Não há nada para se admirar em você, mas meus olhos brilham com o movimento do seu corpo. O ritmo que ele imprime me paralisa e eu assisto, quieta e satisfeita, o seu caminhar. A forma do seu sorriso, a curva dos lábios, os olhos apertados de ansiedade, mãos que escondem, revelam, dançam...Você inteiro é música que me toca até com os menores gestos enfeitados.

Não nego que sua confiança desmedida é estúpida e admirável. Às vezes suicida, outras presunçosa, tirou-me a reação uma vez, mas me ensinou que ganhando ou perdendo você sempre segue e se satisfaz com suas vontades. É um dos meus traços favoritos. Faz par com seu egoísmo absurdo, que escorrega em gotas de piedade repentina para camuflar seus verdadeiros interesses.

Você é o senhor do jogo e um jogador apaixonado. Brinca, se arrisca, espera, não desiste até obter o que quer; prepara a armadilha, vigia, lambuza-se com a caça. Esquece dela no momento seguinte.

O presente é o seu palco, o passado está morto e o futuro só importa se estiver próximo. O tempo é um gato manso em seu colo. Ele ronrona baixo concordando com sua postura, feliz por ter alguém que o trate tão bem. E você o bebe de uma vez, saboreando as consequências. Os únicos minutos arrastados que lhe servem estão cheios de prazer. A raiz da sua inquietação. O motivo que lhe move. Um dos que me prendem a você.

Os outros, quase todos, são defeitos. Não recordo qualidade alguma de sua personalidade volátil, porém por mais que você flua rapidamente entre suas nuances, ouso dizer que conheço todas. São facetas detestáveis, já nem conto mais quantos declaram ódio a você. Eu os dou razão, reafirmo que nada é admirável nelas e sigo esperando. Mal posso me conter para lhe ver de novo.