Notas sobre um coração quebrado escrita por Puella


Capítulo 3
Liebeslied


Notas iniciais do capítulo

Aproveitando o feriado...
Mais uma vez lembrando que a fic é uma shortfic ( o que por um lado vai me ajudar bastante, eu acho)



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FALTAVA ainda meia hora para o embarque do voo. Loki se encontrava sozinho aguardando a chamada para pegar a entrada de acesso. No dia anterior, após a saída de Sigyn, ele foi visitar o irmão e a esposa. Thor, diferente dele não seguiu o ramo da música, o mais velho tinha um negócio no ramo da construção civil ao lado da esposa, Sif. O casal tinha uma pequena menina que recém completara um ano, Thrud.

Assim que a viu Loki tratou de afagar os fios louros que a garotinha tinha na cabeça. Thrud lhe sorriu um sorriso sem dentes. Era muito parecida com o pai.

— Ela vai sentir a sua falta – Sif falou aparecendo com uma mamadeira.

— Thrud é muito pequena ainda... – ele falou fitando a pequena.

— Eu também acho o mesmo que Sif – Thor entrou na sala.

Loki almoçou com os três e depois ficou mais tempo conversando e brincando com Thrud. Gostava muito da sobrinha. Às vezes se pegava imaginando, se um dia teria filhos também. Se ele Sigyn ainda estivessem juntos... será que...

Ele não quis pensar. Não era momento para isso. Ao fim da reunião familiar, Loki ainda teve mais uma última conversa com Thor antes de ir embora.

— Está tudo certo então?

— Sim, arranjei um apartamento alugado por lá.

— Pretende ficar mesmo por lá?

— São só seis meses, Thor – o mais novo revirou os olhos – é só enquanto faço os meus cursos de aperfeiçoamentos em Mozart, mas, quem sabe...

— Prefiro pensar que são só seis meses – o loiro falou – não gosto muito da ideia de meu único irmão ficar longe da família.

— Thor, eu sou seu irmão, mas essa família é só sua – ele se referia a Sif e Thrud.

Thor ia dizer mais alguma coisa, mas Loki não deixou.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Não precisa ficar querendo cuidar de mim.

— Me entenda irmão, você é o meu único ente que restou desde a morte de nossos pais – Thor disse aquilo como se tivesse algo entalado em sua garganta – éramos muito novos naquela época, e você era muito pequeno...

— Eu tinha 11 anos Thor – Loki suspirou.

— É meio difícil imaginar que você vai para longe.

— Thor, temos a internet para se falar, e depois, eu venho visitar vocês. Isso não é um até nunca – ele tentou rir.

— Eu sei. Loki... eh, você contou para ela?

Sigyn.

— Eu contei – o moreno coçou a nuca em sinal de nervosismo. As lembranças da noite anterior perpassaram a sua cabeça.

— E como ela reagiu?

— Ela ficou feliz por mim e me desejou tudo de bom – o outro respondeu meio desconfiado.

— Só isso?

— É, só isso.

— Quando vocês se falaram a respeito disso?

— Ontem a noite depois da festa, eu conversei com ela, apenas isso – Loki desconversou.

Loki finalmente se despedira do irmão, Thor demorou em soltá-lo do abraço, mas por fim teve deixar o seu irmãozinho partir. Loki passou no cemitério antes de voltar para casa. Ele agora encarava as lápides de Odin e Frigga Odinson, seus pais. Loki era adotado, e foi morar com eles quando tinha alguns meses de vida. Não sabe nada a respeito de seus pais biológicos, só soube por parte de Frigga na época que a mãe biológica o teve no hospital e ali mesmo o deixou para adoção.

Parecia uma família perfeita, se não fosse pelo fato de Odin ser alcoólatra, ainda mais depois que foi demitido de uma empresa onde havia se dedicado inteiramente. Era muito comum Loki ouvir os pais brigando com frequência quase todas as noites, Thor – que na época tinha 8 anos e Loki, 3 - o protegia abraçando e tapando-lhe os ouvidos.  Papai Odin era muito amoroso quando não estava bebendo, mas quando bebia virava outra pessoa. Ele não era violento, mas suas palavras ásperas machucavam tanto quanto um soco ou um tapa.

Frigga era professora de música e era quem sustentava a casa naquele momento. Foi ela que ensinou Loki a tocar piano. Ela era carinhosa, mas como professora era rígida. Quando percebeu que Loki tinha potencial passou a treina-lo com mais afinco. E então vieram os primeiros campeonatos e os primeiros prêmios em dinheiro que Frigga fazia questão de guardar – longe de Odin – para o futuro dos filhos. E então veio o câncer e saúde Frigga deteriorava apesar de todo o tratamento. Loki tocava para ela todos os dias enquanto Thor cuidava dela. Odin durante aquele período havia parado de beber, pela primeira vez os filhos viram o medo latente que ele tinha de perdê-la. Apesar de tudo, ele a amava de verdade. Mas Frigga se foi durante um Outono frio, Odin se deprimiu e voltou a beber. A casa ficou abandonada sem o brilho da bela mulher. Pouco tempo depois Odin deixou uma carta para os filhos e se enforcou no quarto. Na carta ele se desculpava por tudo, por ser um fracasso como pai e por tê-los feito sofrer. E então Thor que na época tinha 16 anos passou a cuidar do irmão, eles também tiveram a ajuda de Heimdall, um amigo de longa data de Odin, que cuidou dos meninos até Thor atingir a maioridade.

Diante de tudo isso, Loki se dedicou com mais afinco ainda a música, que era uma das poucas coisas que ainda lhe dava alegria na vida. Tudo o que aconteceu com ele o tornou frio e contido. Ele sempre teve medo de relacionamentos, até conhecer Sigyn. Ela foi como uma pequena fagulha que o aquecia. Mas as brigas constantes o fizeram lembrar-se de seus pais. Sigyn tinha umas manias e ideias muito diferentes das suas, e ela muitas vezes implicava com o seu jeito de ser, querendo muda-lo, ou quando não, cismava com alguma colega que dividia palco, especialmente quando se tratava de Lorelei Incantare, que claramente tinha interesse nele, mas Loki nunca a correspondeu.   

Acreditando que seu casamento poderia virar um fardo, ele se separou. Mas então, quando fez isso, Sigyn drasticamente mudou de uma hora para outra. Pediu desculpas diversas vezes, chorou e implorou. Mas Loki se manteve frio, achando que estava fazendo o certo. Ele precisava de tempo e ela também. Quando Sigyn se deu conta de que era para valer, ela então cedeu e assinou o divorcio.

E agora, ele se encontrava a um passo de uma nova etapa. Esperava que a mudança de ares tranquilizasse sua mente para finalmente colocar seus sentidos em ordem. Estava separado há quase três meses, e ainda teve aquela noite... Sigyn ainda era algo muito fresco em sua mente. Ele fechou os olhos com força e tornou a abri-los quando viu o celular vibrando.

Era Sigyn.

Surpreso ele hesitou alguns segundos antes de atender. Porem quando atendeu a ligação havia caído. Ela havia desligado, pensou consigo mesmo.

Sigyn apertou o vermelho rapidamente, antes que pudesse ouvir a voz dele. Ela ofegou e deixou o celular de lado, abraçando a si mesma. Após alguns minutos o aparelho começou a vibrar, Sigyn arregalou os olhos ao ver que era o número dele. Ela hesitou, mas pegou celular atendendo rapidamente antes que ele desistisse.

— Alô? – a voz dela saiu trêmula.

— Alô, Sigyn? Você me ligou?

O coração dela foi as pulos, sua mão suava e sua garganta estava seca.

— Eu...

— Aconteceu alguma coisa?

— Não... está tudo bem – ela tentou forçar o tom mais normal que podia – você já embarcou?

— Não. Ainda falta alguns minutos.

— Ah, bem eu... eu só queria...

Do outro lado da linha ele ficou em silêncio, apenas a ouvindo.

— Eu só queria lhe desejar uma boa viagem, apenas isso.... eu acho...

—Obrigado, Sigyn. Se cuide, ok?

— Você também – Sigyn olhava para algum canto do quarto - Tchau, Loki.

Ele demorou alguns segundos para responder.

— Tchau.

Um mês e meio depois.

As semanas se passaram e Sigyn aos poucos foi voltando a sua rotina normal. Seus dias resumiam em ficar no conservatório estudando, ensaiando com a orquestra e em seu agora apartamento, se preparando para a noite de Gala em Boston.

Havia finalmente chegado à noite do evento. Sigyn e alguns membros da orquestra pegaram a estrada para lá. Sigyn não foi com eles. Ela foi junto com Tony, Pepper, Thor e Sif. A pequena Thrud ficou aos cuidados dos pais de Sif. Eles eram os seus fãs mais fervorosos, sempre indo a qualquer lugar onde ela se apresentasse. Seus amigos.

— Sigyn – Pepper comentou de repente – você está se sentindo bem? Parece pálida.

As duas se encontravam no camarim, Pepper a ajudava a colocar o vestido que iria usar na apresentação.

— Eu tive um mal estar por esses dias – jovem comentou casualmente – provavelmente por causa de alguma coisa que eu comi.

— Mal estar.. – Pepper a fitou preocupada – Sigyn, você está se cuidando, não está?

— Eu estou bem – a jovem sorriu – eu sei que se preocupa e tudo mais, mas eu estou me saindo muito bem!

— Eu sei, só digo isso porque às vezes vocês musicistas esquecem-se do mundo e até mesmo de cuidar do próprio corpo.

Sigyn soltou uma risada divertida.

— Não se preocupe amiga, estou bem – a jovem frisou pela segunda vez – e hoje vocês terão uma apresentação digna de um Oscar!

Mais tarde naquela noite, houve o inicio das apresentações. Sigyn abriria o concerto. A jovem usava um vestido rosa claro perolado, e sapatilhas. Depois que se casou com Loki, ela acabou adotando os sapatos nos pés. Preferia as sapatilhas a ter que usar salto.

— Vamos tocar o coração das pessoas esta noite, meu amiguinho – ela cochichou para o seu inseparável violino. A plateia estava toda em silencio, e então Sigyn fechou os olhos e começou a tocar a Liebeslied de Franz Kreisler. À medida que tocava, mergulhava por completo na partitura da musica e suas notas saiam sinceras e tristes como o próprio nome da música sugere. Uma tristeza de amor. Era possível notar as pessoas embevecidas e encantadas com tamanha interpretação. Tímidos filetes de lagrimas descia de seus olhos.

Pepper que assistia a apresentação da amiga sabia o que era aquilo, era falta que Loki fazia para ela. Ela sabia o quão difícil ainda estava sendo para ela, apesar de sorrir e ir trabalhar e tocar todos os dias. Isso parecia tornar a performance da violinista ainda mais genuína.

Era ao mesmo tempo triste e bonita.

Ao fim da apresentação ela se posicionou para cumprimentar a plateia, que emocionada, a aplaudiu calorosamente. Após o esforço Sigyn respirava olhando aquelas pessoas aplaudindo e sorrindo, a luz estava tão forte que sua vista começou a ficar levemente embaçada. O barulho das palmas, as luzes fizeram a garota entrar em transe. Não soube exatamente quando, mas vista ficou turva e as pernas cederam.

Em questão de segundos os aplausos cessaram de forma abrupta. Um baque se ouviu. Um violino caíra no chão. Pessoas olhavam para o palco com espanto.  Pepper tinha as duas mãos sobre o rosto em sinal de choque, o mesmo se dizia de Sif que estava assustada. Thor e Tony praticamente saltaram da cadeira.

O corpo de Sigyn estava caído no chão.


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Notas finais do capítulo

Eita... o que será que aconteceu...? A propósito, essa foi a música que a Sigyn tocou:
https://www.youtube.com/watch?v=2nvtnmpvp48

Eu tinha falado a respeito dela no primeiro capítulo... e de quebra você conheceram um pouco do Loki... eu sei que tem gente aí com raiva dele, eu também acho que ele não agiu tão certo assim, enfim, mas eu consigo entendê-lo um pouco.... bem é isso gente, por hora...

Vejo vocês nos comentários!



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