O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 36
Trinta e seis


Notas iniciais do capítulo

Oiii meus amores!!!! Oi pra vocês nessa sexta-feira linda! Nem acredito que chegamos ao penúltimo capítulo da história. E só pra animar vocês, vou postar o último hoje também. Isso aí!
Não deixarei notas finais nesse capítulo, Mas no último sim. No mais, espero que gostem!



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Apertei o botão azul do interfone e esperei. Ali fora podia ouvir o som do riacho correndo ali perto e dos passarinhos piando enquanto voavam. Parecia o tipo de dia que o sr. Zarch adoraria apreciar. Pensando nisso, olhei para o céu azul e perguntei-me se ele podia me ver, nos ver... sentir. O que diabos acontecia depois que morremos? Para onde íamos? Essas eram perguntas quais nunca poderíamos obter respostas.

Ouvi a voz de Betty Berry perguntar se era eu. Eu respondi que sim e a porta se abriu.

Me encaminhei até a porta de entrada, por onde eu sempre entrava. Estava tudo tão morbidamente silencioso... Eu não estava me sentindo muito bem.

Betty Berry me recebeu na porta. Vestia uma saia risca de giz, um par de sapatilhas e uma camisa branca com mangas 3x4. Suas canelas finas eram pálidas e delicadas. Olhar seus traços miúdos fez com que eu sentisse um aperto ainda maior em meu coração. Ela me deu um sorriso amarelo.

— Como você está Betty?

Ela deu de ombros.

— Poderia estar melhor. Todos nós, não é?

Assenti lhe dando um abraço. Ela retribuiu e logo me soltou para fechar a porta. Knut atravessou a sala para me dar oi. Pela primeira vez, não me apavorei. O cachorro chegou abanando seu rabo com a língua para fora e eu me agachei para fazer-lhe um carinho nas orelhas. Este fechou os olhos aproveitando. Arfava um pouco. Será que também sentiria falta do sr. Zarch?

— Bem isso é um milagre acontecendo.

A voz de Jullian sobressaiu-se na sala. Olhei em sua direção. Ele vinha da sala de jantar e estava vestindo uma camisa verde escura com uma gola em v, botões pretos e mangas arregaçadas. Seus cabelos loiros estavam puxados para trás e suas mãos estavam no bolso de sua calça preta social. Ele estava muito arrumado.

Betty disse:

— Já era hora de ela parar de se espantar com o pobrezinho do Knut.

Levantei-me do chão e me endireitei ainda olhando para Jullian.

— Vamos, precisamos conversar. - ele disse e se virou para desaparecer entre o corredor de quartos.

Arqueei uma das sobrancelhas. Como ele podia estar de volta tão rápido? O luto já havia passado? Olhei para Betty Berry, mas ela pareceu não perceber. Estava balbuciando algo para Knut.

Segui os passos de Jullian e quando cheguei no corredor, havia uma das portas abertas. Bati na porta do - notei - escritório. Jullian estava sentado dando às costas para uma janela larga e grande coberta com uma cortina cor de creme.

— Fecha a porta. - disse e depois de uns segundos acrescentou a palavrinha mágica "por favor".

Fiz o que foi pedido e caminhei até a cadeira vaga. Havia uma larga e escura mesa feita de carvalho entre nós com muitos papéis e agendas em cima. Eu nunca tinha estado ali. Havia também, à minha esquerda, uma estante enorme de mógno, que ia do chão até o teto, de livros.

— Nossa! - deixei escapar em um sussurro. -São todos seus?

Olhei para Jullian. Ele olhou para mim e depois para os livros. Deu de ombros.

— Sim.

Observei seu rosto. Ele parecia diferente naquela manhã. Parecia frio, um pouco distante e menos vulnerável. Seus olhos azuis me fitaram por longos segundos antes de começar a falar. Tinha um dos braços apoiado em cima de mesa. A coluna e a cabeça encontravam-se apoiadas na poltrona de couro marrom escuro.

— Meu pai tinha um testamento e ele deixou algo pra você.

Aquelas palavras me atingiram como uma bolada em um jogo de vôlei do qual eu estava de fora. Minha expressão de incredulidade fez Jullian suspirar e perguntar:

— O que foi?

— Deixou algo para mim? Como assim? Eu... Eu nem era nada dele e...

— Bem, parece que você subestima seu valor para as pessoas.

O modo como Jullian disse aquelas palavras me deu certeza de que ele estava com raiva de mim. Estava com raiva por eu ter decidido deixar Copenhague e voltar para casa. Respirei fundo e engoli aquela resposta em seco. Vendo que eu não ia dizer nada, prosseguiu.

Jullian abriu um documento de algumas páginas e disse:

— Ele te deixou uma quantia de dinheiro para que você fizesse uma viagem para a Índia.

Minha boca se escancarou e eu gaguejei.

— O quê?!

Jullian deu de ombros.

— É o que diz aí. - apontou para o papel.

Peguei o papel da mesa e li as palavras que indicavam a quantia de treze mil dólares já convertidos. Aquilo me abalou ainda mais e comecei a chorar lembrando-me de quando o sr. Zarch me perguntara se eu  gostaria de ir até a Índia.

— O dinheiro está designado para isso, mas se não quiser ir para a Índia, não é obrigada.

Balancei a cabeça entre lágrimas. Sequei-as com a palma das mãos.

— Não posso aceitar, Jullian.

— Essa era uma das vontades do meu pai, Wendy. E eu pretendo realizá-las, assim como parar de beber.

Olhei para o seu rosto. Sua expressão era desafiadora. Meu coração estava disparado, querendo sair pela boca. Eu não sabia o que dizer.

— Já pedi para fazerem o depósito na sua conta junto com o seu salário desse mês e do mês que vem, totalizando um total de dezesseis mil dólares.

Funguei.

— Obrigada, eu acho. - dou de ombros.

O silêncio se instala entre nós. Era só aquilo? Apenas... negócios?

— É só isso que tem para me falar? - pergunto.

Jullian dá de ombros.

Então era daquele modo que ele ia agir. Balancei a cabeça e me coloquei de pé. Respiro fundo e olho para seus olhos:

— Você me disse que tinha sentimentos te assombrando, nós... dormimos juntos e você não tem nada para me falar?

Eu realmente estava indignada. Aquilo foi o estopim para ele perder a paciência.

— O que quer que eu diga? Você já deixou bem claro que não vai ficar aqui. E acredite, não vou sair daqui para correr atrás de ninguém.

Balanço a cabeça em negativa. Ele era realmente muito complexo e toda a sua raiva tinha voltado. A raiva de perder o pai, a raiva da mãe... Eu sentia muito por ele, mas também estava chateada.

— Obrigada Jullian. Espero que... você consiga superar tudo o que tem para superar e... que possamos nos reencontrar.

Saio do escritório dando-lhe às costas. Fecho a porta de mogno atrás de mim e caminho pelo corredor. Betty Berry estava na sala esperando por mim com uma de suas xícaras de café. Quando vê meu rosto banhado em lágrimas, vejo uma expressão de compaixão cruzar seu rosto. Me encaminho até o sofá onde ela está e lhe abraço.

— Ele me deixou dinheiro, Betty. Nós tínhamos falado sobre uma viagem para a Índia e ele...

— Eu sei querida. Ele realmente fez isso. Ele me deixou uma quantia grande para que eu possa abrir uma cafeteria. Digo... Eu já tinha compartilhado esse sonho com ele, uma única vez, quando comecei a trabalhar aqui mas... - ela nem terminou de falar e se debulhou em lágrimas. - Ah sr. Zarch...

Sentia que não conseguiria parar de chorar nunca mais. Aquela sensação de ter perdido um pessoa extraordinária nunca me abandonaria. O sr. Zarch já fazia muita falta.

— Ele também deixou dinheiro para o sr. Fonzie, para ajudá-lo a sair dos abrigos e recomeçar a vida. - ela continuou. - Ele pensou em todos nós, Wendy querida.

Assenti e limpei os olhos com as costas da mão.

—Betty, prometa-me que não vai se esquecer de mim. Por favor.

— Nunca, Wendy! - balançou a cabeça em negativa. -Assim como nunca esquecerei meus pais, que morreram alguns anos depois da segunda guerra e nem o sr. Zarch.

A abracei forte. Deus! Como eu era grata por ter tido a oportunidade de cruzar o caminho da vida com Betty Berry. Eu realmente nunca a esqueceria.

— Você quer um café?

Não recusei o café de Betty Berry, afinal, era o último dos seus que eu tomaria por um tempo. Mas fui embora dali o mais rápido possível. Não queria incomodar Jullian.

O ônibus passou na rua logo após eu chegar no ponto e me permitiu acompanhar as ruas daquele bairro. Pela primeira vez, prestei atenção nas outras casas e na reserva florestal que ali havia. O céu estava claro e lindo. As árvores estavam com uma coloração verde maravilhosa. Era um ótimo dia. Eu podia sentir o sr. Zarch olhando por nós e a emoção daquilo tudo não me permitiu parar de chorar silenciosamente por todo o caminho de volta ao campus.


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