O Intruso escrita por thierryol1


Capítulo 5
A Borboleta Escarlate




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767726/chapter/5

"Como eu faço para poder fugir de mim mesma?"

 

Uma pequena borboleta vermelha pousava na janela. A pequena criança parou de chorar e começou a fitar o inseto. Suas asas balançavam lentamente, com sua cor carmim, causando uma sensação estranha na pobre criança. Uma sensação... feliz...

*****

Abel terminava de enrolar o corpo de Walter no tapete enquanto Lucie lavava suas mãos e braços no banheiro. Roger estava sentado nas escadas, com a mão na sua ferida.

Lucie estava com vontade de chorar, de sair correndo. Mas não podia. Não até que tenha feito tudo necessário. Passou uma água no rosto e se recompôs antes de descer as escadas e falar com os garotos.

— Então... O que vamos fazer? – A garota perguntou.

Abel olhou para Roger, que suspirou profundamente antes de soltar algumas tarefas.

— Vocês precisam dar um jeito no corpo. Jogar ele num rio ou lago, pois assim as chances das suas digitais permanecerem no cadáver são menores. Depois precisam dar um sumiço na arma do crime. Depois precisam limpar toda a casa.

— Meu deus... Não acredito que vamos fazer mesmo isso... – Abel resmungou, descrente.

— Antes precisamos fazer algo. – Lucie disse, num tom frio, atraindo a atenção dos garotos. – Precisamos ir até um local movimentado e atrair atenção de alguma forma.

— Acho que não entendi... – Abel falou, com curiosidade.

— Um álibi... É isso! – Roger respondeu e a garota acenou positivamente.

— Ainda acho melhor chamarmos a polícia...

— Escuta Abel... A Lucie... Quer dizer, nós, matamos um cara. Você quer mesmo chamar a polícia?

— Mas foi legítima defesa, porra!

— E você acha que com o tio do Walter nós vamos conseguir sair impunes disso? Ele vai virar o jogo contra a gente e nós ainda seremos presos! – Roger respondeu.

— Tudo bem, vamos...

— Lucie? Você tá falando sério? – Abel questionou.

— Para de perder tempo e me ajuda a colocar Walter na sua caminhonete!

Roger pressionou a camisa mais forte contra a ferida. Parecia estar cada vez pior.

"Isso não deveria ter acontecido..." – Pensou Roger, ansioso.

Nesse momento Roger deu um gemido, a dor e o sangramento estavam aumentando. Lucie desceu alguns degraus e apoiou suas mãos nas costas de Roger.

— Ei... Precisamos levar você num hospital.

— Não! – Roger gritou. – Vocês vão, e façam tudo certo. Eu vou ficar aqui e limpar a casa.

— Mas Roger...

— Não Lucie, vocês precisam ir. Eu vi um kit de primeiros socorros num quarto no segundo andar, eu vou ficar bem até tudo estar acabado.

Abel olhou para a garota com um olhar de preocupação. Os dois deixaram Roger lá e saíram carregando o corpo de Walter para a caminhonete de Abel após trocarem suas roupas.

*****

Já era o terceiro dia que a borboleta pousava na janela do quarto da pequena criança. A mesma correu até sua escrivaninha, que ficava bem em frente à janela, sentou-se e ficou observando a borboleta vermelha.

Após alguns dias, a borboleta ainda aparecia, ficava um pouco e depois voava para longe novamente. Com o passar do tempo, aquela borboleta cor de sangue começou a se tornar a esperança daquela criança... Esperança de um dia ser livre, como o pequeno inseto.

*****

— Senhora? O que vai querer?

O garçom fitava Lucie, que olhava para o cardápio sem piscar.

— Lucie? – Abel cutucou a garota algumas vezes, até ela voltar em si.

— Hm? Ah, pode me trazer apenas um sorvete de baunilha.

O garçom saiu e deixou os dois na mesa. Abel batia seus dedos na mesa, mostrando preocupação. Lucie pegou em sua mão e disse para ele se acalmar. O garoto apenas sorriu. Ela queria mostrar confiança, mas por dentro estava em estado de choque.

Ela tinha matado um homem e agora estava alterando uma cena de crime com outra pessoa.

A garota respirou fundo. Eles ficaram mais alguns minutos na lanchonete até seus pedidos chegarem. Esperaram cerca de quinze minutos até levantarem e irem pagar a conta na recepção.

Lucie começou a ficar ansiosa. Quando a moça da recepção estava prestes a entregar o troco, ela puxou Abel pelo braço e lançou o rosto em direção ao dele. Os dois deram um beijo rápido pois Abel se assustou e recuou.

A atendente ficou observando os dois. Abel deu um sorriso sem graça, pegou seu troco e saiu da lanchonete com Lucie. Após alguns minutos caminhando em silêncio total, Lucie diz:

— Droga, por que você teve que estacionar o carro tão longe?

— Por que você fez aquilo? – Abel parou de repente. Ele parecia contrariado.

Lucie hesitou por alguns segundos. Então ela suspirou e respondeu:

— A lanchonete estava cheia e ninguém reparou na gente. A atendente nem sequer ia olhar na nossa cara. Eu precisava fazer algo para ela notar a gente e ver os nossos rostos, e o beijo foi à primeira coisa que veio na minha mente.

Abel ficou parado, a alguns passos da garota, por alguns instantes. Então ele começou a andar novamente em direção ao carro.

— Eu estacionei longe para ninguém perceber que tem um tapete manchado de sangue na caminhonete.

*****

— Está quase na hora...

— Então, você vai me mostrar sua outra amiga? – A pequena criança morena perguntou.

— Eu não tenho certeza...

— Tá tudo bem, eu não sou como as outras crianças que ficam te atormentando, eu já provei isso. Você pode confiar em mim.

— ... Tudo bem... Vem, para o meu quarto.

As duas crianças sentaram na cama e ficaram esperando, olhando para a janela, até que a pequena borboleta carmim pousou.

— Uma borboleta? Essa é sua nova amiga?

— S-sim...

— Ei, eu não estou te julgando! Então me fala, o que ela representa pra você? – A garotinha morena perguntou à outra, curiosa.

— Que tipo de pergunta é essa Rachel?

— Ué, eu queria saber o que essa amiga sua representa para você. Vai que ela rouba meu lugar...

A borboleta vermelha voou até a mão da pequena loira. A criança olhou-a em suas mãos.

— Essa borboleta... É minha liberdade, Rachel. A liberdade e felicidade que eu tanto busco. – Os olhos da garotinha se encheram de lágrimas. – Ela sempre volta para me lembrar de nunca deixar de ter esperanças...

A pequena garotinha branca soltou a borboleta de suas mãos e ela começou a voar para longe. A menina abraçou sua amiguinha Rachel e disse:

— Mas ninguém nunca vai roubar seu lugar. Você é a pessoa que eu confio... A única pessoa que eu confio.

*****

Com o barulho da queda do corpo de Walter na água, alguns pássaros voaram das árvores próximas. Lucie e Abel já tinham enterrado a faca e a arma num terreno afastado da cidade. Agora era só esperar que tudo acontecesse como planejado.

Após uns quarenta minutos a caminhonete de Abel estava estacionado na porta de Lucie.

— Você vai ficar bem mesmo? Tem certeza? – Abel perguntou. Tinha sido a primeira coisa que ele havia falado desde que enterraram a faca.

— Sim... Tudo bem, você ainda precisa lavar a caminhonete...

Os dois se despediram apenas com um aceno de cabeça. Happy estava brincando do lado de fora da casa. Lucie entrou em casa e notou que o sangue de Walter tinha desaparecido do chão.

— Roger? – Ela gritou, mas não obteve resposta.

Verificou todas as salas do primeiro andar, mas não encontrou o garoto. Começou a ficar ansiosa, e correu até o segundo andar, mas também não encontrou ninguém.

— Roger... Onde você está?

*****

A pequena garotinha esperou, mas a pequena borboleta escarlate não tinha aparecido ainda. Enquanto ela esperava, uma sensação ruim invadia seu peito. Quando ela ouviu algumas risadas de crianças, ela saiu correndo, sem pensar duas vezes.

Ao passar pela porta, ela ouviu sua mãe gritando da cozinha:

— Lucie? Lucie, você está proibida de sair de casa, lembra? Não ouse me desobedecer!

A garota não se importou, ela apenas corria atrás das vozes das crianças, até chegar ao grupo de colegas da sua sala. Os mesmos que viviam maltratando-a na escola. Mas tinha algo a mais.

Dois deles estavam segurando uma asa vermelha cada. E Rachel estava segurando o corpo da frágil borboleta, que ainda se mexia, agonizando de dor.

A pequena Lucie ficou parada. Lágrimas frias começaram a descer pelo seu pequeno rosto. Sua esperança. Sua motivação. Sua ideia de liberdade estava ali, sendo destruída por aqueles garotos que ela odiava.

Eles começaram a gritar e debochar da garota, como sempre. Mas ela não ligou. Não dessa vez. Ela caminhou lentamente até Rachel, e deu uma bofetada na sua cara. A garota ficou em estado de choque. Lucie deu outro tapa na cara dela, que gritou e caiu no chão. Os outros garotos pararam de importunar Lucie e apenas ficaram parados, olhando a garota subir em cima de Rachel e começar a dar-lhe tapas sem parar.

— Eu confiei em você! Você disse que era diferente! Você... Matou... Minha... ÚNICA... Amiga! – Lucie gritava enquanto esbofeteava Rachel.

Subitamente a mãe de Lucie a pegou pelo braço e foi arrastando-a para dentro de casa, enquanto a garota berrava:

— Eu odeio você Rachel! EU ODEIO VOCÊ!

*****

Após tomar um banho quente, Lucie vestiu seu roupão. Estava prestes a ir dormir, mesmo sabendo que não iria conseguir. O dia tinha sido horrível, e ela ainda não sabia onde e como Roger estava.

O relógio marcava quatro e quarenta da madrugada, quando um barulho foi ouvido na cozinha. Lucie ignorou de primeira, até ouvir novamente.

— Roger? É você?

Quando a garota desceu as escadas e entrou na cozinha, se deparou com alguém sentado na cadeira do outro lado da cozinha.

— Roger? – Lucie pergunta, sua voz está trêmula. Está muito escuro e a pessoa está com a cabeça abaixada.

De repente, o desconhecido levantou da cadeira, revelando estar usando uma máscara de gás, uma roupa toda negra com uma caveira em formato de borboleta na camisa. Lucie desesperou-se e começou a correr, mas o intruso começou a correr na direção dela, empurrando-a e jogando no chão.

Lucie começou a rastejar o mais rápido que pode, tentando fugir, mas o mascarado pisou em suas costas. Ela começou a gritar, mas o desconhecido a puxou pelos cabelos e tapou sua boca. Ele começou a arrasta-la para o segundo andar. Ela tentava gritar e se debruçava, na esperança de se soltar, infelizmente ele era mais forte que ela.

Quando estavam entrando no quarto, a garota agarrou a porta e deu uma cotovelada no mascarado, conseguindo se soltar. Mas quando ela começou a correr, o intruso a puxou pelo braço e perfurou o pescoço da garota com uma seringa.

A garota ainda tentou correr, mas suas vistas e sentidos começaram a embaralhar, fazendo cair no chão. O mascarado caminhou lentamente até ela, se agachou e disse com uma voz abafada e modificada graças à máscara:

— É hora de você pagar pelos seus pecados, senhora Freewood...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Intruso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.