Glory and Gore escrita por Iulia


Capítulo 12
Sentence on the way.


Notas iniciais do capítulo

Ooi amigaaaas! Cheguei com aquele update massa! Esse capítulo aqui dedicado apenas aos fãs de Freud kkkjkkkk meio que é brincadeira, mas ainda é um pouco verdade, já que mexi um tiquinho com Sonhos & Desejos etc. Sem querer escrever uma história muito pretensiosa (as if) nem nada, só futucando um pouco com uma das coisas que ainda fazem meu olho brilhar enquanto estudante de Psicologia. Mas só um pouco mesmo. De qualquer forma, é super tenso e mexe com um tanto de coisa complicada e problemática, mas já que estamos falando de Cato e Clove aqui, como não falar de coisas complicadas e problemáticas, né? Acaba que é um dos meus capítulos preferidos porque se eu gostasse de coisa leve aqui que eu não tava né não?? O título dele vem de DNA., do Kendrick Lamar (espero que seja porque eu escuto tanto o DAMN. que eu não sei bem qual trecho é de qual música, só acho ImpactanteTM e guardo na memória). Atenção para coisas erradas e menções a prostituição e agressão etc etc. Boa leituraaaa ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765680/chapter/12

O dia da Colheita chegou com um anúncio à altura. Por causa das montanhas e das florestas que cercavam o distrito, a impressão que se tinha era que a eletricidade se empenhava muito em destruir e aterrorizar um lugar que por si só destruía e aterrorizava o que quer que respirasse. Com um raio estranhamente ameaçador, Cato acordou pela terceira vez já determinado a não dormir mais.

De primeira, ele enxergou as silhuetas de sua família despedaçada ocuparem o quarto escuro; seu pai e sua ira desesperada, sua triste mãe, seus dois acusadores irmãos. Sussurrando um último “me desculpa”, Cato então se deparou com Clove gritando seu nome exatamente do seu lado, suor grudando mechas de cabelo em seu pescoço. Correndo uma mão pelos olhos, ele se postou na tarefa de tentar despertá-la.

— Clove. Clove.

Clove não era muito de falar dormindo, mas, naquele dia, alguma coisa a fazia mandar Cato parar e se afastar em voz alta, em um tom que era quase de choro.

Quando ele finalmente conseguiu acordá-la, Clove meramente abriu seus olhos subitamente e encarou o teto, como uma boneca programada. Lentamente, sua respiração se desacelerou e seus olhos ganharam feições humanas de novo.

— Porra – ela suspirou, correndo uma mão pelos olhos.

— Concordo – Cato resmungou, voltando a se deitar. Uns segundos se passaram. O silêncio do quarto que obviamente não abrigaria o sono de mais ninguém incomodou Cato. – O que eu não queria parar de fazer?

— Vai se foder – ela latiu, se virando para o outro lado.

Sem surpresa, quase sem frustração, Cato foi obrigado a desistir antes de sequer tentar de verdade. De um jeito estranho, apesar de tudo, Clove não tinha completamente o autorizado a ter muita intimidade com ela. Estranhamente, ainda havia coisas que Clove jamais o deixaria saber, partes dela às quais ele jamais teria acesso. Ele estava conformado com isso, mas às vezes...

— Se fode aí, então.

— Você não queria me deixar ficar com sua pulseira – ela disparou. Sua voz revelava toda a raiva desmotivada de sempre. Suas costas, ainda voltadas para ele, completavam o pacote.

— O quê? – Cato quase gaguejou, surpreso, como se tivesse sido flagrado cometendo algum delito.

— Aquele urso da sua arena estava me atacando. Eu não estava lutando com ele, eu estava gostando— Clove narrou lentamente, entredentes. – Mas aí você apareceu caído no chão do meu lado, me pedindo a pulseira que o prefeito te deu antes de você ir pros Jogos. 

— E aí? – Cato perguntou, sem se importar com o fato de que não entendia nenhuma pequena parte daquela coisa sem sentido. Ela se virou para encará-lo, seus olhos brilhando com alguma coisa que ele não conseguiu identificar.

— Aí você começou a ser atacado.

— E eu não estava gostando, também? – ele questionou, um sorriso escapando por suas palavras.

— Você estava morrendo. E tudo que você tinha que fazer era largar a porra da pulseira e ir embora – ela rosnou.

No escuro, Clove lembrava a figura de um lobo. Seu cabelo, seus olhos atentos correndo por seu rosto, esquadrinhando o quarto. Cato não conseguia tirar os olhos dela. Mesmo que ele não entendesse o que ela falava, que não conseguisse sequer prestar atenção às vezes, ele ficaria por horas a ouvindo falar, notando a cadência da sua voz, o jeito que ela conseguia ser áspera e suave ao mesmo tempo, que quase grudava em sua mente. 

Ele não fazia ideia do que falar. O que havia pra ser dito? “Que sonho louco”?

— Eu nunca ia te emprestar minha pulseira, pra começo de conversa – ele decidiu, dando de ombros. Clove ficou em silêncio, coçando o rosto distraidamente enquanto o observava, sua língua empurrando levemente sua bochecha. Ainda sem uma palavra, então, ela indicou com os olhos a floresta atrás da Aldeia e se levantou. Cato começou a imitar suas ações de colocar roupas e calçar sapatos e então rumar para a floresta. Lá, Clove não falou nada até quinze minutos de caminhada terem se passado.

— O Snow mandou pro apartamento umas fotos da gente juntos – Clove finalmente disse, seu tom cuidadosamente casual. Procurando um sentido, Cato passou alguns segundos encarando suas sobrancelhas erguidas e o leve franzido nos seus lábios até notar sua ênfase na palavra “juntos”.

Ah.

O garoto quase não conseguiu sufocar uma risada escandalizada.

A gente saiu bem?, ele estava prestes a perguntar quando realizou que Clove não parecia estar no clima para gracinha. Ela o mirava atentamente, de certo esperando uma brecha pra gritar com ele por ser um filho da puta idiota e todo o resto.

— Sério? – como ela sacudia a cabeça positivamente, Cato correu a mão pelo cabelo. – E aí?

— Tinha uma mensagenzinha, falando que ele não pode ser amigo de pessoas descuidadas. Então... Vamos se comportar na Capital.

De novo, Cato precisou sorrir ao ouvir seu tom de voz. Nesses tempos, ele quase não conseguia ouvir a voz na sua cabeça que costumava dizer que ele devia odiá-la. Como que ele podia, se estava muito ocupado contando as sardas na porra da cara dela?

— Ele provavelmente vai exigir mais de mim, já que a coisa com a Everdeen está só piorando e o Naevio está todo... – Clove deixou as palavras no ar, esfregando os pulsos de um jeito que pensava que Cato não reparava. Ele notou alguma coisa estranha brilhar em seus olhos verdes. – Lá você vai ser inteligente. Certo?

— Aham – Cato deu de ombros, sem saber o que mais deveria fazer.

— O Naevio quase viu essa merda. Eu tive que... – ela continuou, chutando um galho para fora do caminho.

— Ele viu? – nada pôde cobrir a esperança infantil na voz dele. Cato se arrependeu das palavras assim que elas deixaram seus lábios, mas esperou pra ver (ele esperou por aquele brilho estranho nos olhos dela, rezando para que ele aparecesse pelos motivos certos).

Foi quase como se ele tivesse pronunciado as palavras proibidas de uma maldição.

Como que para enfatizar o que viria, um raio iluminou a floresta e arrepiou as costas de Cato.

Pausa, para a eletricidade alcançar seus corpos.

Clove arregalou os olhos de cores indefinidas, respirando pela boca por uns segundos, e agarrou seu braço só para poder cravar suas unhas afiadas nele.

— Cato, você tira essa esperançazinha da sua voz. Agradeça a quem quer que seja por ele não ter visto essa porra ou você estaria morto— ela disse entredentes, sua respiração arfante. – Você não queira que ele “veja” nada.

A chuva nunca vinha. Ela intimidava, fazia os céus dançarem, despejava eletricidade, mas nunca molhava ninguém.

A chuva por uns instantes se concentrou nos olhos de Cato; sua eletricidade condensada no seu olhar, sua raiva agitando suas órbitas, sua mágoa ameaçadora pairando vagamente.

— O inferno vai gelar quando um cantorzinho de merda daquele conseguir me matar, Clove – Cato grunhiu, empurrando as mãos de Clove para longe com mais gentileza que geralmente usava para tocar outros, mas com mais brutalidade que geralmente usava para tocá-la.

Clove, calada, sustentou seu olhar, dois pares de olhos queimando por longos segundos abaixo do céu que lenta e ameaçadoramente se preparava para desaguar.

— Se ele descobrir, imbecil, fodeu tudo.

Cato obviamente entendia a magnitude das consequências que iriam haver caso o homem da Capital sequer passasse os olhos por uma prova do que quer que fosse que eles tinham. Contudo, a raiva, o ressentimento, que ele sentia o tempo todo daquela situação às vezes ameaçava sufocá-lo.

Ele só queria que Naevio visse que tudo aquilo era mentira, que nada que ela fazia com ele era verdade, que ela não olhava daquele jeito pra ele de verdade, que não era com ele que ela queria ficar.

Se o homem da Capital visse, talvez ele fosse capaz de ver, também.

Porque, às vezes, tudo que Cato via era a mesma raiva incontida de sempre, os mesmos olhos estranhos, o mesmo caminhar bambo na linha tênue que separa a loucura da sanidade.

(Muitas vezes, Cato via tudo isso no espelho).

Na maioria das vezes, Cato via tudo com muita familiaridade. Clove tinha os mesmos olhos fascinados e sua relação com Naevio era tecida do mesmo jeito errado de sempre. O homem na Capital se parecia muito com todas as outras pessoas com quem Clove havia se relacionado ali no 2. Wade, Kizar, Hitiu, Cibele, Veriana (e Cato); Clove gravitando ao redor deles, a mesma deusa da guerra de sempre, abençoando todas suas batalhas injustas, mais gentil com suas meninas, mais voluntariosa com seus meninos, o mesmo apreço pelas marcas que ganhava e que cunhava.

E, enquanto a história parecia se repetir, Cato era obrigado a pensar se Clove não tinha começado a desenvolver um pouquinho mais de afeição a mais uma daquelas pessoas que estavam a destruindo (e a quem ela queria destruir).

Suas reflexões sobre o assunto eram acompanhadas por arrepios e ânsias de vômito e todas aquelas cenas que confirmam sua tese dolorida, mas aparentemente acurada. Ele tinha visto aquele brilho no olho de Clove na última vez em que ela havia sido exibida na televisão, usando ouro e seda e uma devoção que não era exatamente falsa. Ele tinha visto aquele brilho durante as últimas semanas no 2.

E a pior parte era que ele sabia que Clove não fazia nada daquilo por mal. Era só quem ela era. E, por causa disso, ela o olhava com muita suavidade. Ela falava em outro tom. Ela corria seus dedos por sua pele de outro jeito. Quase como se já estivesse se desculpando pelo que aconteceria em breve: ela pararia de falar mal de Naevio de uma vez. Ela tentaria compensá-lo pela traição de todos os jeitos sórdidos de sempre.

Mas, bem ali, tudo que ela estava fazendo era encará-lo com animosidade e aquele mesmo descaso de sempre. Cato observou sua palidez doentia, a maneira como ela se encaixava com perfeição naquele cenário escuro, com as árvores se agitando ao seu redor e a raiva morna dançando em seus olhos.

— Ok. Foi mal – ele cuspiu suas insinceras desculpas se encostando contra uma árvore, esperando que seu ato fosse ser entendido por ela como uma trégua.

— Que seja – Clove sibilou, continuando a andar para só Deus sabe onde.

— É sério – ele reafirmou. Ela o olhou por cima do ombro com uma expressão incrivelmente tediosa, como se o desprezasse mais que tudo. Cato sentiu a irritação travar uma batalha dentro de si até culminar em sua mão segurando a pele fria do braço da garota. – Clove, você pede muito. Você quer o quê, que eu ache bom você com seu namoradinho perturbado? – ele quase gritou, verdadeiramente exasperado. 

— Cato, sai dessa — Clove rosnou, o empurrando como se seu toque a queimasse. – Ele está me pagando, lembra? Se eu não entregar uma historinha perfeita pra eles, alguma merda com certeza vai aconte...

— Não é isso. Você fica assumindo que eu não sei disso, mas...  

— Então qual é a porra do seu problema? – ela berrou, rosa tingindo suas sardas. – Para de voltar nesse assunto. Eu te disse pra acabar com essa merda há muito tempo porque, adivinha? Essa palhaçada com o Naevio é meu emprego novo, Cato! Você é muito burro pra me ouvir e caçar seu rumo, então aprende a lidar.

Cato tapou os olhos em frustração, sentindo seu rosto formigar de tão vermelho que estava. No fundo da sua mente, a voz finalmente voltou a se fazer ser ouvida:

Ela sabe. Ela sabe o que você quer dizer. Ela está só te testando.

— Tem vez que não parece que você odeia ele desse tanto – Cato foi obrigado a finalmente cuspir tais palavras, encarando a figura fulminante da garota a sua frente.

— Vai se foder – Clove latiu, de forma quase automática.

— Escuta, porra! Não parece. É idiotice, mas é assim que é – Cato falou, irritado. No fundo, ele esperava que uma Clove compreensiva e levemente humana fosse surgir diante de qualquer débil tentativa sua de explicá-la que aquelas coisas simplesmente apareciam em sua mente porque ela a conhecia bem demais pra pensar qualquer outra coisa.

Ele queria, meramente, alguma asseguração, ainda que ela não exatamente a devesse uma.

Umas poucas palavras sobre como ela ainda odiava qualquer um que viesse da Capital. Sobre como ela ainda não deixava cliente nenhum tocá-la depois que tinha cumprido seu contrato – mesmo que fosse um de três anos.

Sua decepção foi velada quando a Clove real sorriu com um deboche histérico, seus olhos cheios de raiva.

— E daí? Eu sou uma boa atriz. Supera— ela falou com sua mesma tranquilidade cruel de sempre. Ela girou nos calcanhares e começou a caminhar na direção da casa.

Cato precisou juntar as palavras e a coragem na sua mente por alguns segundos.

— Quando eu te contei sobre meus clientes, você passou um mês sem falar comigo. – Com essa declaração no mínimo ousada, Clove parou no meio do caminho. Motivado por um desejo (uma necessidade) de se não machucá-la ao menos fazê-la sentir alguma coisa, Cato continuou: – Você não gostou de saber que eu estava fodendo com outras pessoas, gostou? Você não superou. Você até hoje não consegue superar.

Ele observou a figura pequena de seu corpo expirar e inspirar pesadamente, porque aquele era um dos assuntos mais firmemente vedados.

— Com seu cliente fixo é pior – Cato rosnou, a voz cheia de desgosto dando vazão a toda sua raiva. – Presta atenção nesse seu “superar” aí porque você também ficou com raiva. Você não deu conta de lidar, deu? Então você não tem o direito de falar merda nenhuma, Clove, porque eu não estou batendo a porra da porta na sua cara e nem te dizendo pra não encostar mais em mim, o que é mais do que você dá conta de fazer, não é? Tudo que você faz é se trancar no inferno da sua casa e dizer que a gente “terminou”. Aí, no outro dia, você volta, e, só porque eu lido melhor, eu não me importo com essa merda toda mesmo que eu esteja vendo essa desgraça toda de novo, ao vivo.

As palavras amargavam a boca de Cato, mas ele não se importou. Clove permanecia de costas, sua respiração tão pesada que era imperceptível.

— Você sabe bem quem o Naevio lembra, não sabe? Ele é familiar, não é? Ele preenche todos seus requisitos, Clove. Ele é rico, doido e cheio de demônio no olho, bem o tipo que você gosta de cercar. Você sempre fez qualquer merda que você queria e eu não iria me importar se você pudesse abrir a porra da sua boca e falar, porque eu sei que essas coisas acontecem e que às vezes você nem reparou que parou de fingir, porque você faz essas coisas desde sempre, não é? E eu estou vendo a mesma coisa, Clove, a sua cara olhando pra ele, você passando a mão nele, tudo. Você tem essa coisa com as marcas, mas você não quer que eu mexa nas que ele faz. E você fica chorando e eu me pergunto, Clove, se não é culpa porque você gosta um pouquinho mais de um dos seus clientes. Então para de fingir que não tem a menor chance de você começar a arriar seu pneuzinho por conta dele. Você que é a inteligente. Você se conhece.

Cato quase pensou que ela não fosse responder. Que só fosse admitir tudo quando eles estivessem na cama e ela pudesse dizer que sentia muito sem que ele a questionasse.

Mas então, de repente, Clove estava voltando a andar em sua direção, fogo em seus olhos ora verdes, ora azuis, como se alguém houvesse acabado de invocá-la. Talvez para dar um tapa na cara dele. Talvez para gritar que ele não sabia de absolutamente nada. Talvez para dizer “é, Cato, eu amo o Naevio (o Wade) (o Kizar) (o Hitiu) (a Cibele) (a Veriana) (você?)”.

— Você lembra que eu te avisei sobre essa coisa toda, não lembra, Cato? Eu te disse pra acabar com isso de uma vez e você não quis, então você entende que eu não posso ficar pensando em você e seus sentimentos toda hora, não entende? – foi o que ela perguntou freneticamente, em voz baixa. À contra gosto, sem saber o que aquilo de agora significava, Cato assentiu, seus dentes cerrados. Clove suspirou pesadamente e pressionou os lábios juntos por um segundo, como quem tenta se convencer a fazer algo. – Ok, então, seu filho da puta.

 Outra pausa se seguiu. Clove suspirou longamente, a raiva piscando por seus olhos.

 – Eu respeito o que você acha disso. Essa sua historinha ridícula faz sentido, eu podia estar “arriando meus pneus” pelo Naevio. Mas eu odeio desse tanto qualquer um que me compra e você sabe disso porque você também odeia. O Naevio podia ter a sua voz e a sua cabeça e a sua cara e eu ainda odiaria ele se ele tivesse passado dinheiro para a mão do Snow pra poder me foder. Eu te avisei que dessa vez a coisa era séria, mas, porque você é a porra de um burro do caralho, você não reparou que o velho pode te matar de quarenta e sete formas só porque o Naevio está insatisfeito com o serviço. Você está atrapalhando ele, então me parece que um esforço precisa ser feito ou então você vai acabar em uma vala rasa atrás da Nêmeses. Eu sou mesmo uma boa atriz, Hadley, mas você não tem o direito de vim apontar o dedo na minha cara me dizer o que eu penso sobre um perturbado pagando pra me foder. Se você está caindo nessa, eu estou fazendo bem meu trabalho de salvar sua bunda.

Clove parou por um segundo, tapando o rosto com as mãos depois de enxergar a expressão no rosto de Cato. Ele pareceu quatro vezes mais novo, quatro vezes mais perdido.

— Eu não sei o que você está vendo, Hadley. Eu estou toda marcada, eu estou recebendo pra deixar ele me marcar. Você não consegue...?

As palavras de Clove ficaram penduradas por uns segundos, mas logo foram compreendidas por Cato. Enquanto sua cabeça pendia para um lado e ela quase implorava para não precisar dizer mais nada, Cato reconheceu aquela coisa em seus olhos.

Clove estava com medo

Você sabe, Cato não podia realmente ser culpado por seu atraso em compreender os afetos de Clove. Ele tinha visto raiva, tristeza, desespero. Não medo. Com ela, o objeto de seu medo não era se não um receptáculo para sua ira, que certamente iria absorver quaisquer outros afetos de imediato. Daquele jeito, naquela forma pura e silenciosa que habitava seus olhos, Cato não pôde realmente distingui-lo. Ele era novo.

Mas ele viu. Finalmente. Ele entendeu, muito rápido.

Então Cato encheu seus olhos de ódio e de uma realização brutal. Ele sentiu a mão de alguém esmagar seu coração. Todas as células em seu corpo gritaram que Naevio teria que morrer.

— É só isso que eu posso te dizer. Então, sossega, Hadley, porque essa porra está enchendo o saco.

Clove deixou algum tempo para que Cato apreciasse as implicações delicadas em sua fala, sua tentativa dolorida de dar um pouco do que ele queria dela. Ele precisava dessas coisas mais que ela, que quase morria de ódio toda vez que precisava explicá-lo como as coisas entre eles deviam funcionar. Cato não devia estar se sentindo ameaçado por nada que ela fazia com qualquer outra pessoa. Nem ninguém do 2, nem ninguém que não deveria tocá-la, nem ninguém no mundo inteiro.  

Depois de alguns minutos, com olhos estranhamente calmos, Cato assentiu.

Clove observou sua mandíbula forte, seu queixo definido, e, por alguns segundos, enquanto um trovão o fez olhar para cima, sua mente exibiu um flash do sonho daquela noite, do sonho de semanas a fio; ela assistiu o urso a trocar por Cato, assistiu o prazer indevido que estava sentindo ser substituído por um ainda maior quando ele começou a destruir o corpo dele em vez do seu. No que havia restado do seu corpo, ela pôde ver o reluzir de um colar dourado brevemente, antes de Cato ressurgir e ir embora de vez.

Mordendo os próprios lábios, Clove caminhou até Cato, e, da forma mais gentil que conseguia, deu um selinho em seus lábios.

Clove não suportava aquilo. Parecia uma infecção, correndo desesperada por suas veias, contaminando seu sangue e seu corpo e sua mente.

Ela não suportava Cato e seus olhos a esquadrinhando com todo tipo de sentimento ridículo que havia no mundo, não suportava ver que o desejo nos olhos dele não era só desejo havia muito tempo, não suportava testemunhar a si mesma reagindo a tudo aquilo.

Quando Cato a encostou contra uma árvore e a beijou muito lentamente, ela sequer o apressou, sequer ficou com raiva, sequer se deu ao trabalho de não gostar.

Clove fechou os olhos e ouviu o atroz aviso da natureza; correndo as mãos pelo cabelo de Cato, ela só pôde concluir que toda aquela demonstração de poder que fazia os céus dançarem e se contorcerem era também um anúncio de que catástrofes estavam prestes a implodir bem ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

EITA
Gente, se liga na Clove pensando “eita estou apaixonada????” kkkkk
Eles são tão TUDO que eu fico pensando por que a Suzanne não podia simplesmente escrever sobre eles e me poupar de ficar mexendo com essas coisas. Super entendo querer descer o Cato na porrada, contudo. Eu não vou explicar o comportamento dos personagens nem nada, então se alguém achar muito ruim sinta-se à vontade pra me esculhambar também. Simplesmente fez sentido pra mim que nessa situação com o Naevio, com a Clove sendo ela e o Cato sendo ele, coisas desse tipo fossem surgir. Então..... O que mais pra comentar aqui?? Aaahh. Sobre a Clove sendo bissexual: simplesmente pareceu condizente com a personagem e THATS THE TEA. O próximo é o da Colheita, mas não sei quando que vem pois preciso dar uma mexida. De qualquer forma, muito obrigada por lerem, desculpa qualquer coisa e beijão ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Glory and Gore" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.