Every Single Stupid Word escrita por Marylin C


Capítulo 2
II. I wanna wrap my hands around your neck


Notas iniciais do capítulo

Segunda semana: a primeira vez que saímos juntos.

Esse ficou um pouco grande, rs.



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@therealprongs: eu só queria que ela me notasse

@therealprongs: a gente conversaria, eu falaria que ela é linda e a gente ia ter

@therealprongs: um casamento na praia, no por do sol

@therealprongs: @sirius-ly e @rjlupin e @peter_p seriam os padrinhos

@therealprongs: SE AO MENOS EU SOUBESSE O NOME DELA

 

James tirou os sapatos para entrar no apartamento, como tinha sido acostumado desde criança, e suspirou aliviado por não ter encontrado nenhuma de suas antigas vizinhas no elevador. Alguém deveria tê-lo ensinado na adolescência que não era muito interessante ficar com vizinhas, teria poupado-lhe muitos transtornos.

— James, você chegou! — foi sua mãe quem abriu a porta antes sequer que ele pudesse bater, abraçando-lhe com um sorriso. — Faz muito tempo que não vem nos visitar, mocinho! — reclamou, conduzindo-o hall adentro até a sofisticada sala de estar da cobertura onde havia crescido. Euphemia Potter tinha o costume de redecorar a sala a cada estação, então James não se surpreendeu ao sentar-se em um sofá de camurça marrom ao invés do cetim claro da última vez em que visitara seus pais.

— Eu sei, sinto muito por isso. — ele passou a mão pelos cabelos negros, uma mania que tinha adquirido ao longo dos anos. — Tudo bem com a senhora, mãe?

— Tudo ótimo. Os negócios vão bem, sabia? Fechamos um contrato com aquela empresa coreana que… — e desatou a falar sobre o negócio da família, uma grande empresa de cosméticos onde sua mãe era a CEO e seu pai, o vice-diretor. Sirius era um dos gerentes de T.I. do prédio, o que deixava James na posição de ovelha-negra, com seu canal no Youtube e seu violão.

— Boa noite, James. — Fleamont Potter apareceu, atravessando a sala de jantar vindo da cozinha para cumprimentar o filho. Ele sorria, mas o mais novo tinha certeza de que estava no momento maquinando a hora perfeita para mencionar a reunião perdida de alguns dias atrás. — Como está? Eu pensei que Sirius viria com você…

— Ele disse que ia resolver algo e que me encontraria aqui. — James respondeu evasivo, sem querer ter que explicar que Sirius provavelmente estava rondando a Universidade de Hogwarts atrás da ruiva de sorriso bonito. — Mas eu…

— Oh, perdão. Um minuto, filho. — o homem se desculpou, tirando o celular que tocava do bolso para atender. — Sim, Dorcas? — cumprimentou a secretária, a expressão tranquila deixando seu rosto à medida que ouvia o que ela tinha a dizer — No St. Mungus, você disse? — Euphemia olhou preocupada para o marido, que tinha os olhos castanhos arregalados — Certo. Pode colocar isso na planilha de horas extras dele. Obrigado por avisar. — e desligou, voltando-se diretamente para James com uma expressão tensa — O irmão de Sirius sofreu um acidente no final da tarde. Dorcas ficou sabendo quando ligou para ele requisitando um suporte. Eles estão no Hospital St. Mungus.

James se levantou, pegando a chave que tinha jogado sobre a mesa de centro.

— Vou até lá. — anunciou, começando a se dirigir para a porta com a testa franzida de preocupação.

— Mas James, o jantar… — Fleamont começou a dizer, mas o músico o interrompeu:

— Não é mais importante que dar apoio para o meu melhor amigo. Desculpem. Se quiserem remarcar o jantar…

— Tudo bem, querido. Vá. Vou guardar uma parte do salmão pra vocês. — Euphemia disse, antes que o marido contestasse mais uma vez. Deu um abraço rápido em seu filho e sorriu. — Me ligue se tiver algo que possamos fazer, sim?

— Obrigado, mãe. — e fechou a porta atrás de si, deixando seus pais novamente sozinhos na sala de estar bem arrumada. Fleamont fez um muxoxo irritado, se virando para voltar para a cozinha antes de comentar:

— Você dá liberdade demais para ele.

— Ele tem vinte e três anos, Flynn. — Euphemia revirou os olhos, voltando a sentar-se no sofá. — E depois, se eu tivesse insistido, ele teria passado o jantar inteiro preocupado com Sirius. Você sabe como James é.

— Mas nós marcamos esse jantar tem semanas! — o homem reclamou, de braços cruzados no meio do corredor.

— Mas ele teve uma emergência! Francamente, Fleamont! — ela replicou, alcançando um livro e folheando-o até encontrar a página em que parara. — Você tem pegado demais no pé dele ultimamente.

— Ele tem vinte e três anos e não tem um emprego fixo! — ele gesticulou, subitamente irritado. A esposa ergueu os olhos do livro preguiçosamente:

— Se ele paga as próprias contas, ele tem um emprego. Não importa o jeito que ele o faz, se está dentro da lei.

— Mas, amor…

— Vá tirar o salmão do forno, Flynn. — ela sorriu-lhe. — Nosso James é um adulto, e tem mais de dois milhões de seguidores no YouTube. Deixe-o em paz, sim?

Fleamont resmungou algo ininteligível antes de se dirigir novamente à cozinha, Euphemia largando o livro para atender um telefonema e entrando no modo negócios.

***

Wormtail

Gente, vcs ficaram sabendo do Sirius???? (17:23)

 

Moony

Não (17:23)

O que tem o Sirius? (17:23)

Wormtail

Sabe a Mary?? (17:24)

Pronto (17:24)

Ela tava de plantão hj no St Mungus e me ligou agorinha depois (17:25)

de sair de uma cirurgia de emergência (17:25)

 

Moony

O que isso tem a ver com o Sirius?! (17:25)

 

Wormtail

Calma, o Pads tá bem (17:26)

É o irmão dele q tava na cirurgia (17:26)

Regulus? Acho q é esse o nome (17:26)

Mary disse q ele sofreu um acidente de carro (17:27)

Ela tava ajudando a levar ele pra cirurgia quando Sirius chegou (17:27)

Ela disse q ele tava bem transtornado (17:27)

E a mãe dele tá lá na sala de espera (17:27)

Ela disse q me ligava depois com + detalhes (17:28)

Mas eu tô indo lá agora (17:28)

Parei no Caldeirão Furado pra pegar uns hambúrgueres pra gente (17:28)

 

James Potter

Fiquei sabendo (17:29)

Saindo da casa dos meus pais agr (17:29)

Te encontro lá (17:29)

 

Moony

Merda (17:29)

Tenho uma reunião agora (17:29)

Vou tentar agilizar ao máximo (17:29)

Me mantenham informado (17:30)

***

Lily alongou os dedos, fazendo movimentos circulares com as mãos para então voltar ao piano. Tinha economizado muito para conseguir comprar o instrumento, que ficava em frente à maior janela de seu pequeno apartamento na Soho Street. Tremeu ao lembrar da época em que estivera tão determinada em conseguir seu piano que trabalhava dois turnos, a manhã no This & That Café e a noite no Três Vassouras, um pub do outro lado da cidade. Aquele seu primeiro ano de faculdade tinha sido exaustivo, mas a ruiva pensou que aquele esforço todo tinha valido a pena. Agora, em seu terceiro ano, estava mais que contente com seu turno da manhã no café, seu próprio piano acústico vertical, o aluguel em dia e as noites livres para tocar o quanto quisesse. Ou dormir, é claro. Sempre havia a opção de dormir.

Praticou algumas escalas e quase automaticamente tocou uma melodia de sua terra natal, na Irlanda, antes de tentar passar para a enorme partitura que deveria aprender para a prova de prática. Mas o sorriso divertido do rockstar de sobrenome Black e o jeito apressado com que deixara o café naquela tarde mesmo a fez se levantar com um muxoxo irritado e se jogar no pequeno sofá, alcançando o celular para abrir o Instagram. Se o tal Sirius tinha uma câmera boa daquelas, e um aparente jeito para tirar fotos, provavelmente usava tal rede social, certo?

“Certíssimo,” Lily sorriu para si mesma ao encontrar a página lotada de fotos muito boas de paisagens, bebidas e de um mesmo grupo de amigos. “Eu deveria ser a nova Sherlock Holmes,” congratulou-se com uma risada, analisando a foto em que quatro rapazes sorriam juntos. Sirius estava incluído no grupo, parecendo ser quem segurava o celular para a selfie. Ele estava agarrado a um rapaz loiro que tinha um sorriso constrangido que ela achou adorável. Ao lado deles, um garoto negro com cabelos cortados rentes ao couro cabeludo ria com o que parecia ser um pacote de pipoca nas mãos. O sorriso do último rapaz tirou completamente o fôlego de Lily, que o reconheceu como sendo o cara simpático do banco. Os óculos de armação quadrada e o cabelo despenteado, juntamente com aquele queixo

Ela se levantou sobressaltada do sofá ao ouvir um barulho de vidro quebrando. Se dirigiu à cozinha, largando o celular na mesa para encontrar um enorme gato laranja preguiçosamente se esticando sobre a janela. Ele tinha derrubado um vaso, que jazia irrecuperável no chão, cacos para todos os lados. Lily revirou os olhos e tirou o bicho de lá, levando-o para a sala com um pequeno sorriso:

— Não entendo porque você sempre foge do apartamento da Mary, Bichento. Lá tem comida e sua caminha e seus brinquedos… — voltou a sentar no sofá, agora com o gato no colo, e se ocupou em fazer carinho nele — Acho que você não gosta de ficar sozinho muito tempo, não é?

O animal ronronou, como se concordasse com ela, e ajeitou-se para receber carinho na cabeça. Lily riu.

— Petúnia e minha mãe iam morrer se me vissem agora. — comentou para Bichento com um sorriso tão saudoso quanto aliviado — Ainda bem que meu pai conseguiu convencer mamãe a me deixar estudar aqui em Londres, Bichento. Sinceramente, acho que eu ia morrer de tédio naquela cidadezinha.

Ouviu o telefone esquecido na mesa da cozinha tocar e levantou-se, deixando o gato no sofá para atender. Viu o nome de sua irmã na tela e revirou os olhos.

— Tá vendo, Bichento? Não se pode nem falar… — disse antes de pôr o telefone no ouvido — Tuney, faz tempo que você não me liga! Como estão as coisas aí?

Lily, tem um quarto sobrando aí no seu apartamento? — a voz de Petúnia soava abatida, como se ela estivesse se esforçando para não chorar em meio à ligação.

— Tenho… Uso ele pra guardar coisas, livros e tudo mais. Por quê? — Lily indagou, preocupada. — Aconteceu alguma coisa?

Tem como dar uma organizada nele pra mim? Devo chegar aí semana que vem.

— Tuney, o quê…? — a musicista começou a perguntar, subitamente perplexa com o pedido.

Quando eu chegar te explico tudo, é melhor. Só… Arruma o quarto. — e, com isso, desligou.

— Que diabos…? — ela falou para si mesma, preocupada e confusa. Mais essa agora?!

***

James Potter

Cheguei agr (18:12)

Moony

O cliente adiou a reunião (18:13)

Chego aí em dez minutos (18:13)

Encontro vocês na cantina (18:13)

***

Quando James chegou ao Hospital St. Mungus, a sala de espera da emergência estava vazia de pessoas que ele conhecesse. Não que não estivesse quase sem lugares para sentar, mas ele não reconhecia nenhum daqueles rostos preocupados. Achou que encontraria ao menos a odiosa mãe de Sirius ali, mas nem mesmo a gralha velha sentava-se impertigada como sempre numa das cadeiras estufadas quase confortáveis.

Se dirigiu diretamente ao balcão, encontrando uma enfermeira que ele sabia que deveria saber o nome, mas não conseguindo lembrar em meio à sua agitação, e perguntou:

— Regulus Black já saiu da cirurgia?

— Há alguns minutos, Potter. — ela replicou, e o uso de seu sobrenome indicou que ele realmente deveria saber o nome dela. — A dra. Macdonald falou sobre o estado dele para os acompanhantes, e apenas o irmão permaneceu com ele.

— A sra. Black foi embora? — James indagou, franziu a testa. A enfermeira assentiu e ele ficou ainda mais confuso. E preocupado. — Em qual quarto eles estão?

— Estão na UTI, leito 12. Sugiro que você corra, o horário de visitas acaba em dez minutos. Pegue o elevador, você sabe o caminho. — ela respondeu. O músico agradeceu, mais tenso ainda com aquela informação, e seguiu corredor adentro até encontrar o elevador maior que o normal por ser feito para comportar macas, apertando o número seis nervosamente e se perguntando por que diabos a gralha velha iria deixar o filho preferido sozinho com o filho que ela expulsou de casa. Notou que esqueceu de perguntar por Peter quando seu estômago roncou, lembrando-o dos hambúrgueres que o amigo prometera. Ele revirou os olhos e então o elevador se abriu, o andar da UTI ainda mais imaculado que o resto do hospital se revelando aos seus olhos.

Ele engoliu em seco e se adiantou, andando pelo corredor de leitos até achar o número 12. As cortinas que separavam cada um estavam fechadas, e ele espiou para dentro para encontrar um Sirius sentado numa cadeira, o rosto enterrado nas próprias mãos, e um Peter ocupado em ajeitar os equipamentos necessários para manter um Regulus adormecido vivo. A médica de pele negra tinha uma mão sobre o ombro do rapaz na cadeira, uma expressão de contida compaixão em seu olhar castanho. Mary Macdonald afastou-se de Sirius ao ver James entrar no quarto, cumprimentando-o com um pequeno sorriso antes de falar em voz baixa:

— Que bom que você veio, James. Ele realmente precisa de você.

— O que aconteceu? — ele indagou no mesmo tom, passando a mão pelo cabelo despenteado nervosamente.

— Um carro desgovernado atingiu o carro de Regulus, em cheio no banco do motorista. — ela começou a explicar, parando apenas para prender alguns fios cacheados que tinham escapado do rabo de cavalo. — Ele teve um traumatismo craniano, tivemos que fazer uma cirurgia de emergência e então ele está em coma induzido. Provavelmente perderá os movimentos das pernas se… — ela hesitou, voltando o olhar para Sirius rapidamente — Quando acordar. — Mary olhou o relógio na parede, ajeitando o jaleco branco que a identificava como médica antes de acrescentar — O horário de visitas acaba em cinco minutos. Você precisa tirar Sirius daqui sem causar uma comoção.

James apertou os lábios ao assentir, preocupado com a gravidade daquela situação. A médica deu-lhe um curto abraço antes de passar algumas instruções técnicas para Peter que o músico não se deu ao trabalho de tentar entender enquanto se aproximava de seu melhor amigo, pondo uma mão no ombro dele ao chamar:

— Sirius?

O rapaz ergueu a cabeça, e o coração de James apertou-se ao ver o rosto, sempre tão animado e sorridente, marcado por lágrimas. Ele tinha uma expressão tão triste quanto magoada em seu olhar acinzentado, e respirou fundo antes de dizer simplesmente:

— Ela o abandonou também, James.

— Sua mãe? — ele perguntou, sem entender. Sirius assentiu, apertando os lábios como se para segurar o choro ao dirigir o olhar para o leito do irmão. Peter ainda regulava máquinas e agulhas, sob o olhar atento de Mary.

— Ela o abandonou porque não acha mais que ele valha a pena. — o Black mais velho falou, a voz magoada. — Ele já não é mais o filho perfeito que ela tanto quis.

— Por que diz isso?

— Ele vai perder os movimentos das pernas, James. — o tom contido de raiva e mágoa naquelas palavras fez o cérebro de James gritar ‘perigo! perigo!’, mas o músico manteve-se no lugar. — Não pode mais ser o médico bem-sucedido que ela sempre quis ter como filho. Então ela foi embora, simplesmente.

— Sirius, eu…

— Eu esperava que ela fizesse algo assim comigo. —  Sirius continuou, olhando para além de James. — Eu sou o erro. Sempre fui. O viado que falha em tudo que tentam obrigá-lo a fazer. Eu entenderia que ela me deixasse aqui sem nem olhar pra trás caso eu sofresse um acidente assim. Mas ele…

— Sirius, você não é um erro! — James exclamou, se abaixando e pondo as duas mãos no rosto do amigo para que ele o olhasse nos olhos. Por detrás dos óculos, também tinha lágrimas nos olhos castanho-esverdeados. Odiava com todas as suas forças quando seu amigo falava daquele jeito de si próprio. — Ouviu bem? Você. Não é. Um erro! Você é o meu melhor amigo, que ri e faz piada apesar da dor que tem dentro de si, que consegue fazer qualquer coisa que quiser realmente fazer!

— Mas ele está sozinho agora, James. — as lágrimas voltaram a nublar a visão de Sirius, que não tinha outra escolha a não se encarar o amigo.

— Não, ele não está. Assim como você nunca esteve. Estamos aqui, Padfoot. — foi Peter quem disse, aproximando-se dos dois e ajoelhando-se para também estar no campo de visão do irmão mais velho do paciente. Havia tanto seriedade quanto compaixão em seu rosto negro, ele respirou fundo antes de continuar  — Eu, James, Moony, Mary. Estamos todos aqui pra ele, porque você o ama. E se você o ama, nós o amamos também, porque te amamos. Então ele não está sozinho. — concluiu seu raciocínio com a voz mansa e confortadora que sempre teve, fazendo James soltar o rosto do amigo e sorrir para ele.

— Peter está certo. Estamos aqui, Sirius. — acrescentou, fazendo Sirius abrir um pequeno sorriso e então estender os braços. Peter e James entraram no abraço, os três levantando-se e fazendo a médica que os olhava sorrir.

— Vocês precisam ir agora. — Peter avisou quando eles se afastaram. — O horário de visitas terminou. Deixei os hambúrgueres na cantina, com dona Sprout. Vou acabar meu turno e encontro vocês no apartamento, certo?

Os dois assentiram, James parcialmente arrastando Sirius para fora da UTI depois de se despedir de Mary com um aceno de cabeça. Eles desceram de elevador até o térreo, seguindo até a cantina do hospital com o braço por cima do ombro do outro. Passaram pela porta de vidro para encontrar Remus tomando café em uma das mesinhas circulares perto da janela. Ele se levantou ao avistá-los, a preocupação estampada tanto em seu olhar quanto na pequena corrida que ele deu para alcançar os amigos.

— O que aconteceu, afinal? Vocês não disseram mais nada no grupo. — disse para James, voltando-se para Sirius a tempo de registrar o rosto levemente vermelho e inchado por causa das lágrimas, mesmo que ele tivesse um leve sorriso nos lábios. — Você está bem?

— Que tal você explicar tudo pro Moony enquanto eu pego nossos hambúrgueres, Prongs? — ele sugeriu, ao que o músico assentiu antes de recolher o braço e deixá-lo sem cerimônias passar pelo balcão da cantina gritando o nome da senhora que Peter falara. Ambos suspeitaram que ele iria lavar o rosto e tentar parecer mais apresentável, preocupado como era com a própria aparência, mas não fizeram comentários a respeito. Ao invés disso, voltaram a sentar à mesinha que Remus originalmente ocupara enquanto James o inteirava dos últimos acontecimentos. Quando Sirius voltou, orgulhosamente apresentando as sacolas para viagem que cheiravam muito bem e um rosto sorridente sem qualquer traço de choro, o rapaz de cabelos loiros mordia o lábio com preocupação. Ele encarou o sorriso do amigo com suspeita, mas seu estômago falou mais alto e logo os três estavam comendo e conversando confortavelmente, obviamente tentando ignorar o elefante no meio da sala: Regulus estava mal, e nenhum deles sabia se um dia ele ia ficar bem.

***

Lily respirou fundo antes de começar a tocar, as notas fluindo como água de seus dedos. Ela estava concentrada em fazer o melhor possível naquela avaliação, e suas noites em claro estudando valeriam a pena se ela conseguisse no mínimo A. Também apreciava a melodia que estava tocando, uma peça muito difícil de um pianista do século XVI que ela não se arriscaria em tentar pronunciar o nome, e o som que ouvia das teclas a deixava mais e mais confiante para continuar. Quase fechou os olhos para apreciar a própria música, e teria fechado caso estivesse em casa em seu piano e não no magnífico piano de cauda da Universidade de Hogwarts, com sua turma encarando suas costas e a professora Minerva com os ouvidos aguçados para qualquer mínimo erro dela. Não podia se arriscar.

Sorriu para si mesma ao chegar à segunda metade da música, corajosamente tocando o piano e genuinamente se divertindo. Apesar de tudo, ela realmente amava o que fazia e as coisas que estudava, mesmo que, bem, não pagasse tão bem quanto uma carreira em Economia ou Direito. Quase tocou uma nota errada ao pensar em ambas as profissões, tão odiosas aos olhos dela mas que seus pais consideravam o suprassumo dos cursos universitários. Ainda se lembrava dos anos e anos de colegial, economizando para o que tinha dito aos pais que era uma bolsa em Direito, mas que na verdade pagaria seus custos iniciais de Música em Hogwarts. Somente no momento da matrícula foi que ela contou o que pretendia fazer, e por um milagre seu pai cedeu aos seus desejos. Geralmente era ele quem cedia, já que Hyacinth Evans era uma força da natureza e somente seu marido, George, conseguia convencê-la de algo que ia contra suas vontades.

Ela tocou a última nota da música, um grave que durou alguns segundos, e então se levantou do banco do piano com um sorriso de quem sabia que tinha feito um bom trabalho. Seus olhos procuraram imediatamente seu melhor amigo e colega, Severus Snape, que tinha um sorriso orgulhoso parecido com o dela e foi quem puxou uma salva de palmas da turma. Até mesmo Minerva, sentada à mesa do professor, arriscou um pequeno repuxar de lábios parecido com um sorriso e bateu palmas com os alunos. Lily voltou ao seu lugar ao lado de Severus sem conseguir parar de sorrir. Ele passou-lhe um bilhete discreto, dizendo ‘eu sabia que você conseguiria, vamos gravar aquela música quando?’. ‘Amanhã’, a ruiva rabiscou de volta antes de prestar atenção na peça de violino que um rapaz de sua turma começava a apresentar. Gostava de assistir seus colegas, mesmo aqueles que não eram muito bons.

A tarde passou voando e ela logo estava de volta em seu apartamento, jogada no sofá com um livro em mãos e o gato fujão de sua vizinha em seu colo. Pretendia passar o resto da noite lendo, sem pensar em nada de provas ou trabalhos ou piano ou música, se uma mulher negra que atendia pelo nome de Mary Macdonald não tivesse aberto a porta de seu apartamento sem nenhum tipo de aviso e se jogado em cima de Lily no sofá com um gemido de:

— Meu Deus, estou tão cansada!

— Mary, acho que você errou de apartamento. — a musicista revirou os olhos, olhando com compaixão para Bichento, que tinha pulado para fora do sofá com o susto de rever a dona e agora olhava calculadamente para ela, provavelmente se perguntando se ela se moveria dali em algum momento.

— Claro que não errei! Depois de três plantões seguidos, uma pessoa precisa de paz e tranquilidade com sua vizinha ruiva, você não acha? — Mary respondeu, ajeitando-se no sofá para sair de cima de Lily. Ela soltou os cabelos cacheados, negros e revoltos, e pegou uma almofada para apoiar a cabeça. A ruiva revirou os olhos mais uma vez, mas com um pequeno sorriso nos lábios foi que colocou os pés por cima do corpo da amiga e espreguiçou-se.

— Está muito puxado lá no St. Mungus? — perguntou, ao que a médica suspirou.

— Eu sempre aguentei o ritmo, você sabe. Mas dessa vez é a carga emocional que está me matando. — viu Lily franzir a testa como um sinal de que ela deveria explicar aquilo, e continuou — É que tem uns três dias que o irmão de um grande amigo meu sofreu um acidente de carro. Ele está na UTI, em coma induzido porque sofreu um traumatismo craniano.

— Que terrível! Como seu amigo está lidando com isso?

— De primeira, ele ficou devastado. — Mary começou, lembrando séria dos acontecimentos de dias atrás — É que a mãe dele o expulsou de casa, sabe. Mas Sirius achava que a mãe ao menos gostava do irmão, mas só foi eu falar que ele poderia perder os movimentos das pernas que ela se mandou.

— Que tipo de absurdo é esse?! — Lily sentou-se abruptamente, indignada. — Como uma mãe abandona…!

— Oh, espere um segundo. — a médica pediu quando ouviu seu celular tocar, verificando o nome na tela e sorrindo ao atender. — Oi, James! Como estão as coisas? — fez uma pausa, ouvindo a pessoa do outro lado da linha falar — Hm, é uma ideia boa. Mas eu estou muito cansada, não me obrigue a ir aí! — mais uma pausa, onde ela torceu os lábios com leve indignação antes de suspirar, cedendo — Certo, certo. Eu posso levar uma amiga? Juro que ela é muito legal e bonita! — pediu, olhando diretamente para Lily. Ela arregalou os olhos, negando veementemente com a cabeça e fazendo Mary sorrir seu sorriso diabólico que a musicista tanto temia enquanto ouvia a resposta positiva de quem quer que estivesse do outro lado da linha — Ótimo! Vou tomar banho e convencê-la a ir, nos vemos em meia hora? — e, com um último adeus para o amigo, desligou.

— No que diabos você me meteu, Mary Macdonald? — a ruiva indagou, com tanto medo quanto indignação em sua voz. A morena riu, largando o celular na mesinha de centro de Lily e explicando muito rápido e num fôlego só:

— Esse amigo que eu acabei de falar, o que o irmão dele sofreu o acidente, ele divide um apartamento com o melhor amigo dele, que é uma pessoa incrível. Ele resolveu chamar uns amigos agora, na noite de sexta, pedir umas pizzas, tomar uma cerveja, lá no apartamento. Quer tentar animar um pouco o ânimo do amigo, e me chamou pra ir. E eu quero que você vá, porque eles são seres humanos maravilhosos e nem um pouco feios!

Lily franziu a testa, em dúvida. Seus planos para aquela noite eram muito diferentes da proposta que a amiga lhe fazia, mas… Arregalou os olhos e indagou, hesitante:

— Mary… Qual é mesmo o nome desse seu amigo? O que o irmão sofreu o… acidente?

— Sirius. — ela respondeu de pronto — Sirius Black. Ele é meio galinha, mas um amor e… Lily, que cara é essa?

A musicista estava muito vermelha, pensando na ocasião em que conhecera Sirius Black e no que aconteceria caso ela cedesse e fosse com Mary para a casa dele. Chances altas demais dela passar vergonha para arriscar.

— Eu não vou. — afirmou. — Pode ir sem mim.

— Ah, mas você vai sim! — a médica contrariou, cruzando os braços. — Eu não vou deixar você aqui sozinha com o Bichento quando você pode se divertir comigo e conhecer gente legal!

— Você não entende, Mary! Eu… — e calou-se, pensando em como contar a situação inusitada em que conhecera Sirius Black para a amiga.

— Hm, tem coisa aí. Essa negação não é sua costumeira antissocialidade. O que aconteceu? — Mary perguntou, erguendo uma sobrancelha bem feita. Lily suspirou e sem cerimônias explicou como já conhecia o cara gato que parecia um rockstar, além da situação da fila onde conheceu o amigo bonito dele, quase rindo da expressão estupefata de Mary quando acabou. Esta não durou muito tempo, já que a médica começou a rir e argumentou:

— Aí mais um motivo pra ir comigo! Você não está nem um pouco curiosa pra conhecer direito o cara da fila? — ela abriu um sorriso de lado antes de continuar — Que eu obviamente sei o nome, mas não vou te dizer pra não estragar a surpresa.

— Eu sei o nome dele. — a musicista admitiu, ainda com o rosto vermelho. — James Potter. Atende como Prongs, tem um canal do YouTube que é bem famoso.

— Você stalkeou ele!? — Mary gritou, rindo mais. Lily assentiu, enrubescendo mais - se é aquilo era possível. — Como encontrou?

— Bom, eu fui no Instagram do Black e achei várias fotos em que ele era marcado. Fui no perfil dele, notei que era público e que tinha um link do YouTube na bio. — a ruiva respondeu, dando de ombros — Trabalho elementar de stalker.

— Você e Sirius vão se dar tão bem! — Mary comentou, se levantando do sofá de um salto. — Agora vá se trocar, vou dirigir sua moto pra irmos até o apartamento deles.

Lily suspirou, se levantando também. Sabia que não conseguiria dissuadir a médica de sua ideia, e gastaria mais energia do que o necessário tentando. Então aquiesceu, indo sem cerimônias até o quarto e escolhendo quase a esmo uma blusa do guarda-roupa. Pensou na ligação de Petúnia três dias antes enquanto se vestia, e em como aquilo tudo era muito estranho. Tinha organizado o quarto extra no dia anterior, e suas provas tinham acabado naquela manhã, e concluiu que merecia um pouco de diversão. Mesmo que muito provavelmente ela fosse passar vergonha.

***

— Sim, eu acabei a música sobre ela. — James ajeitou os óculos, levemente envergonhado. Remus, jogado no sofá com a cabeça no colo de Sirius, riu. O rapaz de cabelos negros tinha o telefone no ouvido, ligando para a pizzaria favorita dos garotos e pedindo quantidades absurdas de pizza que provavelmente durariam dias.

— Ao menos você sabe o nome dela agora. — Peter comentou, sentado com as pernas cruzadas no chão da sala. Ele tinha uma lata de refrigerante em mãos, e a abriu com um estalo para beber um gole antes de acrescentar — Graça aos poderes de stalker do Padfoot, claro.

— Não sei se isso é algo de que ele deveria se orgulhar. — Remus replicou, franzindo a testa com um sorriso irônico — Ele pode ser preso algum dia se a pessoa errada pegá-lo tirando fotos com aquela câmera gigantesca.

— É uma câmera profissional, Moony! — Sirius reclamou, tendo desligando o telefone para voltar a prestar atenção na conversa.

— Ele bem que tem razão, Pads. Sorte que a Lily é uma pessoa maravilhosa. — o músico disse, com um pequeno suspiro de paixão e foi logo notado e devidamente caçoado pelos amigos.

— Você chamou a Marlene, Sirius? — Remus indagou, erguendo um pouco a cabeça para olhar o amigo. Este assentiu, sinalizando para James, que se levantara para ir na cozinha, que queria uma cerveja, antes de responder com tanta indiferença quanto conseguiu:

— Sim, chamei. Ela disse que vinha depois que o horário de visitas acabasse lá no St. Mungus.

— Você foi lá hoje de manhã, não foi? — Peter perguntou, fazendo Sirius assentir mais uma vez.

— Desculpe por não ter conseguido ir com você. — o rapaz de cabelos claros pediu, ao que o Black mais velho deu de ombros com um sorriso dirigido a ele.

— Sem problemas. Não foi tão ruim quanto eu esperava. — ao ver o erguer de sobrancelhas de Remus, Sirius revirou os olhos — Certo, foi um pouco depressivo sim. Mas ele está na mesma lá, então não foi como se tivesse sido diferente das outras cinco vezes que fui.

— E a Marlene, como está? — James perguntou, da cozinha. O rapaz negro sentado no chão deu uma risada irônica:

— Como você se sentiria se sua alma gêmea estivesse lá na UTI, James? — e revirou os olhos dramaticamente, como se dissesse ‘dá pra acreditar nesse cara?’. O músico levou meio segundo para sair da cozinha, jogar duas latas de cerveja para Sirius e propositalmente cair por cima de Peter, que gritou e conseguiu apoiar a lata de refrigerante na mesinha de centro antes de ser esmagado.

— Quem você acha que é pra ser sarcástico comigo, Wormtail?! — James falou, rindo enquanto fazia cócegas no amigo. Ele se contorcia, gritando de rir enquanto Sirius e Remus gargalhavam do sofá. A brincadeira só acabou quando o rapaz de óculos ouviu o interfone tocar e foi obrigado a sair de cima de Peter para atender, já que tinha certeza que o outro dono do apartamento não se levantaria da posição confortável em que estava.

Tem três moças aqui que dizem ser suas amigas, James. — o porteiro anunciou, fazendo o músico sorrir.

— Quais os nomes delas, Diggle? — esperou um pouco até que o homem replicasse:

Mary Macdonald, Marlene McKinnon e Lily Evans. Devo deixá-las subir?

James ficou mudo por alguns segundos, em choque. Ele tinha mesmo dito…?

James? — Diggle chamou, fazendo o rapaz moreno voltar a si.

— Po… Pode. Pode deixá-las subir. — desligou o interfone com o coração parecendo que ia sair pela boca. Arregaçou a manga de sua camisa para verificar  que o relógio em seu braço esquerdo apontava meros dois minutos e quinze segundos para que ele encontrasse sua alma gêmea. Estacou no lugar, sem conseguir pensar em como reagir naquele momento. Só queria se enfiar no quarto e não sair mais, mas também queria abrir a porta e dizer oi e tentar ser o menos esquisito possível pra ela gostasse dele. Mas também queria pegar o violão, que sempre lhe deixara seguro, e tocar até que seus dedos sangrassem. Mas também…

— James, abre a porta! — O grito de Sirius o trouxe de volta à realidade, fazendo o rapaz respirar fundo e dar dois passos em direção à porta. A campainha soou mais uma vez, não que ele tivesse ouvido-a tocar da primeira vez, e ele pôs um sorriso no rosto ao torcer a maçaneta e abrir a porta para começar o que com certeza seria a noite mais vergonhosa de sua vida.

***

Lily, tentando prestar atenção no caminho que faziam ao mesmo tempo que tentava não soltar das costas de uma Mary que dirigia absurdamente rápido sua moto, confabulou consigo mesmo todas as possibilidades sobre o que daria errado naquela noite. Decidiu que com certeza não iria beber, já que álcool era um carimbo de 100% de certeza de que ela faria algo de que se envergonharia e, além do mais, alguém tinha que levar Mary para casa depois. Também pensou sobre o que dizer durante silêncios constrangedores e o que falaria quando encontrasse James Potter novamente. “Oi, você não é minha alma gêmea. Mas podemos ser amigos” definitivamente não era uma opção.

Um sinal que pareceu promissor foi elas terem chegado ao mesmo tempo que uma outra moça, de cabelos castanhos muito lisos e um sorriso divertido no rosto. Lily notou que, mesmo que ela conversasse e risse com as duas outras recém-chegadas, havia tristeza em seu olhar azul. Como curiosa nata que era, armazenou aquela informação para perguntar depois.

As três subiram o elevador depois que o porteiro as liberou, e a musicista ruiva permaneceu em silêncio enquanto Mary e a moça que se chamava Marlene McKinnon entabulavam uma conversa animada sobre o campeonato inglês de futebol, sobre o qual ela não sabia nada. Quando James abriu a porta do apartamento, a primeira coisa que foi dita saiu dos lábios de uma Mary obviamente irritada:

— James, não é óbvio que os Chudley Cannons vão ganhar essa temporada?

— Claro que não?! — tanto ele quanto Marlene replicaram ao mesmo tempo, fazendo começar uma discussão acalorada enquanto os três entravam e Lily os seguia. Tinha que admitir que James Potter era extremamente bonito: ainda mais bonito que nos vídeos. Não se lembrava de ter sido impactada pela beleza dele naquela situação no banco, talvez porque estivesse distraída demais se frustrando com aquela fila, mas agora que o observava rir e debater futebol… Céus.

E então, foi só ela por os olhos na sala de estar ocupada que o impacto foi dirigido para outro objeto. Na verdade, o cômodo inteiro. As paredes eram pintadas de um tom de vermelho que Lily tinha certeza de que possuía um batom que combinava perfeitamente, cobertas de posteres tanto de bandas quanto de times de futebol. Um sofá de couro marrom ocupava boa parte da sala, e um horrível tapete dourado felpudo cobria o piso de cerâmica. Uma mesinha de vidro ficava no meio do caminho entre o sofá e uma televisão enorme, e ela com certeza ficaria bonita em uma sala totalmente diferente daquela. Nem terminou de notar o balcão preto com bancos amarelos quando uma voz divertida a tirou de seu estupor:

— É uma sala horrível, não é?

Um rapaz de cabelos claros sorria, de pé ao seu lado. Ela o reconheceu das fotos, mas não se lembrava do nome dele. Lily enrubesceu ao entender a pergunta, pensando que com certeza ele devia tê-la notado ficar estupefata com a feiura daquele ambiente.

— Bom, eu…

— Pode falar, sério. Eu peço para redecorar essa sala tem anos! — ele interrompeu, revirando os olhos para então voltar a sorrir — Meu nome é Remus Lupin. Você deve ser a famosa Lily Evans, estou certo?

— É um prazer. — ela conseguiu sorrir de volta, para então franzir a testa e perguntar — Famosa?

— É que James não para de falar de você tem dias! — um rapaz negro se levantou do chão para cumprimentá-la, apertando-lhe a mão com um sorriso enorme — Peter Pettigrew, o prazer é todo seu.

— Wormtail, isso foi péssimo da sua parte. — Remus revirou os olhos com uma risada frouxa. — Perdoe-o, é um pouco difícil permanecer humilde quando se é amigo de Sirius Black e James Potter.

— Foi uma brincadeira! — Peter se defendeu, ao mesmo tempo em que Sirius gritava do outro lado da sala:

— Eu ouvi isso, Lupin!

— E o que você vai fazer a respeito? — o loiro pôs as mãos na cintura, virando-se na direção do Black mais velho. Este abriu um sorriso de lado, piscou e falou:

— Mais tarde eu te mostro.

Lily pôde jurar que ele ficou mais vermelho que seus cabelos, e olhe que isso era muito difícil. Remus teve que pigarrear algumas vezes e tomar um gole da cerveja que Peter lhe ofereceu para voltar à compostura, e não ouviu quando o amigo sussurrou para ela:

— Pode ir se acostumando. Eles são sempre assim.

— Eles estão…?

— Juntos? Não. Mas todo mundo sabe que eles se querem. Só são covardes demais pra prensar o outro numa parede. — ele deu de ombros, revirando os olhos. — James disse que você é pianista, é verdade?

— É sim. Faço Música na Universidade de Hogwarts. — Lily respondeu, contente por ter algo a falar além dos relacionamentos alheios. — E você, o que faz?

— Sou enfermeiro lá no St. Mungus. Tenho um turno daqui a pouco, por isso não estou bebendo. — ele explicou com um sorriso que demonstrava orgulho do que fazia. — Vai beber hoje, Lily?

— Não. — indicou Mary, que já virava a segunda latinha de cerveja sentada de pernas abertas na varanda do apartamento. Ainda discutia futebol com Marlene, e James conversava algo aparentemente particular com Sirius em um canto. — Mary é minha vizinha. Uma de nós precisa estar sóbria pra que cheguemos vivas em casa. Mas eu aceito o refrigerante.

— Entendo. — Peter andou até o freezer de James e encontrou outra latinha de refrigerante, que entregou a Lily com um sorriso tranquilo. Os dois se sentaram nos banquinhos e conversaram amenidades com um Remus já recomposto, aparentemente sendo os únicos totalmente sóbrios daquele apartamento. Em algum momento, um som foi ligado e uma música animada de festa começou a tocar. As pizzas chegaram logo depois, e todos se agruparam no balcão para comer. James acabou sendo empurrado para sentar ao lado de Lily, e ele tinha as bochechas vermelhas ao servi-la de mais pizza de pepperoni.

— Mary disse que você me stalkeou. — ele comentou, abrindo um pequeno sorriso sem graça. Ele também estava tomando apenas refrigerante, ela notou.

— Não pude deixar de ficar curiosa, já que o seu amigo fez questão de tirar fotos minhas. — riu, cuidadosamente mordendo um pedaço da pizza.

— E o que achou das minhas músicas? — James quis saber, tomando um gole de refrigerante como quem tenta fazer parecer aquela uma pergunta casual mas que com certeza morreria se a resposta não fosse agradável. Lily tentou não rir, respondendo:

— Não costumo ouvir pop, mas eu as achei muito boas. Sirius contou que toquei uma no dia em que conheci ele?

— Sim, Life of the Party. Você tocou sem ter ouvido antes, não foi?

— Ouvi uns trinta segundos e vi as cifras, foi. Depois, em casa, é que fui ouvir direito. — ela sorriu mais — Sobre quem é a letra?

— Sobre a Mary. — indicou a mulher negra que ria de braços dados com Sirius — Ela é nossa amiga tem muito tempo, e foi sempre quem animou todas as festas em que íamos. Dei a música de presente de aniversário pra ela ano passado.

— Você faz letras muito boas, emotivas e poéticas ao mesmo tempo. — Lily elogiou, fazendo James abrir um sorriso que Remus apontou como o de número 23, o ‘ego inflado’, com uma risada. — Eu não conheço nenhuma das bandas na sua parede feia, por favor não me mate.

— Isso é sério?! — o músico exclamou — Agora você será obrigada a ouvir toda a minha playlist, mesmo que não queira. — pescou o celular, conectando com a caixa de som ligada via bluetooth e escolhendo uma música. Os acordes animados tanto do violino quanto do violão fizeram Lily sorrir. — Isso, minha cara Lily, é Gwen Jones. Daqui a pouco ela começa a cantar.

— Tudo bem, mas se eu vou ouvir o seu pop, você vai ouvir meus clássicos.

— Feito.

Os dois continuaram a conversa sobre sua maior paixão pelo que pareceram poucos minutos, mas que na verdade foram horas. Eles não notaram Sirius cambalear para o próprio quarto, com Remus seguindo-o de perto, e nem perceberam Mary adormecer no sofá de couro dos rapazes. Foi só quando Peter se ofereceu para deixar Marlene em casa no caminho para o St. Mungus que eles se deram conta do tempo que passara.

— Vou levar uma pizza dessas pra comer no intervalo, beleza? — o enfermeiro de sorriso calmo pediu, fazendo James assentir e fazer um sinal de positivo antes de voltar-se para a Marlene:

— Se precisar de alguma coisa, Marley, é só falar.

— Certo. Obrigada, James. Eu estava mesmo precisando de uma distração como essa. Foi um prazer, Lily! — e os dois passaram pela porta, deixando James e Lily sozinhos no balcão da cozinha. A musicista achou aquela uma boa oportunidade para perguntar o que tinha lhe atiçado a curiosidade logo que chegou:

— Por que a Marlene parece tão… triste?

— Você é bem observadora, hein? — ele deu um pequeno sorriso, dessa vez mais triste — Acho que Mary te contou sobre o acidente do irmão de Sirius, certo? Regulus?

— Sim, ela contou.

— Bom, Marlene é namorada do Regulus. Aconteceu de conhecermos ela na noite em que chegamos no hospital, porque ela tinha ligada muitas vezes no celular de Regulus, que estava com a gente depois que o policial de trânsito encontrou Sirius para falar do caso, e Remus atendeu. — James explicou, e depois deu de ombros — Acho que o sofrimento une as pessoas.

— Eles estavam juntos há muito tempo?

— Era o aniversário de dois anos de namoro deles no dia do acidente, pelo que ela contou. Ele deu bolo nela. — ele suspirou. — Eles são almas gêmeas, sabe? O relógio dela está congelado em dois minutos e quinze segundos agora que ele está em coma, e o dele também.

— Isso é muito triste. — Lily comentou, realmente sentindo muito por aquela história. Deu um olhar para o braço esquerdo de James, já que ele tinha arregaçado as mangas, e pôde confirmar que sim, o relógio dele estava zerado. Mas ela não ia comentar aquilo, não estava nem um pouco preparada para aquela conversa, e tentou mudar de assunto rapidamente — Falando em Sirius, onde ele está?

O rapaz de óculos olhou em volta, finalmente percebendo que seu melhor amigo não estava lá, e se levantou com um sorriso de lado. Estendeu a mão para ela, dizendo:

— Vem comigo. Vou mostrar onde eles estão.

Lily aceitou a mão, e James a puxou corredor adentro até a porta fechada do quarto de Sirius. Quando ele fez menção de abri-la, a ruiva hesitou, subitamente corada:

— Você tem certeza que…?

— Que eles não estão fazendo nada que vá nos traumatizar para sempre? Tenho sim. — ele riu — O problema com os dois é que Sirius precisa assumir a responsabilidade pelos próprios sentimentos, o que é bem difícil considerando a falta de amor que ele recebeu nos primeiros anos de vida, e Remus precisa parar de ter medo de estragar a amizade dos dois ao transformá-la num romance.

— Uou, isso é uma análise bem profunda. — Lily comentou, fazendo James dar de ombros.

— São meus melhores amigos, eu os conheço mais do que a mim mesmo. — e então abriu a porta para a visão de Sirius e Remus dormindo na cama do primeiro, este com um braço sobre a cintura do segundo e com os dedos entrelaçados aos dele. A musicista conteu um ‘own’ e James revirou os olhos, tirando o celular do bolso para adquirir mais material de chantagem - e possível slide para quando aqueles dois se casassem -, e voltou a fechar a porta.

— Você tinha razão. — ela comentou, ao que ele riu.

— Como quase sempre, é claro.

— Arrogante! — Lily o acotovelou enquanto os dois andavam de volta para a sala, fazendo James rir mais.

— Honesto! — revidou. Ela revirou os olhos com um sorriso e olhou-o calmamente. Em boa parte da noite tinha admirado o músico animado e levemente cheio de si, mas não tinha realmente assimilado o conjunto da obra. Os cabelos despenteados e negros, o sorriso que dizia mil coisas e os olhos castanho-esverdeados emoldurados pelos óculos de armação quadrada ela já tinha visto. Mas juntou aquilo tudo à adorável simpatia, bom humor e paixão pela música e quase tremeu ao concluir: se não tomasse cuidado, acabaria se apaixonando por ele.

***

James poderia passar a vida inteira perdido nos olhos verdes daquela garota, refletiu ao subir de elevador com uma Mary desacordada nos braços e uma Lily levemente sonolenta em um silêncio confortável. Tinha se oferecido para ajudar a ruiva a levar a amiga adormecida para casa de carro, já que com certeza não seria muito seguro usar a moto de Lily com a médica naquele estado.

— Vou encontrar a chave dela. — a musicista avisou quando os dois chegaram ao andar dos apartamentos corretos, vasculhando a bolsa da amiga atrás da chave enquanto andava quase cegamente pelo corredor. — Deve estar em algum lugar que… — olhou para frente, subitamente interrompendo-se ao notar a moça loira adormecida encostada em sua porta. — Pe… Petúnia?

— Lily, está tudo bem? — James indagou, olhando de uma para outra com confusão — Quem é ela?

— E… Eu… — mas a ruiva estava pálida e sem reação, olhando o pequeno embrulho no colo da moça. Tinha a chave de Mary em mãos, e o rapaz pensou rápido ao usar a mão que segurava as pernas da médica para usá-la para abrir a porta e colocar a moça em seus braços na cama. Largou o chaveiro sobre uma mesa antes de voltar para Lily, que ainda encarava a tal Petúnia com espanto. Se colocou na frente dela, invadindo o campo de visão dos olhos verdes por quem já estava se apaixonando e se abaixando para encará-la com os seus.

— Lily! — chamou, odiando-se por ouvir sua voz uma oitava mais aguda que o normal por causa do súbito desespero que se abatera sobre ele ao ver a ruiva daquele jeito —  Eu preciso que você me diga o que fazer pra te ajudar!

— Eu… Pegue o bebê. — ela finalmente voltou a si, apontando para o embrulho enquanto buscava a própria chave dentro da bolsa. James assentiu, abaixando-se para delicadamente tirar a criança dos braços da moça. Parecia ser uma menina, e ela se manteve adormecida mesmo depois de ter sido movida. Lily então se abaixou, chamando o nome da moça com calma. Ela desorientadamente abriu os olhos, quase tão verdes quanto os da ruiva, e então olhou para as mãos vazias. Foi acometida por um pequeno surto de pânico pela falta de sua bebê, mas a musicista prontamente a disse que a criança estava bem ali com James e que elas tinham que entrar. Abriu a porta e levou a moça para dentro, com o rapaz logo atrás segurando a criança.

— Quem é ela, Lily? — ele achou por bem perguntar, uma vez que Lily tinha voltado de colocar a moça na cama com mil e uma palavras de conforto com os olhos arregalados.

— É minha irmã. — respondeu. — Acho que ela fugiu de casa. E teve uma filha.


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