Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo



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¤ Capítulo 10 ¤    

Jack quase surtou quando a aeromoça disse que iria atrasar mais alguns minutos e que o avião iria voltar para o chão. Ele parecia quase sentir alguma coisa, como se o perigo estivesse por perto. Irônico, por que para Ana ele era o único perigo ali.

— FBI - a voz de uma mulher foi ouvida, vinda da porta do avião.

— É claro - a voz de um homem respondeu, o piloto.

Ana olhou para o lado de fora, tentando respirar e regularizar seu coração. Por um lado, ela queria que eles descobrissem, de alguma forma, que ela havia sido sequestrada. Mas por outro lado, ela sentia medo do que Jack poderia fazer.

Será que ele lutaria com os policiais? E se ele tentasse matá-la?

Sua respiração foi se alterando. Jack segurou sua mão com uma força indestrutível. Ana tinha a impressão de que iria quebrar a qualquer momento. A garota fechou os olhos com força e tentou não pensar na dor.

Enquanto duas pessoas entravam no avião, armados e com o distintivo, Jack tirou o boné de Ana e soltou seu cabelo. 

O coração da garota já nem era mais coração.

Ele casualmente puxou a cabeça dela em sua direção e a fez deitar em seu ombro.

Os policiais chegaram até o casal do outro lado de onde eles estavam, Jack tirou algo da jaqueta e a fez olhar, apertando sua mão e depois a soltando. Era uma arma branca, travada, mas ainda assim uma arma. Ana não conhecia de armas, mas já viu muitos filmes de ação para saber que arma era aquela. Era uma pistola sem metal, impossível de ser detectada. Ele não tirou ela toda, apenas o cano. E isso foi o suficiente. Era um aviso claro para que Ana ficasse quieta. Ele a colocou de volta na jaqueta e se ajeitou no banco.

E a policial se virou para eles.

Jack respirou fundo e voltou a pegar a mão de Ana. Assim que a garota chegou perto demais, ele tirou a arma da jaqueta e atirou. Ana não conseguiu ver se ele acertou, ou se a mulher desviou. Quando Ana abriu os olhos depois do barulho ensurdecedor, ela já estava sendo arrastada pelas escadas do avião. As pessoas desceram também, e logo se fez uma multidão e Jack a segurou firme.

Aquela com certeza era a ideia: se perderem na multidão. No aeroporto, a multidão era maior ainda, as portas não eram mais de vidro, eram de aço. Não havia saídas. Jack puxou Ana para o meio das pessoas, a arma ainda em sua mão, até que ele se virou para trás e um puxou com força contra si. O outro detetive apontou a arma para ele. Houve um momento suspenso entre ali, uma escolha seria fatal. Mas ele não atirou, e Jack correu, ainda com Ana.

Por que ele não atirou?

Eles subiram uma escada, Jack ia empurrando todos que entravam em seu caminho. Ele abriu uma porta, e entrou. Um depósito, só que sem depósito de nada. Era só uma sala vazia. Estava escuro por causa das portas de aço. Ele abriu outra porta, e subiram outra escada, e outra, e outra.

Não podíamos ter ido de elevador? - pensou Ana sem fôlego.

Ela ofegou quando ele parou. Sua mão protestava, mas ela se desligou da dor e se concentrou em não desmaiar.

— Vem - ele disse, quando ela paralisou firme. - Você não quer que eu te carregue, né? Por que eu só vou fazer isso depois de atirar em você.

A ameaça foi suficiente.

A morena levantou a cabeça e começou a andar com ele. Conforme eles andavam, Ana conseguiu perceber o que estava acontecendo. Jack apontava a arma para sua barriga, enquanto olhava para trás, para os lados, para cima.

No caos do momento, finalmente percebeu por que o homem com o distintivo não atirou: Jack havia ameaçado-a.

Como eu não percebi isso?

Eles entraram em outra sala e subiram uma última escada, que dava para o alto do aeroporto.

O que ele pretendia fazer? Se jogar dali e cair nos lixos lá de baixo? Não tem lixo lá em baixo, só água. Espero que ele não esteja achando que isso aqui é um filme do Vin Diesel!

Jack se virou para a porta e abaixou o ferro. Ao longe, Ana podia escutar passos nas escadas, o plin do elevador e o click das armas destravando. Parecia um exército chegando. Jack tinha o mesmo pensamento. Ele a fez andar até o meio do terraço e ficou atrás de si, apontando a arma para sua cabeça. Estava nevando muito lá em cima, e seu casaco não era o suficiente para mantê-la aquecida, seus dentes já batiam um no outro.

Os policias chegaram ao topo das escadas, era possível ouvir o barulho da porta sendo forçada repetidas vezes. Ana sentiu a arma tremer em sua cabeça, suas pernas ficaram moles, mas ela tentava não pensar. Apenas respirar. Tentou se concentrar na respiração de Jack e sincronizou a sua com a dele. Seu peito subia e descia com rapidez.

A porta foi aberta com o chute de alguém. Era o mesmo homem. O homem que não atirou quando teve oportunidade. A respiração de Jack parou e com aquilo e a de Ana também. A morena queria fechar os olhos, ela quase ouvia o barulho do tiro sem nem ter sido disparado ainda. O som a incomodava mais do que o fato de que quando ele fosse audível, ela morreria. Com a sua morte ela não se importava, com uma certeza desprezível, ela percebeu aquilo. Pelo menos, finalmente, tudo acabaria. E com sorte, ninguém mais morreria por sua causa.

Mas o som do tiro não veio, eles apenas se encararam.

— Abaixe a arma - o homem com o distintivo do FBI disse.

Os três ali - e todos os outros que estavam vendo - sabia que Jack não obedeceria, talvez só tivesse pedido por que era obrigatório. Talvez fosse uma norma do FBI. Afinal, os sequestradores nunca abaixam a arma.

Geralmente, eles morrem.

Bom, nos filmes é assim.

Mas Ana também já havia visto muitas reportagens em que as vítimas morriam, ou pelo sequestrador ou por uma bala perdida disparada pelos próprios policiais. Não se lembrava de alguma vez que tenha visto uma reportagem em que tudo tenha ficado bem. Às vezes, os policiais também morriam. Ana não queria que eles morressem. Nem mesmo a garota do avião. Estranhamente, naquele caos da situação, a morena se pegou pensando se ela estava bem. Porém, isso não devia ser estranho. Ana deveria realmente se preocupar. Se a policial morresse, iria ser sua culpa. Se qualquer policial ali morresse, seria sua culpa. Até mesmo se o detetive morresse, seria sua culpa. E ela não queria ser culpada por mais mortes. Tem um limite de culpa que uma pessoa consegue carregar. E quando esse limite se atinge, você não tem mais controle para parar.

— Aqui é a policia de Nova York - um homem com um alto falante disse lá em baixo. - Senhor, Roland Walker, solte a menina, abaixe a arma e deite no chão. É uma ordem.

Talvez fosse em seu nervosismo mútuo, mas Ana pôde ver cara do FBI revirar os olhos para a polícia. Ela já ouviu falar que os agentes do FBI não gostavam da polícia civil e vice versa.

Jack destravou a arma. Aquilo foi um sinal claro de que ele não estava nem aí para ordens.

— Você não quer machucá-la - o homem disse, se concentrando apenas em Jack e Ana.

— Não, eu não quero. Mas vocês vão me obrigar a fazer isso - Jack falou.

— Não. Você só precisa abaixar a arma - insistiu o outro.

Outros policiais estavam a postos, cercando o telhado do aeroporto.

— E aí? Eu vou preso...

— Você fez por merecer - o detetive foi firme.

— Não, eu não vou preso - Jack declarou.

— Você vai ter direito a um advogado - o outro tentou.

— Não importa. Mesmo assim, eu vou preso...

— E você acha que vai conseguir sair daqui? De qualquer jeito vai acabar na cadeia. Você está cercado, não tem como fugir. Se si render é mais fácil. Não quer ser preso por homicídio, quer?

O coração de Ana apertou. Jack seria preso por homicídio. Mas parece que ninguém sabia que ele matou sua família. Como alguém consegue ser tão cauteloso, e calcular algo que nem o FBI descobriria?

Aquilo a fez pensar em uma coisa...

— Seu amigo já foi preso. Ele vai contar tudo. Não importa o quanto tente negar. Ninguém vai te tirar dessa - o homem continuou. - Mas você não precisa fazer. Não tem que acabar com a vida dela.

— Eu vou ser preso...

Jack não parava de repetir aquilo.

Se ele não quisesse ser preso, não devia ter feito coisas erradas! Agora eu estou pagando por isso

Mas numa coisa, na verdade em tudo, o homem do FBI estava certo: de qualquer jeito, Jack vai parar na cadeia. Ele não tinha mais como se julgar inocente - não que tenha tido alguma chance. 

— Deixa ela vir - o cara disse.

Jack a segurou com mais firmeza.

— Eu não vou ser preso. Não vou ficar longe dela - Jack vociferou com raiva.

Talvez ali o agente tenha entendido - e Ana também. A forma desesperada com que Jack falou, o jeito que ele a segurava desde que saíram da casa... Ele não queria perdê-la. Ele não estava nem aí se fosse preso, contanto que ela estivesse na cela com ele, tudo bem.

— Se você quer tanto ficar com ela, por quê quer machucá-la? - o agente questionou.

— Eu não quero... Vocês querem.

— Não, nós só queremos que você abaixe a arma. Você está assustando ela. Sua arma está destravada, pode disparar a qualquer momento.

Jack deu passo para trás, puxando a morena junto. Ele deu outro e outro. Conforme ele dava seus passos, o homem do FBI fez um sinal com a mão, mandando os outros abaixarem as armas e ficarem onde estão. Ana não entendi o porquê. Mas então, sentiu a arma descer de sua cabeça. Quando Jack deu o quarto passo, a arma tocou sua barriga, mas ele virou-a para baixo, sem soltá-la. No quinto passo, ele apenas a segurava, a arma ao lado de seu corpo.

— Coloque a arma no chão - o homem do FBI disse.

— E aí vocês tiram ela de mim? Acho que não. - Jack falou.

— Nós vamos tirar ela de você, você querendo ou não. Ela não quer ficar com você. Não pode obrigá-la.

— Posso sim.

— Deixe ela vir.

O cara do FBI falava como se estivesse falando com uma criança desobediente.

De fato, ele estava.

— Última chance - o policial com o alto falante disse lá de baixo. - Entregue a garota e deite no chão.

O cara do FBI olhou para um outro e fez um sinal com a cabeça. Jack não perdeu aquilo.

Bom, nem mesmo Ana, que era a vítima, perdeu aquilo.

— Tudo bem, vamos fazer um acordo - falou o cara 2 do FBI.

— Que acordo? - Jack perguntou, a arma ao lado de seu corpo tremeu.

— Você nos entrega ela, e deixamos você vê-la na prisão.

Ana sentiu Jack vacilar.

O frio a fazia tremer  e sentir cada centímetro do corpo do outro, cada respiração mais pesada.

— Mas não vou vê-la o tempo todo?

— Não. Ela vai precisar de alguns dias, e então você vai vê-la.

Jack pareceu pensar. Ana não fez objeção de que não iria. É claro que ela não iria. Mas eles pareciam apelar para a mentira quando sabiam que alguém iria morrer.

Sua respiração era audível, qualquer um que estava ali escutava. Seria constrangedor se a situação fosse diferente.

Jack soltou-a aos poucos... Lentamente, ela sentia o aperto perder a força, e seus braços ficarem doloridos. Com certeza ela já estava com manchas roxas e vários hematomas só pelos apertos dele.

Ele pareceu em dúvida por um segundo, mas então voltou a continuar a soltá-la. Quando ela já estava quase livre de seu braço, o som de um disparo passou por Ana. A garota sentiu alguma coisa líquida em seu quadril.

Desesperada, esperou pela dor, mas não veio.

Outro barulho, diferente do disparo de uma arma. Dessa vez, foi da arma caindo no chão. O braço de Jack puxou-a para baixo. E então, sentiu sua cabeça batendo com força no concreto, e uma coisa muito pesada caindo em cima dela.

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Notas finais do capítulo

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