O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 34
Trinta e quatro


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Como estão vocês? Espero que todos bem. É com muuuuita satisfação que trago para vocês este capítulo com uma trilha sonora especial ♡
Espero que gostem!

Trilha sonora do capítulo:
Camila Cabello: Something's gotta give;
Halsey: Sorry;
Akon: Blame it on me;
Coldplay: Sparks;
Coldplay: Speed of sound;
Rihanna: Stay



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Quando abri meus olhos novamente, acordei com Jullian chamando meu nome. Algo me dizia pela sua expressão, que ele já estava me chamando fazia algum tempo. Ele encontrava-se de pé ao lado da cama e vestido. O cabelo estava molhado e penteado para trás.

– Se você quiser ir... precisa começar a se arrumar.

Eu me sentei na cama de maneira preguiçosa trazendo o cobertor junto ao meu corpo, tampando a minha nudez frontal. Jullian olhou para meus ombros e depois para meu rosto.

– Tudo bem. - falei. - Eu vou me arrumar. Vou tomar um banho e tudo o mais.

– Certo. Vou te dar privacidade. Te espero no refeitório.

– Você não é aluno aqui. - franzi o cenho. - Não pode comer aqui.

– E nem dormir. - deu de ombros e sustentou meu olhar.

Eu desviei minha atenção de seus olhos e encarei a cama. Ele tinha um ponto.

– Certo então.

Jullian saiu do quarto sem olhar para trás. Ainda permaneci sentada segurando o cobertor junto ao corpo por um minuto, absorvendo tudo aquilo e tudo o que aconteceria pela frente.

***

Encontrei-me com Jullian onde ele disse que estaria. Não demorei mais do que meia hora para estar pronta. Eu não me senti no espírito de me arrumar toda ou me maquiar. Não era uma ocasião apropriada. Acho que funerais não cobravam de você uma boa aparência, afinal, era de se esperar que você parecesse devastado com a perda.

Por isso, depois de sair do banho quente, coloquei um vestido preto reto e simples. Era um vestido social. Consegui fechar o zíper nas costas enquanto me olhava no espelho do banheiro. Os cabelos ondulados eu prendi em um rabo de cavalo baixo com uma fita de cetim preta. Nos pés, usei um par de scarpin simples e preto. A única coisa que fiz para melhorar um pouco mais a minha aparência, foi passar um batom muito fraco, cor de boca, para que eu não parecesse tão doente e pálida.

Quando adentrei o refeitório surpreendentemente vazio, meus passos ecoaram no local. Jullian estava sentado em uma das mesas e a televisão baixa lhe fazia companhia. Uma das cozinheiras olhou para mim e me deu um rápido sorriso. Notei que Jullian estava comendo. Seria isso um privilégio por ele ser jornalista local? Tinha a leve impressão que sim. Ele me olhou, observando-me de cima a baixo. Esperava que não pensasse que eu tinha, de certa forma, me arrumado para o funeral de seu pai. Eu não queria que ele pensasse isso, pois não era verdade.

Fui até as bandejas e comecei a me servir. Servi um pouco de ovos mexidos, salsicha com molho e um mini pão francês recheado com queijo. Também peguei um suco de laranja para ajudar a empurrar a comida.

Me sentei de frente para Jullian. Ele tinha ambos os braços em cima da mesa e olhou para a minha bandeja. Sua cara demonstrava o cansaço que não passava. Talvez não fosse passar enquanto não se visse livre daquela terrível e infeliz tarefa que seria enterrar o próprio pai. Olhei para o prato à sua frente. Aparentemente o seu café da manhã fora o mesmo que o meu, mas ainda restavam vestígios de salsichas e do ovo mexido.

– Você conseguiu comer? - perguntei tirando os talheres do plástico.

Jullian deu de ombros.

– Um pouco.

Dei uma garfada nas salsichas e no ovo. Estavam deliciosos, eu estava com muita fome. Suspirei.

O silêncio se instalou entre nós. Evitei olhar para seu rosto, mesmo tendo a ciência de que ele estava me olhando o tempo todo. Tudo aquilo era demasiado estranho. O sr. Zarch tinha morrido e Jullian e eu tínhamos dormido juntos. Pensar naquilo fazia com que meu apetite fugisse. Tive de forçar o café da manhã para dentro.

– Você está bem? - eu perguntei.

– Por favor, não me pergunte isso, Wendy.

Olhei para seu rosto. Ele respirou fundo, certamente exasperado. Seus olhos cansados focaram em meu rosto. Ele decidiu me responder mesmo assim:

– É claro que não estou bem. Eu só... quero que isso acabe logo. Só isso.

Assenti.

– Eu sei, desculpe.

Me calei, pois não tinha mais nada a ser dito e continuei a ter meu café da manhã. O suco de laranja, de fato ajudou muito. Assim que terminei, ele perguntou se podíamos ir e eu assenti.

***

Quando estávamos atravessando o campus lado a lado, encarei as luzes amarelas que encontravam-se ainda acesas pela espécie de jardim central entre os prédios e o refeitório. A manhã de segunda-feira tinha começado com o céu azul acinzentado e o clima não muito agradável. Vi Louis olhando de longe para mim e para Jullian enquanto nos encaminhávamos para a saída. Na verdade, muitos olhavam para nós. Eu desviei o olhar e, de cabeça baixa, segui meu caminho. Um pensamento desesperador passou por minha cabeça: eu não tinha mais nada para  fazer ali.

Do lado de fora do campus, avistei a BMW preta de Jullian estacionada quase em frente ao ponto de ônibus. Meu coração disparou quando vi a Sra. Irin acenando para mim com vários guarda-chuvas fechados ao seu lado. Ela estava sentada no ponto do ônibus. Jullian olhou para mim e franziu o cenho de modo sutil.

– Bom dia Sra. Irin. - falei tentando ser o mais simpática possível.

– Bom dia, querida. - ela sorriu. - Onde vai tão cedo sem um guarda-chuva?

Lhe dei um sorriso cabisbaixo.

– Estamos indo a um funeral, sra. Irin.

Ela faz uma cara de tristeza. Olha para mim e depois para Jullian, que esperava ao lado do seu carro por mim.

– Entendo. - diz e parece um pouco constrangida. Sorri de modo solidário e ela continua - Essas ocasiões nunca são fáceis, não é mesmo?

Balancei a cabeça em negativa. Me sentia a ponto de chorar novamente.

– Bem, a previsão é de chuva. - apontou para o céu. - Não fiquem sem guarda-chuva. Não vão se molhar.

Ela estendeu dois guarda-chuvas para mim; dois de muitos outros que estavam ao seu lado. Um preto e um amarelo.

– Leve um de cor, assim não perderá a esperança de dias melhores.

Eu a olhei com gratidão e ternura e, mesmo não querendo ser invasiva, como Jullian me acusava de ser, a abracei. Ela pareceu surpresa com o gesto, mas retribuiu.

– Obrigada, sra. Irin.

Com ambos os guarda-chuvas, me dirigi até o carro. Jullian entrou ao me ver me aproximando do veículo. Fiz o mesmo; entrei e bati a porta com um baque surdo. Jullian começou a dirigir e nos tirou dali, levando-nos para uma igreja próxima ao bairro onde ele e o pai moravam. Os guarda-chuvas foram bem-vindos quando, em certo momento, enquanto o padre rezava um Pai Nosso, uma chuva rápida e pesada começou a cair.

Foi um momento triste. Betty Berry estava comigo debaixo do guarda-chuva amarelo enquanto observávamos o caixão descendo lentamente para a cova, que o engolia cada vez mais fundo. As lágrimas escorriam silenciosas pelo meu rosto no momento e eu fechei os olhos.

Valerie esteve presente e tinha um par de óculos de sol trampando os olhos. Estava debaixo de um guarda-chuva preto junto com seu novo marido, aparentemente quase uma década mais novo. Apesar de ela ter dito tudo aquilo sobre o sr. Zarch, entendia a fúria de Jullian.

Jullian... este estava molhando-se na chuva, encarando o caixão escuro do pai sendo depositado na cova enorme. O sr. Fonzie também apareceu e se molhava do lado de Jullian. Em certo momento, passou o braço ao redor dos ombros do Zarch loiro e disse algo que não entendi. Ali nos despedimos do sr. Zarch.


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Notas finais do capítulo

Vocês gostaram da trilha sonora do capítulo? E do capítulo em si? Olha... eu queria que a gente pudesse encontrar uma sra. Irin pelos nossos dias, viu? Com certeza faria nossos dias muito melhores.
Espero muito que tenham gostado. Só mais três capítulos para que a história termine...
Espero-os na quarta-feira! Grande beijo,
Lê ♡



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