Hold on escrita por Brru


Capítulo 19
O querer




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A cama de Julieta de fato não era grande, mas isso não era nenhum impecilho para ambos. Aurélio, deitou-se de lado recebendo o pequeno corpo dela quase embaixo de si, ela se agarrou em sua cintura e fechou os olhos.

— Eu estava com saudades.. - ele confessou.

"que por más que lo niegues yo he sido tu mejor error"

 

— Eu também.. - respondeu, dedilhando suas costas sorrateiramente.

A Escuridão fazia deles dois pecadores violando qualquer norma que era imposta naquela época. Uma mulher sozinha com um homem, e em seu quarto sem serem casados? Os adeptos aos bons costumes estavam há se revirar em seus velhos túmulos. Mas diante de tanto amor, quem seria o miserável a atormenta-los naquela noite? Se a chuva já havia cessado para que suas vozes fossem ouvidas com mais afinco. Se o frio dobrou-se para Julieta quase se fundir ao corpo de Aurélio a procura de aconchego e quentura.

Mesmo que cansaço de uma noite mal dormida lhe atormentasse, Julieta, lutava para não dormir. A sensação de está em contato com ele novamente era inexplicável, quando pensou pela manhã que evitaria vê-lo, nunca imaginou que o destino lhe regalaria esse momento. De fato, era uma surpresa, e tão boa que dormir seria quase como uma falta de respeito a sua sorte. Talvez, aquele sería seu último dia nos braços dele, de sentir seu cheiro presente, teria que desfrutar até que seu corpo a vencesse e que o sono a dominasse. Ainda, lhe acariciava o corpo, hora respirava fundo alimentando sua tormenta por amá-lo, a escuridão não a impedia de alcançar seus cabelos acima de sua nuca e os entrelaçar entre seus dedos; macios como sua pele, como seu beijo quando lhe era de vontade ser carinhoso.

— Não consegue dormir? - a voz de Aurélio soou roca, certamente por ter cochilado em meio aos seus carinhos.

— Imagine se eu dormir e acordar tendo a certeza que esse momento fora só um sonho? - disse, e seus dedos saíram de seu cabelo para o rosto, onde sentiu a barba por fazer dele.

"regálame esos ojos que dan vida a mi vida en las mañanas"

— Não é sonho, Julieta.. - ele se ajeitou na estreita cama, a pondo em cima de seu corpo. - Ligue o abajur. - ela o fez, e a pouca luz iluminou ambos os olhos, a mão de Aurélio acariciou seu rosto ainda tentando a convencer que tudo era real.

— Não, não é.. - cedeu ao toque. - Mas quando você se for, será.

— Já está pensando nisso?

— Sim.. - respondeu. - Quando tempo ficaremos mais sem nos ver? Porque você sumirá, certo?

— O seu lado pessimista me assusta.. - ele sorriu.- Não vou sumir.

— E o aconteceu com o "Desejo que tenha sorte.. Julieta"?

Aurélio riu de lado e encheu o peito para dizer:

— Sua sorte sou eu, assim como você é a minha.. E agora, nos temos.. - ela semicerrou os olhos.

"resuélveme las dudas con tu encanto y así sabrás porque te quiero tanto"

— Eu quero que isso seja de fato verdade.. Mas.. - o suspiro pareceu doloroso, Aurélio reagiu lhe beijando a bochecha..

— Depende de nós.. Você quer?

— Quero, mas quero o Aurélio que confie em mim, apesar do meu deslize.. - confessou, e se afastou dele sentando-se no pouco espaço que restou da cama. - Quero o Aurélio que, divida seus temores comigo, e que me perdoe por ter invadido seu passado de tal forma.. - ela segurou sua mão, e ele de forma confiante entrelaçou seus dedos. - Porquê, necessito que você esteja bem, para que nosso futuro seja glorioso, e com belas surpresas.

— Então, deixe que eu confie em você novamente.. - pediu. - A olho, e sinto que ainda está de recua.

— Eu agora tenho o que nunca tive em minha vida, Aurélio, agora, eu tenho medo..

— E suportaria meus temores?

— Não são eles que me assustam..

— O que então?

— A forma que você toma suas decisões.. - a tensão começou a tomar, certamente por não gostar do rumo que a conversa estava tomando. - Eu.. Eu disse que te amava, e você ainda assim me deixou ir. Ainda repulsa o amor.

— Não afirme isso, por favor. - aproximou-se mais dela. - Se tenho repulsa de algo, não é de amor.. Não percebe o quanto me mudou? Antes de você, amar alguém me era impossível, eu não sei o que há, mas há em você a forma mais leve e sensata de converter minhas aflições em sentimentos bons. - respirou buscando por mais ar, e o suspiro lhe presenteou enchendo seus olhos de lágrimas. Maldita agora era a escuridão, pois os impedia de ve tão claramente a sinceridade que havia nos mesmo.

— Então... Me ama?

— Nunca lhe disse.. Mas, sim. E amo principalmente porque seu amor me cura a cada segundo. - ele buscou puxá-la para seus braços, e Julieta só pôde se acomodar em seu colo. - Aquelas foram as duas semanas mais difíceis da minha vida.. Rosa me tirava sorrisos, mas a falta de ter a você pelos corredores, de ter você, era como voltar ao inferno que um dia me pertenceu.

"...y sana las heridas que sufrí cuando creía que volaba"

— Então, por que não me buscar? Eu estava o tempo todo há esperar um sinal que fosse. - a mão de forma automática voltou para o rosto do homem, os olhos seguiram o singelo movimento até que ela deixou os dedos sobre os lábios dele. - Um grito que fosse, Aurélio.. Que viesse apenas para me dizer que eu jamais teria sua confiança novamente, mas que aparecesse..

— Peço que me perdoe.. Mas você poderia ter o feito, eu juro que não iria reclamar.

— Eu não me sentia apta a isso, e nem com o direito de importuna-lo.

— Pois, ainda assim o destino nos importuna, não? - ambos moveram os lábios em um sorriso inocente. - A encontro em qualquer lugar que estou, e graças a Deus por isso.

"que nadie nos detenga, que fluya libre nuestro amor"

— Está falando de Deus? - a surpresa lhe tomou. - Realmente, há mudanças..

— Mesmo com o destino que tive, nunca deixei de acreditar nele, guardava aqui junto comigo, ninguém precisava sabe.. No entanto.. agora sim há alguém com eu quero compartilhar cada passo meu..

— Alguém que você perdoou?

— Alguém que eu amo, e que se eu perder novamente me será de um golpe terrível..

"... y en medio de la nada, dejar que grite el corazón..."

O imã que havia entre eles, logo, os fez desfrutar de beijo calmo e silencioso. As respirações seguiam calmas, como se os lábios mal se tocassem, no entanto, ao contrário disso, não havia pressa e sim intensidade. As almas pareciam menos pesadas livres mesmo que por pouco tempo. Beijar Julieta, era como não pensar em nada, ao mesmo tempo sentir o corpo adormecido banhado por tantas sensações que, qualquer outro ato jamais seria melhor que lhe acariciar com a boca. Julieta, sentia o mundo se reerguer novamente, nunca houvera beijado outro homem;isso era certo. Mas, a certeza que nenhum outro lhe daria tanto com apenas um beijo lhe era imutável.

O toque de Aurélio se voltou para seu pescoço, a sensação preguiçosa tomava o corpo de Julieta, mas havia algo bem mais intenso lhe perturbando. Os olhos se abriram, conectando-os, o suspiro de Julieta era paixonante, mas os olhos lhe pesavam.

— Eu juro, juro que quero.. - as mãos se uniram. - Mas, estou tão cansada.. - um tímido sorriso surgiu nos seus lábios. - Não durmo há duas noites.. E..

— Eu entendo, também estou exausto, a insônia me fez refém por dias.. - olhou para o fio de luz que adentrava o quarto pela janela. - Ainda assim, já amanheceu, e você deve aproveitar as poucas horas que ainda restam antes que todos acordem.. - ele deitou-se a levando junto consigo.

E novamente os braços de Aurélio fora o porto seguro de Julieta, e o sono enfim os venceu.

Algumas horas depois, no corredor havia um alvoroço. Afonso acabara de receber uma péssima notícias, já Mariana, procurava por Julieta tentando não deixar evidente sua preocupação para a mãe.

— Tem certeza, Afonso, não viu mesmo Julieta?

— Não senhorita, já estou acordado há muito tempo e não vi nenhum sinal de Julieta. - conversavam em frente a porta do quarto onde os dois tinham certeza que Aurélio dormia. - Agora se me der licença eu preciso... - as palavras lhe faltaram quando a visão de Julieta nos braços de Aurélio lhe fora certeiro.

— Então, aí está a desaparecida!-Mariana falou em meio a um sorriso.

— Mariana, o que faz apenas de camisola pela casa? Isso é impróprio e... - a mãe parou de falar quando olhou na mesma direção da filha mais nova. - Mas o que é isso..

— Pense pelo lado positivo, mãe, ao menos ela está vestida! - falou, e Guadalupe balançou a cabeça.. - Não vamos acorda-los.. Estão tão lindinhos, poderíamos tirar uma foto se tivéssemos uma máquina fotográfica.

— Infelizmente, menina Mariana, terei que interromper o tão precioso sono de meu Senhor.. Há problemas na fazenda, todos causandos pela tempestade.

— Não seja mau, Afonso.

— Crer que sou?

— Se acordar-los, sim!

— Mas..

— Shhhhhhhh! - de repente o murmuro quase imperceptível lhes chamou a atenção. Aurélio ainda sonolento se desvencilhava de Julieta, lhe custou um pouco de tempo até deixar o corpo adormecido da mulher repousar sobre os travesseiros. - O que houve? - vestia rapidamente a camisa em respeito à Mariana e sua sogra.

— Houve...

— Shhhhhhhh... - ele interrompeu Afonso observando Julieta mexer-se na cama. - Vamos lá para fora.

Ambos os quartos saíram do quarto deixando Julieta desfrutar de seu sono em paz. Aurélio recomposto enfim deixou que Afonso desse seu recado.

— Os gados, senhor.. Estão presos pela lama, parte da fazenda fora invadida por um mundaréu de água. - o Barão fechou os olhos ainda tomado pelo sono.

— Tudo bem, faremos algo.. Mas antes. - olhou para Mariana. - Mariana, podes conseguir-me um pouco de tinta e papel para que eu posso escrever algo a sua irmã?

— Claro, me dê um instante.

— Afonso veja se o carro está em boas condições. - o senhor assentiu. - Bom, e eu terei a terrível missão de acordar Rosa.

Ainda que quisesse seguir dormindo, Julieta, sentia a fome lhe perturbar insistentemente. Hora ouvir o estômago reclamar, hora sonhava com um delicioso bolo de fubá feito pela mãe. Diante de tanta tortura, ela abriu os olhos, um sorriso logo possuiu seus lábios, a fome ainda permanecia, mas a lembrança da madrugada lhe encheu o peito de ar e o corpo preguiçoso de esperanças.

Era claro que Aurélio já não estava ao seu lado, o vazio era mais que perceptível, no entanto, o perfume do mesmo ainda permanecia em seu travesseiro, o lado da cama estava mais fundo quase como o desenho de seus corpos.. Então, Julieta, tivera certeza que nunca fora um sonho, porque, os mesmos não deixavam cheiro, e muito menos; bilhetes... Encontrado em cima do criado mudo. Pegou o mesmo delicadamente pois a tinta ainda parecia fresca e com muita calma passou a ler..

"Ah, a insônia, já me maltratara tanto, afirmo até que, certas vezes pensei que nunca mais me livraria da mesma. Mas, ultimamente venho a admirando, porque não me deixas dormir por um bom motivo, e mesmo que ao amanhecer eu não esteja nos meus melhores " trajes", eu estou cheio de lembranças, e suas. De seu rosto, do seu beijo, da tua voz... do teu perfume... E esta madrugada não fora diferente, ela nos fez refém, e juntos, aproveitamos dela para ao menos dizer que, o que existe além dessa conexão é um amor prematuro, mas que tem grandes chances de viver, e eu quero que viva para sempre... "

com amor;

Aurélio.

 


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