Notas sobre um coração quebrado escrita por Puella


Capítulo 2
Meu erro... - segunda parte


Notas iniciais do capítulo

Oi suas lindas... tô aqui aproveitando o feriado... espero que gostem e obrigada pelos comentários ^^
Uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761262/chapter/2

Quatro anos atrás...

— VENHA irmão! Você precisa conhecê-la! – Thor levava Loki pelo braço como se ele fosse uma criança.

— Thor! Me larga! – o mais novo protestou sentindo uma dor latente no braço.

Thor havia tirado Loki de sua zona de conforto levando-o ao um recital beneficente. 

— É uma prima da Sif! Ela é fantástica! E pelo que soube ela está tentando entrar no Conservatório de Música de Manhathan. E está se preparando para fazer o teste. Sif me disse que ela precisa de um acompanhante pianista. Eu pensei em você na hora.

— Quê? – o outro falou enquanto tentava processar – Como assim? Está louco! Nem pensar!

— Não seja mau irmão – Thor fez uma cara de pidão – pense que estará ajudando a uma jovem sonhadora!

— Isso não vem ao caso, Thor – Loki parou o passo, forçando o Thor a fazer o mesmo – acontece que eu sou um solista, não um acompanhante!

— E o quê que tem? – o loiro falou descrente.

— É diferente!

— Loki, pare de inventar desculpas – o outro sorriu otimista – assim que você ouvi-la vai mudar de ideia. Acredite em mim!

Não houve alternativa para Loki a não ser acompanha-lo.

— Eu vou ouvir- ele disse por fim - se ela for realmente boa como você diz... mas quem decide se vou ajudar sou eu!

 Os dois irmãos encontraram Sif, que na época era noiva de Thor. Ela deu um beijo no noivo e depois encarou o outro.

— Nossa Loki, que cara azeda – a jovem de cabelos escuros comentou com sorriso divertido.

— Como vai, minha querida cunhada.

— Sif eu o trouxe até aqui – Thor tinha um brilho genuíno nos olhos – tive que inventar uma boa desculpa para tirar ele do apartamento.

— Estou impressionada – ela comentou rindo.

— E a Sigyn? Onde ela está?

— Ela foi se preparar – Sif apontou para o lado – vamos nos sentar ali. A apresentação dela é a quarta.

Alguns minutos depois os três estavam sentados. Houve inicio às apresentações. Loki fitava com pouco interesse, analisando o grau de desempenhos dos musicistas. Mediano e medíocre eram as palavras que soavam em sua cabeça. Estava acostumado com concursos e apresentações musicais sérias de alta qualidade, e aquilo para ele era com uma apresentação de fundo de quintal.

— Agora com vocês, Srta. Lindgren – o jovem condutor do recital chamou a próxima participante.

Loki fitava o palco com pouco interesse até que finalmente, a tal prima da Sif apareceu. Ainda sim, ele continuava arriado na cadeira com uma mão apoiando o rosto. E então ela surgiu: cabelos ruivos longos com leves ondulações, usava um vestido rodado de alças finas com uma estampa de flores em tom aquarelado. Tinha pequenas flores pelo cabelo e os pés estavam descalços. Trazia consigo um belo Stradivarius. Ela olhou para a plateia em meio a sua aparência graciosa, tinha um porte altivo e sério, parecia concentrada.

Loki a olhava, mentalmente tirando pontos por ela estar descalça, isso com certeza tiraria uns  pontos em teste para o conservatório, afinal eles eram muito rígidos. A jovem se posicionou para começar e plateia logo se silenciou.  A garota anunciou a música que tocaria.

Sonata para violino nº. 9 “Kreutzer” primeiro movimento.

Feito isso ela acariciou de leve o seu violino, lhe sussurrando algumas coisas. Aquilo chamou a atenção do irmão de Thor que achou o ato no mínimo, curioso. Sigyn colocou o violino sobre o ombro encostando o rosto para enfim se preparar para tocar.

Ela fechou os olhos e então os abriu novamente tocando as primeiras notas da música. Ela começou as primeiras partes da partitura da música de maneira perfeita, porém em determinado momento a jovem começou a tocar de uma maneira diferente. Loki ficou impressionado e ao mesmo tempo indignado. Sem dúvida era Kreutzer, mas ao mesmo tempo, a garota parecia ignorar a ordem das notas, sem seguir a composição fielmente. Para um musicista perfeccionista como ele, aquilo era algo absurdo. Mas ao mesmo tempo, a desenvoltura dela não deixava de ser singular. Ela tocava intensamente e seu corpo se movia graciosamente enquanto ela tocava como se sentisse a musica em cada partícula de seu ser.

Foi como se ela picotasse partes da composição de Beethoven e formasse uma coisa nova e diferente, mas ainda sim continuava sendo a obra original. Muito audaciosa, pensava ele.

Ao fim da apresentação, a plateia acaloradamente aplaudiu a jovem que lançou  um sorriso encantador em agradecimento. Ao fim da apresentação ela se retirou.

Thor e Sif estavam exultantes diante da apresentação de Sigyn. O loiro virou-se para o irmão.

— E então irmão, o que achou dela?

Loki tinha um semblante com um misto de assombro e perplexidade.

— Ela é sem dúvida... terrível...

Minutos depois eles foram apresentados. Loki encarou de perto, ela tinha olhos bem azuis, de um tom que lembrava uma manhã de céu limpo no inverno. Ao se cumprimentarem ambos sentiram um arrepio perpassando seus braços.

— Loki Odinson, prazer...

— Sigyn Lindgren, o prazer é todo meu – a jovem tinha uma voz suave, mas ao mesmo tempo, com personalidade – Já tinha ouvido falar de você.

— E mesmo? – Loki a encarou curioso.

— Sim, aluno prodígio. Ganhador de concursos estaduais de piano. Um dos professores mais jovens do Conservatório de Manhathan. Já assisti algumas apresentações suas.

— Nossa... eu estou impressionado, Srta. Lindgren.

— Por favor, me chame de Sigyn – ela abanou a mão.

— Como quiser.

— Viu só Loki, eu lhe disse que ela era incrível! – Thor deu um “leve” tapa nas costas do irmão mais novo – Não entendo como você achou a apresentação dela horrível.

Sigyn fitou o moreno um pouco surpresa. Loki arregalou os olhos e dela encarou Thor, estava furioso.

— Thor, seu idiota! Cala essa boca!

— Mas você disse, não disse?

Loki bufou e então seu olhar voltou-se para Sigyn, ela tinha uma expressão misteriosa.

— O senhor não gostou da minha apresentação? – jovem lhe perguntou, parecia triste.

O rapaz ficou mudo, demonstrando estar terrivelmente desconcertado. Percebendo que ele demorara a responder a garota deu um sorriso apagado.

— Toco mal?

— Não.. é que...

— Deixa eu advinhar... por acaso é o fato de eu não ter seguido a partitura fielmente?

Loki demorou alguns segundos para responder.

— Sim – e então ele acrescentou -  sua técnica é  demasiada apurada, refinada eu diria, mas improvisar a partitura de Beethoven como você fez a pouco seria um crime fatal para um teste de admissão, os jurados não a perdoariam. Espero que não se ofenda com isso...

Sigyn piscou os olhos devagar e anuiu concordando.

— Não eu não me ofendi – ela deu de ombros – mas acho que a musica é muito mais do tocar exatamente como são as partituras. Olhar a música por esse aspecto é tão raso, tão mecânico. Onde está o coração nisso tudo?

Loki estava intrigado com aquela figura. Ela então lhe sorriu.

— Achei que nós tocássemos para atingir o coração das pessoas. Não é isso que os musicistas fazem?

                                                                       *

Loki fitava o teto do quarto, ao seu lado, Sigyn ressonava adormecida. Logo o sol apareceria pela janela. Curiosamente a lembrança do primeiro encontro dos dois havia vindo a sua mente.  O jeito sensível e romântico de ver a musica de Sigyn contrastava terrivelmente com estilo pragmático dele. Ele a ajudou a entrar no Conservatório, tocando como seu acompanhante. Mas ela teve que seguir seus concelhos (ainda que a contragosto), os dois conversavam avidamente sobre seus pontos de vista a respeito de música e quando tocavam juntos se assemelhavam a um duelo, afinal eram dois solistas, dois protagonistas que não suportavam a ideia de estar à sombra de alguém.

Ele era prático, metódico e taciturno e ela tinha uma personalidade violenta, alegre e amava as coisas com intensidade. Mas também era exagerada e ciumenta e por vezes, infantil. Loki achou melhor se separar porque não sabia lidar com toda aquela montanha russa em forma de mulher. Ele nunca demonstrou, mas, essa havia sido uma das decisões mais difíceis que havia tomado na vida. Amava Sigyn, mas ao mesmo tempo, achou que foi muito precipitado em casar com ela. Sabia que Sigyn estava sofrendo e mais do que nunca acreditava que deveria ficar longe dela, para que, ela cedo ou tarde se libertasse dele e fosse feliz.

Mas vê-la daquele jeito o incomodava, se sentia culpado. E aquilo que eles acabaram de fazer foi um erro, ele deveria ter resistido...

 

Ainda de olhos fechados ela moveu o braço na intenção de alcança-lo, mas tudo o que sentiu foi o vazio do colchão. Loki não estava mais ali. Sentou-se na cama olhando ao redor. Lembrou-se da forma intensa como os dois havia se amado na noite anterior. E agora estava ali sozinha.

Será que se arrependeria daquilo? Não sabia dizer.

Levantou-se da cama e pegou a primeira peça de roupa que encontrou no chão: a camisa de linho branca que ele usava. Sentiu o cheiro de perfume que saia dali, aquela velha fragrância amadeirada característica dele. Saiu do quarto e então ouviu barulho e cheiro de ovos fritos com bacon. E então o encontrou na cozinha. Ele vestia uma camisa branca e uma calça de moletom preta.

Ele pareceu ter notado sua presença, pois logo se virou para ela.

— Bom.. dia – ela falou tímida.

— Bom dia – ele respondeu baixo – Bacon com ovos?

— Eu... aceito, obrigada.

Após alguns minutos os dois comiam silenciosamente. Loki deixou a talher no prato, ele fitou Sigyn por alguns segundos.

— Está gostoso, como sempre -  ela comentou, notando que era observada.

— Sigyn... eu preciso lhe contar algo.

— Hum... o quê seria? – ela o encarou e percebeu que ele estava um pouco sério e hesitante.

Vendo que ela tinha a atenção nele, Loki então a fitou nos olhos.

— Eu vou me mudar para Viena.

Ela achou que havia escutado errado, mas não, foi apenas a sensação de  um soco no estomago.

— O que disse?

— Recebi uma proposta para trabalhar no Conservatório de lá. Já está tudo certo.

— Quando...

— Há três semanas.

Sigyn tinha olhar perdido. Largou o garfo na mesa. Loki iria embora? Para longe? Longe dela?

— Eu não sei o que dizer... – ela riu nervosa – bem, isso é ... fantástico! Meus parabéns! Viena é o máximo!

Loki se sentiu ligeiramente desconfortável.

— Como isso aconteceu? – ela perguntou tentando disfarçar a vontade que sentia de chorar.

— É uma parceria entre o conservatório daqui e o de lá. Eles entraram em contato comigo e eu aceitei a proposta – a frase morreu por ali.

Os dois ficaram em silencio. Um silêncio quase sufocador, Sigyn pensou um momento que não deveria chorar. Não seria fraca, não daquela vez.

— Eu vou... me vestir e pegar as minhas coisas - ela falou de repente se levantando.

Loki acabou fazendo o mesmo movimento. Sigyn ficou de costas para ele e respirou fundo. Não choraria ali, não na frente dele. Sabia que se fizesse aquilo faria com que ele se sentisse mal e culpado.

— Sigyn...

— Eu estou bem – ela se virou dando um sorriso fraco – vou ficar bem.

Ele a fitava preocupado.

— Vá para lá – ela disse sentindo agulhadas no peito – e me prometa uma coisa. Prometa-me que vai tocar para alcançar o coração das pessoas.

— Eu prometo.

Ela tentou sorrir...

— Quando você vai embora? – ela disse se esforçando para não embargar a voz.

— Amanhã pela manhã. No voo das 10.

— Tão cedo? – ela olhou para o chão.

— É – ele disse fazendo o mesmo.

Alguns minutos depois Sigyn se arrumou e pegou as suas coisas. Loki insistiu em leva-la para a casa dos pais, mas ela recusou educadamente. Ela pegou o metrô de volta para casa. Seus pais haviam viajado fato que de certa forma foi bem melhor. Quando finalmente estava em seu quarto ela se pós a chorar. Desabando sobre a cama e abraçando um travesseiro. Chorou até sentir o sono lhe pesar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É eu sei, bem triste....
A fic é curta, só pra lembrar... os capítulos vão intercalando entre presente e passado, e espero que dessa forma vcs entendam um pouco o jeito de ser do Loki... ele tem uma história pesada por trás da personalidade dele (mais detalhes no próximo capítulo)... além do que algo interessante vai acontecer nessa fic, mas como eu digo para os meus alunos.... vamos por partes ;)
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Notas sobre um coração quebrado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.