Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 14
15


Notas iniciais do capítulo



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× Capítulo 15 ×

Era enjoo, tontura, cheiros estranhos, vontade de chorar e de bater ao mesmo tempo. Ana nunca teve seus harmônios tão descontrolados, nem mesmo na TPM. O que sempre fora rara, ela se achava sortuda pois não menstruava com frequência, os remédios que tomava inibiam seus harmônios.

Talvez fosse efeito dos novos remédios, aquele tipo de coisa acontecia, não é? Mesmo que ela tivesse tomando apenas remédios para dor, podia mexer com seu organismo a ponto de fazê-la sentir coisas como aquelas.

Pelo menos fora o que sua mãe disse.

E ela confiava em sua mãe. 

Uma semana depois ela tirou os pontos, não foi doloroso, mas incomodo. Ela aguentou. E também foi ouvido seu coração, e ela gostou do som rápido e forte que ele fazia.

Tão diferente daquele que foi seu por dezenove anos.

Aquilo ainda a pegava de vez em quando, ela não conseguia pensar naquele coração como seu e sim como de outra pessoa. Ela tinha que parar com aquilo, não é como se a outra garota fosse voltar para querê-lo de volta.

Ana estava em seu quarto, seus pais super protetores não a deixavam ao menos descer as escadas.

Era como se ela ainda estivesse trancada naquele quarto de hospital. Ela tentava não dizer nada, eles estavam felizes demais, e ela não queria acabar com aquilo.

E Grace foi lhe visitar, sem Carrick, duas semanas depois, e a mulher continuava estranha e também chorava algumas vezes enquanto queria saber tudo sobre Ana. A morena se sentia desconfortável com tantas perguntas mas tentava respondê-las.

Ela não havia perguntado sobre Christian, não tinha coragem. E também, se ele não queria saber dela, o que ela iria fazer?

A deixava triste, mas a vida era assim mesmo, sempre fazendo as pessoas ficarem triste.

Aquela quinta feira, onze de agosto, era um daqueles dias que Ana passou a ter: enjoado e indisposto. Ela não queria levantar da cama e não conseguia nem mesmo tomar o suco de laranja do café da manhã. Ela só queria que aquilo acabasse logo. Aquilo não podia ser normal!

— Mamãe, eu me sinto muito mal - ela disse quando Carla entrou em seu quarto para lhe levar o almoço.

— Ai, meu bebê, não se preocupe. É completamente normal - ela colocou a bandeja em cima da mesa.

— Eu não quero nem olhar para essa comida, o cheiro já está me fazendo querer vomitar— resmungou a morena.

Uma batida na porta chamou a atenção das duas.

Era Grace.

— Olá, Kate abriu a porta para mim e me disse que podia subir - ela murmurou.

Ana sorriu. Gostava de Grace, mesmo que ela gostasse muito de fazer perguntas, era uma mulher elegante e inteligente.

Carla se prontificou a cumprimenta-la com um abraço. As duas haviam se aproximado muito, e Ana nunca viu sua mãe tendo amigas. Então aquilo era ótimo.

— Não está se sentindo bem, querida? - Grace perguntou depois de lhe dar um beijo na bochecha.

— Ela acordou enjoada hoje - Carla comentou. - Não comeu nada até agora - acusou.

— Eu não consigo - Ana resmungou.

— Isso é completamente normal, acredite - Grace disse.

— Por causa dos remédios? Eu nem estou mais tomando nada, além daquelas vitaminas - Ana falou.

Grace e Carla não disseram nada.

A morena bufou.

— Eu sou médica, meu amor, eu sei o que falo, não se preocupe - Grace disse.

Ana cruzou os braços e mirou a janela.

É claro que tinha algo errado. Ela sabia.

×

Christian saiu da empresa tarde naquela quinta, ele estava assim nas últimas semanas. Ele fazia tudo no automático, e tentava sempre fazer demais para na hora de dormir apenas capotar. Provavelmente a Grey Enterprise nunca teve maior desempenho como naqueles dias, Christian estava imbatível. E se ele não descansava, ninguém mais descansava. O homem estava arisco, nenhum funcionário ousava correr o risco de errar ou até mesmo fazer perguntado idiotas, a sala de reuniões estava sempre ocupada assim como a agenda de Christian. Era possível ver o quanto ele estava se esforçando, e até mesmo Taylor - seu segurança pessoal - estava preocupado.

A verdade era que Christian apenas não queria pensar em sua vida, ele não queria parar, porque se parasse...

Deus, se ele parasse sequer um segundo, ele desconfiava que tudo desabaria. 

Ele não visitou mais Anastacia, desde que seus pais decidiram o que fazer. E também não quis pensar no que achava da decisão deles, ele não quis descobrir se era egoísta ao ponto de querer deixar sua irmã morrer para salvar uma desconhecida, ou egoísta ao ponto de deixar uma desconhecida morrer pelo benefício da dúvida em deixar sua irmã viver.

Droga, por que essas coisas tinham que acontecer?

Christian percebeu que digitou tudo errado no computador e empurrou o teclado com força. 

Ele apenas queria sua vida de volta, uma parte sua queria nunca ter entrado naquela sala do CTI.

Mas era estranho, ele tinha a impressão de que não adiantava o que ele fizesse, ainda assim iria conhecer Ana. Era como se sua vida não fosse sua vida se ele visse o sorriso dela e ouvisse sua voz meiga pelo menos uma vez na vida.

Não, ele não iria pensar nela.

Ela estava bem agora, estava em casa, se recuperando, ele não tinha mais nada que ficar pensando nela.

Não tinha mesmo, mesmo que sua mãe inocentemente ficasse lhe falando sobre ela por horas e horas.

Ele sabia que Elliot não queria nem ouvir o nome da garota, o irmão parecia acreditar que ela era a culpada. E Carrick também queria ficar longe. Apenas Grace queria ficar tão perto dela quanto possível, e também queria falar dela. E o único que não se opunha em ouvir era Christian.

Mas era difícil para ele também. 

Muitas vezes ele se via saindo da empresa e indo direto a sua casa - que ele já sabia de cor o endereço - e pedindo desculpas por simplesmente ter desaparecido, mas logo ele percebia a besteira que faria e desistia.

A porta de sua sala foi aberta sem aviso, e o mesmo preparou um grande esporro para dar em quem que fosse, mas os saltos tilintando no chão de mármore branco denunciou que era Grace.

O homem levantou a cabeça e mirou a mãe apressada em sua direção, ela parecia nervosa e inquieta. O mesmo se levantou automaticamente.

— O que houve? - disparou.

Grace se sentou no sofá de canto e balançou a cabeça.

— Eu fiz uma coisa horrível, meu filho - Grace murmurou, a voz embargada pelo nó na garganta.

Christian se sentou ao seu lado e segurou sua mão. 

— Mãe, fala logo - disse ele.

Grace fungou e então respirou fundo antes de encarar o filho.

— Eu não consigo - suspirou.

Christian se levantou e foi até o frigobar no canto de sua sala, pegou uma garrafinha d'água e um copo, logo voltando para a mãe. 

— Toma aqui - entregou o copo já com água a ela. - Respira e se acalma - pediu.

Grace bebeu a água, respirou fundo mais algumas vezes e se normalizou.

— Então, me diz o que houve.

— É a Ana - começou ela, e não, o coração de Christian não disparou. - Eu fiz uma coisa que não deveria ter feito.

O outro se ajeitou no sofá e afrouxou a gravata.

— Como assim?

— Eu... - a mulher limpou as lágrimas que voltaram a escorrer pelo rosto. - Eu sinto tanta falta da sua irmã...

Christian abraçou a mãe de lado.

— Eu só queria que ela estivesse aqui, eu queria que ela estivesse bem, mas Ana não estaria, não é? E é tão egoísta pensar só no que eu quero, enquanto uma menina de dezenove anos passou a vida inteira em hospitais.

— Mãe, a senhora não é egoísta, é apenas mãe. Qualquer uma pensaria assim. E não é todas que faria o que a senhora fez.

— Eu não me arrependo, eu só queria que fosse mais fácil - ela suspirou cansada.

— Não acho que tenha algum jeito de ser mais fácil.

— Mas eu achei que tinha - confessou ela.

Christian franziu o cenho e encarou a mãe. 

— Do que está falando?

Grace colocou uma mão na boca, impedido um soluço de sair enquanto Christian lhe dava um lenço.

— Mãe - ele chamou sua atenção.

A mulher o encarou de volta.

— Mia estava grávida, e o bebê estava bem, seu coração batia perfeitamente. Ela havia conseguido finalmente, depois de três tentativas da inseminação. Eu queria tanto ter visto a cara dela quando ela soube que estava grávida.

Disso Christian não sabia. Ele sabia que foi encontrado liquido amniótico no organismo de sua irmã, mas não acreditava que o bebê tivesse sobrevivido. Provavelmente ninguém pensaria naquilo. 

— Mataria duas pessoas para salvar uma - comentou sua mãe. - Então o Dr. Jackson me contou uma coisa, não é uma ciência exata, mas deu certo antes.

— O que ele te disse?

— Como o embrião só tinha poucos centímetros, a placenta ainda não estava formada, era possível retirá-lo e colocar em outro útero.

Christian inclinou a cabeça de lado quando seu cérebro deu um estalo.

Aquilo não era possível, ele não entendia de medicina, mas sabe, aquele tipo de coisa não existia.

— Os cientistas da China estão tentando esse método há alguns anos, dois de trinta e sete procedimentos cobaios deram certo, mesmo que um a mãe não conseguiu levar a gravidez até as quarenta e duas semanas, o bebê nasceu saudável. E a outra foi um completo êxito.

Grace fungou novamente.

— Era possível fazer isso com sua irmã, tirar o saco gestacional e colocar em outro corpo, um corpo completamente saudável.

— Mãe, a senhora não fez o que eu acho que fez, não é?

— Não há muito mais que alguns segundos a partir do momento que se tira o saco gestacional de dentro do útero, não havia como ter outra pessoa, tinha que ser ela, entende? 

— Mãe...

— É como se fosse destino. Ana nunca teve nem mesmo um resfriado, o coração milagrosamente nunca afetou nenhum outro órgão, ela é a pessoa mais saudável que já conheci...

— Mãe, ela só tem dezenove anos.

— Eu queria uma parte de sua irmã aqui, eu sabia que ela não poderia mais ser salva, mas o bebê tinha uma chance, sabe? Ele podia sobreviver, seu coração podia continuar batendo.

Sua mãe parecia não o escutar, entretida em apenas desabafar tudo o que vinha guardando há semanas.

— A mãe dela concordou, nunca houve risco nesse sentido para Ana, e claro que nós vamos pagar por tudo, e ela não terá que cuidar do bebê. São só alguns meses e ela terá sua vida como sempre quis.

— Então, se ela concordou, qual é o problema agora? Ela não quer mais?

Ele não havia se recuperado das informações, mas estava tentando seguir a linha de raciocínio de sua mãe. 

— A mãe dela concordou - sua mãe foi firme.

Ele estava prestes a insistir em saber o que havia de errado, quando percebeu realmente o que sua mãe havia dito.

A mãe havia concordado... A mãe, não a garota.

— Ela não sabe - confirmou.

Grace balançou a cabeça em concordância.

× ×


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Notas finais do capítulo

Aaaai meu dengo, não achem estranho kkk tão gostando? Ta chato? Logo logo Christian e Ana vão se encontrar, provavelmente no próximo capitulo #spoiler ate a próximo,
xoxo



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