Notas sobre um coração quebrado escrita por Puella


Capítulo 1
Meu erro.... - primeira parte


Notas iniciais do capítulo

Oi gente.... então estou vindo com uma ideia que ao meu ver é um pouco diferente das outras fics que eu já escrevi... e bem nunca vi uma história desse estilo por aqui... se tiver alguém me tome nota nos comentários ^^

Então gente espero que gostem... ela uma shortfic e bem os capítulos dela serão poucos, mas ao mesmo tempo mais longos... essa é a ideia a principio.... e para quem me acompanha em a Esposinha... o próximo capítulo de lá ta indo, to escrevendo... então não se preocupem...
Ademais, uma boa leitura!



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ERA a segunda vez que ela se olhava no espelho do banheiro. Estava tudo certo. Maquiagem, ok. Cabelos, ok. Vestido, confere. Penteado, tudo certo e no seu devido lugar.  Tudo parecia perfeito.

E era isso que Sigyn Lindgren queria acreditar, mas não era isso que o seu olhar mostrava. Ela ainda se sentia abalada e frágil, por mais que se mostrasse confiante aos amigos e familiares, e a ele principalmente.

— Não se preocupe Sigyn, vai dar tudo certo. É só por algumas horas. Você vai sobreviver a isso.

Deu um sorriso forçado para si mesma. Não queria estar ali, mas era uma boa amiga e jamais deixaria que Pepper ficasse sem a sua madrinha e parceira. Seria muito mais fácil se o padrinho do noivo não fosse Loki Odinson, seu ex-marido.

Aliás, quando foram convidados para serem padrinhos, um ano antes, ela e Loki ainda eram casados. E há exatos três meses, eles haviam se divorciado.  Foi muito difícil para ela aceitar que o casamento que começou de forma tão apaixonada tenha terminado de maneira tão abrupta. E a culpa era dele, em todos os sentidos.

Loki Odinson tinha uma personalidade um tanto incomum, muito difícil de encontrar no atacado. Como músico, era um pianista fora de série, tocava de forma apaixonante, perfeita e sensível. Como pessoa, ele era imprevisível, e às vezes frio como gelo e Sigyn por ser o oposto de tudo isso não soube como lidar com essa personalidade dele. As brigas eram constantes. Eles eram muito diferentes um do outro. Loki foi prático e sugeriu o fim do casamento. Preto no branco. Para Sigyn aquilo foi como um rolo compressor em cima de seu castelo de contos de fadas, afinal, mesmo com todos os defeitos que ele tinha, ela o amava e esperava estar ao seu lado para o resto da vida.

Mesmo com toda a terapia que vinha fazendo, de nada adiantaria para ampará-la naquele momento.   Todos os conselhos haviam evaporado, e novamente ela se encontrava na mesma sensação de céu nublado que sentiu quando ela e Loki saíram do escritório do advogado.

Seus olhos teimaram em querer derramar água. Percebendo isso a jovem musicista respirou fundo e piscou de forma rápida, olhando agora para si mesma.

— Vamos Sigyn, vamos dar o próximo passo, ele com certeza já deve ter dado.

Com isso em mente, ela tentou, tentou sorrir de maneira convincente. Caminhou para fora do banheiro e seguiu pelo corredor da casa onde de Tony e Pepper, onde seria a festa. A jovem caminhou a passos rápidos desviando graciosamente dos empregados e arranjos de flores que eram levados de lá para cá. Até que ouviu uma risada vibrante, forte como um trovão. Era a voz inconfundível de Thor Odinson, acelerou mais o passo, mas infelizmente, ela não passou despercebida pelo ex-cunhado.

— Sigyn!

Foi automático. Ela virou instantaneamente e encarou o sorriso genuíno daquele que a considerava uma irmã de coração. E ao lado dele... aquela pessoa que fazia o coração de Sigyn se revirar do avesso.

Loki.

Seu ex-marido.

Ex.

Ainda sim, ele seria sempre algo dela, ainda que ironicamente.

Ela deu um sorriso tímido para Thor e este a abraçou no ar, depois a colocando no chão.

— Saudades da minha irmãzinha – o loiro fez um carinho de leve no ombro dela.

— É bom ver você Thor – Sigyn juntou as mãos atrás das costas para que elas ficassem quietas.

E então ela fitou o irmão caçula de Thor. Ele estava atraente como sempre, os mesmos cabelos negros arrumados para trás, alinhado e charmoso. Os mesmos olhos verdes perspicazes. Ele lembrava um príncipe de porcelana.

— Como tem estado Sigyn? – ele a cumprimentou como se fossem velhos conhecidos. A voz era calma e controlada.

— Olá Loki – ela respondeu sentindo o coração acelerar um pouco – estou indo bem, obrigada. E você?

— Vou indo muito bem.

Os dois ficaram alguns segundos sem dizer nada. Aquilo era estranho, e ela podia notar que ele também não estava tão confortável naquela situação. Porem, Loki sabia disfarçar melhor.

— Meu Deus!

— O que foi Thor? – foi Loki quem perguntou.

O loiro fitou os dois com um sorriso desconcertado.

— Me perdoem, mas ainda acho que vocês dois formam um lindo casal. Não acredito que tenham se separado.

Sigyn ficou vermelha. Loki soltou um pigarro.

— Thor, por favor – o irmão caçula franziu levemente o cenho.

— Desculpem – ele encarou o irmão e depois Sigyn.

— Tudo bem – Sigyn desconversou – se não se importam, eu vou falar com algumas amigas ali.

Ela sentiu um crescente alivio ao se afastar dos irmãos. Mais adiante encontrou Wanda e Pietro Maximoff, seus colegas de orquestra, e ficou conversando com eles até o momento em que houve o inicio da cerimônia.

                                                                       *

A cerimonia do casal Stark foi linda, com direito á uma musica de entrada do AC/DC, a banda preferida do noivo. Loki e Sigyn tiveram que ficar lado a lado durante o período, já que eram também padrinhos dos noivos. Os dois não trocaram palavras ou olhares. Depois durante a festa ambos fizeram apresentações musicais em homenagem aos noivos. Tirando isso, a festa foi tranquila para Sigyn.

Quando Pepper jogou o buquê, Sigyn ficou ao longe observando a briga das outras garotas pelo ramalhete premiado. Uma das madrinhas, Natasha Romanov, foi à premiada. Ela acenou carinhosamente para o namorado Steve, também padrinho de Tony. Estranhamente desconfortável em meio aquele ambiente, Sigyn optou por dar uma volta pelo jardim, se afastando um pouco das pessoas. Pegou mais um drink e saiu para observar o céu que recém escurecia.

Queria sair dali a qualquer custo. Mas não podia desmoronar com um saco de batatas. Tinha que ser forte, porque seu coração era fraco. Virou a bebida de uma vez só.

— Não deveria fazer isso.

A jovem se assustou com a aparição daquele que ainda perturbava seus pensamentos.

— Está me seguindo? – ela franziu o cenho.

Loki tinha as duas mãos nos bolsos da calça, gravata frouxa e os dois primeiros botões da camisa de linho branca abertos. Ele observava Sigyn em seu vestido rosa envelhecido, descalça com o violino em uma mão e a bebida em outra.

— Não estava te seguindo. Se não sabe, o banheiro é naquela direção, acabei de vir de lá.

— Bem, como pode ver – ela estava um pouco rosada – eu estava indo pegar outro drink, se me der licença.

Ela passou quando ele a segurou de maneira delicada.

— Sigyn, você sempre foi fraca para bebida, não vá fazer nenhuma besteira.

Ela riu e virou para encará-lo, olhou para mão dele que a segurava e depois para o seu rosto.

— Isso não é assunto seu – ela respondeu tentando parecer fria – que eu saiba, não temos mais nada a ver um com outro.

Ele a soltou de leve.

— Eu havia me esquecido disso – ele falou por fim – você tem razão. Só acho que você deve tomar um pouco mais de cuidado – ele então apontou para o copo vazio – com isso. Apesar de tudo o que aconteceu, você sempre será a minha violinista preferida.

— Por que está me dizendo isso?

Ele colocou as mãos no bolso.

— Porque eu quero. Aliás – ele pareceu ter se lembrado de algo – eu precisava falar com você.

— Falar comigo? – a jovem sentiu o coração acelerar. O que será que ele tinha para falar com ela? – Sobre o quê?

— Eu separei algumas coisas suas que ainda ficaram no apartamento e...

— Quer que eu as leve de lá – a jovem o interrompeu.

— É...

— Posso passar lá na outra semana.

— Não vai dar. Não poderia ser hoje?

— Hoje?

— Hey Metal Mozart! Estávamos a sua procura! – Tony apareceu surpreendendo os dois – Ops! Não esperava encontra-los aqui assim... O que é isso? Tentativa de reaproximação?

— Tony...

— Brincadeirinha! Preciso de você agora Mozart, e claro, a Estrelinha também – ele riu para Sigyn – não se incomodam de tocar mais um pouco pra gente, hein?

— É sempre um gosto, Tony – Sigyn respondeu com seu sorriso meigo.

— Por que, não? – Loki afrouxou os ombros.

Tony estalou os dedos.

— Por que vocês dois não tocam aquela “Kreutzer”?

Aquilo pegou o casal de surpresa, a “Kreutzer” era uma sonata para violino composta por Beethoven, que ironicamente foi a primeira peça que Loki e Sigyn apresentaram juntos antes de eles se...

— Isso mesmo! Vamos indo meus amigos – Tony os levou pelo corredor do jardim até festa.

*

Era estranho estar naquele carro, junto dele. Sigyn havia bebido um pouco, mas não ao ponto de ficar bêbada, mas também não era muito confiável que ela saísse dirigindo naquele estado.

— Buscamos as suas coisas e depois eu te deixo na casa dos seus pais.

Ela apenas anuiu.

— Você está morando com os seus pais? Certo? – ele tinha os olhos fixos na pista.

—... sim e não.

Loki se permitiu encara-la por alguns segundos antes de se voltar para a pista.

— Como assim? É sim ou não.

— Eu estou e não estou. Vou me mudar em breve. Consegui alugar um bom apartamento perto do conservatório. E adeus ao metrô!

— Isso é bom. Muito bom. E no que está trabalhando?

— Vou participar do Festival de Gala em Boston. Convidaram-me.

— E o que planeja tocar?

— Kreisler. Liebeslied.

— Kreisler? – Loki arqueou as sobrancelhas – Há tantas obras interessantes, porque essa em especial?

— E que problema há nela? – Sigyn olhava para frente acompanho as luzes que passavam pela janela do carro – As pessoas apreciam musicas que falam do sentimento do amor...

— Eu nunca entendi as suas escolhas - ele comentou de repente.

— Você não precisa entender...

Os dois ficaram em silencio por um bom tempo, até que não falaram mais nada. Quando chegaram ao apartamento Sigyn sentiu algo nostálgico, afinal, ela havia morado ali por quase três anos. O cheiro amadeirado, as cortinas brancas e ali bem no meio da sala, o piano. Um belo Steinway & Sons, a jovem caminhou até ele fazendo-lhe um leve carinho.

— Como vai velho amigo...

Quantas vezes ela havia ensaiado ali com ele? Eram horas fio que nem mesmo ela se dava conta no fim do dia.

Loki apenas observava as costas franzinas de Sigyn. O vestido deixava uma bela amostra delas, apesar de o cabelo ruivo e ondulado cobrir parte da pele. Ela tratava o piano com um terceiro habitante da casa, amigo inseparável do violino Stradivarius dela.  Para Sigyn os instrumentos eram pessoas. E aquilo era um tanto engraçado.

— Sigyn...?

A jovem se virou assustada, não percebeu que havia se distraído tanto e não se lembrava de ter percebido que Loki estava agora perto dela.

— Aceita beber alguma coisa?

Aquela pergunta era estranha, afinal ela já havia morado ali, mas agora, ela era uma estranha de fora.

— Não, obrigada.

Ela olhou para o lado, mexia a saia do vestido. Estava se sentindo um pouco nervosa.

— Está usando aquele perfume, não é?

— O que?

— Aquele que eu te dei no seu aniversário.

— É, estou. É um bom perfume... – “e não usei por sua causa se é o que está pensando” essa parte ela não pode dizer.

Loki riu.

— Naquela época eu sempre achei que ele combinava perfeitamente com você.

— O que tem demais nisso? – Sigyn retrucou desconfiada.

Loki a olhava agora de forma analítica.

— Ele continua combinando... não achei que ainda  estivesse o usando.

— Ele foi caro – Sigyn queria sair dali – e depois, como eu mesma disse, é um bom perfume no fim das contas.

— É – ele concordou.

— Bom, vamos pegar as minhas coisas então.

— Espera – ele a segurou no braço.

— O que foi?

— Não quer mesmo beber alguma coisa?            

— Não. Apenas pegar as coisas e ir embora. Não foi esse o trato?

— Claro.

— Onde estão as coisas?

Estranhamente o coração da musicista batia violentamente contra o peito.

— Eu deixei as caixas arrumadas lá no quarto, não se preocupe, é pouca coisa.

— Tudo bem – ela falou calma, embora estivesse agitada por dentro e louca para dar o fora dali.

Ela acompanhou o então ex até o quarto dele. O quarto que era deles. O lugar era impregnado agora pelo cheiro dele. A garganta de Sigyn começou a ficar seca. Aquilo estava se tornando difícil, até ela viu sobre a cama algumas caixas pequenas. Eram as suas caixas de partituras.

— Fiquei um tanto surpreso que tenha se esquecido delas... – ele interrompeu o silencio chamando sua atenção – Você está bem?

— Estou – não, ela não estava. Aquilo não estava certo. Ela estava diante de uma tortura suave.

“Você mente mal, muito mal” uma voz ressoou dentro da cabeça dela. Ela caminhou até a cama para pegar as caixas. Eram suas composições pessoais, mas que ela nunca teve coragem de tocar em público.

— Mas eu as fiz para você – ela falou de repente, estava de costas para ela.

— Elas são suas – ele disse – então eu achei que...

— Pode ficar - ela falou rápida, sem encará-lo – fique com elas.

A essa altura ela tinha lágrimas nos olhos. Limpou rapidamente e então o fitou com um sorriso desconcertante.

— Elas foram um presente! Fique com elas... pelo menos isso.

Ela riu nervosa, as lágrimas desceram.

— Droga! – ela praguejou baixinho fechando os olhos e tentando inutilmente limpar as lagrimas até que sentiu uma mão gelada limpar a sua bochecha. Ao abrir os olhos se deparou com os dele.

— Eu fico com elas – ele respondeu por fim, fazendo um leve carinho em sua bochecha – se isso a fizer se sentir melhor.

“Há apenas uma coisa que pode me deixar melhor...”.

Ela segurou de leve o seu paletó com certa urgência no olhar. Ele a olhou com um misto de confusão e surpresa.

— Fica comigo?

— O que disse?

Ela ficou mais próxima dele e de forma inesperada beijou-lhe os lábios de forma cálida. Os olhos dele estavam fixos nos seus.

— Fica comigo, esta noite... – ela repetiu mais uma vez.

— Não acho que isso seja uma boa ideia, Sigyn - Loki estava tentando se ater ao ultimo fio de raciocínio que ele ainda tinha.

— Eu sei que não – ela se afundou em seu peito – só hoje...

E então o fitou com o sorriso mais doce que já havia lhe dado na vida...

— Pense nisso como um tipo de despedida...

E como resistir aquele sorriso? Foi aquela mesma doçura que o cativou quatro anos antes. Sem mais hesitar ele se aproximou devolvendo o beijo. Os toque ora carinhosos, ora urgentes, roupas lançadas ao longe, beijos. Por um momento eles esqueceram tudo. O divorcio, família, trabalho, cobranças. Não havia mais nada além deles. Nem mesmo pareciam um casal recém-separado. No entanto as coisas voltariam ao normal pela manhã. E Loki e Sigyn iriam cada um para os seus respectivos lados.

E aquela noite logo se tornaria uma mera lembrança.


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Notas finais do capítulo

E é isso por enquanto.... é está sendo interessante escrever sobre um casal que já começa separado... e bem, a situação deles é meio complicada... Loki e Sigyn já são um casal por se só complicado XD... ah, sobre as músicas, não reparem mais eu amo música clássica, tá?

A "Kreutzer" Sonata para violino n. 9 1º movimento do Beethoven é essa aqui:https://www.youtube.com/watch?v=ML6Y26B6BZc (essa versão é mais curta, aconselho a ouvir a original caso gostem).

Liebeslied ou Tristeza de amor (tudo a ver com a Sigyn) do Kreisler : https://www.youtube.com/watch?v=2nvtnmpvp48

E é isso gente! Espero que tenham gostado!
Até o próximo capítulo!



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