O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 35
Trinta e cinco


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!!! Como vocês estão depois desse jogo foda do Brasil contra a Sérvia? Olha... confesso que no segundo tempo estava quase dormindo. Mas, ainda bem que nós ganhamos né?
Hoje é dia de postar. Então... boa leitura!



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De: wendyc@outlook.com
Para: mamaejoannacooke@gmail.com

Mamãe, oi. Tudo bem com vocês? Estou escrevendo para lhe dar algumas notícias. O funeral aconteceu hoje de manhã e... bem, foi um funeral, certo? Não podia ser bom. Choveu o tempo inteiro e depois que tudo acabou, um arco-íris cortou o céu e alguns feixes de luz solar até nos saldou.
Jullian e eu conversamos apesar de toda situação. Depois que tudo terminou e estávamos andando lado a lado no cemitério, longe do pessoal, só nós dois, ele perguntou como eu faria agora que não tinha mais como cuidar de ninguém da família dele. A resposta que eu dei foi a que passou por minha cabeça: eu voltarei para casa, pois não há mais nada para se fazer aqui. Na verdade, tudo isso mexeu muito comigo e estou querendo voltar para casa. Vocês entendem?

Jullian parou de andar e ficou olhando para mim por intermináveis segundos. Sua expressão era de incredulidade e até mesmo mágoa. Eu me expliquei dizendo que estava abalada, que sentia muito e que não sentia vontade de exercer mais nenhuma função como enfermeira aqui em Copenhague. Tenho certeza de que não vão encontrar vagas em hospitais, pois elas já foram todas preenchidas e todos os intercambistas estão seguindo seus dias normais. E eu não quero ir trabalhar para outra família. Ninguém será como o sr. Zarch. Ninguém será como Betty Berry com seus cafés maravilhosos e seu jeito carinhoso. Ninguém será um amigo tão fiel e dedicado como Nigel. E, claro, ninguém será tão complexo e admirável como Jullian.

Estou voltando para casa, mãe. Preciso de vocês, preciso estar perto e tentar recomeçar aí. Sinto muito em deixar a Dinamarca. Isso está doendo no fundo da minha alma, mas é do que eu preciso depois de tão pouco tempo.

Espero que meu quarto aí em casa ainda esteja arrumado e que vocês não tenham vendido nada para arrumar dinheiro e nem que ele tenha sido transformado em uma academia que vocês nunca vão usar ou em um quarto de jogos para Fergus.

Amo vocês,
Wendy.

Essas foram as palavras que compuseram o e-mail que mandei para minha mãe logo depois que Jullian me deixara no campus, depois do funeral. Muitas pessoas haviam comparecido, incluindo o sr. Fonzie. Jullian ficara extremamente chateado com minha decisão, dava para ver em seus olhos. Mas o que eu podia fazer? Não é como se ainda tivesse algo para mim ali. Eu me sentia mal e precisava, novamente, de um recomeço.

– Entendo você. - ele disse ao parar com o carro aonde este estivera estacionado.

Olhei para seu rosto cansado que olhava à frente.

– Me desculpe, Jullian. Sinto muito mesmo.

– Não tem o porque se desculpar. Cada um segue sua vida, certo?

Eu não respondi. Seu tom de voz foi áspero, mas eu acho que ele só estava muito chateado com tudo.

– Eu... vou dar entrada na papelada para acertar o dinheiro e...

– Jullian, por favor, não. Eu não quero o dinheiro de vocês. Isso nem me passou pela cabeça e...

– Nós temos um contrato, Wendy. - insistiu ao olhar para o meu rosto. - E não vou quebrar nenhuma cláusula.

Suspirei.

– Não quero que se preocupe com nada disso agora, Jullian. Quero que tome o seu tempo para... estar em luto. O tempo que precisar.

O ar dentro do carro estava estagnado. O sol estava escondido atrás de um manto branco de nuvens. Um mormaço abafado nos rodeava naquele começo de tarde. Toquei sua mão que estava segurando a marcha em ponto morto. Ele olhou para minha mão tocando a sua e voltou a olhar para frente. Não olhou para mim. Eu respirei fundo mais uma vez.

– Vou deixá-lo sozinho. Se precisar de algo... venha me ver.

Ele assentiu e eu saí de sua BMW confortável e espaçosa que tinha um cheiro de carro novo e bem cuidado. Fiquei em pé na calçada observando Jullian ir embora e desaparecer de vista. Aquilo partiu meu coração em pedacinhos, mas eu tinha que fazer aquilo. Era hora de dar adeus.

***

Na manhã seguinte, como eu não tinha mais que acordar cedo para ir trabalhar na casa dos Zarch, fui despertada com o celular vibrando do lado do travesseiro. Era uma mensagem de Jullian pedindo para que eu fosse até a casa deles, pois ele precisava que eu assinasse alguns papéis e conversar sobre tudo. Sinceramente, eu não queria nada daquilo. Contudo, pareceu-me extremamente egoísta a decisão de ignorar sua mensagem e não ir, afinal, ele fora quem perdeu o pai e estava tentando facilitar o meu caminho de volta para casa.

Passava-se das nove e dez. Respondi sua mensagem dizendo que em breve eu estaria lá para resolver as coisas. Levantei-me da cama e fui para o banheiro tomar um banho pensando que aquilo até podia ser bom. Acabar com tudo rapidamente, como tirar um Band-Aid. Poderia me despedir de Betty Berry e Nigel também de uma vez e, por mais que doesse, esperava que fosse rápido.

Vesti uma jardineira jeans por cima da camiseta branca e simples. Meu cabelo acordara indomável então decidi prendê-lo em um coque no topo da cabeça. Nos pés, calcei um par de tênis branco. Peguei as coisas que precisava e enfiei dentro de uma bolsa preta e deixei meu dormitório.

Dei cada passo como se estivesse saboreando. Na verdade, era o que eu tinha de fazer. Em breve eu estaria fora dali, deixaria Copenhague e o campus convidativo.

Encontrei-me em pé no ponto de ônibus do outro lado da rua do prédio da faculdade. Não estava chovendo e não tinha ameaças de chuva naquela manhã. Tinha deixado meu guarda-chuva azul turquesa no quarto. O guarda-chuva amarelo tinha ficado com Betty Berry. Ela havia adotado, disse que trazia esperança. O céu estava azul profundo e o sol raiava forte. Fui obrigada a colocar um par de óculos escuros para proteger meus olhos sensíveis. Uma leve brisa visitou-me de vez em quando e depois de uns quinze minutos, o ônibus chegou. Eu entrei e tomei meu lugar em um dos bancos ao lado das grandes e largas janelas de vidro.


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Notas finais do capítulo

Retinha finaaaal da nossa história!!!! Só mais um capítulo e meio para acabar!!!!
Espero muito que tenham gostado de tudo até aqui. Deixem aí seus comentários ;)
Also, espero que tenham uma ótima quinta-feira amanhã. Os vejo na sexta-feira!!! ♡
Um grande beijo,
Lê ♡



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