Hold on escrita por Brru


Capítulo 2
Terrível baile




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— Mamãe! - Mariana gritou quando a velha apertou ainda mais os cordões de seu espartilho.

— Os bons moços costumam observar se sua futura esposa tem uma boa postura, minha filha.

— Bom, disso eu sei, no entanto, sinto que a senhora está tentando me matar. Quase não respiro. Meu seios estão apertados demais, e Deus! Passarei a noite inteira de pé?

— E por que haveria de se sentar? Se está em um baile, é válido que circule por todos os lados, inclusive à beira dos rapazes.

— Então, eu estava certa.. - Mariana olhou para irmã que olhava pela janela. Julieta sentia o vento frio bater em seu rosto. O Dia estava cinza, como no dia em que seu pai morreu, ela estava com o peito apertado, não tinha um bom pressentimento. -... Mamãe deseja livrar-se de nós a todo custo.

— Você tem grades chances de sair com um noivo desse baile, Mariana. - Julieta disse ainda presa a corrente de ar frio, mas respirou fundo e olhou para irmã, forçou um sorriso e tentou disfarça seus olhos marejados. - Você é linda.. Jovem, tem um sorriso encantador.

— Você também, minha irmã.

— Mas já estou no vale das solteironas.. Ninguém haveria de querer se casar com uma.

Mariana sorriu.

— Você é tão tola, Julieta. A de ver que esta errada.. Os homens cairão aos seus pés. MAMÃE! - Mariana gritou novamente quando sua mãe outra vez tentava deixar seu vestido mais justo.


Julieta sorriu fraco da situação, e retirou-se do quarto de sua irmã. Ao passar pelo corredor viu seu reflexo no espelho. Não era uma mulher feia, ao contrário, era como sua irmã havia dito, também era linda, deslumbrante. Vestia um vestido com fendas vermelhas, pretas e ao alcançar dos seios.. douradas. A boca estava naturalmente avermelhada e o rosto levava pouca maquiagem. Seu objetivo nesse baile nunca fora chamar a atenção de nenhum homem, já havia perdido as esperanças há muito tempo, sabia perfeitamente que jamais casaria-se, no entanto, Dona Guadalupe, sua mãe, a fizera vestir seu melhor vestido.. Pobre mãe, pensou. Então, la estava. Com luvas que iam até seus ante-braços, cabelos desenhados em um perfeito coque e com seu consciente insistindo para que ela não fosse a lugar nenhum.

Mas não poderia deixar de ir. Havia um grande motivo para ir aquele baile, um homem, um misterioso homem, que por mais que insistisse, não saia dos seus pensamentos. Era como uma perseguição, a qualquer lugar que ia sempre ouvia alguém dizer algo sobre o mesmo, e sua curiosidade de vê-lo mais de perto só aumentava. Gostaria de ouvir sua voz... Aproximar-se o máximo possível para saber de suas preferências. Não estava apaixonada, não. Como haveria de estar? Mal o conhecia. Mas desejava saber mais, talvez, ali sua curiosidade por esse homem acabasse.

...


— Então, Afonso.. - Aurélio disse aproximando-se de seu servente. - Todas as moças da região estão aqui?

— Sim, senhor! Algumas vieram de São Paulo.

— Hmm- disse o homem observando o vai e vem de pessoas. - Tem certeza que todas já chegaram?

— Pela quantidade de pessoas, creio que sim.-sorriu olhando para o seu Senhor. - Já está apaixonado, não é?

Aurélio lhe lançou um olhar mortal, e Afonso se pôs cabisbaixo.

— Todas são iguais, Afonso.

— Como, senhor?

— Bom, as formas.. Dancei com mais de cinco delas, e todas falavam de suas vidas rotineiras e monótonas.

— E não era isso que senhor estava procurando? Damas, mulheres que seriam ótimas mães? Todas tem sua honraria, senhor. Pedigree.

— Bom, meu objetivo não é morrer de tédio.

— Diz sobre a companhia? - Aurélio assentiu.

— Bem, me atrevo a lhe dizer que o senhor quase não para em casa.. Sempre chega tarde.. Não faria muita diferença.

— Tem razão. - suspirou. - Irei ao meu escritório e quando retornar escolherei uma.


Escolheria a mulher que lhe daria um filho. Seu herdeiro. Ambos viveriam sobre o luxo e regalia que poucas pessoas tinha a oportunidade de desfrutar naquele Vale. Aurélio, só não poderia prometer a ela, a escolhida, amor. Ele mesmo tinha certeza que aquele sentimento já não fazia parte de si.. E ela teria que conviver com isso, até que finalmente ele morresse.


Julieta pôs o pé no primeiro degrau da escada da porta de entrada do baile e blasfemou. Estava encharcada. A chuva havia invadido a carruagem que as levava, e como sempre nunca tivera sorte, o vento estava mais forte do seu lado trazendo os pingos mais fortes de encontro ao seu rosto.

— Infernos!

— Julieta! - sua mãe a advertiu. - Você está ótima.

— Não, mamãe! Você está ótima, Mariana está ótima. Eu pareço um apunhado de tecido molhado..

— Daremos um jeito. - a mãe disse preocupada.

— Vamos, estamos atrasadas demais para ficarmos de conversa. - disse Mariana que agora parecia animada para o baile.


Cavalheiros ajudaram ambas a terminarem de subir os degraus. Dona Guadalupe e Mariana logo se deslumbraram com tanto luxo e delicadeza. No entanto, Julieta não desejava apresentar-se da forma que estava. Procuraria por um espelho, ou algo que pudesse melhorar sua terrível aparência. Rapidamente livrou-se da companhia de sua mãe, e fora na direção oposta do salão de festas. Enquanto andava pelos corredores intermináveis, perguntava-se quantos quartos haveriam de ter naquela casa.. Talvez milhares de empregados, e Deus, como conseguiam monitorar tudo?

— Rústico, mas belo. - ela comentou, enquanto seus pequenos dedos enrugados de frio sentiam a verdadeira porcelana de um jarro. Andara mais a frente e vira uma enorme porta com duas folhas, sua curiosidade quase a fizera abrir a mesma. Mas sabia perfeitamente porque estava do lado oposto da festa, apenas precisava de um espelho.

E o encontrou logo a frente.

— Deus! - gruinhou quando viu-se no mesmo. - Estou um perfeito desastre.

E realmente estava. Todo seu perfeito vestido estava amarrotado, os cabelos desalinhados e o pouco de maquiagem que havia posto, já não existia.

Seu espartilho estava com seus fios soltos, deixando seu vestido frouxo em sua cintura. O que faria?

— Preciso ir-me daqui! - disse. Mas não poderia ir sem sua mãe e sua irmã...- Infernos, mil vezes infernos! - blasfemou, blasfemou. E então conseguira chamar a atenção do homem que estava atrás da enorme porta de duas folhas.

Aurélio viu o pequeno corpo andar de um lado para o outro, e sem deixar que a mulher enfurecida o visse, passou a observar-lá. Chegou a sentir um pequeno riso no canto dos lábios, mas se conteu.. Vira o rastro de água pelo chão, e supôs que a senhorita havia sido pega pela chuva... Então, entendeu sua fúria.

Julieta ainda olhava-se no espelho quando as poucas velas que iluminavam o corredor apagaram-se.

— Maldito vento! - murmurou, tentando colocar seu coque no lugar. Sobraram apenas três velas ao seu lado esquerdo, e ela teve que se contentar com a pouca luz. - Espero que todas as luzes dessa casa se apaguem, assim, essa porcaria de baile acabará... - respirou fundo. - E eu nem ao menos irei vê-lo. - sua voz se pôs tristonha.

Aproveitou para livrar-se de suas luvas também, nada poderia ficar pior. Aquela estava sendo uma das piores noites de sua vida. Seu pressentimento estava certo, devia ter ficado em casa, em sua cama, satisfeita com seus sonhos com ELE.. pelo menos tinha a dádiva de vê-lo perfeito, nos seus devaneios ele sorria... sorria para ela...

— Devo avisá-la, senhorita, que a festa fica do outro lado da casa. - uma voz grave a fez assusta-se.

— Bom, sei disso.. Precisava apenas ver-me.

— Sugiro que você não fique por muito tempo aqui..

Julieta enfureceu-se, apenas por um instante, porque sua visão, mesmo que pouco por causa da escuridão vira ele refletido no espelho. Ele estava atrás dela, com o queixo erguido, com os braços atrás de seu corpo e com seus olhos azuis vibrantes. Ela viu o reflexo do fogo no céu azul. Era ele, bem mais alto do que ela sempre imaginou, ombros largos, cabelo perfeitamente alinhado, e poderia está ficando louca, mas parecia sentir seu peito sobre suas costas.

Virou-se para então vê-lo com mais detalhes, e só então, percebeu que não respirava.

— A senhoria está bem?

— S-sim.. - gaguejou. Buscou por suas luvas, e o olhou por mais um tempo. Não conseguia ler nada em seus olhos, nem mesmo em suas expressões. Sim, era um homem ardentemente, frio, e o oposto fora feito, acabara de perceber que naquele exato momento só ficara mais curiosa sobre ele... Sua ruína estava feita.- Com licença. - falou, e se afastou aos poucos, mas ele a segurou pelo braço, e a trouxe exatamente para o mesmo lugar onde ela estava segundos atrás. Ela arrepiou-se com o toque de sua pele quente, e percebeu que Aurélio também havia sentindo algo.

Ele, logo a soltou e afastou-se. Havia sofrido um choque? Por que diabos seus dedos estavam formigando? E quem diabos era aquela mulher? Afonso o prometera que havia convidado apenas damas de alta classe, no entanto, a mulher que estava em sua frente, e que ha minutos atrás blasfemou como um jovem libertino não tinha nada de fineza.. Ou..

— O que esta fazendo? - ela perguntou alisando seu braço, onde o mesmo havia tocado.

— Não pode simplesmente deixar deixar-me sozinho. - ela franziu o cenho.

— E por que não? Se fora o senhor mesmo que disse que eu não poderia ficar por muito tempo aqui..

— Disse que, apenas deixe-me acompanhá-la..

— Não será necessário.. Estou decomposta, como pode ver. Não seria nada agradável para sua imagem aparecer no salão de festas com uma mulher assim.. Haveria rumores.

— Não vejo nenhuma possibilidade disso acontecer.

— Por que? Pareço não estar a sua altura?

Então, pela primeira vez ele parou para observar-la.. Os cabelos apesar de desalinhados eram sedosos, a pele leitosa como a leve que uma vez vira, os lábios cheios, olhos arredondados, não sabia exatamente a cor, estava muito escuro para tanto.. O seu colo era extremamente atrativo, e apesar do vestido solto demais, ele poderia imaginar perfeitamente o tamanho do seus seios. Suspirou e olho-a nos olhos. Poderia se apaixonar por essa mulher, ah, sim.. Poderia. Era o perígo em carne viva, fugaz, brava e afrontosa. Sentia por sua respiração que ela estava furiosa, e a ponto de dá-lo um soco... E ele, só queria, naquele momento.. beijá-la..

Julieta esperou por sua resposta, mas não a teve, e saiu pelos corredores como um felino bravo, muito bravo.. Não ouviu passos atrás de si, e não entendeu porque não estava satisfeita com aquilo.. Queria que ele fosse atrás dela? Não.. Não..

— Não! - gritou, quando desceu os degraus procurando por sua carruagem. Esperaria o baile acabar ali mesmo, escondida entre carros e cavalos.. Pelos tinha Soberano para fazê-la companhia, e o céu que agora estava mais calmo, apenas com leves respingos de água.

Aurélio voltou rapidamente para o salão de festas. A procurou, mesmo contra sua vontade, a procurou. Havia moças de todas as formas, menos uma desalinhada, brava, e com o vestido totalmente terrível. Ele estava procurando pelo terrível.

— Senhor, onde estava?

— Não vem ao caso... Preciso que encontre alguém. Uma senhoria, ela veste algo de cor preta, mas também vermelha...

— O senhor esta bem? Me parece apreensivo.

— Faça o que eu hordenei, Afonso!- disse sério demais, e Afonso percebera que finalmente alguém, conseguira que seu Senhor perdesse totalmente o controle.

— Há moças de vestimentas de todas as cores, seria quase impossível achá-la.. Como se chama?

— Eu não sei! - apertou os punhos, sem tirar os olhos do salão, ela teria que esta ali.

— Senhor, Barão.. - alguém o chamou, quando ele virou-se um fio de esperança de repente o surgiu. - Devo lhe perdi desculpa, mas temos que ir.. - ele não fazia ideia de quem era a mulher que se pronunciava. - Minha filha, Mariana não se sente bem.. - Mariana forçou um sorriso para o homem. - E minha outra filha.. - Guadalupe riu nervosa.. Onde diabos estava Julieta? - Sumiu.

Ele respirou fundo. Tinha que ser ela.

— Como se chama? Caso podemos ajudá-la a procurá-la..

— Não, não será necessário. Julieta é uma moça esperta, não se meteria em nada arriscado. - a mulher mentiu, e Mariana prendeu o riso.

— Julieta. - ele murmurou entre os lábios, nunca ouvira falar daquele nome. - E a senhora como se chama?

— Guadalupe Sampaio.. Esta é minha filha Mariana. - ele rapidamente beijou a mão da moça. - Com licença.. - a senhora disse, e se fora.

— Não me lembro de ter a convidado.. - Afonso comentou.

— Certamente não devia ter o feito... - Aurélio disse andando em direção contrária do baile - Diga a todos que o baile encerrou-se.

Afonso correu atrás de si incrédulo.

— Mas e a noiva? O senhor não a escolheu..

— Sim.. Eu já o fiz.

— E eu posso ter o prazer de saber quem é? - o homem continuava a correr, então Aurélio parou de andar dando descanso ao seu pobre empregado.

— Mariana Sampaio. - disse deixando Afonso arredio.

— Uma caipira?

— Sim.. Iremos a sua casa logo pela manhã.

— Mas senhor..

— Esta surdo, homem?

— Não senhor, mas Mariana? Aquele moça que mal o olhou?

— Eu não lhe devo satisfações.. Apenas faça o que pedi. - ele voltou a andar, e seus pensamentos caíram então de novo em Julieta... Já sabia seu nome, tinha certeza que era ela, sentia que estava prestes a comenter uma loucura... Mas aquela mulher, teria que ser sua.

 


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