Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 43
Capítulo 41


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!, galera! E FELIZ 2021 !!!!

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"Não fui eu que escrevi. Posso ter muitos talentos, mas não o de copiar letra."

O italiano disparou no momento em que eu o encarei. 

"Eu sei que a letra é dele."

Nem considerei o fato de que Oliver poderia ter mandado alguém fazer aquilo. 

"Como assim... controle?" 

"Perdão?"

"Você... Acabou de dizer...controle. Que eu devo controlar o Osten melhor pra que ele não sinta nada por Delfina?! Isso não faz sentido. Porque você obviamente leu essa carta, e também já sabe há um tempo que não tenho nada de romântico com ele para querer seduzi-lo ou qualquer coisa!"

"Ora, fica calma" Ergueu os braços" E cuidado não amassar."

"Não estou amassando. Estou dobrando. É diferente."

Engoli em seco, pois percebi ter dobrado a folha mais que o normal. Ela caberia no centro da palma da mão.

Eu não duvidava de que a intenção de Oliver era trazer a carta e avaliar minha expressão com um olhar de deboche. Para ele, até sua briga com Osten poderia esperar... Dei o que queria ao descontar as emoções em um papel. Por outro lado, era inútil tentar escondê-las quando deveriam estar expostas na minha cara. 

"Bom, me admira ver que nem para amizade Osten tenha honra. Coitada de você." Sorriu e eu bufei tentando voltar à dobra inicial." O que tem a dizer sobre isso?Hum?"Ergueu as sobrancelhas.

"Sinto muito, só que não somos próximos o suficiente para que eu abra meu coração com você. Boa noite."

”Espera,  vai entrar e chorar em vez de ir tirar satisfações?" Como o ignorei, ele me ultrapassou e cruzou os braços em frente da porta. "Eu te ajudei mostrando o quanto o Osten te fez de idiota para não receber nenhum agradecimento?"

"O que esperava? Que eu beijasse seus pés? Ah, já sei: um show. Queria eu fosse até o terceiro andar, invadisse a sala do Osten e gritasse até o último com ele."

"Seria um show e tanto." Deu de ombros." Aliás, seria ótimo que me retribuísse com um favor: antes de acabar com o Schreave, pelo menos convença-o de que as chances com Delfina acabaram."

"Lamento... mas hoje eu não vou falar com Osten. Nem com você me ameaçando ou me arrastando até lá"

"Entendo." sorriu" Você realmente é do tipo sensível que precisa de um tempo para chorar."

Não respondi. Apenas entrei e tranquei a porta.

" QUANDO PARAR DE CHORAR, ME CHAMA PARA VER A BRIGA."

Com mais uma leitura veloz, e uma lenta, eu pude realmente processar o conteúdo da carta.

As ações de Osten, desde que nos conhecemos, tiveram uma mudança drástica de interpretação: a simpatia, a preocupação de saber como eu me sentia, a teimosia em me convencer de que valia a pena ser sua amiga e a insistência para que eu permanecesse no castelo ao seu lado, tudo era um recomeço.

Eu era uma réplica da Delfina ao seu lado. 

Ele estava cego, repleto de amor por uma garota que pisou seu coração, e continuava a fazê-lo toda vez que citava a relação com o noivo.

Osten ficava nervoso toda vez que alguém mencionava 'Delfina'. Era sempre uma careta que eu via em seu rosto. Passei a lembrar de alguns momentos: Ele, normalmente, era alguém seguro e equilibrado, contudo, a presença da italiana deixava-o completamente alterado. 

A festa de Kerttu era a prova e também o dia da chegada dos italianos, ocasião em que o príncipe estava sozinho e tão aéreo que eu cheguei a perguntar se estava tudo bem, porém ele desconversou. Nos momentos em que Delfina se aproximava, ele só queria me levar para qualquer outro lugar.

Era triste enxergar as coisas dessa forma. Ao menos eu havia acordado. Foi isso que me incentivou a fazer o que eu garanti a Oliver que não faria. 

Nunca tinha passado por uma traição. Acreditava que a sensação era similar: de se sentir inútil, substituível. Poderia ser orgulho, mas eu estava ferida por saber que Osten preferiu se aproximar de mim e me tratar de um jeito tão peculiar, porque procurava por outra pessoa.

Eu passaria despercebida entre as 34 garotas se não fosse pelas coincidências com Delfina. Após a primeira conversa, Osten teria me eliminado. Talvez uma semana depois, já que ele me contara que meu sobrenome impedia estar entre as primeiras eliminações.

"Ei, Rosie, suas malas estão arrumadas?"

"Ainda não."

Phoebe vinha pelo corredor, o que me impediu de continuar em linha reta até a escada.

"Eu ia te pedir uma daquelas jardineiras emprestadas... Lembra que liberaram a  gente de viajar como quiser? Eu queria já me livrar desse peso morto logo." Apontou para o próprio vestido." Você me empresta, por favor?"

"A jardineira? Tá, como quiser. Fique a vontade para pegar, está no meu quarto. Por mim... eu..."reparei em seu olhar estranho, e precisei respirei fundo para respondê-la adequadamente." Eu acho para você daqui a pouco. As minhas malas estão... a Lee, a Audrey e a Amy já fizeram uma bagunça lá no quarto." Dei de ombros voltando a olhar para frente. "Digo, já começaram a arrumar a mala sem me avisar e as roupas estão espalhadas para tudo quanto é lado! E elas nem estão lá. Acho que devem ter ido na sala de costura buscar algum outro vestido que fizeram."

"Uhum, e você, Rosie?"

"Eu o quê?"

" Aonde vai tão apressada e com esse jeito todo..." Franzi a testa quando ela apontou para meu rosto. Eu não havia chegado ao ponto de chorar." Alguma coisa aconteceu com você, e acho que a resposta está aqui, não?"

Muito rápida. Não acreditei quando Phoebe ergueu a carta, a carta de Osten, e passou a fugir como louca pelo corredor.

Embora ambas estivéssemos com o 'peso morto', ela foi eficiente em fechar a porta de seu quarto na minha cara.

"NÃO, WILLOW. NÃO, NÃO. NÃO ABRE! VOCÊS TAMBÉM NÃO ABRAM!" Gritou lá de dentro.

Eu sabia que não importava quantas vezes eu batesse, ela não abriria antes de terminar. Mesmo assim, fiz papel de trouxa chamando Phoebe diversas vezes até que ela me atendeu.

Willow, Darla e Fanny saíram me olhando... com pena?!

" Vamos trazer um chá para vocês" Darla disse.

"Obrigada!" Phoebe me respondeu antes de me puxar para dentro e trancar o quarto.

"Desculpa! Eu estava indo realmente te falar sobre as roupas viagem, e quando te vi conversando com Oliver, a curiosidade falou mais alto."

"Você ouviu?! Ouviu tudo?" ela assentiu sem graça.

"Cheguei enquanto você ainda lia a carta, mas não falei nada para elas, tá?" Colocou as mãos em meus ombros" Eu sei que sua mente deve estar uma bagunça com tanta revelação, e que nossa... você nunca falou de um jeito tão forte comigo"Riu.

"Me desculpe..."

"Não te julgo! É sério.Por que... não aproveita, e me conta com calma o que está acontecendo? Eu não sou lá uma boa conselheira, mas acho que posso dar uma ajudinha."

Ela se animou quando concordei.

"Sinta-se a vontade!"

Apontou para a cama e para a cadeira. Suspirei me acomodando na primeira. Eu não tinha escolha.

...

 Não foi difícil perceber que a postura forte que eu pretendia manter na frente de Osten-durante minha quase ida ao terceiro andar- iria por água abaixo, assim que começasse a explicação para Phoebe. O momento me recordou meses atrás em que cheguei de uma discussão com Tyler na festa da piscina de Veronica.

Era incrível como minha vida era um ciclo de drama.

" Por favor, avisa qualquer uma das meninas que ajudam a Rosie que ela  vai dormir aqui. Festinha do pijama, já que estou quase indo embora, e amanhã prometo tomar café da manhã com vocês!"

" E a sua mala?"

"Eu termino de arrumar hoje ainda, Fanny. Deixa comigo."

As criadas me deram um aceno da porta e se foram. Phoebe me pediu um minuto para nos servir com o chá que trouxeram.

" Obrigada, Phoebe. Por me ouvir e por tudo."

" Sem agradecer. Eu não estou fazendo é nada. Por mim, eu já tinha acabado com ele por você. Não acredito que atrapalhei seu momento de raiva. Imagino as verdades que você teria falado se tivesse continuado."

"Não teria sido uma simples briga." Suspirei.

"Se fosse eu na sua pele..Hum..." Revirou os olhos."Aquele idiota levou um pé na bunda da princesa, mas tá é merecendo um de cada selecionada! No sentido literal."

Engoli em seco enquanto ela ria da própria sentença. Recebi a minha xícara e Phoebe empurrou um monte de roupas da cama para sentar ao meu lado.

A desordem no seu quarto estava pior do que a minha.

Havia várias camisetas com os números das equipes de futebol, natação, vôlei e basquete que ela tinha participado. Me disse que trouxera mais como lembrança e continuou a me julgar pelo tênis que eu havia trazido para usar, dizendo que aquilo era um absurdo.

Também havia uma calça jeans do dia que tinha chegado. O resto era uma confusão de vestidos e bijuterias que ela estava escolhendo para viagem.

" Então... quer dizer  que você e Osten decidiram ser amigos desde o início..."

"Sim... Eu acho. Já não tenho certeza se posso chamar isso de amizade verdadeira."

" Tem certeza que você não quer ir logo falar com ele? Por que eu não aguento mais te ver limpando o rosto. Coloca na sua cabeça que esse cara não merece uma lágrima sua, ok?" Assenti." Osten Schreave, quando eu te encontrar." Riu sem humor." Não posso ao menos contar para..."

" NÃO."

Minutos antes eu tive de convencê-la de que não era muito sábio de sua parte sair falando para todas as selecionadas sobre o verdadeiro interesse amoroso de Osten.

Não era justo com May Singer. Um escândalo desses significaria um banquete para a mídia, a choradeira das selecionadas, o desconforto das famílias reais... Enfim, acabaria com toda a aura feliz de seu casamento.

" Nem para Suki e Emma? Elas não merecem saber?"

"Merecem. Todas as meninas merecem saber do buraco onde se meteram, mas isso tem que vir da boca dele. Depois do casamento. Eu confio nas duas, só que quanto mais gente souber, mais chances disso se espalhar com algum descuido."

"O fato de Oliver trair a Delfina também é para guardar a sete chaves, certo?"

"Principalmente isso."

Ela fez um olhar de tédio.

"Não sei quem é pior. Osten ou Oliver. Que gosto dessa Delfina, hein. Mas, ok..." Respirou fundo." Eu simplesmente preciso perguntar. Você me disse concordou em ser amiga do Osten, porque já sentia algo por outra pessoa, e essa pessoa... é o Tyler? Porque isso seria o esperado. Vocês são melhores de amigos de infância, né? Rosie? Pode falar! Eu não vou te julgar! Também gostei de um melhor amigo." 

Ela esperou pacientemente pela minha resposta.

 "Sim. Eu sempre neguei, mas chegou a um ponto em que não dava... Eu gosto do Tyler, mas só percebi isso tarde demais."

" Quando aquela namorada dele entrou em cena?"

" Mais ou menos isso." Dei de ombros." Eu já tinha chegado aqui quando fui admitir meus ciúmes dele, e ver que eu eu sentia algo, e você é a primeira pessoa para quem estou admitindo isso com todas as letras e em voz alta. Uau..."

Ela achou graça.

"O Osten sabia que eu sentia falta do Tyler, não que eu gostava dele. Eu tinha brigado com o Tyler antes de vir por causa da Veronica e o Osten me apoiou desde o início com isso, sabe? Eu achei mesmo que ele fosse alguém que gostasse de falar comigo pelo o que eu sou. Que ele fosse...Céus."

"O quê? Quê que foi?"

"Eu não acredito que eu não enxerguei o que estava bem na minha cara o tempo todo. Eu simplesmente não acredito."

"Menina, conta LOGO. Você gosta do Osten, é isso? VOCÊ GOSTA! AI, MINHA NOSSA. Só faltava essa! Você apaixonada por aquele projeto de bom moço que não passa de um falso e é mal caminho..."

Phoebe continuou a falar sem parar, já eu ficava cada vez mais inconformada com a minha 'cegueira' à medida que o passado ficava mais claro.

.......

 "CUIDADO" Senti uma mão segurar meu braço." Você ia se cortar, sua maluca" Tyler fez uma carranca pra mim.

"Foi mal." Ri.

"Louca." Revirou os olhos" Sei para onde estava olhando." Semicerrou os olhos me deixando envergonhada. Minutos antes, Henry White, minha paixão do início do ensino médio havia entrado no estabelecimento, e o lugar onde eu estava posicionada me permitia vê-lo sentado de perfil.

Nesse dia, Tyler estava tomando conta do restaurante, pois Brianna e John (seus pais) estavam doentes. Eu me ofereci para fazer os sucos e Robert preferiu ajudar o amigo ficando no caixa. Douglas estava encostado no balcão observando o movimento. Argumentou que buscava ideias para sua escrita, mas eu não fazia ideia do que ele queria dizer. Tyler deixou o irmão livre, e eu não discordava.

"Vou voltar lá para a cozinha, mas fica de garçonete, Ro."

Tyler andou até um armário e me entregou bloco de notas e caneta. Douglas eu trocamos um olhar confuso.

"Ah... não tem atendentes o suficiente?" 

"É a sua chance, está bem?"

"Como?!" Ele me levou para fora da área de serviço. Douglas nos seguiu curioso.

"Vou pedir para Julie assumir os sucos e você vai atender o Henry."

"Mas, Tyler ..."

"AGORA!"

Douglas deu risada.

"Essa cena eu não posso perder." Olhei com raiva para ele.

"Eu não posso. Eu não..."

"Não sabe flertar, não conseguiu absorver nenhuma das minhas lições, eu sei! Mas talvez Henry goste de desajeitadas... E você não pode perder uma oportunidade dessas!" Disse me empurrando para a frente" Fica um tempo assim de garçonete para não ser muito forçado."

"Por favor, Tyler ..."

Reclamei, mas àquele ponto já era. Alguns clientes, inclusive o garoto que eu gostava, já tinham me visto com o avental.

Henry era loiro de olhos cinza-azulados. Não tão próximo de Tyler, porém, às vezes, disputavam partidas de basebol juntos. Comecei a gostar dele depois que ajudou Paul, um alvo de vítima de bullying, a não levar a surra de um garoto encrenqueiro.

Não foi ato heroico em si que mexeu com meus sentimentos. Henry foi conquistando minha atenção pela simpatia com todos, e talvez, também por incentivar Paul a entrar no time de basquete e se enturmar com o pessoal.

Além disso, Henry tinha um rosto muito bonito, e parecia não ligar muito para o destaque que tinha onde passava. Eu andava pelos corredores checando sua presença sem perceber e quando ele entrava no mesmo ambiente que eu, meu coração disparava.

Atendi duas pessoas antes de ir para sua mesa. Pelo canto do olho, vi Tyler espionando da janela da cozinha. Ele me lançou um sinal de joia e sua expressão dizia 'parta para o ataque'. Iria só ver depois.

" Boa noite, Henry. Vai querer o quê?" falei um tanto rápido com um nó na garganta. Ele deu um sorriso fraco.

"Boa noite, Rosie. Eu vou querer..."Ele verifica o cardápio. "Vou querer um hambúrguer completo e um suco de laranja."

" C-com açúcar?"

"E com gelo." sorri anotando tudo com vontade de chorar pelo gaguejo. Entreguei os pedidos na mão de Julie e fiquei ali no balcão olhando para a porta a espera de mais clientes.

"Parece que funcionou."

"Hein?" Olhei para Douglas.

"O plano do meu irmão. Aquele cara loiro não para de olhar pra você."

"É SÉRIO?" Coloquei a mão na boca envergonhada por chamar atenção de alguns clientes na fila de pagamento. "Você está tirando uma com a minha cara!"

"Por que não toma coragem e checa? Ah, agora não... seu rosto está muito vermelho." Riu. "Boa sorte na hora de levar o pedido pra ele." Deu dois tapas nas minhas costas, e saiu com a consciência limpa após elevar meu desespero.

.......

“Pai, você mudou a orquídea de lugar pela milésima vez!”

“Mas é que eu não sei o lugar certo!” Revirei os olhos rindo de sua expressão frustrada ”Rosie, sai desse livro, e me ajuda a segurar ela um pouco aqui! Eu tenho que ajeitar esse pano da mesa."

“Vai colocar o vaso em cima dele? Mamãe vai brigar por você por sujá-lo de terra”

“Com ela eu me viro depois. Vamos, vamos!” mas ele parou“ Me explica: Por que está tão arrumada?”

“Eu preciso sair hoje a noite. Eu posso, né?” Fiz minha melhor cara de meiga.

Ele me olhou surpreso.

"Você acabou de me pedir para sair? Está legal?”

Fingiu medir minha temperatura.

“Pai, é sério."

“E então: com quem é? Com suas primas, com uma amiga,  COM UM RAPAZ NUM ENCONTRO?!”

“É com o Tyler, vamos ao cinema." Não aguentei sua cara de alívio. Contei que havia saído uma adaptação de uma saga de livros que acompanhávamos.

“Hum… Com o Tyler.” Assentiu” Eu suspeitava que era com ele. De qualquer jeito, eu não deixaria você com alguém diferente." sorriu, antes de continuar com palavras constrangedoras para mim" Vocês ainda vão se casar um dia...e têm a minha aprovação.Se tem! De vez em quando vou na casa de vocês para pedir uma refeição ”Acariciou a barriga.

Pisquei incrédula.

"Como é que é a história?"

"Ah, Rosie, não leve a sério." disse ao notar a minha expressão." Você sabe que só estou querendo brincar com você."

"Brincadeira de mal gosto." sussurrei. A campainha tocou. "Pai..."chamei sua atenção antes de ir atender." Por favor, só não brinque sobre essas coisas na frente do Tyler. A amizade dele é importante demais pra mim. Eu não quero que ele fique esquisito comigo, nem eu com ele em nenhum momento, por causa dessas... ideias, comentários de que a gente deveria ser um casal." 

"Tudo bem, querida. Eu prometo não abrir mais o bico."piscou"Agora vá lá que seu amigo chegou"

A compreensão do meu pai me deixou mais tranquila.

.....

 "Ele não vai encostar um dedo em você. Só fique ao meu lado, ok?"

Tyler segurou minha mão e me puxou para dentro do colégio. Andamos pelos corredores em busca de nossos armários. Eu ficava nervosa a cada vez que via alguma cabeleira loira. Até que realmente o vi.

Henry estava próximo à entrada da sala de artes com os braços ao redor do ombro de Gina enquanto conversava com um de seus amigos. Desviei o olhar assim que ele me encarou de volta e, inconscientemente, cheguei mais perto de Tyler.

Ele dispensou o colega e deu a mão para Gina vindo em nossa direção, mas não para falar conosco como eu temia.

No dia anterior, ele e Tyler foram impedidos pelos seguranças de caírem em uma briga feia no meio do shopping, e eu não duvidava de que aquele 'passeio' dele com a namorada tinha dois objetivos: lançar um recíproco olhar de ódio para Tyler e esfregar na minha cara a proposta que eu havia rejeitado.

Como se eu quisesse ter alguma coisa com ele depois de tudo... Durante a sessão de cinema, um dos amigos comuns a Tyler e Henry comentou que a menina que chegara atrasada era Gina, a namorada que Henry tinha a distância e que acabara de ser transferida para nossa escola. Não passou muito tempo desde que a garota sentou ao lado do loiro para começarem a se beijar. Aproveitei um momento em que Tyler e o resto dos seus colegas se distraíram para ir ao banheiro.

Eu me sentia uma iludida. Ah, eu fui uma grande iludida em pensar que em todas as vezes em que ele foi gentil comigo poderia ser um interesse. 

"Está tudo bem com você?" Henry White me surpreendeu por estar do lado de fora do banheiro. "Por que estava chorando?"

Não deu certo negar, ou inventar qualquer desculpa esfarrapada, ele me cortou com palavras que congelaram as minhas.

"Eu sei que está apaixonada por mim. Está bem óbvio... e quer a verdade? Não importa o quanto eu tente me segurar, acho que...bom...toda vez que te vejo, eu sinto que..."

Ele segurou meu pulso com uma mão e adentrou a outra no meu cabelo tentando puxar meu rosto para cima. Na direção de seu rosto. Para dar um beijo que por um bom tempo eu esperei que acontecesse.

"VOCÊ É LOUCO?"gritei a plenos pulmões"COMO PODE VIR E FAZER ISSO COMIGO? VOCÊ ESTÁ COM A GINA!"

Eu me sentia grata por, no último segundo, conseguir puxar minha cabeça para o lado fazendo-o tocar os lábios no canto da minha boca.

"E daí?"

"E DAÍ?!" Repeti incrédula.

"Já faz tempo que quero terminar com ela. Você só precisa me esperar..."me lançou uma expressão triste" Você me esperaria?" 

Henry White... Como ele, justo ele, poderia ser tão bom com os outros, porém ter atitudes tão erradas?

 Meus pulsos foram presos assim que tentei me afastar, e eu estava prestes a gritar quando um vulto preto acertou a parte de trás da cabeça de Henry.

Ele grunhiu me soltando e encarou uma mulher desconhecida que eu não sabia da onde tinha surgido. Ela segurava uma bolsa e refez a ameaça de bater nele, e chamar os seguranças se ele não saísse dali.

Acho que a mulher até se cansou de tantos agradecimentos. Ela ficou me consolando até Tyler aparecer querendo saber o porquê de minha demora.

.....

 "Bom...chegamos" o moreno disse estacionando em frente ao teatro. Meus pais estavam ocupados com trabalho, e por isso, não poderiam estar presentes.

Uma vez por ano a escola fazia uma apresentação para arrecadar dinheiro para caridade. Eu optei por essa atividade extracurricular, mas atuar em um teatro jamais seria minha escolha, por isso entrei para os grupos de roteiristas e de cenógrafos.

No entanto, graças ao maravilhoso acaso, uma das atrizes foi internada na véspera da peça, e eu não consegui dizer não quando a coordenadora do teatro pediu que eu fosse a substituta frente de todos.

Tyler me olhou de cima a baixo e caiu na gargalhada pela terceira vez desde que me buscou em casa. Não era para tanto. Eu estava vestida com um collant, uma saia rodada que parecia um tutu, anteninhas em um arco, meia calça até os joelhos e sapatilhas.

 "Você está TÃO FOFA!" Ele atacou minhas bochechas me fazendo soltar um grito histérico e assustar um casal que entrava para assistir à apresentação.

"Que raiva! Não tem ideia do quanto estou arrependida de vir com você!"

"E iria o quê? Voar para chegar aqui? Não iria dar tempo."

"Ainda não recebi minhas asas, querido, mas se eu viesse correndo, daria sim!"

Tyler continuou a rir. Palhaço.

Se ao menos eu perdesse o medo de direção... Passei  raspando no teste e até então não tinha juntado coragem para usar algum carro.

"Boa sorte, Ro! Vai arrasar, com certeza, e vou estar lá na frente pra te ver."

"Sua mãe disse que você só conseguiu a última fileira." 

"É, mas eu fiz um acordo com o Nicholas." Estreitei os olhos "Vou ajudar ele com uma garota. Sabe que eu sou o rei da conquista."

"Ah, se é" Revirei os olhos.

" Você iria gostar de mim como namorado"

"Em outro universo!" Ele jogou a cabeça para trás rindo" Acho melhor você correr... A hora"

"Ah, é!" olhei a hora no relógio em seu pulso e peguei a bolsa no banco de trás." Obrigada pela carona."

"Ao seu dispor, borboletinha." Tyler ainda me fez o favor de bater no arco para balançar 'minhas antenas'.

Saí atraindo vários olhares e me lamentando por não ter me apressado mais. Assim, poderia ter me arrumado no camarim. 

São poucas falas.

Será rápido.

O público são pais e crianças que eu não conheço.

Primeira porta? Não, é na segunda!

O pessoal da peça estava reunido num roda ouvindo as últimas instruções da coordenadora.  Meu corpo gelou quando notei que Logan Miller estava ali com a função de pedir nossas assinaturas, anotando ao lado o horário em que chegávamos(qualquer atraso era motivo para perder ponto). Ele passou os olhos pela prancheta e olhou na minha direção entregando-a para eu assinar.

"Bonita a fantasia." 

"Obrigada."

Assenti torcendo mentalmente para não errar o meu nome na hora da escrita.

"Aliás, parabéns pelo concurso de ciências."

"Obrigada de novo... mas seu protótipo ficou incrível. Era para você ter ganhado. Minha opinião!" Sorri.

Eu não conhecia nada de tecnologia. Apenas sabia que ele era um gênio nela e que estava muito animado para ganhar. Me deixava aflita o fato dos examinadores da banca não terem notado que seu projeto tinha uma qualidade superior.

"Não se menospreze. O seu trabalho ficou bem melhor." Rebateu. "Se bem que nem dá comparar plantas com uma inovação eletrônica... Não existe melhor ou pior nesse caso."

"Isso é verdade!" Ri fraco.

“Boa sorte na sua apresentação!"

"Obrigada!"

Depois de fazer papel de boba diante dele, me dirigi para o que seria uma das minhas maiores frustrações.

......

“O que deu em você para errar tudo? Você nem tinha tantas falas!” George me olhou aborrecido.

“Mas o que eu errei?”

“Tem certeza de que não sabe? Está na cara. A saúde da minha mãe, quer dizer, da formiga.” balançou a cabeça.” Você nem conheceu a mãe-formiga, por que perguntou da saúde dela?”

"George, dá um desconto pra ela. Você sabe que ela pegou esse papel de última hora." Holly, a garota que fazia a aranha começou a discutir com ele.

Minha mente deu um clique. Momentos antes de uma de minhas entradas, usei uma das folhas na mesa dos bastidores para revisar as falas. Elas eram da próxima cena... 

Qualquer enredo possui começo, meio e fim. A inversão de um diálogo ou adiantamento de uma cena podem comprometer o sentido da história. Jimmy não me respondeu por estar sem o que dizer e George, a formiga,  entrou inventando que precisávamos sair por causa da 'chuva' que cairia. A peça seguiu, mas a plateia com certeza ficou confusa.

No final de tudo, a coordenadora disse que os avaliadores estavam querendo diminuir a nota do grupo por causa do erro e alguns alunos ficaram irritados. Mostrei a eles o papel que tinha lido. Holly notou que aquela página realmente estava com a numeração errada, todavia vários continuaram a me encarar ressentidos.

Senti uma mão no ombro. Era Tyler me lançando um olhar do tipo 'vai dar tudo certo'. Teria sido confirmado que o erro estava na impressão das cópias, se o faxineiro não houvesse se juntado ao grupo. Disse que minutos antes viu a cópia sendo trocada por Logan. Demorei um tempo para entender do que falavam. A realidade me atingiu em cheio. 

” Aquele imbecil está de marcação com a gente. Ele sempre nos ajudou sem vontade nenhuma" disse Jimmy.

"E acha que pode sair impune, porque é filho do diretor." George urrou. 

"TYLER." 

Tive o auxílio de Holly e George para segurar Tyler e impedir que brigasse com Logan. 

Ele me olhou com um brilho nos olhos quando seu temperamento suavizou.

" Ah, Rosie, tem uma coisa que vai te animar" Olhei para o buquê de rosas brancas que ele retirou do armário" Você está de parabéns. Vocês todos estão. Agora, se me dão licença, vou pelo menos tentar convencer o diretor do que Logan fez"

"Seu namorado é muito fofo" Holly comentou com um sorrisinho.

"Ele não é meu namorado." 

Ignorei seu olhar confuso e do resto das meninas no ambiente e fechei os olhos não só para sentir o perfume das flores, mas também para disfarçar uma lágrima.

A notícia do teatro se espalhou na escola, e a culpa foi toda atribuída a mim... A esperança de que o faxineiro estivesse equivocado sobre o que viu se foi no dia em que passei por Logan e o ouvi falando com de mim com deboche para um bando de garotos e garotas que o seguiam por todo canto. Como esperado, Logan nunca foi punido.

......

"  Jonathan, Henry, Logan... agora Niall? Céus, Rosie. Que escolhas são essas? Isso sem contar os personagens de livros." Tyler bufou " Precisa de ajuda com o Niall?"

" Hum... não. Estou muito bem só admirando ele." Recebi um olhar entediado." Menos chance de dar errado, ué!"

Se meu amigo soubesse que também estava na lista de interesses amorosos, duvido que faria aquela cara. Gostei secretamente dele até os onze anos. Isso até perceber que o motivo central era ele ser uma espécie de escudo para mim com relação às implicações sociais e também por passarmos um tempo considerável juntos.

Comecei a gostar de um vizinho: Jonathan McQuaid, que chamava eu e Tyler para passar algumas tardes em sua casa. Ele era inglês, e infelizmente voltou para Inglaterra. Demorei um tempo para esquecer...

Depois de Henry e Logan, chegou a vez de Niall Cooper. Pardo dos olhos verdes, minha dupla do laboratório, e colega de outras matérias, como matemática. 

"Oi, Rosie, oi, Tyler! Querem participar do teatro esse ano?"

Holly. A garota que me ajudou teatro que estudava no mesmo ano que nós, só que na outra sala. Aquela para quem Tyler tinha um certo receio em se declarar. Ele disse que era por sua personalidade forte e independente, porém eu só podia supor que era porque ele gostava muito dela.

"Você é alegre, e cheio de energia. Aposto daria um ótimo ator."

Prendi o riso quando Tyler desconsertadamente rejeitou a proposta.

"Por que não tentou? Você poderia conquistar ela assim."

"Tenho outros planos. Por que você não tentou?"

"As vagas de roteirista e cenógrafo acabaram, não ouviu? E eu preciso dar um tempo. Foi humilhante demais. Quem sabe no dia eu apareça para ajudar na arrumação..."suspirei tentando deletar as más lembranças. "Ah... eu tive uma ideia para você falar com ela." Tyler desviou a atenção do mural para mim." Se não pode com diálogo, o que acha de bilhetes?"

"Bilhetes?" Franziu a testa "Tipo um admirador secreto? Esquece." 

" Você pode escrever e colocar no armário dela! Algo sim!" Ele rolou os olhos" Eu coloco pra você!"

" Para de ler esses livros romance com açúcar, por favor."

......

"Oi, o que está fazendo aqui?"

"Oi, Holly!"

Ela retribuiu meu sorriso de maneira angelical.

Mais cedo eu havia deixado a carta de Tyler em seu armário. Ela recebia os bilhetes há quase duas semanas, e ainda não havia descoberto quem era o autor. Eu estava ansiosa para ele revelar.

“Por que você…"

Indiquei seu visual. Holly estava com o mesmo uniforme que Tyler e Robert. Seus curtos cabelos se encontravam dentro do boné, alguns fios loiros do lado de fora.

"Vou entrar depois como convidada no amistoso das meninas. O que está comendo?"

"Cookies, quer?" 

Ela assentiu.

"Nossa! São muitos bons!"

"Foi o Tyler quem fez. Ele manda muito bem de cozinha. Essa receita, inclusive, é dele."

Eu esperava que ela não percebesse que eu estava forçando muito barra de cupido, mas Tyler era talentoso mesmo e, eu, como uma boa amiga, só estava cumprindo meu dever. 

Fiona passou por nós com seu olhar de desprezo. 

"Parece que ela te odeia gritantemente." Holly comentou.

"Um fato." Dei de ombros. "Ela nunca vai superar o fora que levou do Tyler há uns cinco anos. Ele viu ela falando mal de mim,e como sempre faz com qualquer garota que não vá com a minha cara..."

Expliquei para ela que costumava sofrer bullying desde o jardim de infância. Fiona sempre tinha sido tóxica comigo. 

"Ela conseguiu me convencer uma vez que Tyler só me considerava uma responsabilidade. Que ele não me valorizaria no futuro e me esqueceria após conhecer outra pessoa. Mas eu sei que se ele conseguir uma namorada, não vai deixar de falar comigo. Óbvio que vai falar mais com ela e não é problema."

Com essa conversa eu tentava deixar bem esclarecido que se ela estivesse com interesse romântico nele, eu não daria uma de melhor amiga ciumenta.

"Ah, olha o Tyler ali"

Ela apontou para os meninos entrando no campo. Ele vasculhou as arquibancadas com os olhos até nos achar, e acenou.

"Eu invejo vocês " Holly disse ao acenarmos de volta." A parceria de vocês é linda... Queria ter um melhor amigo assim. Tem muita sorte, Rosie."

Sorri sem ter muito o que dizer. Quase disse um 'obrigada'.

"Você joga?"

"Hã?"

"Joga basebol também?" 

"Ah, sim. Um pouco."

"Não quer entrar comigo no amistoso? É aberto pra todos hoje. Também não faço parte do time feminino."

Com seu jeito manso e sincero, Holly, além de me convencer a jogar, me fez torcer junto a ela e outras garotas em um coro por Tyler e sua equipe.

......

"Estou falando sério. Você tem que terminar aquele desenho!"

"Por quê? Se ficou horrível da última vez."

"Não ficou horrível!" Encarei ele séria." Tá. Não ficou muito bom, mas você precisa valorizar as suas criações."

Coloquei a mão no bolso pegar o desenho que tinha resgatado amassado no lixo, onde pretendia jogar de novo, para convencê-lo dos traços mal feitos, mas deixei cair dinheiro ao tirá-lo.

"Olha a grana. Nossa, que rica. Cinquenta."

Tentei proteger o dinheiro dele afastando-o com as mãos.

Grande erro.

Em uma das minha mãos estava o pano que acabava de sujar sua camisa.

"Ai, não. Me desculpa!" Quase coloquei as mãos na boca, mas notei isso levaria o pano sujo a ela. Eu ouvi a sua risada, enquanto abaixava para recuperar o dinheiro e pôr no bolso." Eu acho que se você limpar com detergente sai" disse sem graça quando me levantei.

Tyler apenas me lançou um olhar desafiador e passou as mãos sujas de óleo da minha bochecha até meu ombro. 

Soltei um grito e o empurrei. 

" Por que você fez isso?!"

"Simples. Uma revanche, princesa."

"Ah, é?"

Corri para sujar minhas mãos nas peças do carro, mas ele segurou meus braços por trás.

"Acha que vou deixar você fazer isso?" Riu enquanto eu me debatia. Dei uma cotovelada nele e libertei um braço, o suficiente para sujar minha mão e revidar em seu lindo rosto. 

"Haha. E agora príncipe encantado?"

"Espera, por favor, eu engoli"

Me soltou pigarreando. 

"Desculpa. Eu não queria ter feito isso." Ele encostou no capô do carro e limpou um pouco o rosto com a camisa.

Seu sorriso veio seguido de uma nova chuva de óleo e graxa na minha roupa.

"Como você sempre cai? É impressionante!" 

"Vai aprender que comigo não se brinca, vacilão"

De repente, Tyler segurou minhas mãos bem firme. Franzi as sobrancelhas para tal gesto.

"Que foi?"

Sua boca seu abriu, mas logo depois se fechou. Fiquei um pouco sem jeito. Nossos olhares não se desviaram um do outro por vários segundos. 

" Que foi, Tyler?"

"Rosie..."Me encarou por um tempo "Você está muito horrível."

Revirei os olhos empurrando-o novamente.

"Você é um imprestável mesmo." Ri. Ele deu de ombros e voltou a mexer no carro de forma concentrada.

"Tenho que terminar isso logo, se não meu pai me mata."

"Então acho melhor chamar o mecânico." Respondi no automático tentando limpar meu rosto de graxa.

Por um instante, eu realmente pensei que... Mas não! Ele não me beijaria se estivesse apaixonado por Holly. Tyler tinha revelado há pouco tempo e os dois passaram a sair.

......

Me concentrei na história. Steven iria dizer que amava ela. Estava sentindo...

“Ele morre no final."

"Como é?"

“Brincadeira. Eu não sei, não li esse livro".

"Se salvou por pouco!"

Tyler sabia que eu odiava spoilers. Ele estava com muito bom humor naquela manhã, ao contrário de mim. Por isso, resolvi me distrair com um livro perto das cabanas do acampamento.

A verdade é que eu estava um pouco incomodada com a minha falta de habilidade para várias atividades esportivas. Para Tyler e Holly era muito fácil.

”Vim aqui, porque faz mais de uma hora que você não participa de nada, e eu pensei que tivesse prometido"

"Hoje estou sem muito ânimo. Talvez amanhã eu participe da gincana".

“Não gosto da ideia de você aqui sozinha em que algum cara pode vir e te atacar.” Respondi-o com meu melhor olhar de tédio “Você é muito linda Rosie.” Apertou minhas bochechas.” Por fora, e por dentro mais ainda. Mas esses caras só querem beleza física mesmo”.

Ele me convenceu a ir andar de canoa com ele. 

.......

"E aí Rosie, como foi o acampamento?"

" Foi bom." Assenti para minha mãe e deixei a mala na parte de trás do carro. Eu só queria bater minha cabeça várias vezes no capô. A cena do Tyler me beijando tinha grudado no meu cérebro. Me salvou de uma humilhação? Sim, claro! Mas aumentou o meu grau de desconforto pelo resto da viagem. Seria bem mais fácil superar Niall, Logan e aquelas outras pessoas rindo de mim na fogueira.

......

Eu queria jogar o meu nervosismo para alto, só que Tyler estava ali, e insistia em não me deixar sozinha naquela noite em que meus pais saíram para um congresso de professores. A mais de uma semana eu estava tentando não ser esquisita com ele, apesar de evitá-lo ao máximo.

"Dvd ou canal de tv? Roooo..."

Sacudiu meu ombro de leve. Fechei meu livro.

“Aqui... não precisa ficar comigo. Você tem a sua namorada.”

“Mas eu quero, vamos lá...Coloca qualquer coisa para a gente ver" Se esparramou no sofá colocando os pés em cima de mim.

......

"Olha, eu não aguento mais. Você está muito quieta." Ergui as sobrancelhas para ele.

"Isso é problema? O filme está interessante."

"Estou falando desde que cheguei." Rebateu me avaliando" Tem alguma coisa errada?"

Suspirei cansada. Parecia que eu tinha voltado a infância... Não conseguia parar de pensar nele, de admirá-lo mais do que o comum, de querer passar mais tempo e me sentir triste por vê-lo com Holly. É eu estava com ciúmes dele, e precisava controlar isso.

Ele passou alguns instantes insistindo para que eu lhe falasse, no entanto, fui 'salva' por um toque de telefone que, na verdade, não trouxe exatamente o bem.

 ......

Abracei Tyler com todas as minhas forças. Nunca soube consolar as pessoas. Me angustiava desempenhar tão mal a função de melhor amiga. Eu não conseguia achar as palavras certas. Apenas dizia que tudo iria passar, que tudo ficaria bem...

"Obrigado por estar aqui, Rosie." Ele sussurrou.

Saiu na minha frente a chamado de sua mãe, e eu fiquei mais alguns minutos encarando a lápide de Holly.

Após um acidente de carro que matou sua família, Holly ficou mais de um mês em coma no hospital. Nós tínhamos muita esperança de que ela iria conseguir de lá...

No entanto, a realidade era mais triste e fria do que aquele dia. Estava nublado, como uma cena cinematográfica. As pessoas que participaram do enterro tinham expressões incrédulas e/ou inconformadas. Eu olhava para Tyler de cinco em cinco segundos e na dele não pude captar nada além de um vazio. 

 "Holly..."

Por um instante, imaginei como seriam os anos em sua presença. Tyler e ela teriam namorado, e quem sabe se casado? Ela seria uma grande amiga. Eu queria muito poder ver aquilo. Não sabia como iria fazer meu amigo superar aquela dor. Precisava achar um jeito. Precisava ver Tyler feliz outra vez.

......

“Ei, Tyler! Bom dia!"

“Ei, desculpe, Rosie. Hoje estou com sono. Vou esperar a professora iniciar a aula. Aí você me chama?” Assenti forçando um sorriso.

Eu estava há mais de um mês tentando fazer Tyler voltar ao normal. Ele tinha parado de fazer tudo que gostava: cozinhar, jogar basebol, sair de casa... Eu entendia e estava desesperada por ver que seu estado parecia piorar mais e mais.

......

"Err... Robert. Nós podemos conversar? É bem rápido, e é sobre Tyler." sussurrei a última parte. Ele pediu licença aos amigos e fomos para as arquibancadas. 

Ouviu minha proposta com atenção e concordou de cara.

“Eu chamo ele para os jogos e você para o cinema ou outro lugar. E..."me olhou com certo receio. "Olha, isso não é uma advertência, mas tenho visto você tentar falar com Tyler a todo tempo, fazer ele sair da sala nos intervalos... o cara precisa de espaço. Eu já fiquei de luto por minha mãe. E pior até que ele..."

"Ah... eu não sabia. Sinto muito, e..."

"Não se sinta culpada. "sorriu." Você é uma garota que eu admiro muito e dá pra ver que você está fazendo o seu melhor. Não precisa abandonar o Tyler, só mostre para ele que está presente, e espere que na hora certa ele vai querer desabafar."

"Entendi! Muito obrigada, Robert." Ele deu uma piscada.

"Vamos seguir com o combinado. Até mais!"

 ......

"Quer alguma coisa para comer?" Neguei. "Que tal pizza?" 

Suspirei concordando com Lila. Ela e eu não combinávamos muito(não tínhamos muitos assuntos em comum), mas dava para ver que ela estava se esforçando em ser legal comigo toda vez em que eu, ela, Robert e Tyler saíamos. 

"Ei, prima cheguei!"

"Ve, que saudade!"

Uma garota bem morena muito parecida Lila se aproximou do sofá.

"Rosie, essa é a Veronica. Veronica essa é a Rosie." A menina me cumprimentou com beijinhos no rosto e se sentou do lado de Lila." Um minuto. ROBERT."

O moreno fez um sinal de que já estavam vindo.

"Ei, Veronica está gostando da festa?" Robert disse abraçando Lila por trás.

"Acabei de chegar, mas parece estar o máximo. Como sempre"

Tenho certeza de que isso inflou o ego de Robert. Aquela era a casa dele. Por ele ter muitos contatos, eu pude reconhecer pessoas de ambas salas do ultimo ano e de anos anteriores.

"Tyler, essa é a Veronica. A minha prima, de quem eu te falei."

"Ah...sim!" Meu amigo sorriu." Você está mudando para nosso colégio. Não é?"

"Começo na segunda."

"Se precisar de alguma ajuda, estiver perdida com alguma matéria ou atividade, é só avisar."

Ela assentiu com um sorriso vibrante.

"Você bem que podia mudar para nossa escola." Robert encarou Lila.

"Aaah, que lindo." acariciou o cabelo dele e se virou para nós. "Eu falei mil vezes pra ele que meu pai quer que todos os filhos se formem onde se formou. Mas não entra na cabeça!" roubou-lhe um beijo.

Os quatro começaram a falar sobre os jogos dos meninos. Fiquei quieta com o meu pedaço de pizza até que Tyler inventou que queria uma parte dele, então começamos uma briga estúpida arrancando risadas dos outros.

Argumentei que ele tinha comido vários pedaços e aquele era o meu único. Isso o fez ceder de imediato.

"Lila, aquela música está tocando... vamos?"

"É claro, meu amor." Robert e a namorada foram para uma pista de dança improvisada. Em seguida, Tyler passou a tentar me arrastar para lá.

" Vem dançar comigo, Ro. Por favor!"

"Não quero!" 

Ficamos um longo cabo de guerra em que eu era a 'corda'.

"Vocês são um casal muito fofo". 

"Não somos um casal." Rebati a fala de Veronica e não pude escutar sua resposta, pois o puxão de Tyler foi forte o suficiente para me levar para o centro da pista de dança.

"Rosie, está tudo bem?"

"Hã, está, só não levo jeito para dançar, você sabe"

"Quero dizer quanto ao Robert" Tyler disse perto do meu ouvido por causa do volume do som.

"Ah, sim, eu já superei." 

Nos últimos meses, quando Robert e eu nos unimos para fazer Tyler voltar a normalidade, acabei me aproximando bastante do garoto. Passei a enxergar aspectos de sua personalidade que me atraíram. Ao mesmo tempo que notara que não poderia estar sentindo sério por Tyler. Tudo não passara de uma paixonite por causa do seu beijo e das várias histórias do amor de amigos da qual eu já entrara em contato.

Os sinais estavam ali:eu ficava encantada(e não ressentida)com o jeito como Tyler pensava e se recordava de Holly; Sofria com o desejo impossível de que eles estivessem juntos e ficava sem graça e ansiosa toda vez que Robert aparecia.

Quando Tyler descobriu, me encorajou a fazer recados anônimos para ele,e se ofereceu para mandar, assim como eu fizera em relação a Holly. Apesar de eu ter escrito bilhetes fofos, não eram assim tão... românticos. Eram bobos.

Percebi o quanto a paixão era boba quando Robert voltou com a ex namorada. Descobri que tinham passado um ano separados e ainda se gostavam. Eu nem senti tanto. Talvez já estivesse me acostumando com o azar no quesito amor.

"Dança,logo, Rosie! Sacode o esqueleto!"

Pus a mão na barriga de tanto rir dos passos esquisitos.

" Como...eu... Vou fazer isso se você não colabora?"

Tyler estava se recuperando bem e isso me deixava imensamente feliz. Tentei imitar seus passos durante a música eletrônica, mas minha graciosidade quase fez uma pessoa na lateral cair.

"Desculpa! É, Veronica, né? Sinto muito!"

"Tudo bem." Ela sorriu ajeitando o sapato e voltou a dançar com um garoto. Fiquei um tempo olhando-a de longe com culpa e percebi que ela nos encarava demais.

Mesmo quando paramos de dançar e fomos ver uma partida de jogos dos garotos, ela não parava de olhar na minha direção e de Tyler. Não sabia por quê o fazia, mas isso me incomodava.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

A minha sensação é de ter escrito uma fanfic dentro de um capítulo kkkkkk
Já tinha um bom tempo que eu tava com essas cenas na cabeça(algumas mto clichês,mas ok ) , e agora meio que achei um contexto para elas hehe

Pf não me matem! O "flashback" acabou, tá?


Desabafo ON

gente e esse filme da seleção??? kkkkk stefen (quase stefan , tomei um susto quando li kk) como pai da Meri, Celeste loira/importante na história(porque digamos que no original ela só tá lá pra fazer barraco), um general nada a ver lá no meio, alguém da família da América com doença terminal...
sério? qual a dificuldade de colocar a menina pobre e indo pro palácio depois de terminar com o namorado?
e se ela quer ir por vontade própria e pra ter dinheiro pra família, como ela vai gritar com o maxon no jardim?????

tem coisa que se mudar machuca,sabe? tira a essência

(eu tô reclamando aqui, mas no dia do lançamento, bem que vou fazer minha pipoquinha e curtir rsrs)



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