— Eu não acho que isso seja verdade, não existe a mínima possibilidade. – proferiu Scott ainda um pouco surpreso.

— Não me surpreenderia de jeito nenhum, não vê o jeito que ele age conosco? A forma como ele nos encara, fala com a gente. É no mínimo estranho. – completou Lydia.

Stiles chegou junto dos amigos ainda a tempo de ouvir o que eles conversavam, e por um momento ficou amedrontado, pensando que eles já soubessem da verdade sobre seu real “trabalho”. Seu rosto demonstrava preocupação, ele não conseguia esconder.

— Olha ele aí. – disse Lydia ao ver o amigo se aproximar.

— Stiles! Estávamos querendo lhe perguntar algo. – Scott pousou a mão no ombro do amigo ao terminar a frase e percebeu que ele estava nervoso.

— Não sei se vou poder responder, é melhor irmos para a aula, não acham? – o garoto deu dois passos, mas Lydia o segurou pelo braço e puxou de volta.

— Volta aqui, é importante! – disse a garota num tom mais forte, como se ordenasse.

— Sim, muito importante. – completou Scott.

Stiles não viu outra alternativa a não ser ficar e responder o que seus amigos tinham a lhe perguntar, embora já imaginasse o que fosse e como iriam tratá-lo depois do que ele falasse.

— Acho que teremos prova surpresa de história hoje, pois o professor anda muito diferente, nos tratando muito bem, e até olhando de forma desconfiada. Eu o conheço muito bem, creio que estou certa. O que você acha? – perguntou Lydia esperando a resposta do amigo.

— Sim. – respondeu Stiles como se tivesse ouvido algo totalmente diferente em sua cabeça. – Não, espera! O que você disse? – ele estava confuso, sua imaginação havia feito ele se precipitar na resposta, mas sem saber ao certo para qual pergunta.

— Dois votos contra um. Acho que você perdeu, Scott. – comemorou Lydia.

— Espera! Vocês estão falando do professor? De prova surpresa? – questionou Stiles ainda sem saber o que estava acontecendo.

Scott olhou para o amigo um tanto preocupado. – Sim, o que mais poderia ser? Estamos na escola, prestes a entrar para a aula de... – a sirene tocou e interrompeu a fala de Scott. – É, vamos tirar a limpo isso. – concluiu já fechando seu armário e seguindo para a sala de aula com Lydia ao seu lado.

— Você não vem? – Lydia olhou para trás e observou que Stiles se manteve parado no mesmo lugar.

— Não. Quer dizer, sim. – ele balançou a cabeça a fim de esquecer aquilo e seguiu os amigos.

Às vezes ele acabava se entregando devido ao peso do segredo que guardava, mas seus amigos acabavam relevando, julgando sempre como um problema psicológico causado pela perda dos pais tão cedo e ter sido criado por sua tia.

Os garotos entraram na sala e sentaram em seus respectivos lugares, Stiles ao lado de Scott e Lydia na frente dele. Logo o professor entrou na sala, com um sorriso de ponta a ponta, anunciando em alto e bom som: Prova surpresa!

— Eu sabia! – Lydia comemorou. – Nunca duvidem da minha palavra, boa sorte para quem não estudou, e para mim, boa prova. – disse com um sorriso de canto, enquanto seus amigos logo atrás se desesperavam com o aviso.

A prova tomou todo o tempo das duas primeiras aulas, até a sirene tocar novamente e dispensar os alunos para o intervalo.

— O que acharam da prova? – perguntou Lydia enquanto abria seu armário.

— Você sabe o que achamos. – disse Scott com desânimo.

— Eu não estudei nada, eu não sabia de nada, minha cabeça está um caos, tenho medo até de reprovar esse ano. – respondeu Stiles tão desanimado quanto Scott.

— Calma, cara! Estamos aqui pra te ajudar. – Scott se preocupou com o amigo, como sempre fazia.

— Você sabe que nós ajudaremos no que precisar, não sabe? E estamos apenas no início do ano, não vamos nos precipitar. – Lydia se aproximou do garoto na tentativa de consolá-lo.

— Isso! Temos todo o ano pela frente e vamos nos ajudar mutuamente. Caso não seja uma nota muita boa, iremos recuperar na próxima prova. – completou Scott.

Stiles respirou fundo e olhou para os dois a sua frente. – Vocês são os melhores amigos do mundo, sabiam? – ele deu um sorriso de canto e abraçou os dois, sentindo o carinho ser retribuído imediatamente.

Assim que eles saíram do abraço, o celular de Stiles tocou e ele o removeu imediatamente do bolso, era sua tia. No momento em que o garoto foi atender, Lydia tomou o aparelho da mão dele e o segurou com força.

— Vamos dar um tempo, certo? Pelo menos hoje, quero você com essa cabeça livre de todos os pensamentos que podem lhe deixar preocupado ou aflito, e eu sei que quando sua tia liga, você sempre precisa ir embora mais cedo, ou fica ansioso para ir logo, acaba não prestando atenção na aula, e isso vai acabar com você. – disse ela enquanto segurava o celular.

— Você não entende, eu preciso atender. – proferiu na esperança de que tivesse o celular de volta.

— Nem mais uma palavra. Deixa comigo. – Lydia atendeu a ligação. – Olá, Sra. Alex. –

— Lydia! – Stiles se assustou, imaginou que sua tia poderia estar com algum problema e não teria tempo parar conversar algo, ou pior, algum caso urgente para ser resolvido.

— Sim, eu estou bem, e a senhora, como vai? – Lydia continuava a conversa normalmente com a tia de Stiles ao telefone.

— Às vezes eu não gosto da Lydia, mas são essas as vezes que eu mais gosto dela. – Scott riu baixo enquanto viu a aflição no rosto de Stiles.

— O que? – O garoto não entendeu o que Scott havia acabado de falar, mas aquilo não era estranho, pois ele costumava falar coisas sem sentido.

— Sim, ele está bem, só não pode atender agora, pois acabamos de sair de uma prova bastante tensa, ele ficou um pouco nervoso e preferiu não preocupar a senhora. – a garota não parecia desconfortável ao telefone, muito pelo contrário.

— Lydia me dá esse telefone. – pediu Stiles mais uma vez, mas a garota levantou seu dedo indicador na direção do rapaz como se o mandasse parar, e ele, mesmo emburrado, obedeceu.

— Sim, eu darei o recado. Foi um prazer falar com a senhora, até mais. – ela desligou o telefone e entregou de volta ao garoto. – Está vendo? Não é tão difícil. – completou.

— Obrigado. – ele guardou o celular mais uma vez. – O que ela falou? – perguntou curioso.

— Nada de mais, ela pediu para lhe dizer que a família está na cidade e que ela já regou as plantas, coisas de tia. – Lydia riu e ouviu a sirene anunciar a volta para a sala.

Stiles paralisou imediatamente ao ouvir o recado que Lydia passara. Há muito tempo, no começo da sua vida de caçador, Stiles e sua tia fizeram uma lista de códigos para usar na frente das pessoas ou em alguma situação de perigo, e o que Lydia havia dito eram dois dos códigos, porém eles não se completavam, e Stiles agora estava intrigado, mas nervoso por saber o que estava acontecendo.

O primeiro código e mais importante de todos que já haviam criado era “a família está na cidade”, e aquilo significava que Alex havia rastreado o bando dos lobisomens que há tanto tempo Stiles caçava. O segundo código era “eu já reguei as plantas”, e aquilo queria dizer que ela estava sob controle da situação, e que ele não precisava se preocupar até chegar em casa.

— Stiles, você está aí? – Scott estalava os dedos na frente do rosto do amigo, até que ele voltou a si.

— Sim... – respondeu retomando a atenção.

— Você viajou por alguns segundos, o sinal já tocou, vamos voltar para a sala. – disse Lydia.

— Claro, vamos! – proferiu o garoto, deixando um sorriso tomar seus lábios naquele momento.

— O que houve? – perguntou Scott.

— Nada, só estou ansioso para ver a família. – ele arrumou sua jaqueta no corpo e seguiu os amigos até a sala.