Familiarização escrita por Jotagê


Capítulo 2
Desaforo


Notas iniciais do capítulo

Bruxas e seus familiares, sempre tão dramáticos.

Vocês certamente vão perceber, mas vou avisar logo de cara — eu escolhi usar uma linguagem mais "bizarra" na história. Se vocês acharem que eu estou exagerando nas frases rebuscadas e deixando difícil de ler e de entender, podem me dar um puxão de orelha que eu tento me segurar.

No mais, boa leitura!



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Calados, ambos se entreolharam estranhamente por alguns instantes incômodos — os olhos da arara adentravam os olhos da garota como se buscassem sua alma. Úrsula imaginava se a ave notava a sua frustração em saber que aquele pássaro de penas pretas seria seu novo acompanhante.

Nem nos mais excêntricos cenários, ela imaginou algo assim acontecendo. Abutres, corvos, gralhas e urubus até passaram pela sua cabeça, mas uma arara? Nunca nem havia ouvido falar de uma bruxa sendo escoltada por uma arara.

— Eu sou Úrsula Selene, sua sócia-sórcere — resolveu se apresentar, decidida a quebrar o silêncio. Mantendo o olhar fixo, perguntou — O que você é, exatamente?

— Um boi albino — o pássaro ironizou, inclinando a cabeça como provocação. Sua voz era surpreendentemente grave, mas suave — Ficou cega, minha filha?

— Como você se chama? — ela desconsiderou o desaforo e prosseguiu.

— Ra’Rá — respondeu, com má vontade. A bruxinha carrancou, achando ser uma brincadeira — É sério. Minha mãe era hippie e meu pai era fã da Lady Gaga.

— Tudo bem. Mas eu tenho tantas dúvidas. Por que você é uma arara preta? Isso nem existe!

— Por que existem araras azuis, vermelhas e de todas as cores do arco-íris? Por que existe um demônio azul que atormenta as pessoas usando giz e se chama Belzeblue? Por que cada humano tem uma cor? — o familiar findou sua lista de coisas “improváveis”, deixando a menina contrariada.

— Eu só fiz uma pergunta! — a bruxinha rebateu, atacada — Como você é grosseiro!

— Você disse que eu não existo!

Estressados, ambos deram de costas e a sala silenciou-se outra vez.

Úrsula não conseguia aceitar que seu dia especial, com o qual sonhou por tanto tempo, acabasse daquela forma. Ela queria pensar em alguma solução pra lidar com aquela assombração alada, mas estava muito transtornada pra isso. A garota tinha apenas a certeza de que aquela relação não seria nada fácil. 

Maldição.


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Notas finais do capítulo

SÓRCERE - substantivo comum de dois gêneros.
Praticante de magia ou feitiçaria; originado do termo inglês "sorcerer", bruxo.

CARRANCAR - verbo intransitivo.
Ato de fazer uma carranca; expressar mau humor; fechar a cara.

Espero que tenham gostado! Nos vemos nos próximos capítulos!



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