Ode às Margaridas escrita por Ahelin


Capítulo 3
III


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo pertence à Rodada 3, cujo tema é o meme: https://media.giphy.com/media/l0MYBbEvqqi1kfuyA/giphy.gif
Boa leitura!



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Debruçada sobre a mesa, num gesto árduo e pecaminoso para com sua postura impecável, Agatha acelerava a produção de biscoitos de polvilho para a velocidade 6. Ergueu os olhos para o relógio e limpou dramaticamente um falso suor de sua testa, agradecendo ao tempo pela colaboração. Faltava ainda uma hora e meia para que ele chegasse, e tudo levaria menos de quarenta minutos para ficar pronto.

Era a sobremesa favorita de Rodrigo. Mais doce que salgada, e ainda assim não tão doce. Justamente como ela, ele adorava ressaltar. Por um só momento, ela distraiu-se de dar forma a mais um pedaço de massa e pegou a si mesma pensando nele. Como uma adolescente descobrindo o primeiro amor.

Foi apenas um momento, mas era o suficiente. Um par de mãos agarrou-a com firmeza pelos ombros, ocasionando um arrepio de surpresa.

Surprise, bitch — sussurrou o dono das mãos e dos lábios colados em sua orelha.

Ela soltou um suspiro ruidoso, descontente, e largou a massa por moldar. Lançou um olhar desolado para o jantar assando no forno e lamentou-se por ter tido a brilhante ideia de tentar fazer uma surpresa.

— Você nunca chega mais cedo — ralhou, sem olhá-lo. Sabia que, se o fizesse, toda a sua determinação evaporaria. — E resolve fazer isso justo hoje?

Mas ele não estava ouvindo. Beijava seu pescoço, arranhava sua orelha com a barba por fazer.

— Se serve de consolo, ver você cozinhando é a maior surpresa que eu já tive na vida.

— Eu sei. — Ela relaxou. — Mas seria bem melhor se você chegasse e visse tudo pronto.

— Eu prefiro estragar o seu presente do que comer frango queimado — retrucou ele, com certa pitada de humor, mas ambos sabiam que era verdade. — Obrigado — murmurou, prolongando a sequência de carinhos antes que ela assimilasse o que ele dissera. — Minha vez.

Do bolso, tirou um guardanapo amassado. Não parecia grande coisa até ser desdobrado e revelar um pequeno broto.

— Oba, mais uma flor que eu vou ter que regar e podar — ironizou Agatha. — Feliz aniversário de quatro anos pra mim.

— É um broto de margaridas — informou ele, desconsiderando seus comentários. — Mas este ainda não é o presente.

— E o que é?

— Um ode. — Rodrigo sorriu, misterioso. — Com arranjo e tudo. Mas eu só vou tocar pra você quando essa margarida florescer.

Ela riu.

— Ah, ótimo. Eu aguento a agonia da espera. Algum motivo em particular pra escolher uma margarida?

— Você sempre reclama "da beleza vulgar das rosas e do exibicionismo dos lírios". — Ele fez aspas no ar com os dedos e puxou-a para si. — E que mesmo assim eles ganham as poesias e elas as músicas. Você, caríssima senhora, de beleza singela e além do rosto, é a minha margarida.

— Que piegas — reclamou ela.

— Ah, deixa de ser idiota! — Ele bagunçou gentilmente os fios castanhos e a encarou. — Te amo.

Ela roubou um beijo, mas se afastou em um segundo.

— O frango! — gritou, antes de correr pela cozinha, mas Rodrigo ficou parado. Aguardava alguma coisa. — O quê? Ah, claro. Eu também te amo.

— Não, não é isso. — Ele segurou uma risada. — Só estava esperando o frango queimar pra falar que eu te avisei.

Agora, porém, sozinha no mesmo cômodo que costumava ser tão apertado, Agatha segurava as lágrimas ao reviver o fantasma de um tempo tão próximo e mesmo assim tão distante. Sua mão, porém, estava sobre a temida gaveta do canto; desta vez, não os deixaria impedirem sua abertura.


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Notas finais do capítulo

Socorro esse tema
E a capa? Ficou boa? :3