-Uau!  eu queria ter asas assim!  - Disse a garotinha dos cabelos negros.

    Levantei-me, meio sem jeito, porque finalmente conhecia a família de Alexsander. E também porque essas tais asas não estavam colaborando.

   - É... prazer em conhecê-los!

   - Imagina, o prazer é todo nosso em te-la em nossa casa! -Disse a mãe de Alex, Sarah, atravessando a sala e me abraçando sem receio.

    -Alex o que aconteceu com você?  -Pergunto Joseph o pai de Alexsander ao notar o sangue e a terra nas roupas do filho.

    -É melhor nós falarmos disso depois. –Disse lançando um olhar penetrante para o pai, que deve ter entendido qual fosse o significado no mesmo instante.

    E virando o rosto como se nada tivesse acontecido, falou radiante:

   -Alguém aí está faminto?

    Alexander subiu para seu quarto, para tomar um banho e trocar as roupas, enquanto eu fiquei ali, junto da família que acabara de conhecer. Sarah arrumava a pizza em pratos, Joseph a mesa, a pequena Maria corria pela cozinha cantando, enquanto Demetri me enchia de perguntas como: "isso dói?’’, ‘‘Posso tocar?’’, ‘‘Você já conseguiu voar com elas?’’ eu devia estar com uma cara de ‘‘Socorro!’’ pois logo seu pai lhe disse pra me deixar em paz e fazer alguma coisa; e nesse momento veio até mim e pediu que eu o acompanhasse até a sala.

    Chegando lá, ele me sentou no sofá e disse:

   -Então, está tudo bem com você? Esta doendo? -Ele não fez relação a alguma coisa, mas sabia que estava falando de minhas asas, o seu tom de preocupação paternal, era incrível mas balancei a cabeça em sinal de negativa.

    -Estou bem, obrigada, só é um pouco incomodo.

    -Então se você quiser, posso te ajudar a controlar isso, sei um pouco da teoria, se você estiver disposta, claro.

    -Claro! Quando quiser! E obedeci as suas ordens.

    -Então vamos lá, quero que feche os olhos e relaxe os ombros, assim... agora sinta cada músculo, pode senti-los? 

    E podia, tive a certeza disso assim que testei um mínimo comando e elas se abriram largamente com confiança.

   -Opa, isso mesmo, acho que já tem comando sobre elas, agora você vai fechá-las, consegue? Devagar e recolha-as, pode demorar é difícil mas...

    Ele parou de falar quando com uma formigação que levemente queimava minhas costelas, no local que eu imaginava, elas sumiam de vista. Abri os olhos meio atordoada e me deparei com quatro pares de olhos me encarando digamos... admirados.

   -Excelente você realmente é uma menina inteligente como Alex tinha me dito.

    Me senti corar ao ouvir isso. Então Alex falava mesmo de mim pra sua família?!

   -Querida, suba comigo você tem que se trocar, não vai se sentir confortável com esses rasgos nas blusas. 

    Tomei sua mão, e quando levantei senti a diferença da leveza no corpo, sem aquelas asas. Acompanhei-a ate o quarto de Valentina novamente. Não havia barulho de água, Alexsander já devia ter saído do banho. Ela se pôs a escolher novas blusas para mim, enquanto me olhava no grande espelho da parede, meus cabelos ainda estavam molhados e vi os estragos feitos na blusa, me senti envergonhada por mal conhecer Valen e já lhe causar tantos prejuízos.

   -Essas vão lhe cair perfeitamente. Disse oferecendo-me uma blusa básica branca, e um moletom cinza da GAP, me senti usando aquelas roupas. O guarda roupa da Valentina era extremamente perfeito, com marcas famosas, mas nada extravagante era notável que a família era rica.

    Descendo novamente para a cozinha, já estavam todos nos aguardando, sentados a mesa, inclusive Alex, com os cabelos molhados e seus olhos intensos, com um brilho de satisfação.

    O resto da noite foi extremamente agradável, comemos a pizza , rimos, conversamos, falamos sobre tudo e me senti melhor do que em qualquer outro dia, eram como uma família. Mesmo eu tendo conhecido-os agora e fosse só uma intrusa trazendo problemas.

    No final da noite todos estavam cansados, Maria já dormia no sofá e pela janela via-se no horizonte uma leve variação de cores, perguntei a Alex sobre Mary e as meninas, eu teria problemas no internato por não voltar noite passada.

   -Jass não se preocupe não lhe disse que Mary ia cuidar de tudo? Ela sabe que está bem e logo vira vê-la, ela deve ter tranqüilizado as meninas, você vai ficar com rugas se franzir a testa desse jeito.

    Sentia-me tão bem na presença de Alex, que até sentir a tensão no rosto era algo estranho, e rir era algo impossível quando Demetri acabava de cair de cara em cima do seu prato lambuzando todo o rosto, por causa do sono.

   -Acho que esta na hora de todo mundo ir pra cama, não é? -Falou Sarah, levantando pelos ombros o filho assustado com o baque. E todos foram se levantando com preguiça, ajeitando a cozinha e subindo a seus quartos com seguidos ‘‘Boa-noite’’, ajudei a mãe de Alex a lavar os pratos, estava acostumada a fazer isso com Mary até altas horas. Era tudo tão normal...

    ‘‘Agora você tem um novo mundo, ou você aceita ou enlouquece tentando evitá-lo.’’ Alex havia me dito isso a algumas horas atrás. Era difícil acreditar que fosse verdade, mas ela estava tão estampada ali na minha frente que era impossível não ver. Tanto quanto seus olhos que lacrimejavam para não fechar, eram raras às vezes em que eu dormia tão tarde assim.

    O pai de Alex viu isso:

  -Acho que esta cansada não é?

   -Foi um dia agitado.

   -Claro. Alex pode te levar para seu quarto.

   -Obrigada!

   -Durma bem e não se preocupe com a hora de acordar.

    Saindo da cozinha, encontrei Alex no sofá, jogando videogame. Passei pela parte de trás e observei:

   -Mais um pouco e vai sair fumaça disso ai. -Na tela mostrava a pontuação que era um borrão de números se elevando. -Como joga tão bem?

   -Tive muito tempo pra aprender, meu irmão ainda chora de raiva, tadinho sempre perde, quer jogar?

   -Não, eu não... -Fui interrompida pelo meu bocejo maldito.

   -Claro que não, a bela adormecida tem que dormir não é? -Dizendo isso, ele já me puxou pelo braço tão rápido que estávamos na escada jah, que realidade!

   -Há como seu eu chegasse aos pés de uma princesa, contos de fadas não existem. -Ele me olhou de um jeito tipo "tem certeza" como se soubesse de outra coisa.

   -O que? Vai dizer que o lobo mal e a cinderela tão perambulando por aí?

   -Vai saber, a gente não existe? Existe!

   -É... (não tinha pensado por esse ângulo)

    Já no corredor, ele abriu uma porta, como tantas coisas daquela casa ela também era de um carvalho, com certeza muito antigo.

   -Bem vinda ao aconchego!

    Entrei num quarto magnífico, com uma cama de colunas, tapeçarias, cortinados, móveis formosos, apesar de toda a elegância contida em coisas antigas, não podia deixar-se de notar a modernidade, na TV de plasma a frente, com tudo a que se tem direito em tecnologia.

    Com cara de sapeca e não resisti a tentação e perguntou a  Alex:

   -Posso?

   -A vontade!

    Dei uma leve corridinha e me estirei numa cama que parecia ser feita de plumas, com cheiro de lavanda, extremamente confortável. Penas do travesseiro voaram, quando Alex repetiu o gesto e caiu ao meu lado.

   -Vou ficar mal acostumada!

   -Pode deixar que vou cuidar pra que sempre fique.

    Uma pergunta entalada:

   -Pensei que vampiros não dormissem

   - E não dormem, não precisam, mais é um habito meio humano. Uma soneca revigora a alma, mesmo que eu não tenha uma.

    Vendo meu olhar assustado, logo tratou de mudar de assunto.

   -Está cansada, é melhor eu sair pra que possa dormir. 

    Já ia levantando-se e caminhando a porta, mas o fiz parar com uma pergunta:

   -Tudo vai mudar não é?

   -Sim, vai.

   -Mais e Mary? Alicia e Madison? Eu vou voltar pro internato assim?

   -Jass você não vai poder ter a mesma vida de antes, precisa entender isso. Se confiar o suficiente nelas contará, mas leve em consideração que se outro alguém souber disso, seremos perseguidos.

   - Você é bem realista! -Disse enquanto enxugava mais uma daquelas lágrimas fujonas.

   -Desculpa. -Ele saiu da porta e sentou-se de novo na cama. -Esta segura e é o que importa, amanhã vamos ao internato e resolveremos as coisas, por enquanto, só durma.

    Ele passou a mão no meu rosto e levantou-se.

   -A propósito, feliz aniversário! O que precisar tem nos armário. Bom... é durma bem.

    Saiu e fechou a porta.