Glory and Gore escrita por Iulia


Capítulo 19
Ain't no other love like the one I know.


Notas iniciais do capítulo

PORRAAAA GENTEEE! Chegamos Neste Capítulo!! Ai ai, o que dizer, meus amigos. Palavras não bastam!! Eu lembro de ficar super orgulhosa quando terminei de escrever ele e eu GOSTO deste capítulo mas affff eu tava sem querer postar pois medo de ser esculhambada & acima de tudo sem querer concretizar o que escrevi!!! Ai, é muita coisa, viu. A linha do tempo dele talvez não bata com a do livro, também, mas vamo de fingimento, como sempre!! Tem um negócio de um pão aí que é um CANON que aparece lá na canção dos piriquitos, o livro novo da Lucy Gray & do Sejanus. O título mais uma vez vem DA MAIOR MÚSICA a famosa LOYALTY., de Kendrick e Rihanna. VEIO AÍ. Tomara que cês gostem. Ó, e cês perdoa o tamanho, eu até ia dividir mas quebraria o Conceito então se cansar apenas leia em partes!



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Na primeira vez que Cato Hadley reparou que Wade Rankine passava muito tempo com Clove, sentimentos conflitantes preencheram sua mente.

O primeiro foi admiração por uma garota que conseguia dobrar toda e qualquer alma do distrito, uma garota que tinha conseguido para si um mentor fiel a custo de quase nada. Então, ele sentiu uma pena maldosa do pobre Wade, que jamais conseguiria nada dela. O último dos sentimentos surgiu do nada, rasgando suas entranhas; raiva.

Com o passar do tempo, Cato assistiu a natureza de seu relacionamento com Wade se obscurecer cada vez mais. Ele não conseguia decidir se eles eram amigos ou não, se Wade falava as coisas que falava por provocação ou por uma devoção descabida à Clove. Contudo, no fundo, Cato sabia com clareza que a raiva era o sentimento predominante em seu complicado relacionamento com Wade.

Talvez porque Clove tinha “passado muito tempo” com outras pessoas antes, mas nunca com ninguém mais poderoso que ele. Talvez porque Wade já tinha chegado à casa dos vinte. Talvez porque Clove não parecia ter o controle da situação o tempo todo, como deveria.

Mas, em uma de suas longas reflexões sobre o assunto, Cato chegou à conclusão de que Wade era só uma pessoa patética, desesperada e solitária tentando ter alguma coisa que não merecia – e seria melhor que fosse sexo, porque querer alguma afeição, vinda de Clove, era triste demais.

Então Cato adentrou o bar na avenida atrás do Centro dos Tributos com a cabeça feita.

— A Clove está tendo problemas com um cara daqui.

Sentado ao seu lado nos bancos que cercavam um balcão decorado demais, ele reparou no pé de desgraça do outro Vitorioso. O cabelo sujo estava grudado em sua testa suada e vermelha, cheia de veias saltadas. As roupas, imundas e amarrotadas. Tinha até uma mancha de licor descendo pela extensão da manga da camisa.

Mesmo assim, Wade levantou seus olhos vítreos e os apertou ainda mais em sua direção, interessado no que podia entender de suas palavras.

— A gente é melhor amigo de novo? Eu pensei que você fosse me matar, Cat Cato – ele espremeu, sacudindo a cabeça daquele jeito bem ajambrado que bêbados fazem, uma histeria sarcástica em suas ações. Cato riu também, sem qualquer humor e sem deixar qualquer implicação moral perpassar sua mente até ter terminado a coisa toda. – Eu pensei que eu estava morto.

— Ah, essa porra foi só palhaçada, você bem sabe. Nada aconteceu, no final, não é? – ele respondeu. Quando o bartender olhou em sua direção, ele sorriu no seu melhor estilo e disse: – Desce mais uma pro meu amigo aqui.

— Ela pediu pra você ir lá quebrar o cara, foi? – Wade falou, depois de alguns segundos correndo os olhos pelo bar, em algum processo lento de raciocínio. – Porque você não devia mexer com isso, sabia? Ela sempre quer que alguém faça o trabalho sujo dela, mas ela é venenosa, a Clove, ela pode até chamar os Pacificadores pra você, só pra se entreter.

— Ela não pediu nada pra mim. – Cato disse suavemente, sua voz tão persuasiva quanto podia ser. Ele silenciou a voz que gritava “traidor” em sua mente. – Ela pediu pra você.

Perceber que estava certo o tempo todo acerca de Wade foi um sentimento doce-amargo. Triunfo preencheu seu rosto ao observar a expressão do homem se abrir em um orgulho lastimável. Perturbação se insinuou em suas feições segundos depois, porque aquele homem ali tinha alimentado seus irmãos por quase um mês, tinha cuidado do enterro da sua mãe.

Mas Clove estava tentando suicídio em um banheiro da Capital porque um homem que compartilhava obsessões com o que estava na sua frente estava machucando ela.

— Não é você o parceiro dela? – Wade grunhiu, tomando um grande gole de seu copo adornado. Aquele tipo de consciência não seria de grande ajuda, no momento.

— Eu cansei dessa palhaçada – Cato disse, sacudindo a cabeça. – A gente brigou por conta da coisa da Zenobia e aí eu vi que já tinha dado o que tinha que dar. Eu vim aqui por você, parceiro, em nome da nossa amizade, já deu de deixar a Clove ficar no meio. Adiantou do quê essa porra, no final? Só desgraça atrás de desgraça, e você gosta dela mais do que eu, não tem pra quê mentir. Eu sabia que você ia querer saber se alguma coisa estivesse dando errado pro lado dela.

Wade não podia ser considerado inteligente em milhões de anos e todo aquele álcool exalando de seu corpo não fazia nada para ajudar. Contudo, uma gota de desconfiança, de estranheza, perpassou seus olhos embaçados.

— A gente estava na sala com os patrocinadores e ela me pediu para falar com você, porque o tal do cara está passando dos limites. Ela está cheia de hematomas, cheia de marcas estranhas. Você sabe, o pessoal daqui é doido— era sua última cartada. Cato se curvou mais no balcão, olhando mais de perto para Wade. Um ódio parecido com o que brilhava nos seus olhos ao ouvir sobre Naevio preencheu o olhar do outro Vitorioso. Ele forçou um tom de voz ressentido, amuado. – Ela não quer minha ajuda, a vadia orgulhosa que é, por conta da briga e tudo. Mas, por você, eu posso ir lá dar uma força

Então Cato esperou. Para fazer o caso, ele tomou um gole do copo à sua frente e passou os olhos nas excentricidades do bar, como quem não espera nada. De olhos fixos e mandíbula cerrada, ele contemplou seu plano grosseiro, desesperado. Seu plano indigno que havia se formado nas noites mais difíceis, o único que poderia colocar uma conclusão na história de Naevio de uma vez e terminar com ele e Clove intactos.

Se Beetee conduzisse tudo corretamente, em breve a arena estaria reduzida a placas de metal e curtos-circuitos. Até lá, ele precisava se certificar de que tudo na Capital estava encerrado antes de entrar no aerodeslizador para o 13. Lyme já estava pegando o trem para o 2, alegando alguma emergência com a Academia. Ela pegaria seus irmãos e os colocaria em algum lugar seguro. Todos os outros estavam condenados, traídos por uma causa maior.

Cato também tinha uma causa maior, sempre tinha tido.

— Onde a gente vai pegar ele?

Se Wade estava topando aquilo em uma tentativa final de impressionar Clove, Cato não iria se importar. Decência era um luxo na situação atual. Ele sorriu, seus olhos de gelo permanecendo inexpressivos enquanto um papel era escorregado pelo balcão até Wade.

— Na casa dele, para passar a mensagem certa. Umas nove horas. Funciona pra você?

— Funciona perfeitamente, cara – o homem respondeu, respirando álcool no rosto de Cato enquanto bagunçava seu cabelo em uma saudação infantil. Ele imediatamente bloqueou a cena de sua mente; ela não tinha acabado de acontecer. O que tinha acabado de acontecer eram as marcas no corpo de Clove e Wade sabotando tudo para que eles dois acabassem nos Jogos.

Wade merecia a traição, ele era muito fã delas, sempre tinha sido.

 A cena pareceu familiar, como se eles estivessem tomando uma para celebrar a derrota de mais um de seus inimigos na casa de Wade, depois do treinamento, quando tudo era menos pior. Wade sempre ficava do mesmo jeito, batendo copos, rindo, dando gritos de animação.

O tempo todo, Clove estava certa; Wade era um animal.

Se ele soubesse o que estava sendo feito ali de verdade. Se ele pelo menos não gostasse tanto de derrubar sangue, se ele só não fosse tão obcecado por Clove.

Cato se despediu de um jeito cúmplice e escorregou o resto da bebida para sua garganta antes de sair do bar. A tontura começou na hora exata em que ele começou a pensar sobre o que tinha acabado de fazer.

Cato tinha acabado de planejar o assassinato de uma das pessoas mais famosas da Capital nas últimas horas antes de uma guerra implodir.

x

O acordo com Gauis e Rendwick foi desfeito no momento que seus tributos morreram.

A aliancinha para proteger os 12 resultou na morte dos icônicos Cashmere e Gloss Ritchson. Cato reconheceu a perda, disse “porra”, lembrou um pouco de interações agradáveis com os tributos mortos, das pequenas traições entre eles, e voltou a pensar sobre sua necessidade pungente de cometer um crime quando menos de vinte e quatro horas ficavam entre ele e sua partida definitiva.

Cato não era muito bom em administrar sua atenção.

— Ei, eu estou indo – uma mão tocou seu braço. Excessivamente em alerta, Cato fez menção de se levantar até que reconheceu a figura de Clove. – O que você andou fazendo pra justificar esse susto todo? – Clove disse suavemente, as palavras jocosas muito diferentes de seu olhar desconfiado. 

— Você não faz ideia – Cato respondeu, a observando tomar o copo de sua mão e engolir o rum. Um alerta piscou em sua mente e ele pegou o copo de volta, apontando com a cabeça para a tela que mostrava Brutus e Enobaria embrenhados na selva, tentando evitar os truques da arena, sem saber que um maior estava sendo preparado pelos outros. – Tenta ficar sóbria, daqui a pouco dá alguma merda lá e você vai ter que assumir quando voltar.

Clove piscou seus olhos momentaneamente verdes e após alguns segundos, emitiu um “claro”.

— Então... – os olhos intensos dela ainda atravessavam sua pele um pouco, ainda conseguiam o constranger. – Você volta cedo, não é? Eu vou precisar de você aqui.

— Eu vou tentar – ela disse, erguendo as sobrancelhas. Cato coçou o nariz, desconfortável.

— Volta até umas oito horas? 

— Claro, chefe. Eu vou fazer o serviço, roubar a carteira dele e voltar – Clove miou e Cato pôde jurar que havia mais que provocação vaga em suas feições, em suas palavras bem pronunciadas. Eles trocaram um olhar demorado, estranho. Ele sentiu um arrepio subir por sua espinha.

Ela não poderia imaginar, poderia?

Então, num anticlímax, ela se foi, correndo a língua pelos dentes da frente.

Cato tentou se concentrar de novo em uma das telas. Ele assistiu por alguns segundos Enobaria gritar de ódio, rasgar plantas teimosas com a espada. Ele viu Chaff caminhando firmemente. Então, Clove sendo retida na Capital por Pacificadores que notariam a ausência de Naevio em algum compromisso.

Porra.

Tudo tinha que ser perfeitamente calculado, impecavelmente feito. Não era hora de erros. Ele precisava rever aquele plano à exaustão. Ele tinha que dedicar toda sua mente a ele. Então se Brutus e Enobaria estavam condenados de qualquer jeito, qual era a finalidade de ficar assistindo eles?

Entretanto, algum respeito precisava ser mostrado, o último tributo à traição que eles haviam planejado. Ele usou o dinheiro angariado no dia anterior e enviou um pouco de pão para seus tributos, para que talvez eles pudessem espalhar os farelos nos corpos uns dos outros quando a morte chegasse.

— Pão? Que porra isso quer dizer? – Enobaria grunhiu, ao receber o patrocínio. Cato quase riu. O que ela esperava, afinal, a porra de uma arma? Eles nem estavam se agarrando, que nem os 12 na edição passada, ninguém estava muito animado com eles. Providenciar discretamente os ritos para suas mortes era tudo que ele podia fazer. Não havia nada que eles precisassem, nada que ele queria mandá-los (e ela tinha o deixado procurar comida por dois dias inteiros).

No final, contudo, Cato havia recebido uma capa de pele e uma faca incrustada. Então, relutantemente, Cato procurou saber quanto uma arma custava naquela altura dos Jogos. Era muito e Clove tinha passado uma parcela do que tinha conseguido para o 12, mas o dinheiro sofregamente arrecadado quase cobria o valor total. No que provavelmente seria o último de seus atos decentes, Cato convenceu um homem de cabelo laranja a fazer uma doação para seu distrito, uma doação simbólica para aqueles que haviam proporcionado à Capital tantos momentos memoráveis.

Ele sentiu vontade de vomitar, mas Brutus e Enobaria sorriram de canto quando recebiam suas facas modestas e o bilhetinho que as acompanhava. “Estamos orgulhosos”, dizia, e Cato até assinou o nome de Clove. Era melhor que nada. E ele era um péssimo mentor, todo mundo sabia. As pessoas geralmente eram, quando aceitavam que seus tributos, seus monstros pessoais de infância, teriam que morrer para colocar fim na Capital.

Cato nunca havia sido muito bom em esconder coisas. Enquanto ele assistia a aliança começar a se preparar para levar a cabo o plano de Beetee para supostamente matar seus ex treinadores e destruir a arena, ele sentiu linhas de suor descerem pelas suas costas, escorregarem pelo seu rosto. Seus dedos começaram a se bater contra a superfície de vidro de uma das mesas.

A noite escorregou pelos seus dedos. Seus olhos começaram a pesar demais, sua mente desacelerou. Cato se perguntou quando havia sido a última vez que tinha dormido apropriadamente desde sua conversa com Lyme e seu ingresso na revolta. Ele imaginou a frustração de todos se soubessem sobre seus planos extras que colocariam tudo a perder.

Mas nada daquilo importava. Qualquer lealdade era parca se comparada a que ele tinha para com Clove, firme como o mármore do seu distrito.

Clove estava demorando. Se Wade a encontrasse por lá, tudo iria por água baixo. Ele não podia sair a menos que ela estivesse no prédio. Nada podia parecer muito suspeito, e, considerando que a comoção da explosão da arena não estaria acontecendo ainda, um pouco de atenção indesejada estaria sendo depositada neles. Tudo estava fadado ao fracasso, ele sabia tudo isso, de cor e salteado. A voz que o lembrava dessa parte, contudo, era muito baixa.

Cato sentiu que seu coração estava pressionando demais sua caixa torácica.

A sala estava cheia de Pacificadores. Em meio ao zumbido em seu ouvido e a tontura pesada em sua cabeça, ele imaginou se conhecia alguma daquelas pessoas por baixo do uniforme. Se algum deles tinha ido para a Academia com ele. Se algum deles tinha presenciado suas cenas no ano passado. Se algum deles sabia que ele precisava de atenção extra, porque ele com certeza estava sentindo que estava recebendo atenção extra.

Mas ele não tinha escolha, ele nunca havia tido, desde a primeira vez que ela chorou por causa do homem da Capital. Era o tipo de coisa que não se deixava passar; a cólera nunca parava de correr em suas veias, pulsando desesperada, manchando tudo de um vermelho muito escuro desde aquele dia. Cato ainda era Cato. Seu demônio precisava de mais alimento. Era o único jeito de exorcizá-lo. Ele precisava de uma conclusão, de uma resposta aos sadismos do homem, à sua audácia de descrevê-los. No momento, ele emanava uma energia ameaçadora, muito poderosa, muito destrutiva. Imóvel, ele fitou uma das telas e calculou os minutos.

Cato tinha a aparência ideal, a de quem está prestes a cometer um ato desesperado. Ele parecia pronto para quebrar o pescoço de quem quer que cruzasse sua visão, então ninguém mais se aproximou de sua figura até Clove despejar o corpo ao seu lado, familiar com todos os tipos de energia que podiam possivelmente emanar de Cato.

— Eu assumo.

Nas últimas horas, ele havia pensado em várias coisas que precisavam ser ditas para Clove. Ela precisava ficar perto do Haymitch, como Lyme havia os dito, porque ele saberia pra onde eles deveriam ir para chegar ao 13 antes que pudessem voltar para o 2. Ela não podia conversar com o Indigo, porque ele deixaria o prédio em alguns segundos para liderar uma base na Capital.

Contudo, Clove não precisava ouvir nada daquilo, não de verdade. Ela iria entrar no aerodeslizador na hora certa, com ou sem ele. Ela estava um pouco danificada, mas era perfeita e era ela que derrubaria a Capital com a sede de destruição que corria por baixo de sua pele. Ele era quem ia atravessar a cidade para matar um homem no dia de uma fuga.

Eles sustentaram olhares.

Ela era muito bonita, tão bonita, e ele ainda lutaria todas as batalhas por ela, como sempre tinha feito desde a primeira vez que a tinha visto, sete anos, cabelo brilhante, olhos de aço; seu pescoço, contudo, estava todo manchado de vermelho e o autor daquela pintura assombrosa precisava pagar.

Então Cato não tinha escolha. A aliança deles era feita de sangue.

— Você não odeia a Gaia de verdade, odeia? – foi o que Cato cuspiu, de repente. Clove levantou as sobrancelhas levemente e entreabriu os lábios para dar a resposta. Ele tinha ideia do que ela ia dizer pela coisa nos olhos dela, pelo jeito que suas mãos agarraram o braço dele de repente. Cato sacudiu a cabeça mais uma vez, a calando. – E o Teo? Você odeia ele?

— Eu não odeio seus irmãos, Cato – e tinha tristeza em sua voz, no jeito que ela o olhava. – Nunca odiei, você sabe disso.

(As promessas dela também continuavam valendo. Ela iria cuidar deles). 

Vários anos atrás, Clove tinha uma perna torcida e Cato tinha feito um pronunciamento na Academia: se qualquer um voltasse a ser covarde com ela, ele era quem lidaria pessoalmente com a situação. Não era o tipo de coisa que podia ser esquecida, não era uma promessa que ele havia descumprido uma única vez que fosse.

Encarando o olhar tempestuoso dela pelo décimo segundo, Cato se perguntou o quanto Clove sabia. Podia ser uma intuição, podia ser alguma coisa que ele havia deixado escapar, podia ser a aliança tomando todo e qualquer espaço entre as mentes deles. Ela tinha olhos alertas, quase desesperados, que varriam todo seu rosto.

Ela poderia perfeitamente imaginar porque talvez a simbiose deles estivesse completa e ela podia ouvi-lo conspirar em seus delírios mais surreais.

— Cato, não faz merda – ela falou, finalmente.

— Não vou – foi sua resposta, muito rápida, quase atropelando as palavras dela. Ele pousou os olhos nas mãos dela, ainda paradas em seu braço.

Cato fez menção de se desvencilhar. Clove apertou mais.

— Vamos ver como isso vai terminar. Senta aqui. Vamos ver o final – Clove disse, seus olhos o falando muitas coisas.

Cato continuou sustentando seu olhar. Ele observou o verde incomum, os cílios compridos, as olheiras abaixo deles.

Ela poderia fazê-lo desistir. Uns segundos a mais, as palavras certas e tudo estaria desfeito. Suas promessas seriam quebradas. Naevio ia viver. Seus pesadelos também; suas marcas seriam renovadas a cada um deles. Mergulhos longos demais iriam continuar acontecendo. E aquela besta iria continuar crescendo dentro de si, queimando suas entranhas, sujando seus pensamentos.

Cato fitou as marcas em seus pulsos; seus olhos cansados; ele seguiu seu caminho.

Ele viu as mãos dela caírem em seu colo, de repente.

Ele a ouviu dizer um último “fica aqui”.

Ele não sentiu nada além da familiar determinação assassina enquanto caminhava como uma sombra pelas ruas da Capital. Ele estava fora de seu corpo, poupando sua alma como sempre fazia. Aquilo tudo era só o destino tomando forma. Eles todos sabiam que ia acontecer mais cedo ou mais tarde.

Cato tirou sua pulseira do distrito e a guardou no bolso da jaqueta.

O problema com o amor é que ele pode significar coisas diferentes. Ele pode significar uma variedade absurda de coisas; ele é cuidado, suavidade. Ele também é força, é desespero. 

O problema com o amor é que ele é destruidor.

O problema com o amor é que sob seu nome se escondem atos de crueldade.

Cato pensou que era por causa do amor que ele estava fazendo o que estava fazendo. Wade devia pensar o mesmo. Mas de seus olhos escorriam o sangue que ele pretendia derrubar. A besta que ele planejava soltar era quem tinha montado sua armadilha. A oportunidade de tirar vida de algo tinha o cegado, tornado invisíveis todas as pontas soltas na história de Cato.

Wade foi quem fez o primeiro movimento; no segundo que Naevio abriu a porta, seu punho se chocou contra seu nariz.

E era aquilo. Estava acontecendo. Eles entraram em seu apartamento e fecharam a porta.

Era um lugar ridiculamente grande. Era relativamente parecido com o de Cato, não fosse pela varanda do lado direito e a decoração caótica, descomunal. Apesar da luz que vinha da varanda, as paredes escuras e toda a quinquilharia davam ao lugar uma aparência sufocante. Era quase caricato, quase cômico; o lugar parecia uma das cavernas que eram os lares de monstros. 

Exatamente como era em sua mente, Naevio tinha medo estampado em seus olhos de urso, tropeçando para trás na sua sala espaçosa, a visão parecida com a pintura de uma gazela em uma de suas paredes. A visão encheu Cato de desgosto. Era aquele homem que estava causando toda aquela complicação.

— Então é isso. Todo esse trabalho por conta de uma pessoa que cai pra trás por conta de um soquinho desse – ele disse, cruzando os braços. Wade começou a examinar curiosamente os objetos da sala, inutilidades que pessoas da Capital adquiriam só porque podiam. – Presta atenção para não achar nenhum dos brinquedinhos dele, senão a sujeira vai ser pior.

Como se estivesse fora de seu corpo, Cato se percebeu caminhando até uma estante e pegando o que parecia ser um troféu. Sem ler o que ele condecorava, ele arrancou as asas da escultura em forma humana e logo em seguida a própria escultura da base. No segundo que ele terminou e viu o olhar exasperado de Naevio, ele percebeu que havia gostado. Nos minutos seguintes, então, ele se dedicou a quebrar e destruir tudo que havia em sua frente, chutando e puxando e jogando numa tranquilidade maníaca.

— Você sabia que eu não gostava de gracinha. Você me viu nos Jogos. O que te fez pensar que essa história com a Clove daria certo? – Cato começou a falar muito contidamente, quase como nos primeiros segundos de um rosnado. Wade estava muito distraído arrancando quadros da parede. – Se você tinha tanta certeza que eu estava fodendo ela, o que te fez pensar que eu deixaria essa merda sua passar?

Cato não estava recebendo resposta nenhuma. E ele precisava de uma. Precisava de uma resposta impensada, alguma coisa cheia de escárnio para que o demônio crescesse mais. Mas aqueles olhos de urso imbecis só o olhavam, varriam tudo freneticamente como se procurando por uma saída.

— Nem perde seu tempo, vai ser só nós dois hoje. Me responde. Por que você achou que isso ia passar em branco, quando ela estava cheia de marca sua? Como que sua cabeça funciona, você pensou mesmo que eu ia ouvir suas merdas aquele dia e não fazer nada? Quem você acha que é, seu filho da puta?

Cato não tinha encostado um dedo em ninguém havia um tempo, mas aconteceu; seu punho desceu contra a mesa onde Naevio apoiava uma das mãos. Um crec nauseante ecoou pelo cômodo gigantesco.

Um homem gritou; recolheu seus ossos quebrados.

Um outro deixou uma coisa que o assustava transformar seus olhos azuis em uma piscina negra.

Um terceiro se aproximou da cena, chutando pedaços de pertences para o ar.

O tempo pairou, vago. Deixou de significar muita coisa.

— Nada, você não é nada. Toda essa putaria daqui é ilusão. Se eles dizem que você é alguma coisa aqui, porque você é famoso e o caralho a quatro, tudo é uma ilusão porque você ainda é nada.

— Ela mandou você aqui? – Naevio exprimiu com dificuldade, segurando a mão contra o peito. Observando a expressão que passou como uma sombra pelo rosto de Cato, seus olhos brilharam com malícia. – Ela não sabe que você está aqui? Eu prestaria atenção nisso se fosse você, Cato. Eu não acho que ela vai gostar de saber que o cachorrinho dela matou seu namorado.

Cato empurrou Naevio até a parede da varanda. Ele sentiu o pulso acelerado do outro homem contra seu braço, ele sentiu quase literalmente o cheiro do medo. Os olhos escuros do homem da Capital voltaram a se arregalar enquanto ele absorvia a insanidade nos olhos de Cato. Não havia palavras que descrevessem o ódio nos olhos de Cato, a cólera de outro mundo que fazia suas veias pulsarem, seu rosto assumir um tom de vermelho nunca antes visto.

A vida começou a abandonar os olhos de Naevio.

— Ela sabe. – Ele sibilou. Cato sorriu um sorriso que era só dentes e selvageria. A coisa iria acontecer bem ali. Cato não ia dizer mais nada. Ele iria puxar o corpo do homem e fazer com que ele emitisse um outro crec, um muito maior, muito definitivo.

Mas Wade estava lá. E ele não iria ser esquecido; havia cólera em seus olhos também.

Ele puxou Cato para longe de Navio bruscamente, ele próprio assumindo o papel de prender o homem contra a parede.

— Porra, Cato. Ela não sabe? Que porra é essa? – ele começou a indagar, seu pescoço se virando na direção onde um Cato atordoado se apoiava em uma parede, seus olhos de vidro descontrolados. – Você mentiu, seu filho da puta?

Apesar da falação gutural de Wade, Cato não respondeu. Ele continuou encostado à parede, respirando em arfadas irregulares. Naevio poderia estar certo. Talvez Clove não fosse gostar. Não porque seria o “namorado” dela a vítima, mas porque ela tinha ficado com tanta raiva quando ele tinha brigado com Wade naquele dia. 

Ele não devia ter mexido com nada disso, não devia ter acordado nada que estava adormecido dentro dele. Ele sabia o que era sentir ser tomado por uma ira desesperada, ele sabia o que era pensar que poderia matar o primeiro que passasse em sua frente. E porque ele sabia e sabia que tudo aquilo era o que estava em seu corpo naquele exato instante, ele devia ter deixado tudo aquilo quieto.

— Cato, cacete! Responde! Que porra está acontecendo?

Wade agora estava bem ali ao seu lado, empurrando seu peito, cuspindo em seu rosto aquelas palavras desconexas. Ele o encarou. 

Um. Dois. Três.

Clove submersa na banheira, os pulsos marcados contra as beiradas, o cabelo escuro contrastando contra a pele doentiamente pálida.  

— Sai, seu filho da puta – Cato finalmente respondeu, empurrando Wade para longe de si, de volta no mesmo tom de voz impessoal, baixo. – Ela sabe. É claro que ela sabe, quem você acha que eu sou? Deixa de ser ridículo, você vai ouvir um merda desse em vez de mim?

Naevio já havia recuperado todo o fôlego. Observando a cena do mesmo canto da parede com o que podia ser diversão em seus olhos, o cidadão da Capital que era. Cato encarou o relógio na parede. O tempo estava de volta, com força total. Ele consegue voar quando se está assassinando alguém.

— Eu não quero me meter. Faz o que ela te pediu – ele grunhiu, evitando olhar para Naevio para manter as coisas nos lugares certos. Cato ligou a televisão da sala e olhou para Wade. – Ele é todo seu.

Os sons da selva traiçoeira que formava o cenário do Massacre tomaram a sala. Cato se sentou no sofá. Ele não ouviu Wade arrastar o homem para um quarto e pegar o que parecia ser uma faca. Ele não ouviu os gritos, a briga rápida, inútil.

Ele ouviu a Everdeen trocar palavras com Johanna enquanto elas caminhavam para a árvore que era atingida pelo raio.

— Não. Do que você está falando? Eu estou em casa. Vendo qual vestido a Katniss vai usar.

Clove parou de falar, fechando os olhos por um segundo enquanto segurava o fone cada vez com mais força. Ela mordeu a bochecha e se sentou no braço do sofá. Calada, ela escutou o que lhe falavam do outro lado da linha, parecendo... abatida. Mas as palavras que saíram de seus lábios em seguida tentaram encobrir o cansaço em sua expressão. Forçando uma risadinha de divertimento, ela disse:

— Amor, eu juro, eu estou sozinha. Eu não sei onde ele está. Você está parecendo louco, Naevio, sossega.

Outra pausa. Parado no corredor antes de alcançar o batente da porta, Cato pensou em adentrar o cômodo de uma vez.

— Eu só gosto de ficar em casa às vezes. Escuta. Não. Não! Foda-se o Cato! Eu não sei dele. Eu não sei, para com essa história, eu não tenho nada com ele.

Mas ele parou.

Clove ouviu alguma outra coisa que transformou sua irritação passageira numa desesperança inédita. Ela soltou o ar pela boca e sustentou a cabeça com a mão. Cato viu as marcas de novo, azuis e roxas, descendo pelo seu pulso. 

— Eu juro. Você tem que acreditar em mim, eu não... Claro, amor. O que você quiser. Eu faço. O que você quiser.

Outra pausa. Perturbação tomou a expressão de Clove. Era quase perplexidade. Uma que parecia doer profundamente.

— É, aham. Claro. Eu não posso esperar.

Sua imitação de voz lasciva só durou até o fim da ligação. No segundo que Cato adentrou a sala e ela desligou o telefone, o mesmo tom monótono tomou sua voz. Mas não era monotonia, exatamente. Era... tristeza.

— Oi. O Brutus me arranjou uns manequins novos. Quer ver?

Cato teve que engolir aquela coisa estranha em sua garganta, teve que desviar o olhar dos olhos de Clove quando percebeu que estava olhando por tempo demais. Ela não moveu os lábios, mas Cato ouviu com clareza a voz dela na sua cabeça:

Por favor, não fala nada.

— Claro. Vamos ver.

Ele não tinha escolha. A existência de Naevio não podia continuar sufocando Clove para sempre. Era ele ou ela.

Então ele ouviu os gritos. Ele lembrava vagamente de Wade na arena; suas performances duravam para sempre. Elas eram exageradas; muito vermelho, muita psicose, muitos gritos por piedade.

Mas Wade nunca falava nada, nunca parava. Ele ia lá e fazia o que quer que havia para ser feito com sua vítima. Em seus olhos só se podia encontrar determinação, delírio e uma quantidade descomedida de apreciação, como se abaixo de si arte estivesse sendo feita.

Cato queria que sua mente pudesse parar de girar. Ele se arrependeu das últimas doses de rum, mas sabia que estava certo em sua decisão de não ter comido nada.

No fundo, uma voz berrou:

— Eu não forcei ela a nada, ela gostava! O Cato está mentindo, para! Eu não fiz nada!

Naevio precisava ficar calado. Qualquer frase mal colocada poderia ser a que desmontaria Wade – de novo. O homem da Capital nunca havia ouvido falar sobre ele, afinal. Se ele percebesse que não era tão importante naquela trama quanto pensava, talvez ele desse pra trás.

Mas os gritos não pararam. Os Jogos continuaram. Na Capital, ninguém sabia distinguir os sons de um massacre televisionado de um que acontecia no apartamento ao lado.

Se Wade não iria parar porque pensava estar presenciando aquele momento em que as pessoas falam qualquer coisa em tentativas de se livrar ou porque não podia parar era um mistério.

Isso era uma coisa deles. Naevio, Clove, Cato. Ninguém mais devia ter sido arrastado para aquela história, Cato sabia. Sabia que estava contrariando tudo que sabia sobre honra, decência. Mas ele precisava que aquilo voltasse a ser só sobre ele e Clove; não tinha mais espaço para Wade, não tinha mais espaço para Naevio.

Sua raiva impedia a culpa de adentrar sua mente. Ele buscou por mais no fundo de sua cabeça. De dentes cerrados, ele se lembrou do estado que Naevio podia deixar Clove. Ele se lembrou de mergulhos longos e pesadelos. De marcas que tinha tocado e de lágrimas que tinha fingido não ver. De vezes que havia segurado seu cabelo para poupá-lo de vômitos e de todas as vezes que tinha sentido culpa por ter querido ver arrependimento nos olhos dela.

Do dia do desfile e do jeito que Clove tinha esfregado os pulsos quando ele meramente apareceu ao seu lado.

Era tudo uma confusão. Ele devia ser autorizado a querer arrependimento dela, porque ela havia se colocado naquilo tudo. Mas ele não podia, porque não era ela quem estava criando aqueles hematomas em seu corpo. Ela devia estar rindo, ouvindo seus discursos com o mesmo descaso esquisito de sempre. Em vez disso, ela estava concordando com ele, aparecendo na televisão beijando um homem que fingia não fazer o que fazia, forçando ela a fingir que tudo que era feito não a machucava.

Dessa vez, ele quase forçou sua entrada no cômodo e esqueceu sobre seu plano.

Os gritos ficaram mais fracos. Foram substituídos por um choro baixo. Uns lamentos ritmados.

Wade não parava. Cato não sabia se queria que ele parasse; talvez Clove emitisse uns lamentos desses quando estava com ele. Ele evitou um espelho para não poder ver seus olhos injetados, seu rosto branco como giz.

Não seja um covarde. Faz o que tem que fazer.

— Ei. Agiliza aí. Eu preciso voltar pro Centro – ele disse rapidamente, batendo na porta sofisticada de madeira. Cato estava tão distante da porta quanto possível, mas não teve dificuldade nenhuma em ouvir a voz abafada de Wade através dela:

— Pode voltar. Eu vou ficar.

Ele estava certo o tempo inteiro. Wade, a besta que era, jamais iria abandonar um trabalho não concluído. Seu coração quase atravessou sua caixa torácica; suas veias explodiriam a qualquer momento. Ele estava certo.

— Deixa de ser ridículo. Sai!

Ela estava rindo. Wade também, tentando abraçar ela.

— Qual é, Clove. Só um beijinho, bem rápido, eu não vou contar pra ninguém.

— Sai, você é velho!

Cato entrou na sala, carregando sua mochila e suas espadas. Wade se voltou pra ele. 

— Cato, fala com ela. Eu estou ficando louco. Só um beijo, Clove, eu te coloco no topo do ranking hoje mesmo. 

Cato procurou os olhos de Clove, já escolhendo suas facas numa estante. Ela ergueu as sobrancelhas, porque o que ele tinha a ver? Ele ergueu as sobrancelhas, porque ele estava mesmo pouco se fodendo.

Clove estava usando aquele colar ridículo enquanto tinha aquele tipo de conversa com Wade.

— Você ouviu o homem, Clove. Ele está ficando louco. Beija ele.

O problema era do Wade. Ele só ligava se seu plano estava funcionando.

— Beleza. Tranca tudo quando sair.

— Beleza. Fala pra Clove que eu resolvi o problema.

— Eu vou. Te vejo em casa.

Cato nunca mais viu Wade.

Naquele dia, ele não queria, porque seu rosto estaria cheio de sangue e seus olhos refletiriam perfeitamente a demência dos seus. Então ele encarou o apartamento destruído. Contemplou os cacos de vidro, os troféus despedaçados no chão, as bebidas despejadas grudando o piso.

Ele tinha conquistado aquele espaço. Era uma fase que ele tinha decretado finalizada. E, à porta, ele não sentiu nada. Nem raiva, nem culpa, nem arrependimento. Ele sentiu que o dever estava cumprido. Seus olhos estavam cheios de determinação, seriedade, ele era um homem de negócios. Suas mãos não estavam sujas, seus dois inimigos estavam finalizados. Seu mundo era em preto e branco mais uma vez.

Ele encontrou um bar. Estava vazio. Todos estavam assistindo os momentos finais dos Jogos em suas casas, à beira de seus assentos. Cato se sentou, sua mente uma entidade separada de seu corpo. Ele se ouviu fazer pedidos. Ele se viu engolindo o conteúdo de alguns vários copos.

Então, por uns segundos, ele ouviu uma voz na sua cabeça o dizendo que ele devia ficar bem ali, naquele bar. Que ele não devia ir pro 13 nem voltar pra casa, porque ele merecia sofrer as consequências do que tinha feito. Que Clove iria odiar ele e que seria mais fácil se ele jamais a visse de novo, que jamais precisasse encarar os olhos de seus irmãos depois daquilo.

Cato se viu ponderando sobre as palavras que essa voz proferia.

Tudo fazia perfeito sentido.

Ele tinha uma missão. Uma pessoa tinha machucado Clove e, porque ele não tinha resolvido as coisas apropriadamente antes, ele tinha que fazer alguma coisa agora, para que ela pudesse ficar bem. E era isso. Ele tinha terminado. 

Ele tinha terminado, como se sua única missão na vida fosse aquela.

Imagens passavam em sua cabeça freneticamente. Ele queria parar elas, examinar mais cuidadosamente o que elas estavam mostrando, mas elas eram muito rápidas; ele mal conseguia distinguir os rostos entristecidos de Gaia e Teo enterrando seus pais ou a cara da pessoa com quem ele tinha dormido para conseguir o patrocínio para Clove nem Brutus se despedindo ou Wade arrastando Naevio para o quarto.

Cato se sentiu tonto porque ele simplesmente não podia parar aquelas imagens.

Ele poderia ter lutado contra isso.

Ele poderia ter se levantado e cambaleado até o Centro dos Tributos. Mas Cato via coisas em preto e branco, afinal. Ele se viu como o monstro que nunca tinha deixado de ser, se voluntariando para assassinar crianças de treze anos e um monstro não iria ser muito útil para a guerra que salvaria uma nação. Esse era o trabalho para um herói, e ele não era um. Não havia utilidade para ele. Uma garota que tinha sido destruída por sua devoção perigosa não acharia uso nenhum para ele.

Eles iam destruir a Capital e a Capital era o que ele era. Pele e osso, carnificina e obsessão.

Ele tinha terminado. Uma decisão tinha sido feita.

Havia um último pensamento, alguma coisa a que ele precisava dar atenção. No fundo de sua mente, no Distrito 2 semanas antes da votação para o Massacre, Clove havia feito uma confissão. Aqueles foram dias estranhos; ele estava preocupado porque treinar daquele jeito estava sendo bom e eles estavam quase felizes. Cato pensou se eles realmente queriam sair daquilo tudo, se eles não amavam secretamente tudo que os tinha destruído. Clove tinha olhos brilhantes e sua cabeça se deitou em seu ombro. Sutilmente sobressaltado, ele a olhou e esperou. Quando veio, ele discordou, mas nunca disse nada:

“Suas escolhas sempre são melhores que as minhas”, ela disse.   

Isso se referia especificamente à escolha de qual trilha eles deveriam pegar para subir a Nêmeses, mas Cato sabia que valia pra mais coisa. Clove nunca dizia nada meramente por dizer. Cato sempre tinha tido uma potência de vida maior; por isso, ele fazia escolhas melhores. Ele jogava até onde era seguro, porque ele não era dotado daquela inconsistência perigosa de Clove. Ele sabia mais sobre vida e morte.

Clove estava sempre certa.

Por causa disso, ele manteve sua decisão. Cato ficou bem ali, no bar da Capital. Alcançaram a árvore do raio. Ele deitou sua cabeça. Ele imaginou se Clove já tinha ido embora. Ele rezou para que ela honrasse suas promessas e cuidasse de seus irmãos.  

Ele pacientemente esperou que só fosse acordar com uma bala atravessando sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAA família do céu…… O QUE DIZEEEER…. Nada, né. Estou triste, também. Este cap foi bem doidão de escrever, sempre é quando se escreve sobre doidos ficando ainda mais doidos.... Mas ai, gente, o Cato……. Assim: eu comecei a historinha trazendo esse plot do Naevio e eu SABIA q queria que ele morresse, mas não sabia que seria dessa forma….. Porém aconteceu e não dá nada não, Deus no comandoooo, vamo pra outra fase dessa web novela com FÉ. FUI!!! BEIJOS E OBRIGADAAA



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