A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 7
Enquanto o sol não se pôr


Notas iniciais do capítulo

Olá senhoras e senhores, meninos e meninas, como estão?



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Mil promessas. Mil maneiras de perder

Powerless - Linkin Park

 

 

 

 

(Narrado pela autora)

 

 

Era de Ouro de Nárnia.

Em algum lugar exatamente posto no meio do deserto entre as colinas de Arquelândia e os enormes portões de Tashbaan, a entrada para a Calormânia, entre as enormes dunas de areia e gigantescos penhascos rochosos, no meio do nada, literalmente, em lugar nenhum, encontravam-se um pequeno acampamento de barracas de lonas reforçadas, criadas exatamente para suportar tal ambiente hostil, seco e desprovido de vida praticamente.

Numa dessas barracas havia um homem, sentado sobre um tapete velho e surrado, mas de valor inestimável em sua terra natal, numa posição que nos lembraria e muito, de monges indianos meditando.

Mas este homem não era indiano, não estava meditando e muito menos sabia o que seria um monge. Tudo o que aquele homem sabia se resumia apenas a tudo o que pudesse lhe render fortunas e status, ser rei era seu maior desejo, e para isso, ele não mediria esforços para alcançar aquilo que deseja.

Sua pele não possuía um tom de queimado do sol ou mesmo era bronzeado como se espera de alguém que está a um mês em meio ao deserto, tinha olhos claros, como os dos reis do norte e suas peles poderiam ser confundidas, tornando-o apto para ser confundido com um parente de sangue dos reis dos tronos nortistas.

No entanto, não havia um pingo de sangue real ou nobre em suas veias. Certamente, aquele homem de aparentes 23 anos era alguém que chama a atenção por sua beleza em meio à multidão. Mas por dentro, sua alma era sombria e fria. Seu coração corrompido pela magia proibida e cheio de ganância, desejava assumir tronos e impérios mais que tudo e pretendia começar quase que do mesmo modo que os atuais regentes de Nárnia e Calormânia: vindos de baixo para cima, coroados pela guerra e por derramamento de sangue.

No entanto, seu plano não era apenas derrubar os reis do presente, era mais complexo do que isso: se ele puder eliminar hoje aqueles que porventura subirão ao trono amanhã, que assim o fosse e, ter mercenários sob seu comando que conheciam de maneira indireta as ameaças que poderiam vir sobre seus planos do futuro era uma cartada a seu favor que ele não pretendia ignorar.

Tais conhecimentos passados eram coisas complexas, difíceis de ser explicadas, e quando algo complexo é contado por mercenários que sequer sabiam ler, tudo se eleva a um nível de dificuldade maior ainda.

Os mercenários que ele resgatou afirmam que foram exilados naquele deserto quando Calormânia entrou em guerra civil, que resultou na queda do antigo rei e na ascensão do soberano atual, que não apenas mudou toda as leis da Calormânia como também reatou laços de amizade com Nárnia, com a ajuda de seu resgatador e amigo leal, um garoto na época, mas que ainda assim, foi nomeado de O Lorde dos Campos de Batalha de Calormânia, ou apenas O Lorde de Calormânia, para abreviar.

Ainda que a história fosse mais complexa e muito maior, tudo o que aquele homem precisava saber era: do outro mundo, de onde os grandes e rainhas de Nárnia nasceram de fato, viria uma Dama, a filha futura de uma das rainhas, e junto dela, viria o Lorde de Calormânia, agora adulto. Ou seja, o garoto que causou o exílio dos mercenários voltaria. Juntos, a Dama e o Lorde, supostamente virão e ajudarão a manter e unificar os laços dos três grandes reinos (Nárnia, Calormânia e Arquelândia) e impediram que outra pessoa tome os reinos, ou seja, o próprio homem ganancioso.

O homem, também chamado de Howsneshl, mas que apenas atendia pelo apelido de Hows, um feiticeiro, expulso da casa de seu próprio pai, ex-arquelano, fechou os olhos, concentrando seus pensamentos em tentar saber como seu plano estava indo, mas não conseguia ver mais nada. Apertou mais olhos e nada.

Seu plano parecia ser perfeito, um livro enfeitiçado foi enviado para encontrar seus alvos, usou isso como isca; e sua magia foi aplicada com sucesso. Transformou o líder dos mercenários, Larash, num dragão de Arquelândia e ainda reforçou o feitiço fazendo-o parecer com um dragão maior ainda, como um dragão de fogo descrito pelos mercenários como sendo da Calormânia. Larash foi o escolhido, já que ele era o mais ávido por vingança contra o Lorde de Calormânia, sua sede de sangue era palpável e, além da vingança, o feiticeiro ordenou que, além de matar o Lorde, deveria matar a Dama herdeira também.

Fazia mais de uma hora que perdera contato com a mente de Larash, quando este possuía pensamentos caóticos e de pura fúria, mas Hows não achou que seria por causa de um fracasso, de maneira alguma. Erro colossal o dele: se fosse menos prepotente, teria verificado e descoberto que houve uma crise cerebral em Larash, causado por forte estresse, magia proibida, lógica humana e draconiana se misturaram de tal forma que causaram a queda dele e em seguia sua derrota ainda sob a forma de dragão.

De uma forma terrível, podemos dizer que Hows agora estava tentando ouvir uma criatura morta.

§

Por outro lado, reunidos em outra barraca, muito maior e mais simples que a do feiticeiro Hows, mas que comparado à total desolação do deserto era um paraíso, estavam seis homens mercenários, os exilados, seguidores fiéis de Larash, que aguardavam com grande ansiedade o retorno de seu líder, e mais dez homens que já viviam ao comando do feiticeiro à quase um ano. Todos esperavam por Larash, de preferência, com dois corpos específicos e incendiados sob sua posse. No entanto, a demora de tal retorno já estava os inquietando, de forma que não demorou muito para que começassem a reclamar.

—Quanto tempo mais teremos de esperar?- Disse Borum, o mais velho dos homens, enquanto tratava de afiar sua espada. Os demais, que estavam espalhados pela tenda, alguns deitados em redes, cansados de esperar; outros estavam sentados à uma pequena mesa, mordiscando o que restou do almoço e, por fim, os últimos homens restantes, que estavam sentados em contato direto com o chão arenoso, afiando espadas e limpando escudos e lanças. A mesma pergunta estava na mente de todos, mas por mais algum tempo, ninguém falou mais nada a respeito, temendo iniciar uma briga entre eles mesmos, os homens de Larash eram calormanos e os de Hows eram todos arquelanos, ambos os grupos viveram a maior parte da vida temendo aos outros e, mesmo agora que estavam unidos por um mesmo propósito, a desconfiança de uma possível traição era mútua.

A espera continuou, para todos, o sol ainda parecia estar longe de sumir no horizonte e as horas se arrastavam, parecia que este dia não teria mais fim.

—Eu não aguento mais esperar! -Disse Koby, o mais novo dos mercenários, de paciência no fim ao ver que os que estavam nas redes acabaram adormecendo. -Eu sei que nos disseram para esperar aqui, mas também nos prometeram que tudo não iria demorar muito...

—Deve ter acontecido algum imprevisto- disse Glork, um dos homens de Hows que afiava sua espada com maestria e paciência.-Talvez o rapaz que Larash foi se vingar não foi tão surpreendido assim e conseguiu até revidar o ataque… -Os mercenários de Larash trocam um olhar preocupado. Se fosse isso realmente... O Lorde de Calormânia não recebera seu título apenas por se tornar amigo do rei antes da ascensão após a guerra civil.

—Então, se for assim, temos um problema. -Admitiu Arght, considerado o mais realista dos mercenários, passando as mãos no rosto.

—Eu disse que deveríamos ter planejado mais.- Resmungou Borum, cruzando os braços, fortes e rudes, mas completamente imundos pela areia do deserto grudado à sua pele por conta do suor.

—Sim -diz Koby com sarcasmo-, assim como você nos disse que apostaria dez diamantes que um garoto como o Lorde de Calormânia jamais conseguiria levantar uma espada. Veja agora no que a sua sabedoria de mais velho nos levou!

Glork, que não era mais velho que Hows ou Koby, com apenas 24 anos, sorriu, com sarcasmo, pois sabia que, quando um jovem tem seu potencial subestimado, ele fará questão de provar que isso não é a realidade.

—Ora, seu garoto insolente! -Uma grande discussão entre os mercenários estaria para começar, entretanto, no momento seguinte, vindo do lado de fora do pequeno acampamento de tendas, um estrondoso som de uma fera rugindo se fora ouvido. E no grandioso silêncio do deserto, qualquer som poderia ser carregado pelo vento. Mesmo que o rugido pudesse ter vindo de muito longe, os homens na tenda se agitaram, desembainharam suas espadas e lanças, pegaram seus escudos, os homens que dormiam foram acordados pelos gritos de alertas que foram dados entre os despertos, os arqueiros se equiparam numa velocidade impressionante, logo, o acampamento que estava silencioso até então, de repente estava fervilhando de vida. Os homens se dividiram entre verificar todas as tendas com cuidado e os outros começaram a verificar as redondezas. Não que eles temessem por um ataque de feras, mas àquela altura, qualquer distração era bem vinda.

Hows, que também ouvira o rugido, também foi surpreendido, no entanto, nos primeiros momentos, ele se recusou a largar sua busca pelos pensamentos de Larash.

Dentre os homens que corriam aos arredores do acampamento, fosse à pé ou à cavalo, somente dois encontraram algo realmente importante, há quase 50 metros ao norte do acampamento. Montados em dois cavalos distintos e de coloração acinzentado, que, em tese, pertenciam à Hows, Glork e Arght avistaram algo estendido no chão, parcialmente coberto pelas areias do deserto.

—O que é aquilo? -Diz Glork, franzindo o cenho sob o sol da tarde, puxando as rédeas do cavalo que montava, para que este não fosse adiante tão rapidamente. Arght olhou na direção que o outro apontou, também cerrando os olhos devido a forte claridade do sol, vendo em seguida que se tratava de um corpo humano. E um bem familiar, ao seu ver.

—Essa não! Não! -Arght arriou sua montaria, para que este fosse adiante mais rápido ainda. Glork hesita por um momento, pensando que isto poderia não ser uma boa ideia, mas, como não havia nenhuma fera por perto e sua curiosidade era grande, ele não viu problemas em se aproximar também.

Ao chegar mais perto do corpo, Glork viu que Arght havia desmontado e correu para perto do corpo. Sem desmontar ainda, Glork viu do que se tratava: era Larash, morto e nu, com uma aparência ainda mais deplorável do que antes de ser transformado em dragão, seu corpo, ainda que enterrado dos pés a cintura pela areia, estava coberto de cortes de espada e flechas se projetavam tanto de seu corpo quanto de ambos os olhos do homem inerente. Internamente, Glork pensou: “Agora eu entendo o medo e o ódio desses mercenários do tal Lorde de Calormânia”, mas permaneceu calado ao ver que o livro que Hows enfeitiçou estava sobre o peito de Larash, completamente queimado, com cinzas se desprendendo, ao vento, da carcaça do que antes era um grande e elegante livro.

Arght empurrou, inundado pela agonia e desespero, o livro de cima do corpo de Larash, tentando em seguida, puxar o corpo do seu antigo líder para fora das areias do deserto. Reprimindo um grito de dor e ódio, Arght fechou os olhos com força, não queria deixar que lágrimas saíssem de seus olhos diante de Glork, não queria parecer fraco.

Mas sua alma se contorcia interiormente, a dor e a humilhação apertavam seu interior a ponto dele mal conseguia respirar. Larash prometera que iria voltar, sim, mas também prometeu que voltaria vivo e vitorioso e que ninguém mais morreria, prometeu que a morte de seus amigos, dos outros mercenários na guerra civil da Calormânia seriam vingados, prometeu que eles voltariam aos tempos de glória, prometeu muitas outras coisas e, com sua morte, Larash estava às quebrando todas de uma única vez. Tantas promessas, tantas formas de se decepcionar. A única maneira de libertar o que sentia, foi pela fúria.

—Você vai ficar aí parado como um grande imbecil ou vai me ajudar? -Rosnou Arght para Glork.

O homem de Hows não disse nada à grande ofensa proferida pelo mercenário, pois conhecia boa parte das dores humanas que todos os homens se recusavam a demonstrar, sendo a perda de um amigo uma delas. Por isso, Glork não disse nada ao desmontar, caminhou até Arghr e o ajudou a colocar o corpo inerte de Larash sobre o cavalo que o mercenário usava. Em silêncio também, Glork voltou e pegou o livro destruído do chão e levou consigo para de volta ao seu cavalo. Antes de montar novamente, Glork viu Arght montar e, sem esperar mais um segundo, voltou para o acampamento à galope.

Glork respirou fundo o ar seco do deserto, depois de guardar o livro numa bolsa de couro presa à sela, montou e olhou em volta, ansioso para voltar ao acampamento também, não gostava da ideia de encontrar uma fera sozinho no deserto, ainda mais se tal fera fosse um certo Leão, que não apenas sabe falar, como também parece sempre estar a par do que acontece no mundo dentro e fora da mente humana.

Com um toque de seu calcanhar, Glork estimulou o cavalo a voltar ao acampamento à meio galope, temia a reação de Hows diante do livro enfeitiçado destruído sim; mas temia mais ainda se deparar com Aslam em pessoa. Glork não era ingênuo como seu chefe, ele sabia bem que, Larash foi morto pelo tal Lorde e talvez com a ajuda da tal Dama mesmo, mas seu retorno só poderia ter sido por meio de Aslam.


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Notas finais do capítulo

Oi galera, tudo ok até aqui? Respondi alguma pergunta ou só piorei mais?


Ah! Mandem suas perguntas e comentários de coisas que vocês gostariam muito que tivesse no diálogo pós- jantar na casa da Laura, quero fazer algo bem legal e aceito sugestões. Eu sou um amor de pessoa, não precisam ter medo de mim, tudo bem?



Até mais... ^^



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