Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii ♥



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"Se desabarmos em todo obstáculo que aparecer, nunca vamos conseguir vencer."

 

¤ Capítulo 11 ¤    

Seu casaco estava encharcado de alguma coisa quente, deixando-a totalmente arrepiada pela sensação fria da neve em seu corpo. Ana mal conseguia respirar, era muito pesado. Seus pulmões pareciam esmagados. E então... Ela respirou o doce ar fresco. E alguém estava tocando-a. Se sentiu desconfortável com aquilo, não gostava que tocassem nela.

— Você está bem? - a voz de um homem foi audível.

Reconheceu voz do cara do FBI.

Alguém levantou seu casaco junto com sua blusa. E ela finalmente abriu os olhos. Sua cabeça protestou.

— Precisamos de duas ambulâncias aqui em cima - ouviu uma pessoa dizer.

Duas? Quem se machucou?

Tentou levantar a cabeça, mas a impediram. Era realmente estranho o fato de ela estar preocupada com pessoas que nem conhecia. Mas eles estavam ali por sua causa.

— Você está me ouvindo? - o cara do FBI perguntou.

Qual é o nome dele? Acho que ele não disse.

— Você consegue ver alguma coisa? - ele perguntou.

Alguém tocou em sua barriga descoberta.

— É do cara - o cara do FBI disse.

— O que... - Ana começou, mas sua voz se perdeu.

Tentou levantar de novo, mas o homem a impediu.

— Fique assim - ele disse.

— Mas...

— Você bateu muito forte com a cabeça.

— Qual é o seu...

— Christian - ele respondeu.

— Christian - ela sussurrou.

— Isso aí - ele sorriu.

Ela sorriu de volta, ou pelo menos tentou, sua cabeça doía tanto que ela estava perdendo a habilidade de mandar em seu cérebro.

— É a ambulância - outra pessoa disse.

E de repente, houve um alvoroço de pessoas de branco ao seu redor. Ela queria dizer que não precisava ser levada daquele jeito... Mas, é, ela precisava sim.

— Você consegue enxergar? - uma mulher perguntou, aparecendo em seu campo de visão. - Está me ouvindo? Se estiver, aperte minha mão.

Ela pegou sua mão de forma gentil, e Ana tentou apertar. Conseguiu, pois a mulher concordou com a cabeça. Logo, ela estava em movimento. Ela queria dizer que não. Que ela não queria ir com eles, que ela queria ver o que estava acontecendo...

— Se acalme - a mulher disse, prendendo mais as tiras da maca ao seu corpo.

— Vai ficar tudo bem - Christian prometeu, apertando sua mão.

— Fica... Fica comigo - pedi, os olhos pesando.

Ela não viu sua resposta ou escutou, apenas teve mais um aperto em sua mão e então ele a soltou. Antes de a colocarem na ambulância, pôde ver uma outra maca. A tatuagem nas costas da mão a fez perceber que era Jack. Ele parecia desacordado, manchado de vermelho. E então as portas da ambulância se fecharam, e seus olhos também - contra a sua vontade.

***

Ana acordou, mas não abriu os olhos. Sua mente estava muito confusa, e ela tinha medo do cenário que encontraria. Uma parte sua queria que tudo tivesse sido real. Essa com certeza era a parte maior. Mas tinha uma parte - que uma vez a decepcionou - que não acreditava no que aconteceu, aquela em que acredita que na verdade ela ainda estava no quarto de Jack, esperando as malditas correntes serem puxadas.

Escutou o barulho de uma porta se abrindo, e o som - que até então ela não havia percebido - de um bip acelerar junto com seu coração. Com a burrice estampada na cara, entendeu que o barulho era os batimentos do seu próprio coração.

— Está acordada? - escutou a voz de uma mulher perguntar. A voz era meiga e gentil. Como das enfermeiras.

Definitivamente ela não estava no quarto de Jack.

Talvez fosse seguro abrir os olhos.

— Está se sentindo bem? - a mulher perguntou de novo.

Suspirou..

Sim, estava bem.

Ela sabia que deveria dizer aquilo em voz alta, mas não queria se mexer, nem mesmo a boca. Estava tão calmo e perfeito. Era um estado à deriva que ela não tinha há muito tempo.

— Ela está acordada? - uma outra voz perguntou... E Ana reconhecia aquela.

Seus olhos se abriram antes que pudesse mandá-los continuarem fechados.

— Oi - Christian saudou.

Ela sorriu.

— Como se sente? - ele perguntou.

— Bem... Minha cabeça dói - respondeu a garota.

— Você bateu com ela muito forte - a enfermeira ao seu lado disse.

A morena levou uma das mãos até a parte de trás da cabeça, sentindo o curativo até sua nuca.

— Como você sabia? - ela perguntou à Christian, depois de alguns segundos.

— É complicado. E sigiloso.

— Eu sou a vítima aqui, e não posso saber? Quer dizer que eu não posso saber o porquê de qualquer um ter demorado um ano para me encontrar? Para ter a dúvida de que talvez eu não esteja com uma tia que nem existi?

Christian a encarou, sem dizer nada. Ana não queria explodir, mas ela esteve quieta por tempo demais. E aconteceram coisas... Coisas que, se eles tivessem a encontrado antes, teria evitado. Não é que ela culpasse eles.

É que ela tinha que culpar alguém!

— Pode nos dar licença - o homem pediu a enfermeira.

— Claro - a mulher respondeu.

— Eu realmente não sei o que ele fez, mas qualquer pessoa que te conheça, acredita que você estava com sua tia. E a sua mãe... Depois do acidente, todos eles pensavam que você não estava bem, que precisava de um tempo - ele declarou assim que a porta se fechou.

Acidente?

— A minha mãe não morreu num acidente - disse a garota..

— O quê? Você não sabia?

— Não, eu sabia, mas... - mordeu o lábio. - Ela não morreu num acidente. Foi o Jack quem matou ela. Como ninguém sabia disso? Foi bem óbvio.

— Na verdade, o óbvio foi o corpo dela afundar na ponte Wilker - ele disse, meio irritado e então se arrependeu no mesmo segundo. - Me desculpe, eu não quis dizer isso.

Xingou-se mentalmente. Estava acordado há mais de trinta horas, seu sistema estava implorando por descanso e tudo ao redor o fazia ficar irritado.

Ele precisava dormir - numa cama, para variar.

A garota cruzou os braços, e olhou para a janela.

— E o Theodore? - perguntou, recusando a deixar as lágrimas caírem.

Fechou os olhos com força, lutando contra as lágrimas que insistiam em querer aparecer. Ela não queria chorar. Não era como se fosse o fim. Ela já havia passado por aquilo antes, sozinha. Só estava tendo uma recaída. Acho que acontece com todo mundo, né? Mas com estava sendo diferente. Sempre foi.

Quanto tempo dura o luto? É uma coisa que você vive solitariamente. Enquanto ela estava no quarto, estava tudo bem quando ela chorava, afinal, ela estava sozinha. Mas ali não. Ela não queria chorar na frente de ninguém. Uma perda impactante não pode ser compartilhada, não importa o quanto você tente.

— Ele está com Elizabeth Sullivan, na Itália.

Ana franziu o cenho após um suspiro de alívio.

Por que Liz estava com Teddy? Que conveniente.

— Eu sinto muito. Acho que a polícia devia ter verificado – disse Christian.

— Com certeza – rebateu a garota, saindo de seu devaneio.

Ela olhei para ele de verdade. Ele não parecia sentir muito, mas não era como se não se importasse também.

Num interrogatório, ele era o policial durão.

— Eu vou poder sair daqui? - perguntou.

— Sim, em breve. Talvez você tenha alta amanhã. Mas você vai ter que ir à Agência prestar depoimento.

— Agência?

— Ao FBI.

A garota se sentiu desconfortável.

— Ah. É, bom... Vocês o pegaram em flagrante, ainda preciso fazer alguma coisa? - tentou.

— Sim. Pegar ele apontando uma arma para você, não é o suficiente. Se esse for o único crime, ele vai preso por no máximo 3 anos, e ainda pode ter um habrea corpus. É a lei, e se tiver um advogado bom pode até mesmo responder em liberdade depois de alguns meses.

Ana abriu a boca indignada.

— Que governo de mer... - calou a boca. - Eu não vou precisar ir ao julgamento, não é?

— Na verdade, você vai. Você é a vítima, vai precisar ser testemunha.

Revirou os olhos.

Ela não queria estar na mesma sala que Jack, nunca mais.

O que a fez pensar...

— Você estava mentindo, né? Eu não tenho que ir vê-lo na cadeia? - perguntou um agitada somente em pensar na possibilidade.

— Não se você não quiser – ele respondeu de imediato.

— E por que eu iria querer? - a garota bufou num suspiro de alívio.

— Não sei. Tem vítimas que...

— Se apaixonam pelos sequestradores? - completou já sabendo. - Eu fiquei um ano presa num quarto, acha mesmo que eu sinto por ele é diferente de ódio e repulsa.?

— Eu imagino que não.

Torceu os dedos das mãos uns nos outros. Estavam doloridos, com certeza pelo aperto de Jack. Ela também podia sentir seus braços protestando toda vez que se mexia. Não queria nem ver as marcas que provavelmente não sairiam tão cedo. Sem contar na sua cabeça, era como se um trator tivesse passado por ela - ou por seu corpo inteiro.

— Você se lembra de onde era? - Christian perguntou delicado.

— Não, eu acho... - Ana foi sincera, tentando tirar do fundo das suas lembranças o que viu. - Nós passamos pela ponte Wilker depois que saímos da casa. Bom, era numa rua bem movimentada, com muitas casas, mas eram um pouco distantes uma da outra. A casa em que eu estava era grande, com uma cerca branca. Um lugar em que ninguém nunca desconfiaria. Eu acho que o quarto em que eu estava era debaixo da casa, um tipo de... porão.

— O que tinha lá?

— Hã... Era um quarto normal, de uma menina.

O outro franziu o cenho claramente confuso.

— Não era um cativeiro, então? - questionou.

— Não. Tinha uma escrivaninha, penteadeira... O quarto era rosa, a cama era branca.

Ele abriu a boca mas a fechou, provavelmente guardando o pensamento apenas para si.

— Ele te machucou? - foi direto ao ponto.

Ana mordeu o lábio inferior.

— Se você quer saber se ele tocou em mim, não, ele nunca fez isso - respondeu com sinceridade.

— Então, por que você estava lá? - o outro disparou.

— Eu já perdi a conta de quantas vezes perguntei isso à ele. Mas ele só ficava me olhando, durante todo esse tempo, ele apenas se sentava e me olhava. Bem assustador. Às vezes a noite toda, e ele era bem rígido também, como se precisasse ter certeza de que eu... Que o obedeceria.

Christian apenas a encarou, podendo ver claramente o quanto aquilo havia assustado a garota.

Com certeza esperar era algo pior do que acontecer realmente. E ela deveria apenas ficar esperando, sem nenhuma ressalva do que aconteceria.

Uma enfermeira entrou no quarto junto com um médico, não deixando Christian dizer nada.

— Precisamos fazer um exame de verificação agora - a enfermeira disse.

— Tudo bem. Eu continuo depois - ele disse. - Amanhã provavelmente.

Ana balançou a cabeça, e se arrependeu no mesmo segundo quando sentiu sua cabeça doer.

— Até amanhã - disse ele, passando a mão pelo cabelo enquanto bocejava.

Ana pressionou os lábios um contra o outro.

— Está aqui há muito tempo? - questionou antes que ele fosse embora.

O outro se virou novamente para si.

— Desde que você chegou - respondeu.

A garota levantou as sobrancelhas, surpresa.

— Por que?

Ele deu de ombros.

— Você me pediu para ficar - murmurou.

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