Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Oi, turu bom?



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  "Me sinto como se fosse sonâmbula e não sei como acordar."  

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¤ Capítulo 12 ¤    

No outro dia, depois de mais interrogatórios, o médico lhe disse que teria alta em algumas horas. O que era um alívio para Ana, e uma droga também por que ela não queria voltar para aquela casa. Seu pai estava sendo um pai finalmente - e a chamou para morar com ele. Mas aquilo era estranho. Ela também não queria morar com ele e com a mulher dele.

Mas o remorso era algo que fazia as pessoas insistirem em tudo.

— Audrey vai adorar ter você conosco, querida - ele disse.

Não iria não. Audrey nunca gostou muito de Ana.

— Não, pai, eu não quero - ela foi firme. - Eu não quero ir para outro país, que eu nem sei falar a língua.

— Você é esperta, logo aprende.

— Eu não quero.

— E o que vai fazer? Você não quer voltar para sua antiga casa...

— Eu posso alugar um apartamento, ou comprar outra casa... Isso, comprar outra casa. Sou maior de idade agora, posso legalmente ter minha própria casa.

— Mas você vai morar sozinha?

— Qual é o problema? Tecnicamente, morei sozinha no último ano.

— Ana, não brinque com isso.

— Pai, o que eu estou dizendo é que...

— Eu me sinto tão culpado - o outro suspirou ao admitir.

— Não, não se sinta assim - Ana foi rápida em dizer, ela sabia bem qual era a sensação. - Olha, não é como se fôssemos começar a jogar baseball nos fins de semana e tal, mas... Você está sendo um bom pai. Não se sinta culpado por nada. Ninguém saberia. Você não conhece direito a família da mamãe, nem eu na verdade. Eu podia muito bem ter uma tia e estar com ela.

— É, mas eu devia ter verificado. Eu tentava te ligar, mas só dava caixa postal.

— Está tudo bem agora. Eu estou aqui, e ninguém pode me machucar. Vamos esquecer, okay? Eu estou me esforçando para isso. Eu gostaria que fizesse o mesmo.

— Tudo bem. Tem que seguir em frente.

— Isso. Agora voltando ao assunto, eu posso cuidar de mim mesma.

— É, acho que pode.

— Então está tudo certo, vou comprar uma casa.

Uma semana depois, sua vida estava quase normal. Seu pai havia ajudado-a a comprar uma casa, na verdade toda casa que iam o homem perguntava os fatores de segurança, até que encontraram uma que mais parecia uma prisão e ele gostou. Ana não se importou muito com a casa, mas se seu pai estava feliz, então tudo bem. Depois que saiu do hospital, teve que passar por mais interrogatórios, e com as suas descrições conseguiram encontrar o local em que ela fora mantida. Suas digitais estavam por toda parte, e Christian disse que aquilo com certeza já manteria ele preso pelos próximos 20 anos. Depois que fizeram perícia na sua antiga casa, encontraram vestígios de sangue e arrastões. Com certeza Jack teria prisão perpétua. Mas ainda assim, precisava passar pelo julgamento. Christian lhe garantia que ele não teria direito ao habrea corpus depois de tantas provas, e que ele seria condenado, que o julgamento era só um jeito de selar isso.

Ela estava arrumando as roupas no armário quando a companhia tocou.

A campainha não parava de tocar, como se alguém tivesse prendido o dedo nela.

— Eu já estou indo - Ana gritou, enquanto descia as escadas.

Digitou o código de segurança - que seu pai insistiu em colocar - e olhou pelo olho mágico.

Seu coração disparou.

O que ela estava fazendo ali?

Ficou com um ressentimento de abrir a porta.

— Abra, por favor. É muito importante - a mulher insistiu, suplicando.

Ana abriu uma fresta da porta devagar e a encarou a mulher.

— O que você quer? - perguntou.

A última e única vez que a viu foi há alguns meses. E ela estava diferente ali. Seus cabelos estavam mais curtos, com o mesmo tom grisalho, ela parecia mais magra, e tinha uma mancha roxa ao redor do olho direito.

— Preciso te contar uma coisa... - ela começou e então olhou para o lado.

— Fala.

Ela continuava olhando, Ana seguiu seu olhar com o seu e viu um carro preto na rua. O carro não parou, e o motorista baixou o vidro da janela e disparou uma arma. O momento ficou suspenso por um segundo, enquanto Ana via o carro virar a esquina. Olhou para o lado e a mulher estava caída no chão. Ana queria dizer que ela merecia, que aquilo aconteceu por tudo de ruim que ela já fizera. Mas não conseguia. Ela não conseguia sentir tanta raiva assim, nem mesmo dela. Tudo era reservado para Jack.

Ajoelhou-se ao seu lado e fez pressão em sua barriga, retirou a blusa de flanela que estava e tentou estancar o sangue.

— Você precisa saber... Precisa...

— Não, não fala. Eu vou ligar para ambulância.

Com dificuldade, Ana tirou o celular do bolso e discou.

— Não, ele nunca vai... Ele nunca vai parar....

— Quem?

— Jack. Me deixa te contar... Sua filha... Ela... Ela está viva.

Ana deixou o celular cair.

— O quê?

— Eu troquei... O bebê... Eu troquei.

Seus olhos estavam se fechando.

— Não, não. Onde ela está? Por favor, por favor, me fala.

Ela tentou respirar, mas o sangue saiu da sua boca, estava se engasgando com o próprio.

— Por favor - Ana segurou sua cabeça em pé.

— 1970...

— O quê?

— 197...0

— Mas o que isso significa? Não! Acorda, acorda. Por favor.

As lágrimas caíram do rosto da morena

A garota pegou o celular novamente e ligou para a emergência. Mas no hospital, antes mesmo de ela chegar lá, os médicos confirmaram sua morte.

Ana ficou retida na sala de espera, esperando o óbito chegar e a polícia também. Pelo visto, ela tinha muito o que explicar, não importava o quanto ela dizia a verdade.

Pegou o celular e ligou para Christian. Ele atendeu no segundo toque.

— Christian, você precisa vir para o hospital - ela disparou ela.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Sim, só que... Aconteceu uma coisa. Você precisa vir para cá, é o mesmo em que eu estava.

— Eu já estou indo.

Doze minutos mais tarde, Christian chegou. A polícia falava com os médicos, e tentavam descobrir a causa da morte.

— O que aconteceu? - ele perguntou, olhando para a camisa manchada de sangue da garota.

— É uma longa história. Mas você precisa dizer à eles que eu não tenho nada a ver com isso.

— E isso seria...?

— Uma mulher foi assassinada na frente da minha casa.

— Você atrai encrenca - ele disse sem pensar. - Vou dar um jeito nisso - suspirou, tirando a jaqueta e entregando à garota.

A jaqueta era bem maior que o seu número, mas era estranho ficar por aí com a roupa ensanguentada, então ela a colocou e esperou Christian voltar. Depois de muita conversa e explicações, finalmente pôde sair daquele hospital, e Christian a levou para casa.

— Vai me dizer o que você tem a ver com aquela mulher? - ele perguntou enquanto dirigia.

A garota enrolou pela décima vez a manga da jaqueta que insistia em cair.

— Eu, é... - suspirou. - Será que posso fazer isso depois de tomar um banho?

Talvez depois de um banho de três horas, ela conseguisse pensar em como contar o que aconteceu entre ela e aquela mulher.

 

*Flashback*

Ela estava sentindo algumas dores naquele dia, era fracas quando acordou, mas ao decorrer do dia foram ficando cada vez piores. Mas ela ainda conseguia respirar, de tempos em tempos a dor vinha e então ia embora.  

Ela estava sentada na cama, quase deitada na verdade, com uma barriga daquele tamanho nenhuma posição era reta.

Passou a mão por sua barriga, sentindo o bebê chutar. Às vezes, ela ficava imaginando como seria seu rosto. Nunca conseguia chegar a uma ordem exata. Será que seriam azuis como os seus? Ou verdes como o de Brad? Talvez até como os da sua mãe, cinzas. Uma menina ou um menino? Era tão esquisito o fato de amar alguém que nem sabia como era.

Ela se perguntava aquele tipo de coisa, pois quando não pensava naquilo, pensava em Jack. No que ele faria quando o bebê nascesse. Ele a deixaria sair? Muito pouco provável. Tiraria ele de dela? Provavelmente. Ela não gostava de pensar naquelas coisas. Mas sempre acabava pensando.

Sarah havia colocado uma bandeja de comida em cima da mesa da penteadeira. A garota se esticou para pegar o copo, mas algo a impediu. Uma pontada forte na barriga a fez paralisa, era como se um balão de água tivesse estourado bem dentro dela.

— Calma, bebê - disse, respirando fundo e passando a mão pela barriga.

Mas então a dor aumentou, foi ao máximo e continuou aumentando. Era uma pressão terrível.

— Aaah - seu grito com certeza assustou quem estava do outro lado da porta.

As correntes se mexeram rapidamente, mas sua mente não registrou aquilo, a dor se tornou forte demais, e menos de dez segundos ela veio novamente.

— Ana! - ouviu a voz de Jack chamá-la.

— Está doendo! Está doendo muito! - conseguiu dizer.

Colocou a mão na lateral da barriga, e tentou respirar.

Foi impossível.

ELa sabe bem o que aconteceu depois, tudo ficou escuro.

Acordou com um cheiro forte no nariz, havia uma mulher com um pano, forçando-o na sua boca.

Álcool.

— Está acordada? - ela perguntou.

Ana tentou balançar a cabeça e talvez tenha conseguido, a mulher desapareceu do seu campo de visão.

— Precisa segurar as mãos dela - a mulher disse para alguém.

Jack se sentou na cama, atrás de Ana e a levantou. Ela não tinha forças para afastá-lo, nem mesmo para falar.

— Vamos lá, precisa empurrar - a mulher disse.

Empurrar o quê?

Mas então ela sentiu aquela dor de novo, aquela pressão horrível.

— Aaah - gritou.

— Mais uma vez - a mulher disse.

Ana sentia o suor descendo por sua testa, o cabelo grudando em seu rosto. De repente o quarto estava muito quente.

— Aaaah - gritou mais alto, apertando as mãos de Jack.

Ela já não aguentava mais. A dor era demais, e Ana não tinha mais força para empurrar.

— Um última vez. Você consegue - a mulher disse. - Eu já posso ver a cabeça. Vamos lá.

Respirou fundo, e tentou pegar toda a força que tinha em si. Foi a pior coisa que já teve que fazer, ela não imaginava que ter um filho doía tanto. Mas foi só escutar o choro agudo e alto do bebê, que ela não se importou mais com a dor, nem com nada.

Abriu os olhos e viu a tal mulher segurando seu bebê.

Jack colocou sua cabeça na cabeceira gentilmente, fazendo-a recostar, e se levantou da cama.

— É uma menina - a mulher disse, olhando encantada para o ser mínimo em seus braços.

— Me deixa vê-la - Ana pediu afobada.

A mulher olhou para Jack.

— Tire essa coisa daqui - ele ordenou.

— Não! Jack, por favor - Ana se desesperou.

Ela não se importava com a dor que estava sentindo, só com o aperto em seu peito. O bebê no colo da mulher estava indiferente a tudo ao seu redor, o bebê parecia dormir. Ele já não chorava mais, apenas respirava num arfar profundo.

Uma menina...

— Por favor. Não faça isso. - pediu à mulher. - Ele vai matá-la. Ele vai matar o meu bebê.

— Eu disse para tirar isso daqui! - Jack vociferou, alto e em bom som.

A mulher se virou e saiu pela porta, levando o bebê.

Jack se sentou calmamente ao lado de Ana e a segurou.

— Por favor. Me deixa ficar com ela - pediu a garota, seus olhos embaçados pelas lágrimas que não paravam de cair.

— Não pode. Ela é só um erro - ele sussurrou. - E logo isso vai ser concertado - disse, ainda segurando seus braços.

— Eu te odeio! Eu te odeio, Jack! Eu vou matar você! - jurou.

Para Ana, há alguns minutos, ter um filho era a pior dor que ela poderia sentir, mas ali, naquele momento, ela descobriu que perder um não havia ao menos comparação.

Ela não fazia ideia de por quanto tempo xingou Jack de todos os nomes ruins que sabia, e de quantas promessas de morte lhe fez, mas acabou dormindo de tanto cansaço.

*Flashback*

 

— Você está bem? - Christian a perguntou, fazendo-a voltar à realidade.

A garota balançou a cabeça, limpando uma única lágrima que escorreu por seu rosto.

Ele mordeu o lábio e a encarou através do retrovisor.

— Tudo bem, você me conta mais tarde - declarou.

Depois de tomar um banho demorado, Ana colocou uma roupa confortável, secou cabelo e colocou a roupa ensanguentada na máquina de lavar junto com a jaqueta que também cheirava a sangue. Desceu as escadas, e Christian a esperava, sentado no sofá mexendo no celular.

Com pouco tempo que o conhecia, já percebeu que ele era viciado naquilo.

Ele a avistou e guardou o aparelho.

É claro que ele não ia deixar aquela passar, o homem tinha um fascínio por descobrir tudo o que aconteceu Ana no último ano.

— Eu acho que estou com fome - comentou a garota.

— Você come depois que me contar - ele foi firme, já irritado com toda a enrolação dela.

— Mas...

— Eu livrei você de passar a noite toda numa delegacia tentando explicar o que aconteceu. Agora, eu só estou pedindo para me contar de onde a conhecia.

Ana suspirou e se sentou de pernas cruzadas no sofá de frente para ele.

— Bom, antes de eu ser... Sequestrada pelo Jack, eu descobri uma coisa - começou. - E aí...

— Que coisa?

— Eu descobri que...

Ela não sabia por que não queria falar sobre aquilo. Era uma coisa íntima falar sobre o bebê... O bebê que podia estar vivo. Desde que foi para o hospital, Ana não se permitiu pensar naquela possibilidade. No fundo, estava com medo de se decepcionar. Eu sabia que não iria conseguir superar.

— Eu descobri que estava grávida - confessou.

— Grávida? - ele perguntou, surpreso.

— Sim, eu não sei o que houve... Foi um descuido. Mas enfim, eu descobri um dia antes de ser sequestrada.

Ele claramente não parecia estar esperando por aquilo.

— E o que aconteceu com o bebê? - questionou.

— Me escuta, por favor.

— Você me diz uma coisa dessas, e quer que eu espere você enrolar?

— Não... Só que se eu cortar as partes, você não vai entender nada.

— Okay. Conta.

— Então, eu comecei a ficar muito enjoada e também com vontade de comer coisas estranhas. Jack, de certa forma, sempre fazia o que eu queria, a não ser que eu quisesse sair. Com essa questão ele ficava bem irritado.

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Notas finais do capítulo

Ai, deusus



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