Úrsula estava animada como nunca esteve antes. Havia esperado pacientemente pelo que pareceram eras — foram só os treze longos anos da sua vida —, mas enfim, sua espera seria recompensada. Mesmo o dia ensolarado mostrava-se mais quieto e sombrio, e os corvos e urubus pareciam gralhar gritos grasnados só para ela, cantando sua felicidade em sua janela.

A garota escolheu seu par de presilhas favorito para o grande dia, ambas com o formato de uma caveira pálida e um par de asas negras de morcego. Prendeu com um tanto de esforço os seus cabelos dentre os acessórios, formando um tufo de cada lado superior com seus corposos cachos castanhos que realçavam seu rosto escuro. Sentia-se pronta para o mundo da bruxaria.

Já tinha experiência com as regras e mandingas, claro, tendo sido bem-educada pela sua família nas artes ocultas. Contudo, a garota só poderia descobrir o seu real potencial quando fosse oficialmente iniciada como bruxa e ganhasse o seu familiar — um animal que a guiaria em sua vida e seus feitiços.

A bruxinha passou sua infância inteira sonhando com esse momento, e sua cabeça marcava uma imagem bem-definida de como se desenrolaria — ela ganharia um gato pomposo, de belos pelos escuros. Um felino falante e formoso, que a tirasse de apuros quando necessário e conversasse sobre puros e impuros com ela nos tempos livres. Não gostava da quietude e solitude de seu quarto.

Ajustando aos seus braços as mangas longas do vestido preto, que findava um pouco além de seu joelho, ela caminhou em direção à sala. Tentava manter sua ansiedade para si, de verdade, mas o brilho ingênuo em seus olhos denunciava a sua animação. Lá, avistou uma escura escultura a esperá-la.

Num instante, aquele momento tornou-se agridoce. Seu sorriso enfraqueceu ao notar que seu novo familiar era uma... Arara?