Every Single Stupid Word escrita por Marylin C


Capítulo 3
III. Sometimes I wonder how we ever came to be


Notas iniciais do capítulo

Terceira semana: a primeira vez que cozinhamos juntos.



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— Ela deve estar exausta. Ter vindo o caminho todo da Irlanda até aqui… — James comentou, apertando os lábios. Lily assentiu, começando a ir até a porta para pegar as malas que Petúnia tinha deixado.

— Já não foi fácil eu vir de moto até aqui... Imagine ter que pegar todos aqueles trens, e com uma criança — ela acrescentou, mais para si mesma que para o músico de pé no meio da sala. Apanhou a mala de rodinhas e uma bolsa roxa que claramente continha coisas da bebê, levando-as para dentro e fechando a porta.

— Você precisa de ajuda? — ele indagou, fazendo-a negar com a cabeça. Continuou arrastando as malas até o último quarto do corredor, colocou-as aos pés da cama e parou para olhar a irmã adormecida. Petúnia sempre tinha sido mais alta e mais loura que Lily, além de ter maçãs do rosto graciosamente altas e pernas bem-feitas que a mais nova nunca conseguiria alcançar mesmo que malhasse incansavelmente. Era uma dessas pessoas ridiculamente bonitas que poderiam parecer fúteis à primeira vista, mas a ruiva conhecia a irmã o suficiente para entender e até mesmo admirar sua vaidade. Ser vaidosa não a impedia de ser simpática, amorosa e bem-humorada, e as duas tinham sido melhores amigas até Lily ir para Londres estudar em Hogwarts. Ligavam uma para a outra ao menos uma vez por mês, mas até a ligação abrupta de três dias atrás, fazia ao menos seis meses que Petúnia não mandava notícias. E aparecer assim, daquele jeito, com aquelas olheiras embaixo dos olhos, e com uma criança…

— Por que você não me contou, Tuney? — perguntou tristemente, antes de verificar se ela estava bem coberta e fechar a porta. Voltou à sala, onde James tinha se sentado no sofá e apoiado a criança adormecida em suas pernas juntas. Ela tinha cabelos pretos e um narizinho arrebitado, e o rapaz a segurava com tanta confiança e familiaridade como se ele próprio fosse pai. Lily sorriu com a cena, desejando muito a câmera de Sirius para registrar aquele momento. — Você parece bem à vontade segurando um bebê — comentou, fazendo o músico erguer os olhos castanho-esverdeados para olhar a ruiva com um pequeno sorriso.

— Fui voluntário na ala infantil do St. Mungus dos quinze aos vinte anos — ele explicou, seu sorriso tornando-se saudoso — junto com Sirius, Remus e Peter. Além disso, uma amiga da minha mãe engravida praticamente a cada dois anos e de vez em quando nos paga pra cuidar dos filhos dela.

— A cada dois anos? — Lily sentou-se ao lado dele no sofá, levemente surpresa. — Quantos filhos dela tem?

— Atualmente são três. Mas eu lembro de minha mãe ter dito que ela está grávida de gêmeos dessa vez, então tecnicamente são cinco. — James deu de ombros. A musicista arregalou os olhos.

— Cinco?!

— É. — Ele riu. Arrumou gentilmente a pequena criança em suas pernas antes de acrescentar — Você não quer ter filhos, Lily?

— Quero sim — ela respondeu, convicta — Mas um ou dois. Cinco é um pouco demais, não acha?

— Não. — ele riu — Se eu tiver condições financeiras, quero o maior número de filhos possível. Sempre odiei ser filho único, sabe?

— Imagino. — Lily sorriu ante a animação dele, e então voltou o olhar para a criança adormecida. Ela estava enrolada em uma pequena manta lilás, uma de suas extremidades bordada com um nome. A ruiva cuidadosamente abriu o tecido para ler o nome: Violet. — Então ela manteve a tradição…

— Que tradição? — James indagou.

— A família da minha mãe sempre teve o costume de dar nomes de flores às filhas. Minha mãe se chama Hyacinth, eu sou Lily, minha irmã é Petúnia e agora… Minha sobrinha se chama Violet. — a musicista explicou, o sorriso se tornando terno ao observar a pequena menina que dormia. O rapaz de óculos assentiu, indicando que entendera, e sussurrou:

— Bom, então é um prazer conhecê-la, Violet Evans. Bem vinda a Londres.

***

James acordou com a luz em seus olhos e uma terrível dor no pescoço. Por alguns segundos olhou em volta, sem saber onde estava e estando parcialmente cego pela falta de óculos para identificar o cômodo onde tinha adormecido. Tateou ao acaso até encontrar a armação quadrada ao seu lado, e então o mundo voltou a ficar visível. Ele tinha dormido no chão, uma almofada sob sua cabeça e um cobertor esquentando-o. Ao seu lado, no sofá, o corpo de uma moça ruiva encolhia-se de frio, e o músico atentou para esse fato primeiro. Pôs o próprio cobertor sobre Lily, tentando ignorar a dor ao se levantar. Na enorme e feia poltrona marrom, a pequena Violet se mexia inquieta, como que prestes a acordar. Então ele finalmente se lembrou.

Ajoelhou-se ao lado da poltrona, o olhar atento para a criança meio adormecida. Ontem, eles tinham concordado que aquele era o melhor lugar para por Violet, já que três dos quatro lados da poltrona eram fechados e a impediriam de cair. Resolveram o quarto lado com uma porção de travesseiros e almofadas cuidadosamente encaixados e amarrados ao móvel com cordas e fita crepe, então forraram o berço improvisado com um lençol limpo e deixaram a bebê ali. James recordou da nota mental que fizera para encontrar um berço para aquela criança urgentemente ao pegá-la no colo logo que começou a gemer mais alto, acalmando-a enquanto verificava se tinha feito alguma necessidade na fralda. Notou que sim e deu de ombros, levando-a com desenvoltura em um braço só até a mesa de jantar. Como aquilo tinha acontecido durante a noite, já havia um trocador e um pacote com fraldas ali, além de lencinhos umedecidos e água morna, e o músico só teve que lavar as mãos antes de deitar Violet na mesa forrada e começar a trocá-la.

— Ainda bem que você não é um menino, pequena. — comentou com uma risada quando notou que a bebê tinha urinado logo que ele abriu a fralda suja. — Eu estaria todo molhado se você fosse.

Limpou a sujeira da menininha cantarolando baixinho uma de suas músicas, sorrindo ao vê-la sorrir para ele.

— Você gosta da minha voz, pequena? — indagou, pegando-a nos braços quando acabou de trocá-la e voltando à pia da cozinha para lavar as mãos novamente. — Gosta, não é? Então vou cantar um pouco da música que fiz pra sua tia, certo? — começou a andar pela sala com ela nos braços, cantarolando baixinho — And I don't even know your name… All I remember is that smile on your face… And it'll kill me everyday… 'Cause I don't even know your name…

— Você fez essa música pra mim? — ele congelou no lugar ao ouvir a voz rouca e sonolenta da dona do apartamento, sentindo seu rosto esquentar ao dar meia volta para olhá-la. Lily tinha o cabelo ruivo despenteado e olheiras debaixo dos olhos verdes, e de algum jeito James ainda a achou maravilhosa.

— Fiz. — respondeu, um sorriso constrangido em seus lábios. — Levei um dia e meio para fazer a letra, acabei a melodia ontem antes da festa.

— Me parece muito boa. — A musicista sorriu, fazendo-o sorrir mais. — Você pode trocar pra mim depois?

— Claro! — James disse, talvez rápido demais, e então voltou sua atenção para o celular que tocava em cima da mesa de jantar. Um rock romântico denunciava que era Sirius quem ligava, e ele nem leu o nome na tela antes de atender em um tom sarcástico e sugestivo — Dormiu bem, Padfoot?

Dormi maravilhosamente bem, Prongs. — ouviu a voz de seu colega de apartamento tão sugestiva quanto a dele, o que significava que provavelmente Remus Lupin estava que nem um tomate de tão vermelho em seu apartamento. — E você? Onde foi, aliás?

— Não dormi nada. — ele deu de ombros, antes de notar que aquela resposta soaria ambígua.

Não dormiu nada, hein? Se deu bem então? — a voz sugestiva de Sirius o fez rir alto. Em outras circunstâncias, ele teria ficado constrangido sob o olhar de Lily enquanto seu amigo sugeria aquele tipo de coisa, mas o que Sirius tinha pensado estava tão distante da realidade que James só pôde rir.

— Na verdade, não muito. Passei a madrugada cuidando de uma criança. Vim trazer Lily e Mary em casa e encontramos a irmã de Lily quase morta de cansada com a filhinha de três meses. Tentamos acordá-la o menos possível durante a noite. — explicou, ao que Sirius soltou uma risada pelo nariz.

Você tem um azar enorme, hein? Faz quantos meses que não transa mesmo?

— Sirius, eu não vou discutir minha vida sexual com você pelo telefone. — respondeu, ficando vermelho ao ver Lily rir. Ela estendeu os braços para pegar a bebê, e James começou a andar para a cozinha ao sentir seu estômago roncar.

Ah, a ruiva está perto. Entendi. Quando você volta? Temos uma faxina pra fazer nesse apartamento.

— Você pode trazer a moto de Lily? Voltamos no meu carro. — ele pediu, abrindo a geladeira para procurar o que comer.

Vou deixar Remus na casa dele e vou no St. Mungus ver meu irmão. Na volta eu passo aí, beleza? Manda a localização depois.

— Ela é vizinha da Mary, você sabe onde é. — o músico revirou os olhos.

Ah, certo. Te vejo depois então. Boa sorte com o bebê.

— Obrigado. — desligou, pondo o telefone no bolso enquanto tirava uma maçã da geladeira e a mordia sem cerimônias. Voltou-se para Lily, que segurava a pequena Violet encostada no balcão da cozinha.

— Deveríamos fazer algo pra comer, não acha? — ela comentou, fazendo-o morder mais um pedaço da maçã e fazer que sim com a cabeça.

— Bom, espero que você saiba cozinhar. Eu sou uma negação, morreria de fome se não fosse por Sirius e o delivery. — James disse, dando de ombros com um sorriso amarelo. Lily riu.

— Você nunca morou sozinho, hein? — ela perguntou, entregando a criança para o músico e se dirigindo ao fogão.

— Não mesmo. Sirius sempre está do meu lado pra encher meu saco e cozinhar pra mim. — ele respondeu, rindo junto. — Uma vez eu me arrisquei a fritar um ovo e tive uma queimadura de segundo grau, além de ter estragado tudo porque pus sal demais.

— Acho bem engraçado que você sabe o melhor jeito de fazer um bebê arrotar, mas não sabe fritar um ovo. — Lily tirou uma frigideira de um armário, encontrando ovos na geladeira e começando a fritá-los.

— Cada qual com seu cada qual, certo? — ele replicou, mordendo a maçã e segurando Violet com o outro braço. Ela se encostava em seu ombro e mexia nos cabelos despenteados dele com as mãozinhas minúsculas, e James se encostou ao balcão para sentir as batidas do coração dela enquanto o cheiro de ovos com bacon sendo fritos invadia seu nariz. Quase riu da cena doméstica que se instalara, sendo que fazia apenas quatro dias que conhecia aquela ruiva e já dormira no apartamento dela (seu pescoço ainda doía terrivelmente), rira com ela e tinha sido zoado por ela. Tentou não pensar no relógio da alma gêmea ainda zerado em seu braço esquerdo ao notar que o dela ainda contava um ano e alguns meses, sem saber que conclusões tirar sobre aquilo. Como poderia ser que ela fosse a alma gêmea dele e ele não fosse a dela?

Decidiu que iria consultar Mary a respeito o quanto antes. Ou, no caso, quando ela estivesse novamente sóbria. Era médica, deveria saber mais que a população comum sobre os relógios de almas gêmeas, certo?

— Você consegue ao menos fazer torradas? — Lily perguntou em tom jocoso, sem se virar para ele. Ele tinha acabado com a maçã, e jogou o talo no lixo antes de responder:

— Claro que sei, Lily. — ele revirou os olhos, mas sorria. — Já acabou os ovos?

— Não. Mas você precisa me ajudar fazendo as torradas e encontrando o suco na geladeira. Coloque a Violet na…

— Bom dia… — uma voz feminina cumprimentou, fazendo os dois se virarem para encontrarem uma Petúnia de cabelo claro amarrado em um rabo de cavalo displicente e uma aparência menos abatida que na noite anterior. — Quem diabos é você? — foi a primeira pergunta que fez, diretamente dirigida a James.

— James Potter, muito prazer. — estendeu a mão que não estava ocupada com a bebê, fazendo a moça erguer uma sobrancelha antes de apertá-la. — Sou… amigo da Lily.

— Petúnia Evans. — ela replicou, para então voltar-se para a criança e falar, em aquele tom típico de adultos que falam com bebês — Oi, menina linda! Vem cá com a mamãe, vem!

Violet riu e jogou o corpinho na direção da mãe, que a segurou com habilidade e lhe fez mais alguns comentários amorosos antes de se voltar para Lily:

— A Violet acordou pouco durante a noite, não foi?

— Na verdade, não. — a musicista riu, começando a passar os ovos com bacon da frigideira para um prato. — Nós queríamos te acordar o mínimo possível, então toda vez que ela acordava nós tentávamos resolver o que ela precisasse.

— ‘Nós’?

— Ela e eu. — foi James quem respondeu, começando a ir atrás do pão de forma para fazer torradas. — Eu trouxe Lily e a vizinha em casa do meu apartamento e acabei ficando pra ajudar com a bebê.

— Oh. — Petúnia disse simplesmente, e então abriu um sorriso de lado que James podia jurar já ter visto no rosto de Sirius. — Vocês estão juntos?

— Não! — ambos falaram, rápido demais para evitar suspeitas. A musicista ruiva se virou para a pia para tentar esconder as bochechas vermelhas, e James enfiou a cabeça em um armário sob o pretexto de encontrar o pão. — Somos amigos. — acrescentou, o que não deixava de ser verdade. Há coisas que não se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro, e passar a madrugada acordado cuidando de uma menina de três meses era uma dessas coisas.

— É, somos. — Lily tentou reforçar, levando o prato com ovos até a mesa de jantar e tirando os materiais de bebê dela. Petúnia deu de ombros, ainda em dúvida, e foi para a sala para esperar, já que alguém tinha que ficar com Violet. James fez as torradas com pressa, ganhando uma pequena piada da ruiva sobre o quão quase tostadas elas estavam. Os dois fritaram salsichas e esquentaram alguns cogumelos, que o músico particularmente detestava mas que ambas as irmãs Evans adoravam, além de encontrarem uma garrafa de suco e James fazer a única coisa em que realmente era bom em culinária: apertar botões da pequena máquina que Lily tinha ganhado de Natal dos pais para fazer café. Eles animadamente falavam de música e brincavam um com o outro, fazendo o coração do músico bater mais rápido tanto de nervosismo quanto de alegria. Céus, ele podia ficar meses acordado a noite inteira se significasse que suas manhãs seriam exatamente iguais àquela.

James Potter

Moony, a gnte pode gravar a música nova amanhã? (9:34)

É q tô com outra na cabeça e queria começar logo ela (9:34)

Moony

Sobre a Lily, de novo? (9:35)

James Potter

Não é como se vc não enfiasse algo que o Sirius gosta em cada arte que faz (9:35)

Então cale a boca e pare de me julgar (9:35)

Moony

Grosso (9:36)

Mas tudo bem, a gente grava IDEKYN amanhã sim (9:36)

James Potter

Ótimo, obg (9:36)

Moony

É tão óbvio assim que eu gosto dele? (9:37)

James Potter

Tão óbvio quanto 2 + 2 = 4 (9:37)

Moony

Te odeio (9:38)

James Potter

Não odeia não (9:38)


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