A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 6
Em nossas mentes


Notas iniciais do capítulo

Olá senhoras e senhores, meninas e meninos, damas e cavalheiros, bem vindos todos à mais um capítulo desta aventura épica!
Como o capítulo é longo é muito longo, não vou me demorar muito.
Sentem-se e relaxem, pois o caminho é longo e o tempo é curto!



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“Não tenha medo de crescer lentamente. Tenha medo apenas de não sair do lugar”.

Provérbio chinês.



Cada pessoa tem uma maneira diferente de lidar com grandes acontecimentos, sejam eles tragédias ou não. Em vista de tudo o que aconteceu, talvez eu devesse estar em estado de choque, talvez eu devesse estar me remoendo de culpa. Mas não estou. Acho que, quando Aslam restaurou nosso estado físico, restaurou muito mais que isso. Ele restaurou nosso psicológico e nossas emoções. Talvez até mesmo restaurou a visão que tinha de Nathan… O ódio que eu sentia por ele já não estava mais em mim, em seu lugar ficou apenas uma tristeza por ele estar enrolando tanto para me contar a verdade.

É algo que foge à racionalidade, eu não sabia explicar como isso tudo pode ser possível, mas é. Eu estava me sentindo calma e livre de culpa, entretanto eu sabia que quando a noite chegar, quando o sono estiver por vir sobre mim, eu vou lembrar e dissecar cada detalhe da batalha, minha mente irá se encher de muitas outras perguntas antes de dormir, mas agora só sabia que me sentia bem para me ater ao que se passa ao meu redor e ainda encarar isso de bom humor.

E eu sabia que com Nathan seria a mesma coisa, a habilidade de seguir em frente já nos é algo em comum a muito tempo.

Mas ainda assim, enquanto não pudermos ficar sozinhos com nossos pensamentos, tudo o que aconteceu, tudo o que fizemos, tudo o que fosse relacionado à Nárnia, tudo isso se restringirá em nossas mentes até a hora certa, quando poderemos conversar sobre isso de verdade e com mais calma enfim.



As emoções que se agitavam em meu peito (alegria, satisfação e coragem por Aslam e por ver que realmente ainda havia uma pessoa boa dentro de Nathan; e uma pitada de horror, devido ao destino final do dragão que havia revelado ser, na verdade, um ser humano após sua morte) ainda não haviam se aquietado, Nathan mal havia acabado de conversar comigo a respeito indiretamente dos acontecimentos de agora a pouco e eu nem tinha tirado nenhum material de minha bolsa quando Victor cutucou meu braço, perguntando-me onde estava o livro.

—Que livro? – Respondi de imediato, confusa, um segundo antes de lembrar-me o que estávamos vendo antes de o tempo congelar ao nosso redor. – O livro! – Exclamo, olhando a mesa á minha frente, o livro “Causas e casos da Inglaterra”, aquele que tinha artigos falando de meu tio Edmundo, com casos supostamente ocorridos até 1980 - e alguma coisa assim -, havia sumido. Procurei-o no chão, debaixo da mesa, e nada havia ali também. Nem sinal de que o livro estava por perto.

Vejo que Nathan também procurava o livro, mas ele também não o achara.

—O livro sumiu. –Diz Nathan, afirmando o óbvio. Mas sejamos francos, se não fosse ele ter dito, teria sido eu.

—Pensei que estava com vocês – diz Victor, suas sobrancelhas se uniram, ele estava desconfiado, algo que eu não poderia culpá-lo.

Passo as mãos por meu rosto, agora que a situação estava mais calma e ninguém mais corria risco de vida, vem em minha mente um jorro de perguntas que eu gostaria de ter feito á Aslam, sendo que algumas delas eram justamente sobre esse livro, mas tinha perdido a chance de fazê-las.

—Desculpe, mas não está mais conosco e não sabemos onde o livro está. – Digo, meio sem graça.  Apesar de isso ser a mais pura verdade, sinto como se eu estivesse escondendo coisas de Victor... Bom, pensando bem, era exatamente isso que eu estava fazendo.

Victor suspirou, recostando-se em sua cadeira, tirando de sua mochila seu caderno e algumas canetas.

—Ok, tudo bem, apesar de eu não conseguir entender como vocês sumiram com ele tão rápido, como num piscar de olhos— ele balança sua cabeça, em negação -, mas isso é uma pena. Eu tinha certeza de que acharíamos nele algo bom o suficiente para nos inspirar...

—Tenho certeza de que acharíamos... –Murmurou Nathan, com os olhos baixos, revirando sua mochila.

—Bem, isso é uma pena mesmo, mas temos a sessão dos professores à nossa disposição, certamente acharemos algo bom o bastante para nos dar uma boa base para começar nosso trabalho. –Puxo minha bolsa para meu colo e começo a tirar dali meu material também, sem conseguir evitar dar uma boa espiada na lanterna. Sua lateral prateada, lisa, brilhante, atraía-me facilmente e era meio difícil obrigar a mim mesma a tirar os olhos de cima dela.

Afinal, se tratava de uma herança de Nárnia, a lanterna que Edmundo acabou por esquecer por lá após ele e seus irmão terem ajudado príncipe Caspian X a reaver seu trono. (Não que eu gostasse particularmente dessa aventura. Já que é meio constrangedor – e muito esquisito - ouvir falar que, antes de meu pai, houve outro homem na vida da minha mãe).

—Bem, mãos á obra então... –Disse Victor, por fim.

Momentos depois, o sinal para o início do terceiro período soou, nos subdividimos na busca de livros, artigos e formulários jurídicos disponíveis que pudessem nos ajudar. Depois disso, reunimos os livros e tudo mais encontrado para iniciar nossa pesquisa teórica.

 

Trabalhos em grupo são, quase que sempre, uma verdadeira tortura, principalmente quando a pessoa a te encarar do outro lado da mesa não gosta de você. E eu nem estou falando de Nathan, mas sim de Mack que, mesmo estando calado, me lançava olhares de puro ódio de onde estava.

Não era o mesmo tipo de ódio que eu sentia em relação á Nathan, era algo menos... Como eu posso dizer? Menos racional. Nathan era meu melhor amigo antigamente, mas ele havia se tornado um idiota e nós brigamos e tudo mais; mas Mack não, ele é um cara legal em geral, mas se torna um pesadelo quando alguém passa a frente dele nos conceitos de liderança, principalmente quando essa pessoa sou eu. Mesmo assim, desta vez, a coisa não foi tão ruim assim, chegou até a ser divertido.

 

De repente, James Nerium, que seria nosso perito criminal, fechou seu livro com força e, bufando, disse:

—Me digam que não sou o único que não vê a hora de terminar isso e dar o fora logo daqui... – Christofer, que estava sentado ao lado dele deu uma risada, acrescentando alguns tapinhas amigáveis no ombro de James e disse:

—Eu sei, meu caro amigo, mas pense bem... Deus nos livre de o professor aparecer justamente num momento que um de nós profere uma frase dessas. Com isso, todos nós seríamos obrigados a voltar para sala e para debaixo dos olhos observadores e assustadores do Sr. Josselyn e, aí sim, isto aqui se tornaria um verdadeiro tormento...

—Droga, tem isso também. –Murmurou James, fechando a cara e voltando a abrir o livro que ele tinha acabado de fechar.

Eu, que tinha acabado de matar uma criatura na forma de dragão, olhei tudo isso e me limitei a dar um sorriso. Um dragão, pelo amor de Deus, mesmo que este fosse, na verdade, um homem! O que é se reunir em grupo de jovens para apenas começar a dar os primeiros passos no trabalho comparado a ter de matar um dragão numa batalha sangrenta por sua vida e pela vida de quem está ao seu lado?

—Mas veja pelo lado bom da coisa – disse Nathan, com o cotovelo sobre a mesa, mas com o corpo voltado para fora da cadeira, já que ele tinha acabado de voltar a se sentar á mesa. Á sua frente havia um livro fininho, mas que eu sabia que era bem útil, seu título era “Desenvolvimento de Casos: Técnicas simples e eficazes de criar linhas de investigações partindo do zero”. Eu tinha um exemplar desse livro na mesa de cabeceira da minha cama, mas ele sumiu á muito tempo e até hoje eu não o acho em lugar algum da minha casa. – Temos a liberdade de criar um caso do nada, só o que temos de fazer é encenar um caso de tentativa de assassinato com as posições a nós destinadas e só. Se quisermos que esse crime seja algo como obra o acaso, como um mero e alheatório roubo, podemos fazer isso. Mas, também, se quisermos que esse crime seja a porta de entrada para descobertas de crimes maiores, digamos, como um esquema de corrupção entre máfias, também poderemos fazer isso!

—Essa é realmente a parte mais divertida – diz Victor, enquanto ele batia a ponta da caneta em seu caderno – podemos ter uma boa gama de opções para esse caso, se pensarmos bem...

—É verdade – sorrio – e nós ainda nem começamos a pensar em como será todo o contexto do crime. Não sabemos se o crime foi cometido na residência da vítima ou num restaurante de quinta categoria...

—Eu prefiro que seja num restaurante de quinta – disse Edson Maya, nossa “vítima”, me interrompendo, de repente – se for em minha casa e o método do crime for esfaqueamento, minha mãe ia me mandar limpar o sangue do chão antes de me levar para  o hospital...

Meu argumento de boa líder deu lugar á uma gargalhada, eu não fui a única a rir e foi difícil para todos nós parar, até que um dos professores que haviam entrado ali no início do terceiro período nos olhou torto.

—Eu ia dizer que poderia ser numa viela fedida ou numa mansão requintada perto do rio Tamisa, mas isso já serve... –digo, ainda rindo, só que, agora num tom mais baixo.

—Ah não, aí é melhor a mansão no rio Tamisa... –Diz Edson, arrancando de nós mais risadas.

—É, isso se sua mãe deixar você ir até lá só para ser esfaqueado – diz Tifany, que inclusive era a namorada de Edson.

—Até você, amor? –Edson faz um biquinho e todos voltam a gargalhar, inclusive Tifany.

—Não precisa ser por esfaqueamento também, existem maneiras de envenenamento que não são detectadas e de repente, a vítima morre e quem está ao lado acha que a pessoa teve um enfarte ou um derrame. –Diz Victor, espreguiçando-se, com os cotovelos erguidos sobre a cabeça.

—Envenenamento, afogamento, tiroteio, atropelamento, tortura, queda de um lugar alto, sequestro, esquartejamento... –Nathan listou, gesticulando sua mão no ar segurando um lápis de escrever n°2, só faltaria ele estar contando cada um dos itens citados nos dedos para também soar engraçado.

—Por incêndio premeditado… Por empalamento, asfixiamento… - Acrescento, apoiando os cotovelos na mesa, a caneta que eu segurava batucava em meu queixo.

—As formas de matar são várias, umas mais sangrentas que as outras… -Continua Nathan.

—Vocês estão inspirados hoje, hein? -Ri Victor olhando para mim e para Nathan.

—Eu hein... –Diz Jessica, soltando um som de repulsa – não consigo me acostumar com isso...

—Então você deve estar no curso errado, Jess. Porque daqui em diante, lidaremos com a escória da humanidade de um jeito ou de outro... – diz Mack se pronunciando pela primeira vez em vários minutos. Ele se voltou para Nathan, usando-se de um tom mais hostil. –E bem que você poderia nos deixar citar algumas formas de assassinato também, Crawford.

Essa não, será que a troca de farpas voltaria? Justo agora que esse debate estava ficando bom?

—Ora, fique á vontade, Salomon. – Responde Nathan, usando o mesmo tom.

Mack franze os lábios por um segundo, mas não parece se intimidar.

—Tão importante quanto o local e o método de tentativa de assassinato, é o clima do ambiente onde tudo acontece. Se estiver chovendo, a água pode lavar provas importantes da cena, se estiver um sol alto, a vítima poderia sofrer de graves dores de cabeça que poderiam dificultar o diagnóstico dos exames feitos, dando erro na hora de ver quais os efeitos colaterais do que aconteceu à ele. Sem falar em como as testemunhas entraram em cena, essas coisas...

Edson deu um sonoro suspiro, dizendo, em seguida:

—Afe, tem muita coisa para decidirmos ainda!

—Isso é só o começo, cara... –Victor riu.

—Bem-vindo ao mundo real, Maya. – Sorrio e Edson mostrou-me a língua. Não liguei, Edson tem esse costume de ser o alívio cômico da turma e depois ficar irritado com isso.

—Acho que podemos pensar em métodos,cenários diferentes para o crime, depois reunimos todos, vemos um por um e depois selecionamos aquele que agradar mais a todos… -Digo, por fim, assim todos teriam chances de colocar suas ideias em debate de forma justa.

—Pode ser. –Concorda Victor e boa parte do nosso grupo. Começo a discutir com Victor sobre os possíveis meios de suspeitos diferentes conseguirem fingir-se de inocentes de um crime que realmente causaram, quando de repente Nathan olha para meu caderno, pegando-o nas mãos. Fico o olhando por um momento a audácia desse rapaz.

—Posso ajudá-lo em alguma coisa, Nathan? –Minha sobrancelha se arqueia.

—Só um segundo, Laura... –Diz ele, folheando algumas páginas do meu caderno, na parte das matérias finais. Senti uma pontada de pânico com a ideia de ele achar uma anotação que fiz numa folha quase no fim do caderno, nesta anotação constrangedora eu escrevi algumas coisas pessoais á respeito dele e de Victor, comparando-os sem querer. Deus me livre ser justamente Nathan a encontrar essa anotação!

Acho que nesse momento meu rosto ficou pálido, pois Victor notou isso, e sem saber, me salvou de um enorme constrangimento.

—Não vê que a moça não quer que mexam no caderno dela, Nathan? – Questiona Victor, se inclinando sobre a mesa e tirando meu caderno das mãos de Nathan e me entregando em seguida. Meu coração quase parou ao notar que, três páginas adiante e Nathan teria descoberto meu maior segredo já escrito por mim mesma. Fiz uma nota mental de arrancar aquela folha mais tarde e jogá-la no fogo da lareira de casa.

Nathan bufa:

—Eu só queria me certificar de uma coisa... –Diz ele, lançando um olhar estranho para Victor.

—Se é assim, por que você simplesmente não me pergunta? –Digo, minha voz quase denunciando meu pavor.

—E atrapalhar a conversa animada de vocês? Não era minha intenção. –A voz de Nathan soa meio hostil.

Eu o olhei, de olhos arregalados em espanto. Onde fora todo aquele bom humor de agora a pouco? Eu realmente queria perguntar o que estava lhe acontecendo, no entanto, Victor foi mais rápido:

—Crawford, será que poderíamos ter uma conversa rápida, á sós?

—Tanto faz, London. – Responde Nathan, ainda ríspido, mas ele se levanta mesmo assim. Assim, ambos saem da biblioteca restrita aos professores, em silêncio. Fiquei olhando naquela direção até ambos sumirem de vista, meio confusa sobre o que acabei de ver, e eu não fui a única.

—Pago um almoço para aquele que me disser sobre o que aqueles dois vão conversar - diz Luana, para mim, já que também estava observando a saída de London e Crawford do local. Não consegui evitar e respondo, com a voz um tanto seca:

—Eu também. –E me perguntei se isso, este questionamento de Luana, algo meramente levado por curiosidade ou se vinha de algo mais íntimo. Será que Luana gostava de Victor, ou pior, de Nathan?! –Mas deve ser algum assunto de homem para homem, nada de mais... –Digo, mas foi para tentar aplacar minha própria curiosidade.

—Deve ser... Mas, Laura, posso lhe perguntar uma coisa?

Se for o que eu estou pensando, não pode não.

—Manda. –Suspiro. Ai de você, Luana Lupim, se me perguntar se eu gosto de Nathan Crawford, porque se for, darei um jeito de fazer com que você não goste da resposta...

—Fora aquele caso do sujeito com o mesmo sobrenome de Sherlock Holmes, seu tio julgou mais algum processo famoso ou que teve bastante repercussão? –Questiona ela, por fim.

UFA!

Ah, se for só isso...

Quase dei um riso de alívio.

—Teve, teve sim... –Sorrio. – E ele não apenas julgou casos importantes como também defendeu muita gente nos tribunais.

—Ele foi advogado também? –As sobrancelhas dela se arqueiam de surpresa. Nem deveríamos estar falando sobre assuntos pessoais, mas, mesmo sendo estudantes da área jurídica, somos jovens, poxa.

—Sim, acho que ele defendeu causas públicas por alguns anos antes de se qualificar com juiz, ele cuidava de casos de pessoas de bem que não podiam contratar um advogado com recursos próprios. –Respondo com muito orgulho, meu tio era um herói nacional antes mesmo de julgar grandes causas como o Caso Holmes..

—Isso é muito legal! –Luana diz, saindo de seu lugar para se sentar na cadeira de Victor, para conversarmos melhor. –Eu fiquei surpresa com isso, pois eu já conhecia o trabalho de sua tia, Lúcia Pevensie. Eu amei todos os livros escritos por ela, mas o meu favorito é “O Trono de Vidro”! A escrita dela era impecável, as batalhas eram incrivelmente épicas e o romance descrito por ela era lindo e agonizante ao mesmo tempo... Sério, eu sou a fã nº1 da sua tia!

Sorri para o entusiasmo dela, eu achava isso legal, de verdade, mas acabei pensando algo como “Você e mais 35 mil leitores dela pensam isso” sem querer, pois eu estava ficando irritada, agora nada tirava da minha cabeça a ideia de que ela gostava de Victor ou de Nathan e não saber a resposta certa me incomodava muito, apesar de que eu também não tinha certeza se eu estava pronta para descobrir a resposta.

—Mas certamente seria difícil escolher, entre as cenas de guerras e as de romance, qual era a melhor parte... – Luana continuou a falar rapidamente, parecia um carro desgovernado numa descida íngreme. Sem freio, sem controle, e antes que eu a impedisse, ela estava soltando: - Eu já gostava antes, mas agora, gosto mais ainda... Principalmente agora que me vejo tão apaixonada... Posso lhe contar um segredo, Laura? Acho que você seria a única que poderia entender o que estou passando... –Por Aslam, essa garota não vê que esse assunto está quase me matando? –Eu sei que você gosta de Nathan, apesar de também o odiar, isso é engraçado de ver até, mas então, eu pensei que você poderia me ajudar, pois o que o que eu sinto por Victor é mais forte do que eu, eu o amo, mas não sei como fazê-lo ver isso... teria como você me ajudar com isso?

Misericórdia, essa garota quase me mata do coração!

—Você gosta do Victor! Meu Deus, que bom! –Meu alívio foi tanto que cheguei a dar risada, nem um pouco sutil, infelizmente.

—Laura! –Exclama ela, mais rubra do que a cor de seu próprio cabelo e eu logo me dou conta do que eu fizera.

—Ah, meu Deus! Desculpa! –Exclamo. Luana fez menção de sair dali, bufando, mas eu segurei seu pulso com cuidado. –Desculpe! Mas é que... Mas é que isso me deixa muito feliz!

Ela me olhou, confusa, mas se sentou novamente. Ficando calada por um momento, esperando que o resto do grupo perdesse o interesse em nós, o que não demorou tanto assim.

—Você achou que eu gostava de Nathan, não é? Por isso você estava tão tensa, porque você gosta dele. –Questiona Luana, mas fico quieta. Eu jamais admitiria isso em voz alta, ainda mais com meus colegas de turma por perto. Luana analisou meu rosto por um breve momento e sorriu. –Não precisa responder, a sua cara já diz tudo...

Mas que droga, Luana, fica quieta!

—Eu ajudo você com Victor, se você calar a boca. –Resmungo, de má vontade. Nunca senti tamanha vontade de voltar ao trabalho de nosso grupo como naquele momento. Luana abre um largo sorriso, mas não diz nada a respeito, apenas assente com a cabeça.

—Ótimo! Você quem manda, excelência… -Diz ela, rindo-se toda, no entanto, eu não achei a menor graça nisso e acabo fazendo uma careta.

—Sério isso, Luana?

—Me desculpe, Laura, mas você leva muita coisa boba à sério -Luana riu. -É difícil não fazer brincadeiras com isso.

Fecho os olhos, massageando as têmporas. Já vi que era mais fácil para mim simplesmente levar tudo isso na esportiva.

—Que ótimo, não sei mais o que fazer para ser levada a sério de verdade nesse lugar... -Digo, mas, no fim, acabei por rir também.

—Ah, deixa disso, Pevensie, nós todos te amamos…

—Vocês todos mesmo? -Arqueiei a sobrancelha, inclinando minha cabeça em direção à Mack. Luana acompanhou o movimento com o olhar e viu o que eu quis dizer. Ela suspirou:

—Bem, quase todos nós... -Corrige ela, sorri, um pouco mais satisfeita.

—Assim está melhor... -Dou uma risada.

—Agora, sejamos francas, não é? Você não está louca de curiosidade para saber sobre o que os rapazes estão conversando?

—Não. -Digo e foi a vez dela de arquear as sobrancelhas. -Não estou louca de curiosidade. - Dou um sorriso de lado no melhor estilo Pevensie. -Afinal, Victor é meu amigo, posso simplesmente perguntar para ele a respeito disso mais tarde...

—Ah, tá. Até parece! Victor é o melhor amigo de Nathan, e vice-versa. acha mesmo que Victor falaria mesmo do conteúdo da conversa deles se isso fosse significar trair a confiança de Nathan?

—Ah, é verdade...

—Então, vamos lá? -Perguntou ela, já se levantando do assento de Victor. Respirei fundo, pensando, “Ânimo, filha de Eva, você consegue tudo o quiser, se acreditar”.



Luana e eu atravessamos a biblioteca destinada aos alunos, olhando de relance para cada corredor entre as estantes e ali, não havia nenhum sinal dos rapazes -e eu não consegui deixar de lembrar das estantes em chamas e estremecer ao lembrar do calor e da fumaça junto. Argh...

Nem sinal deles... Certamente, Nathan e Victor saíram da biblioteca para conversar. Passamos pela bibliotecária, que não viu nossa saída do local, pois estava ocupada de mais atendendo um grupo de calouros.

—Genial, agora só falta descobrir aonde eles foram conversar… - Digo para Luana num tom de voz baixo, olhando para os dois lados do corredor antes de sair da biblioteca.

—Vamos verificar os corredores mais próximos. Se não os acharmos, voltamos para a biblioteca. -Falou ela e eu concordei, tendo em mente que deveríamos voltar o mais rápido possível para junto dos outros para fazer o trabalho.  

—Tudo bem. - Respondo.

Verificamos os corredores próximos e nada de Nathan e Victor ainda.

—Talvez eles já voltaram para a biblioteca e nós aqui, os procurando. -Digo, depois de verificar um sétimo corredor e constatar que este também estava vazio. -Vamos voltar... -Suspiro. Eu meio que já tinha perdido o interesse nesse assunto. (Agora eu pareci e muito com minha mãe, recuando diante de um obstáculo que me faça perder tempo e me desviando daquilo que eu deveria fazer realmente. Isso definitivamente não é bom, de um jeito ou de outro).

—Espere, tem um lugar que não verificarmos ainda. -Disse Luana, me impedindo de retornar à biblioteca. “Qual?”, pensei, “a saída da universidade”?

—Qual lugar? - Questionei, mas a resposta não me agradou nem um pouco.

—O banheiro masculino, ora…

Só pode ser brincadeira!

—Eu não vou entrar no banheiro masculino! -Recuo, acrescentando em pensamento: “Não entro lá de novo não! Já tive bastante constrangimentos por um dia inteiro já por causa de banheiros, ainda mais os destinados à homens!”.

Luana revirou os olhos e começou a me empurrar na direção dos banheiros mais próximos.

—Nós não vamos entrar lá dentro de verdade, vamos apenas dar uma espiada por uma fresta, só para verificar se eles estão lá...

Meus olhos se arregalaram de surpresa.

—Você sabe o quanto isso soa esquisito, não sabe, Luana? -Digo, admito, meio escandalizada pela audácia dela. Ela, por sua vez, deu risada.

—Claro que sim. Mas temos que correr riscos de vez em quando para alcançarmos o que queremos, Laura.

—Sim, eu sei disso, mas eu ainda acho isso meio desnecessário…

Minha voz morreu na garganta quando dobramos o corredor e damos de cara justamente com Victor e Nathan.

—Oi meninas, onde vocês estão indo? -Perguntou Victor, de bom humor, pelo visto, a conversa terminou bem. Por um segundo, ainda constrangida pelo plano mirabolante de Luana e surpresa por dar de cara justamente com eles, fico calada. Meus olhos voam para Nathan, que tinha agora um semblante mais despreocupado e mais tranquilo, me olhando diretamente, sem nem tentar disfarçar. Me perguntei o que raios se passava pela cabeça dele nesse momento. Luana me cutucou pelo braço:

—Nós estávamos indo… indo… -Luana gagueja e me cutucou pelo braço de novo, implorando silenciosamente por socorro, olhei torto para ela. Ora, vamos, Luana, para onde foi toda aquela audácia?

Respiro fundo, reprimindo uma risada de sarcasmo.

—Estávamos indo procurar vocês, temos um trabalho a ser feito, lembram? Mas como nós não os achamos, resolvemos aproveitar que estávamos por perto e resolvemos ir ao banheiro.

—Isso! Exatamente…

—Ah, bem, nos desculpem por isso, mas agora já estamos voltando para a biblioteca…

—Isso, vão lá, logo nos juntaremos à vocês... -Diz Luana, sorrindo para Victor.

—Então nos vemos lá. -Digo e saí puxando Luana pelo corredor, em direção ao banheiro feminino, quando de repente, a voz de Nathan soa, fazendo-me parar.

—Ei, Willians! - Olho para trás e eu o vejo parado no mesmo lugar, com as mãos enfiadas despreocupadamente nos bolsos da calça jeans que ele vestia. Ele tinha um sorriso de lado no rosto. - Não vá confundir o banheiro feminino com o masculino de novo, hein?

Não acredito que ele disse isso!

—Depois que eu tento te matar, você não sabe por que, não é, Crawford? - Resmungo.

Ele deu uma sonora risada.

—Pois bem... Eu também te amo, princesa... - Diz ele. Mostro-lhe a língua e volto a caminhar em direção ao banheiro feminino, com Luana em meu encalço.

Ao entrarmos no banheiro certo, ela riu.

—Não sei porque você acharia que outra garota teria chances com Nathan, Laura. Ele só tem olhos para você…

Lanço à ela um olhar irritado.

—Que foi? Eu disse algo errado?

—Luana, simplesmente pare. - Peço, com a maior calma possível. - Pare de tentar forçar a barra, tá legal?

—Mas… Por quê?

—Não é assim que as coisas funcionam. -Apoio minhas mãos na pia, olhando meu reflexo no espelho. -Eu tentei, por muito tempo, convencer Nathan a falar o que se passava com ele, tentei ajudá-lo, mas tudo o que recebi dele em troca foi silêncio e ofensas. E agora, que eu simplesmente cansei de tentar, ele começa a se reaproximar, ainda cheio de segredos e tudo mais, todavia… -Fecho os olhos por um momento, tentando achar as palavras certas. -Um... um grande amigo nosso me disse para ter paciência, que na hora certa eu saberia a verdade. Então decidi aceitar isso e simplesmente... Não sei, deixar as coisas acontecerem naturalmente. -Abro os olhos e vejo que Luana lavava as mãos, mas ainda prestava atenção no que eu dizia.

—E é isso o que você está tentando fazer?

—Sim. Tentar apressar as coisas só fazem com que estas demorem mais para acontecer. Não dá muito certo, entende?

—Sim... -Murmurou ela, pensativa.

—Mas relaxe, tudo o que tiver de acontecer assim será. Como Nathan havia me dito uma vez: “Sente-se e relaxe, não adianta nada ficar se desesperando por isso”. Não fora exatamente nesta ordem, mas era exatamente isso que ele queria dizer, mas não dei ouvidos à ele na hora, diga-se de passagem. -Sorri ao me lembrar disso, mas em seguida, balanço a cabeça, tentando me concentrar no agora. -E acho que eu poderia dizer o mesmo para você em relação ao Victor…

—Creio que você esteja certa. -Admite ela, seu rosto ficou levemente corado. -Mas… Que história é aquela de confundir o banheiro masculino com o feminino?

Mordi meu lábio, reprimindo um xingamento contra Nathan e a boca grande dele.

—Vai por mim, não vale a pena tocar nesse assunto. -Digo, me esquivando dessa lembrança constrangedora.

 

Depois de certo tempo, consegui fazer com que Luana deixasse o assunto do banheiro de lado e, juntas, saímos do banheiro, conversando sobre outros assuntos, mais relacionados ao nosso trabalho. Foi então que ela me fez um favor realmente útil: Luana me lembrou que tínhamos de inserir um elemento na cena do crime que todos nós esquecemos; temos que colocar o jardineiro na cena do crime, mesmo que ele não seja um dos suspeitos principais.

—Bem lembrado... -Comentei, respirando fundo.

Momentos depois, estávamos de volta à biblioteca, onde eu coloquei esse ponto em discussão. Isso irritou vários de nossos colegas, pois esse simples fato arruinaria as cenas de crimes que eles haviam pensado.

—Me desculpem, gente, eu havia me esquecido! - Digo, tentando apaziguar a situação.

Eu nem havia me sentado quando retornamos à biblioteca, eu estava parada entre minha cadeira e a de Nathan, onde ele já estava sentado e Luana estava parada atrás da cadeira vaga à ela destinada, mas ainda de pé, com os cotovelos apoiados no encosto da cadeira.

— ... Eu nem tive tempo de decorar qual é o papel de cada um aqui. - Continuei.

—Infelizmente, sou obrigado a concordar com a Laura - diz Christofer -, já que até agora estou confuso se é o Victor ou a Jessica que é o suspeito principal e muito menos sei o que a Ariel e o Mack estão fazendo aqui…

—Também, não presta atenção! - Reclamou Ariel, indignada.

—Eu sou o advogado de defesa, cabeção! -Resmungou Mack.

—Mas esperem aí, tudo bem, a Laura não pode saber quem será quem aqui e o que cada um deve fazer, não em tão pouco tempo, no entanto, cada um de nós sabe aquilo que nos foi repassado -diz Jessica, de braços cruzados sobre a mesa-, sendo assim, quando estávamos falando sobre como deveria ser a cenário e o método de tentativa de assassinato, aquele que seria o tal jardineiro não deveria ter se pronunciado?

Como isso, troco um olhar com Luana, Victor e Nathan, isso era verdade, mas a questão era...

—Hã... -Murmurou Edson em direção à Tifany - mas quem é o tal jardineiro?

Essa pergunta estava pairando sobre a mente da maioria de nós, olhares foram trocados por toda a mesa, internamente, tentei me lembrar na folha de quem estava a atribuição de “jardineiro misterioso”, mas não consegui lembrar. Assim, meus olhos percorreram toda a mesa e foi ali que me dei conta de que havia alguém sentado a mesa que não estava prestando a mínima atenção ao que se passava ao seu redor: Loham Gildlord, que tinha os olhos fixos em algo que ele escrevia em seu caderno com afinco e tinha também fones de ouvido que estavam tampando sua audição.

—É claro. Loham é nosso jardineiro misterioso... -Anúncio e todos os demais o olharam imediatamente.

Edson, que se sentava ao lado de Loham, deu uma cotovelada no braço de Gildlord, chamando-lhe a atenção.

Loham ergueu os olhos, deparando-se com todos nós o encarando.

—Hã... Aconteceu alguma coisa? -Perguntou ele, meio assustado e tirando os fones de ouvido da cabeça.

—Por ventura poderia nos dizer o que você escreve com tanta atenção em seu caderno, Loham? -Questiona Ariel, visivelmente irritada.

—Hum. Nada importante, apenas algo... Pessoal.

—Tudo bem você ter projetos pessoais, Loham, mas isso não poderia ser feito mais tarde? -Perguntei. -Seu papel nesse caso será importante e a sua participação mais ainda.

Loham é um cara muito inteligente, apesar de às vezes parecer meio avoado.

—Seu personagem será um mistério nesse caso, mesmo assim, a presença de um jardineiro numa cena de crime limita nossas opções -disse Christofer, não irritado, apenas chateado. -Sem saber desse detalhe começamos a montar cenários possíveis para o caso, mas isso foi, no fim, uma perda de tempo. A presença do seu personagem, em vários dos cenários imaginados, não fariam o menor sentido.

—Caramba, me desculpem, mas o que eu estava escrevendo -Loham hesita por um momento, engole em seco e continua-, o que eu estou escrevendo tem sim a ver com nosso trabalho.

—Em que sentido?

—Estou escrevendo minha ideia para esse caso na forma de romance policial... Descrito na terceira pessoa.

Eu o olhei, como todos os outros, surpresa. Não tinha ideia de que Loham tinha aspirações para ser escritor.

—É mesmo? -Perguntou Ariel.

—Sim. Escrevi um esboço de uma sinopse e o começo de uma espécie de prólogo, o primeiro capítulo... Não sei, não decidi ainda. Mas certamente esse será o início.

—Não sabia que você era escritor. -Diz Nathan, também interessado no assunto. Loham riu, sem graça, como minha tia fazia, quando recebia mais elogios do que ela conseguia dar conta. Doce lembrança essa, não consegui não sorrir diante disso.

—Ninguém sabia. -Comentou Loham, em voz baixa. Então era isso, Loham não é avoado coisa nenhuma, muito pelo contrário, ele tem uma grande imaginação contida dentro de si.

—Isso é incrível! -Ariel exclama, dentre todos nós, ela foi quem mais ficou empolgada com isso. - O que você já escreveu aí? Pode nos contar?

—Acho que sim, se vocês quiserem ouvir…- diz Loham, ainda tímido. Todos queríamos ao menos saber o que ele havia começado a escrever.

E vou dizer uma coisa, foi algo que surpreendeu a todos, de uma maneira boa, a base do que ele descrevia soava como algo muito promissor e quando chegou os dez últimos minutos para o fim do terceiro período, todos nós já havíamos feito nossas observações e sugestões para o texto de Loham e, quando o professor chegou à biblioteca, para verificar como estávamos saindo, ninguém se opôs quando eu mostrei ao professor o texto dele, e afirmei, com toda convicção que este seria a base do nosso trabalho,foi uma surpresa boa ouvir do Sr. Josselyn que tínhamos começado com o pé direito.

—Bom- dizia o professor, olhando para seu relógio de pulso-, faltam sete minutos para o fim deste período... Todos estão dispensados por hoje. Vejo vocês amanhã.

Dispensados sete minutos antes, grande diferença para nós, que teremos de permanecer aqui por mais dois períodos...

—Uau, seu texto salvou nossas peles Loham! -Jessica disse, animada, quando o professor saiu do local e todos estávamos organizando nossos materiais para sair dali.

—Salvou mesmo. -Nathan sorriu, imaginei que fosse, talvez, porque ele também não conseguia ignorar a brecha do tempo pela qual passamos e não conseguiu pensar e nada que fosse útil para nosso grupo. -E você tem talento para a coisa rapaz! Observando seu texto, fiquei pensando no por que de você estar fazendo direito e não literatura…

—Ah, eu gosto de ambas as áreas -diz Loham, perdendo, aos poucos, sua timidez. -Meu plano sempre foi acumular experiência na área de direito e, em seguida, usar meus conhecimentos na elaboração de bons suspenses policiais.

Sorri abertamente diante disso. Ao poucos, o local foi se esvaziando, de forma que só restou à mim, Nathan e Loham no local.

—Então devo dizer que, se for assim, você está no caminho certo! -Digo isso á Loham, colocando sobre meu ombro a alça de minha bolsa. -Aliás, você tem alguma dessas histórias já escritas?

Loham me olhou, confuso:

—Devo ter algo em casa, por quê?

Ora, de que adianta ter uma família influente e não se utilizar-se disso para algo que seja útil de verdade, não apenas para mim, mas para a sociedade em geral?

—Você pode me trazer um dos seus trabalhos amanhã, então? Eu conheço algumas pessoas da editora da minha tia e eu poderia indicar um dos seus trabalhos para eles.

—V- você faria isso por mim, Laura? -Diz Loham, surpreso.

—E deixar um talento desses escondido e a toa por aí por quê?

—Se não for muito incomodo, eu trago amanhã sim…

—Ora, deixa disso. Não será incomodo algum…

De repente, Loham fez uma coisa inesperada, até para mim: Ele me abraçou com tanta força que meus pés chegaram a sair do chão.

—Minha Nossa! Muito obrigado, Laura!!! Muito obrigado mesmo! -Exclama ele, e eu, surpresa de mais, só conseguir rir da felicidade dele, pois eu me sentia feliz também.

—De nada- ri também.

—Ok, não é para tanto também, não acham? -Diz Nathan, não irritado realmente, apenas um pouco incomodado. Loham me coloca no chão novamente, dando alguns passos para trás, coçando um ponto de seu pescoço, tentando disfarçar.

—Foi mal, mas isso é muito legal! -Apesar do rubor se espalhando em seu rosto, Loham sorriu. -Muito obrigado!

—Disponha. Até mais Loham. -Sorrio e cutuco Nathan com o cotovelo. Lanço à ele um olhar pedindo que ele se despedisse também e que o fizesse com gentileza.

—Bem, boa sorte com seus textos, Loham. -Diz Nathan, se despedindo também.

—Até mais pessoal. -Loham sorri mais uma vez, com respeito, tanto para mim quanto para com Nathan, saindo da biblioteca.

Assim que Nathan e eu ficamos sozinhos no local, Nathan coloca sua mochila no ombro e diz:

—Vai, deixa eu ver!

—Ver o quê?

—Haha, não se faça de desentendida, Laura.

Dei uma risada, já esperando algo assim. Abro minha bolsa e tiro dali a lanterna, entregando à ele. Eu achei que meus olhos brilhavam com a posse da lanterna,  mas Nathan parecia uma criança com o objeto prateado nas mãos.

—Impressionante, não achei que isso fosse possível. A lanterna ficou mesmo você...

—Não sei o por que disso mas, acho que foi meio que uma devolução. Foi meu tio que deixou a lanterna por lá, lembra?

—É verdade, eu tinha me esquecido disso...

Olho para ele, com uma vontade enorme de despejar minhas perguntas sobre ele mais uma vez, no entanto, o sinal tocou naquele momento e Nathan devolveu a lanterna para mim num suspiro.

—Bom, temos que seguir para nossas próximas aulas... Afe, não vejo a hora de chegar a hora do jantar na sua casa. Aí finalmente poderemos conversar em paz e com muito mais calma… Aliás, você vai estar presente no jantar dos seus pais, não vai? -Ele me olhou preocupado e eu sorri de lado.

—Vou pensar no seu caso.

—Qual é, Laura… -Resmungou ele.

—Estou brincando, seu chato. Eu lá perderia a chance de falar de Nárnia com alguém que me entende realmente ?

Ele riu, passando a mão pelo cabelo, um sinal de ansiedade. Juntos, saímos da biblioteca, o corredor estava vazio, acabo comentando:

—Nunca mais vou conseguir olhar para o interior de uma biblioteca como antes... -Digo. Nathan assente com a cabeça e com um sorriso bobo acrescentou:

—Pois é. Já eu fiquei pensando, vendo o talento de Loham, a paixão secreta de Victor por Luana - ah, Deus! Não acredito nisso! Que coisa maravilhosa!-, os planos de cada um tanto para o trabalho do nosso grupo quanto para o futuro de cada um eu fiquei pensando... Enquanto lutamos com o dragão, eu estava focado apenas em nós, em salvar nossas vidas, e só. Mas agora, vendo tudo isso, me dei conta que isso era muito maior que nós. Estamos defendendo, não apenas nossas vidas, como também estávamos os defendendo, defendendo a Inglaterra, o nosso mundo. Um homem do mundo de Nárnia veio até nós, querendo nos matar!

Ele hesita, me olhando, acenei com a cabeça para que ele continuasse.

—Bem, quem garante que ele é o único?  Que ele será o último à tentar? Não sabemos. De alguma, sinto como se tivéssemos salvado a vida dos nossos colegas e eles nunca vão saber disso. -Ele riu, olhando para suas próprias mãos. -E me sinto responsável por cada um deles agora, me sinto responsável por você também, apesar de já saber que você sabe bem como se defender. Não sei como explicar isso, eu apenas sinto isso... E agora que cada um vai para uma sala diferente, me sinto ansioso, não sei o que pode acontecer. Sei que Aslam cuidará de nós, mas isso não me impede de me sentir meio aflito.

—Por quê?

—Porque da próxima vez posso não estar por perto.

Um momento de silêncio paira sobre nós, vi que realmente havia uma grande gama de emoções tentando dominá-lo, emoções que eu simplesmente ainda não entendia. Eu não o iria forçar a falar, portanto, me limitei a tocá-lo no ombro.

—Aslam estará. -Garanti - ou eu. Sei que você é um herói, Nathan, mas você não é de ferro. Sente-se e relaxe, Crawford. Vai ficar tudo bem.

Me apoio nas pontas dos pés e dou um rápido beijo em sua bochecha e me afasto um pouco, vendo que ele ficou surpreso.

—Até de noite, Crawford.

—Até de noite Pevensie. -Sorrimos, antes de cada um seguir para um lado do corredor. Antes que eu virasse na esquina do próximo corredor, escuto a voz dele me chamando de novo. -Ei, princesa! - Suspiro por um segundo, pensando que isso já estava ficando repetitivo, antes de me virar e olhá-lo. -Até lá, mantenha os olhos bem abertos.

Dou uma risada simples e rápida.

—Você também, lorde dos mistérios. -Aceno rapidamente antes de me virar e seguir caminho até a sala da minha próxima aula e, desta vez, eu estava certa de que não chegaria atrasada.


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Notas finais do capítulo

Sem muito o acrescentar, devo dizer: até mais!



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