. Eu sei que é natural, eu sei que você não queria sentir isso, e confesso que, pra mim, a pior parte nessa coisa toda de seleção é estarmos todas num clima amizade e competição. Mas vamos passar por essas coisas de modo..."

"Eu entendi, Rosie. Fico muito grata por ter me aproximado logo de você... Sua personalidade é tão boa que chega a dar inveja." Balançou a cabeça sorrindo.

Seguimos para o Grande Pátio. A luta seria em sua área coberta.

...

"Calma, mãe! Nos falaram mil vezes que a segurança está mais que garantida."

"E a segurança vai dar conta de vocês e todas aquelas famílias reais? Qual é a prioridade de proteção em um ataque, Rosie? Você deveria ficar no palácio."

"Eu? Ficar aqui enquanto todos vão para Carolina?"

"É só um casamento. Você pode ver as fotos depois."

"Eu não acredito que você está me falando para..."

"Sim, estou falando. Não estou nem mandando, porque acho que você tem juízo suficiente para pensar no que quase te aconteceu, e que pode acontecer de novo!"

Suspirei frustrada.

Minha mãe finalmente havia voltado de viagem, e a conversa, que tinha começado ótima, estava se tornando uma discussão por ela temer que outro ataque acontecesse quando eu saísse do palácio. Não adiantou dizer que o contexto do que ocorreu no hotel era político, e que a família real de Illea era basicamente uma figura pública, ou seja, o que Eadlyn interferia no Parlamento não poderia ser considerado, de fato, uma intervenção.

"Talvez você pudesse aproveitar o momento e..."

"E...?"

"E voltar."

"Como?!"

"Me perdoa... Eu sei que a escolha é sua, mas estou com muita saudade. Eu tento lutar contra isso, mas na verdade só quero você aqui. Do meu lado, onde eu mesma posso te proteger. Você, por acaso, tem alguma ideia do que eu senti quando me contaram sobre o ataque no hotel? Eu estava longe, confiada de que você estava no palácio mais segura do que eu na reserva, mas você simplesmente saiu. Se expôs..."

"Mãe... por favor."

"Eu não acredito que você vai fazer isso de novo!"

"Faz parte do cronograma! Olha, pelo que estou sabendo nem iremos no mesmo avião que as famílias reais, e lá vamos estar com a proteção dos guardas, do hotel, da força nacional e não duvido que da de outros países! Se quiser, eu posso ir pedir ao Osten para conversar com você. Ele vai fazer questão de te explicar detalhe por detalhe de como vai funcionar a segurança."

"Eu não confio em nenhum discurso de segurança.Você sabe quantas vezes os rebeldes estiveram a ponto de me matar? E mataram o Rei e a Rainha num só dia! Pessoas ruins e bem preparadas entram quando quiserem no palácio. Por  favor, você não pode ficar aí!"

"E você não ficou na Seleção quando estava cheio de ataques? Só porque amava o Maxon? Por que eu tenho que sair, sendo que nem ataques há?! Não te entendo!"

Só raciocinei sobre o que saiu quando ela se calou.

"Me desculpa. Me desculpa... Eu não queria ficar falando sobre essas suas experiências ruins do passado! Sei que você superou, mas fica desconfortável toda vez que ouve falar desse assunto."

"Não, Rosie. Eu entendo que exagerei. Até o momento eu vinha tentando fazer o certo: engolir o meu orgulho, te deixar ir para o palácio. Falei várias vezes que você precisava ser livre, e agora, por causa de um surto, estou voltando atrás."

"Você não tem que se desculpar. É seu instinto de mãe. Eu é que...eu sinto muito, mãe, não posso voltar.É complicado de explicar..."

"Então não explique. A menos que precise de minha ajuda. Está tudo bem,Rosie?"

" Uhum..."

" Você está chorando?"

Suspirei.

"É que não nos falamos tem tempos. Não era para a gente ter brigado."

"Então não vamos brigar. Ah, céus. Como minha garotinha é sensível..." Eu ri."Talvez não tão garotinha quanto eu quero que seja...Mas...mudando o assunto completamente: o príncipe Osten."Uma pausa"O quão próximos vocês são? Você está apaixonada?"

"Mãe!"

Sua gargalhada foi intensa e quebrou toda minha revolta.

"Não adianta tentar me enganar com a história de que prefere seus personagens literários a ter uma relação de verdade. Pode até ser que você tenha preferido nunca se envolver com ninguém, e nem queria isso quando se inscreveu. Foi pura influência do seu pai, das suas primas, e até minha... Mas eu tenho a consciência de que, nesse meio tempo, você quis,ou pelo menos, fantasiou ter algo com o príncipe. Lembre que eu já tive a sua idade, passei praticamente pelo mesmo que você está passando."

Fechei os olhos com o silêncio. Ela esperava por minha resposta.

" Ah... olha, mãe, eu não vou mentir: Eu gosto dele. Gosto muito."Mas não com a profundidade que você está pensando."Eu não achei que fossemos ficar próximos.E, sinceramente, não achei que a gente tivesse coisas em comum para pelo menos sustentar uma conversa! Mas eu o conheci e... Bem, eu me sinto segura do lado dele, e o mesmo ocorre com ele."É uma boa amizade."É uma boa relação que eu tenho com ele."Concluí.

"Mas gostar de alguém é diferente de amar, e querer passar o resto da vida com essa pessoa. Você está decidida sobre isso?"

Mas que pergunta, dona Kriss!

" Eu...eu não tenho certeza de nada, mãe. Realmente. Espero que tempo o cuide de tudo."

"O tempo às vezes exige.Porém...eu entendo você.Vai dar tudo certo no final! Eu tenho que sair...Seu pai foi a floricultura fazer não sei o quê e ainda não voltou..."

"Ela está saindo de casa sozinho?!"

"E alguém segura seu pai?"

Nós rimos. Mesmo precisando estar de repouso,era óbvio que ele não daria a mínima.

"Mande lembranças ao príncipe.Ele é um bom rapaz. E também para a familia real. Eu te amo."

"Eu te amo, mãe! Manda um beijo para o papai, e para todo mundo!"

"Mando sim. Beijos, filha. Te amo!"

"Beijos, te amo!"

"Tchau."

"Tchau."

" Pode desligar primeiro."

"Ok.."Ri." Te amo!"

"Te amo também.Demais." 

Desliguei relutante cortando sua risada. Ainda olhava anestesiada para o telefone,quando me lembrei que não tinha assistido ao final da luta, haja vista que me chamaram bem na hora para  a ligação da minha mãe.Me apressei em voltar ao Grande Pátio curiosíssima pelo resultado. 

 ...

 "AGARRA LOGO ESSE HOMEM, MENINA!"O grito de Phoebe assustou a todas.

Grande novidade.

"Ô VONTADE DE ENTRAR NO FILME E ESGANAR ESSA PROTAGONISTA!"

"Gente, eu também não estou aguentando! Ela não vê que só falta ele lamber o chão que ela pisa?!"Dessa vez o desabafo foi de Emma.

"O que está havendo aqui? O filme está ruim?" 

Na primeira fileira do cinema estavam Kerttu, Klaus, Stefan, Valerie,Corine e Giselle.

Na segunda: Emma, Suki, Phoebe,Jennifer, Lydia,Cintia e Ophelia e, atrás de todas, as princesas alemãs, Susi e eu. 

"É que elas estão meio indignadas com a personagem." Esclareci.

"OSTEN!"

"Osten"

"Tio!"

"O príncipe está aqui?"Suki questionou.

"Sim, só vendo as pretendentes malucas dele." Stefan disse nos fazendo rir, pois ele estava irritado desde mais cedo por não poder ver um filme de ação.

"Senta aqui." Anelise disse.

"Ah,não fica do lado dela." Susi o puxou de volta e obrigou-o a ficar do meu lado dando uma piscada. 

"Do que se trata o filme?" Osten perguntou.

"Melhores amigos que se apaixonam."Susi explicou"Mas em épocas diferentes. A menina só passa a enxergar o melhor amigo quando começa a namorar outra garota para esquecê-la. Então ela tenta recuperá-lo, mas, ao contrário de muitos clichês, o rapaz realmente se apaixona pela outra garota e cada um segue em frente. "

"Ai, Susi! Você contou tudo! TE ODEIO!" Kerttu chiou.

"SILÊNCIOOO, o filme não tá pausado!"

"E agora você se interessa pelo filme, Stefan?"

Osten e eu trocamos um olhar risonho.Aqueles dois...

" Eu acreditei mesmo que você fosse vencer hoje." Sussurrei próximo ao seu ouvido.

"Eu perdi de propósito."

Ergui as sobrancelhas. 

"É sério.Assim ele pode se pode se achar superior a mim,e não propor mais desafios."

" Esperto..."

"Onde você foi durante a luta?"

"Conversar pelo telefone com minha mãe"

"Finalmente."Sorriu." Como ela está?"

"Está bem. Um pouco preocupada sobre a viagem... mas eu te falo sobre isso depois." Ele assentiu.

"Vocês conversaram o bastante? Pode pedir para ligar para ela quantas vezes quiser." 

"EU AINDA TÔ OUVINDO GENTE FALAR AÍ NO FUNDO!"

"Obrigada" Sussurrei ainda mais baixo. Não éramos nós falando alto,e sim Susi e as princesas, entretanto, era melhor não arriscar.Nos concentramos no filme.

Como Susi prevera, a garota realmente perdeu o melhor amigo. A similaridade daquilo com a minha situação com Tyler me incomodou.  Revirei os olhos tentando expulsar esse assunto da mente. Em compensação, outro incômodo se surgiu ao avaliar o modo como as coisas sucederam para vida da garota. Estava tudo certo até ela se apaixonar pelo melhor amigo.

Quando percebi estar de fato apaixonada por Tyler, tudo mudou na nossa interação. Eu sabia que nada seria como no passado.E se aquilo acontecesse com Osten? Eu não iria suportar passar por aquilo outra vez.Já doía pensar que, quando a Seleção acabasse, eu voltaria para Columbia e não poderia desfrutar de mais momentos como esse com ele. 

"Aiiii, é tão bom ver um romance... " Lydia comentou ao final: dez anos após o enredo principal: quando os melhores amigos fizeram uma festa de comemoração com duas novas famílias."Eu adorei a originalidade do roteiro. Os novos casais são bem melhores que o primeiro."

"Concordo" disse Phoebe.

"Eu falei que era bom!"Susi sorriu.

" Eu fui a única que odiei?"Emma nos encarou. Cintia e Jennifer negaram.

"Também sou adepta a clichês."

" Sim! Clichê é tudo na vida!"

"Eu só fico com raiva, porque o melhor amigo era mais bonito. Mas...fazer o quê,né?" Kerttu correu para frente da máquina de pipoca."Sobrou um resto aqui. Quem quer?"

Oa pequenos se reuniram.

"Terminamos isso tarde" 

"A noite é apenas uma criança" Ophelia rebateu Suki. Elas e Emma saíram juntas,assim como as alemãs. Uma mão estalou a minha frente.

"Quando todos forem embora, quer fazer uma maratona?"

"De quê?"

"De qualquer coisa. Qualquer série."

Olhei para a criançada,além de Phoebe,Cintia, Jennifer e Lydia, dividindo a comida e assenti animadamente com a cabeça. Osten riu.

"Vou preparar o terreno. Mais uns quinze minutos e te encontro na porta do seu quarto."

"Ok!"

" Parece que a noite está animada por aqui."

Franzi a testa e encarei a porta. Lorenzo estava parado ali de braços cruzados.

"Alteza, o que faz por aqui?" Phoebe questionou.

"Cheguei de viagem para manhã. Vou com vocês para Carolina."Respondeu sorrindo, e eu tive a impressão de que esse traço sumiu rápido demais fazermos um contato visual." Osten está bem tarde,mas podemos conversar?"

" Claro." Osten me olhou de um jeito que entendi sobre o fim de nosso combinado.

"Boa noite para todos."

 Lorenzo cumprimentou a nós com um aceno. Acenei brevemente mais uma vez esperando a correspondência de seu sorriso,ou qualquer mudança positiva em seu rosto.

Isso não ocorreu.

Voltei para o quarto reflexiva. Lorenzo provavelmente não tinha me perdoado por aquele dia. Mesmo com a carta explicando o porquê de não retribuí-lo e com o pedido de desculpas.Balancei a cabeça. Talvez na viagem eu pudesse descobrir se ele me odiava, de fato, e tentar mudar isso.

Encontrei Oliver parado em frente a minha porta. Como se... é. Estava claro que me esperava.

"Preciso de uma palavra séria com você" ele se aproximou com certa pressa.

E aqui vamos nós...

"O que foi?" Suspirei já cansada.

"Controle ele melhor."

"Hum?"

Ele simplesmente jogou o papel que segurava na minha cara. Na realidade, um envelope, e não restavam dúvidas: pelo seu olhar,  eu deveria abrir. 

A letra era bem reconhecível por mim. Eu já iria elaborar um sermão, uma vez que Oliver certamente revirara o escritório de Osten, mas o espanto com a dedicatória falou mais alto. Percorri meus olhos linha por linha.

Querida Delfina,

Eu não deveria estar escrevendo agora para você. Não quando existem várias outras garotas esperando por mim a literalmente um andar de distância. Elas querem que eu dê o primeiro passo e as faça feliz. Devem pensar que sou apenas um pobre príncipe preocupado com o fato de não encontrar seu amor no meio de tantas selecionadas.

Certo. Me preocupo em não achar ninguém nessa competição.Porém elas não fazem ideia do real motivo dessa Seleção estar acontecendo. Não sabem que uma pessoa em específico ocupa os meus pensamentos e que não importa o que eu faça: sou incapaz de tirá-la da mente. O tempo inteiro, um 'filme' da nossa história repassa em minha mente. No dia em que nos conhecemos, eu estendi a mão e você simplesmente correu para trás de sua mãe.

Fiquei muito chateado por achar ter feito algo errado,mas minha mãe logo sussurrou em meu ouvido sobre sua timidez. Ela me incentivou a continuar a falar com você, tentar ser seu amigo, e conquistar sua confiança. E foi exatamente o que fiz. A princípio,nem tanto,dado a quantidade de crianças naquela festa e a sua insistência em ficar agarrada aos seus pais.

Na hora do parabéns, consegui puxá-la para a mesa de doces e te ensinei a como fazer para roubar o máximo possível antes dos outros. Nós corremos com o que pegamos até um dos banheiros e acabamos com tudo. Depois te convidei para correr com os outros e,a noite, fizemos uma brincadeira com o Aaron e o Lorenzo após Nathaniel contar uma história de terror. 

Rimos da cara de tacho deles e o seu sorriso ficou marcado na minha mente. Você fazia isso com pouca frequência, mas quando o fazia (quando o faz)... E a cada ano você ficava mais linda. Se sempre considerei muitas garotas bonitas,mas somente você era capaz de mexer com o meu psicológico com simples olhares e expressões.Só meus pais dizerem que iríamos para a Itália, que a vida para mim se transformava:Eu contava os segundos para te ver. O triste era lembrar  que  os dias da viagem eram limitados.

Na adolescência, decidi me declarar. Eu só não sabia como, nem como,e para falar a verdade, adiei muito o momento por causa do medo da rejeição.Descobri por acidente que era correspondido e isso foi o que permitiu que vivessemos um pouco de felicidade,no entanto, nem tudo fluiu da maneira que deveria.

Eu sei que você virá antes do casamento da minha tia. O planejamento está a todo vapor. E não sei se vou conseguir te ver sem sofrer pelo que era era para ter sido. Eu acreditei. Coloquei todas as minhas esperanças em um futuro com você e não parei para pensar na possibilidade de estar sonhando sozinho.

No primeiro antes te culpei inteiramente, mas hoje vejo minhas falhas. Deveria ter insistido mais para pararmos de nos esconder. Era cansativo ter que viver a milhas de distância de alguém, e sempre que quisesse ter contato precisar esperar todos se distrairem para ir ao escritório fazer uma ligação. Muitas vezes em um horário não muito conveniente para você. E vice- versa.

Conheci uma garota como você. A única diferença é que é loira dos olhos escuros. Isso me faz não pirar quando a vejo. De início até me assustei com o fato de poder estar me  interessando tão rápido por alguém. Foi aí que entendi. Ela se parece com você.Fazia todo sentido o meu impulso de persegui-la e prestar atenção em cada detalhe em seu modo de ser.  

Vocês duas são divertidas, delicadas, lindas,  sorriem de uma maneira discreta e não é difícil ver a honestidade em todos  os seus modos de agir... Conheci mais a respeito dessa garota,e descobri que ela não quer nada comigo. (Ama outra pessoa) e só está me usando como uma espécie de novo melhor amigo(longa história).

Isso me fez acordar na hora sobre o que eu estava fazendo. Eu também quis usá-la como uma companhia para te susbstituir. Como uma nova chance de ter uma amizade verdadeira, e não te o risco estragá-la com sentimentos amorosos. Apesar de tudo, não quero eliminá-la. Vou compensá-la pelo que causei insitintivamente a ela e continuar a minha busca pela selecionada com quem realmente eu posss me envolver.

Talvez um dia eu lhe envie essa carta, mas muito provavelmente irei rasgá-la, por poder me trazer problemas daqui a alguns anos,porque minha futura esposa jamais gostaria de saber a verdade: que o meu amor por você é único. Único de um modo que jamais irei sentir da mesma forma por alguém. 

Não há mais  nada para ser dito,Delfina, a não ser o famoso e dramático 'adeus'. A última palavra que que eu queria dizer a você.

De seu passado esquecido,

Osten Schreave.