O Intruso escrita por thierryol1


Capítulo 4
Salvador Desconhecido




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767726/chapter/4

"Não se preocupem papai e mamãe. Eu também não me escolheria."

 

Os olhos de Walter eram escuros e tinham um brilho demoníaco. A garota pensava em um jeito de fugir, mas sabia que o homem não hesitaria em mata-la. Lucie tentava empurrar Walter, mas este era bem mais forte.

Ele começou a desabotoar violentamente a camisa da garota, que estava aos prantos. Puxava seus cabelos loiros e beijava seu pescoço, causando um sentimento horrível de nojo que ela pensou que nunca mais iria sentir.

Numa ultima tentativa, ela o empurrou com toda a força que ainda tinha e gritou:

— Me deixe em paz, Julius!

Walter tapou a boca da garota, mas ele ficou ali, parado e confuso.

"Julius? Meu nome não é Julius..." – Pensou.

— Acho que a ouvi pedindo para você deixa-la em paz...

— A voz ecoou na rua vazia enquanto um vulto se aproximava deles, mas Lucie já havia reconhecido aquela voz.

Walter olhou firmemente, tentando ver quem estava desafiando-o, até que a pessoa lentamente se aproximou e foi possível ver sua cara. Ele soltou Lucie e apontou a faca em direção ao pescoço dela.

— Abel, cuidado... – Lucie disse, tentando engolir o choro.

Abel estava sério, olhava fixamente para Walter.

— Então, você vai soltar ela ou vou ter que chamar alguns amigos? – A sua voz era firme e desafiadora. – Sabe Walter, tem muita gente querendo te dar uma lição, você andou aprontando muito estes últimos tempos...

— Abel Walsh... Quem diria que o antissocial da vila era um salvador desconhecido! – Walter provocava. – Sabe, não sei qual bruxaria você quer fazer com essa bonequinha, mas eu a vi primeiro, então se você não quiser se machucar, sugiro dar o fora.

— Não é você quem tem que sugerir nada aqui, Walter.

— Abel respondeu, ainda com sua postura fria.

O homem soltou Lucie e foi se dirigindo aos poucos até Abel, com a faca levantada. A garota ficou parada, não conseguia se mover.

— Você é muito intrometido, Abel. Você sabe o que costuma acontecer com pessoas que se metem nos assuntos alheios? – Walter ia desfilando lentamente em rumo a Abel, que continuava parado.

— Então me diga, Walter... O que acontece com quem se mete nos seus assuntos? – Uma voz vinda do outro lado da rua fez com que todos se focassem em Roger, que estava ofegante.

— E quem é você? – Walter já não estava entendendo mais nada.

— Acho que isso não vem ao caso. – Roger correu até Lucie, que estava agachada no chão, sem reação. – O que vem ao caso, é que o melhor pra você é deixar eles em paz, antes que eu chame a polícia!

Walter sabia que no rumo que as coisas estavam, seria difícil dar uma lição neles sem que mais pessoas aparecessem. Com muitas testemunhas, seria difícil até mesmo para seu tio tira-lo da prisão.

— Vocês ganharam... Por enquanto. – Ele começou a se distanciar aos poucos. – Mas podem ter certeza, isso não vai ficar assim.

Os três ficaram ali, parados, até não conseguirem mais ver a sombra de Walter. Abel então correu até Lucie e começou a verificar se estava tudo bem, mas a garota, que estava aos prantos, só o abraçou.

— Está tudo bem agora, garota. Tudo bem. – Abel sussurrou em seu ouvido.

*****

O barulho de água fervente que vinha da chaleira era calmo. Abel fazia um chá de camomila para Lucie, que estava na sala com Roger.

— Obrigada novamente... Se vocês não tivessem chegado...

— Tudo bem Lucie, você já nos agradeceu demais. Eu só queria entender por que você saiu correndo daquele jeito? Eu te fiz alguma coisa? – Roger perguntou, inquieto.

Nesse momento Abel entrou na sala com uma bandeja.

— Sobre o que falavam? – Perguntou Abel, enquanto servia chá para os outros dois.

— Eu só estava perguntando para ela, por que ela saiu correndo lá de casa, eu realmente fiquei sem entender.

— Desculpa Roger. É que... Você foi muito legal comigo, sua casa é muito confortável, mas eu vi uma coisa que me fez lembrar o meu passado... Então me senti muito mal e resolvi ir embora. – A garota respondeu, sem olhar nos olhos do garoto.

— Por que você tinha ido a casa dele? Eu não entendi quase nada dessa história... – Abel parecia muito curioso.

— Bem, eu conheci Roger na padaria, hoje mais cedo, e ele pediu para eu autografar uns livros para ele, então a gente foi até a casa dele. Chegando lá, Roger me mostrou sua coleção de discos de vinil, e começamos a ouvir. Estava um clima muito bom, até Roger vir com uma caixinha de madeira. Quando ele abriu e me ofereceu, eu fiquei muito angustiada. – Responde Lucie, com a voz mais calma.

— Oh merda, desculpe, eu... Eu não sabia que você ia se ofender por eu usar... Esse tipo de coisa... – Roger tentou se desculpar, com vergonha. Lucie apenas sorriu e acenou a cabeça para ele.

— Então, o que tinha nessa caixa de madeira? – Abel questionava, ansioso.

Lucie olhou para Roger, como se perguntasse algo, e o garoto somente fez um aceno positivo com a cabeça.

— Bem quando eu vi todas as aquelas drogas... Dentro da caixa, eu fiquei perplexa. Eu sei que Roger não teve a intenção de me lembrar disso, mas minha mãe era uma viciada... E ela me fez muito mal por causa das drogas. E ver todos aqueles alucinógenos... Me fez voltar na época...

Abel olhava Roger com curiosidade.

— Espera um pouco... Você é, pelo menos, maior de idade garoto?

— Eu tenho dezenove.

— Seus pais sabem que você usa drogas? – Abel parecia muito surpreso com Roger.

— Eu não moro com meus pais há três anos.

— E onde você consegue dinheiro para comprar isso?

— Cara, você é policial ou está querendo me namorar? Pra quê tantas perguntas? Você mora aqui não é? Como é possível ficar tão surpreso se todo mundo sabe que é muito fácil conseguir drogas em Vila Obélia? – Roger parecia confuso, ele sabia que todo mundo que morava na vila sabia dessas coisas.

— Tá certo, desculpa cara.

— É... Nós já sacamos o porquê de você ter ficado mal. – Roger e Abel tentavam reanimar a garota, mas o dia foi bem estressante pra ela.

— Bem, vocês querem ver um filme ou algo assim? - A garota até tentou esforçar um sorriso, mas seus lábios não se mexeram.

— Ah, não, pelo menos não eu... Já está tarde e amanhã preciso trabalhar.

— Você ainda não me disse com o que trabalha, Abel... – Lucie perguntou.

— Não é um trabalho muito criativo ou legal como o seu, eu sou só um designer gráfico, haha.

— Ora, não desdenhe assim, eu queria ser um designer gráfico! – Roger bufou, brincando.

— Sério? Bem, eu posso te ensinar o básico qualquer dia.

— Eu ia adorar!

— As únicas duas pessoas que eu conheço se tornando amigos e me abandonando, que lindo. - Lucie brincou, forçando um sorriso.

— Amigos? – Roger pergunta.

— Bem, eu não qual o nome de quem salva outra pessoa, mas pra mim isso é amizade... – Lucie responde.

— Bem, eu posso te levar para o clube de literatura, amanhã, se você quiser conhecer novas pessoas. A gente se reúne todas as quintas feiras. – Abel oferece, sorrindo.

— Eu não sei... Eu acho que seria bom para relaxar, mas eu estava com planos de começar a escrever meu novo livro amanhã.

— Ah, então tudo bem... Mas você é sempre bem vinda e pode aparecer por lá quando quiser...

Os três ficaram conversando mais um tempo e rindo, até Abel sair para buscar seu casaco, que deixou na cozinha. Quando ele passou pelo hall de entrada, notou que a porta estava toda aberta.

— Ei, Lucie! Você deixou a porta aberta?

Antes que Abel pudesse se virar em direção à sala novamente, sua cabeça foi acertada por um jarro de vidro, fazendo-o cair no chão. Sua vista estava embaçada demais para ver quem era e ele apenas ouviu seus passos correndo para o rumo da cozinha, enquanto tentava se levantar.

Roger veio andando até ver Abel cambaleando no chão.

— O que aconteceu? Se sente mal? – Perguntou o garoto enquanto ajudava-o a se levantar.

— Tem alguém aqui... Me acertou com... Com um vaso ou algo assim...

Lucie apareceu, vindo na direção deles. Ela estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, mas um grande estalo foi ouvido da cozinha.

Roger e Abel pediram para Lucie esperar e foram até lá. Quando entraram na cozinha, alguns pratos estavam quebrados no chão e a janela estava aberta. Roger pegou uma faca que estava em cima do balcão. Ele já tinha visto aquela faca antes, mas não teve tempo de dizer nada, o grito de Lucie fez com que eles corressem até o saguão novamente.

Walter estava subindo as escadas com a garota, com uma pistola em sua cabeça.

— Eu não disse que isso não ia ficar assim? Pois é, vocês quiseram me desafiar, então subam aqui agora, salvadores! – Walter grita, pressionando a pistola mais forte contra a cabeça de Lucie.

— Mas que porra... – Antes que Roger pudesse falar mais alguma coisa, Abel começou a subir as escadas com muita pressa. – Abel! Espere! Ele está armado! Merda! – Roger tentou gritar, mas Abel não deu à mínima.

Roger não teve outra opção a não ser subir também as escadas, em direção aos outros. Ao chegar ao segundo andar, ele apenas ouviu um grito de Lucie seguido pelo barulho de um disparo.

Abel caiu no chão, com o braço sangrando. Roger foi até ele o puxou para o quarto mais próximo enquanto Walter ia debochando da cara deles.

— O que vamos fazer?! – Perguntou Roger, rasgando um pedaço da manga de Abel.

— Tudo bem, tudo bem... O tiro pegou de raspão, a bala não entrou. – Respondeu Abel, ofegante.

— Você fica quieto aqui, tá legal? Vou tentar pegar uma faca ou algo assim! – Roger passou a mão no rosto de Abel, antes de se levantar e sair do quarto.

Um segundo disparo foi ouvido.

Roger olhou em direção a Walter, que efetuou o tiro para cima. Ele deu uma risada escandalosa e Lucie aproveitou a distração. Ela deu uma cotovelada na barriga do atirador, fazendo-o recuar.

Quando começou a correr, Walter foi mais rápido e puxou-a pelos cabelos. A garota começou a gritar e Roger correu e deu um murro no rosto do homem, fazendo com que Lucie caia no chão.

Walter começou a socar Roger repetidas vezes, mas o atirou no chão quando viu Lucie ir atrás da arma, que ele havia deixado cair. Ele correu e pisou na mão da garota alguns centímetros antes dela conseguir alcançar a arma.

— Boa tentativa, gatinha... – Ele sorriu e chutou a garota na barriga, que soltou um gemido e se contraiu.

Após pegar rapidamente a arma novamente, ele começou a arrastar a garota pelos pés em direção à escada, mas foi surpreendido por Abel, que saltou em seu pescoço e tentou o asfixiar.

Walter foi perdendo o controle tentando tirar Abel de seu pescoço e não percebeu que estava indo rumo à escada, fazendo os dois caírem e rolarem até o primeiro andar. Com o peso de Walter e o impacto Abel ficou desacordado.

Roger e Lucie desceram a escada, Lucie tentou correr até a porta principal, mas Walter a pegou pelo braço. Roger pegou um caco de vidro, que estava no chão desde que Abel tinha sido atingido pelo vaso, e correu até Walter, enfiando o pedaço de vidro nas costas do homem, que soltou Lucie e deu um grito.

Walter vira em direção ao garoto, após retirar o vidro e jogar no chão.

— Você vai pagar por isso... – O homem diz com a voz furiosa.

Lucie pega o vidro e enfia-o novamente nas costas de Walter, que se ajoelha gritando outra vez. Lucie corre até o segundo andar novamente, procurando seu telefone, enquanto Roger tenta pegar a arma da mão do homem, que retira o vidro de suas costas e perfura a barriga de Roger, que solta um gemido abafado.

Walter se levanta e vai correndo atrás de Lucie, enquanto Roger fica sangrando, deitado no chão. Abel, nesse momento, começa a acordar e corre, tropeçando, até Roger.

— Roger, respira fundo, vai ficar tudo bem! – Abel tira sua blusa e amarra na barriga de Roger, bem forte. - Isso vai dar um jeito no sangramento, por enquanto. Eu vou chamar a polícia!

— Não! – Roger puxa Abel pelo braço e segura em seu pescoço. – Por favor, não chame a polícia!

— Eu tenho que chamar a polícia, eles vão... – Antes que Abel pudesse terminar a frase, Roger o puxou pelo pescoço e o segurou forte. Abel não conseguia entender mais nada, nem sabia o que fazer.

No segundo andar, Walter corria atrás de Lucie pelos corredores, até que a garota chegou até o corrimão. De lá ela olhou para baixo e viu Abel e Roger abraçados. Ela não teve tempo de gritar, Walter vinha correndo em sua direção. Quando ele ia agarrar Lucie, ela pulou para o lado e o empurrou, jogando-o do segundo andar.

Ao cair, Walter ficou imóvel. Lucie ficou parada, olhando para baixo com os olhos arregalados. Abel se levantou e foi caminhando até o homem.

A garota correu até o primeiro andar e checou como Roger estava. Ele se lembrou da faca de Walter que ele havia pegado na cozinha e estava em seu bolso e entregou-a para Lucie, alegando:

— Você precisa dar um jeito no corpo e em qualquer evidência que prove que Walter esteve aqui...

Enquanto Roger ia dizendo coisas sinistras para a garota, Abel procurava a arma no corpo de Walter. Após não encontrar, parou e focou em Roger.

“Por que ele havia o segurado? Por que tanto medo em chamar à polícia? O que Roger escondia?” — Pensava.

Abel ficou tão perdido em seus pensamentos que nem notou Walter acordando, até ele socar e jogar Abel no chão. O homem subiu em cima dele e começou a enforca-lo.

Abel não conseguia gritar, e Walter o asfixiava cada vez mais forte. Suas vistas já estavam desfocadas quando um jato de sangue acertou seu rosto, então Walter caiu para o lado, com o pescoço cortado.

A figura de Lucie, em pé, com uma pequena faca suja de sangue nas mãos o fez perceber o que tinha acabado de acontecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Intruso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.