A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 8
Algo Incomum


Notas iniciais do capítulo

Olá senhoras e senhores, meninos e meninas, quem está ansioso por Nárnia levanta a mão e grita EEEEU! /
Pois bem, este é capítulo preparatório para os próximos, ainda assim, espero que gostem! ^^



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Sim, você está maluca, pirada, com um parafuso à menos. Mas vou lhe contar um segredo: As melhores pessoas são assim.”

Alice no País das Maravilhas

 

 

 

 

Foi muito difícil, no entanto, eu consegui me obrigar a prestar atenção nas aulas, de forma que consegui acompanhar bem as explicações e o conteúdo passado, as dúvidas que eu tinha não hesitei em tirá-las e me empenhei em recuperar o tempo perdido do primeiro período de hoje mais cedo. Desta forma, as horas passaram tão rapidamente que, quando me dei conta, o último horário acabou e todos de minha sala já estavam saindo, me demorei um pouco  para recolher meu materiais, e acabou que eu fui a última a organizar meu material e sair de sala.

Saí até mesmo depois de minha professora do último horário, a Sra. Rosemary, cujas as aulas são tão maçantes que os alunos praticamente fogem correndo da sala quando o sinal toca. Ao sair para o corredor, ainda apinhado de alunos, até pensei em procurar Nathan, Victor e Luana para saber como foram suas últimas aulas, mas no fim das contas, decidi que era melhor não fazer isso, então passei pelos corredores da universidade sem ficar buscando rostos conhecidos.

Quando sai para as escadarias de mármore na saída principal, a neve voou em meu rosto, o choque térmico em meu rosto foi inevitável. Desci as escadas, já indo em direção da estação de metrô mais próxima, mas parei ao ouvir a voz de Jessica chamando por meu nome. Olhei para a direção de onde a voz dela vinha e vejo ela conversando, próximo a uma das colunas gigantescas da fachada da universidade - nunca me lembro o nome daquele tipo de coluna, eu apenas sabia que era inspirada na arquitetura greco-romana- com Victor e Luana. Sem sinais de Nathan por perto. Com um suspiro, volto a subir todos aqueles degrais e, ao me aproximar de meus amigos, digo um simples “oi”.

—Olá Laura, como foi suas últimas aulas? -Perguntou-me Luana, com um sorriso singelo.

—Foi normal, e a de vocês? -Respondi, simplesmente, apesar de estar curiosa para saber onde Nathan estava, eu tinha um forte desejo chegar antecipadamente ao escritório onde faço estágio, para que pudesses tirar um tempo para comer algo -à essa altura, eu estava faminta- e me pôr à pensar nas perguntas que eu gostaria de fazer à Nathan esta noite. Então me lembro de um outro problema que tinha em relação aos Crawford: Apesar de já conseguir lidar melhor com Nathan, o que me faz hesitar ir ao jantar que meus pais progamaram, é exatamente os pais de Nathan.

Eu sempre tive a sensação de que os pais de Nathan apenas aturavam nossa família, principalmente aos meus tios. Acho que eles se mantinham por perto apenas por causa da influência dos Pevensie na Inglaterra, nas áreas comerciais, jurídicas, literárias, parlamentares e sociais. E depois, veio minha amizade com Nathan, o primogênito, que pareceu os abalar de forma que eu não sabia os interpretar: “Eles aprovavam ou não nossa amizade?”. Essa incógnita permanceu em minha mente ao longo de todo o tempo em que convivi com Nathan, mesmo depois da nossa grande briga.

Realmente, havia muitas coisas nas quais eu teria de pensar antes desse jantar.

—O de sempre, artigos que não acabam mais e rumores de novas leis vindo quentinhas do Parlamento... -Respondeu Luana dando de ombros, enquanto Victor, com as mãos postas despreocupadamente nos bolsos da calça que ele usava, apenas observava nossa conversa. Não pude deixar de notar também, a forma como ele estava encostado à coluna ao lado de Luana, sorri para isso, ao me lembrar de Nathan deixar escapar que Victor tem uma paixão secreta por Luana. Me lembro então que ela pediu ajuda para fazer com que Victor a notasse. Será que eu deveria mesmo fazer isso? Não seria mais fácil simples juntá-los de uma vez, visto que ambos já se gostavam?

—Nada muito anormal? -Insisto nessa pergunta e os três trocaram um olhar.

—Nada -garantiram Luana e Jessica, no entanto, Victor pensou um pouco mais a respeito.

—Não sei se isso conta -ele hesita- mas... No final do quarto período, um pássaro negro se espatifou no vidro da janela bem do lado de onde eu me sentava.

—Um pássaro negro? -Perguntou Jessica, arqueando uma de suas sobrancelhas.- Ok, mas isso é estranho?

—Sim, eu levei um baita susto, aquela ave deu de cara com o vidro e caiu no parapeito, se debatendo. Não sei por que, mas tenho a sensação de que fui o único a ver isso. Nem o professor ou os outros alunos pareciam tê-lo notado. Eu até tentei ignorar, mas foi difícil, aquele bicho se debatia furiosamente contra o vidro, parecia que estava tentando o atravessar, isso até que tentou se chocar contra o vidro novamente, escorregou na neve e caiu do parapeito da janela. Isso foi bem... Estranho.

—Estranho mesmo, mas como só você viu, talvez você estivesse apenas imaginando coisas. -Ri Jessica.

—Eu não estou ficando louco. -Ele diz, irritado. - Eu sei o que vi, e sei que foi real, afinal, não tenho tanta imaginação assim.

—Você tomou café da manhã hoje? -Luana diz, tentando ser delicada. - Talvez isso tenha sido uma alucinação causada pela falta de nutrientes ou hidratação…

—Nada disso! Eu tomei café de manhã e muita água! E não estou louco! Aquela ave arranhou o vidro e as marcas estão lá até agora!

—Que tipo de ave era?

—Não sei ao certo -diz Victor-  mas parecia ser um corvo.

—Corvos não são incomuns em Londres- Diz Jessica, casualmente.

—Mas não é comum vê-los raivosos -digo.

—Mas se somente Victor o viu…- Dizia Luana, mas eu acabei a interrompendo.

—Isso não quer dizer que o corvo não fosse real.

—Mas por que você perguntou isso, se algo estranho nos aconteceu, Laura? -Perguntou Luana, tentando deixar a conversa sobre  o corvo raivoso de lado.

Pensei em responder algo como “por que Nathan disse que algo mais poderia acontecer”, mas eu sabia que isso não faria sentido para eles, no fim, digo apenas:

—Nada, apenas curiosidade. E eu acredito em você, Victor, só para constar.

—Obrigado, ao menos você, Laura, não acha que sou louco. -Diz Victor, diz ele, passando um braço por meu pescoço, puxando-me para um abraço amigável. Pelo canto do olho vejo Luana nos observar, com uma cara nada boa.

Eu sabia que Victor gosta dela, mas Luana ainda não sabia disso.

—De nada, Victor, afinal, coisas assim, que parecem não ter explicação simplesmente acontecem...

Saio de baixo do braço dele sutilmente. Luana então fez questão de fazer uma pergunta à Victor que mudasse o assunto da conversa. Ela até obteve sucesso, mas acabo me desligando da conversa a partir dali.

Tentei imaginar que ligação haveria entre esse corvo, o livro perdido dos casos do futuro e o dragão, mas não consegui pensar em nada. Ainda assim, eu sentia havia uma ligação sim. Mas algo me dizia que talvez demoraria muito tempo até que a resposta chegasse até meu conhecimento. Com isso mente, resolvi deixar isso de lado.

Havia tantas outras coisas nas quais eu teria de pensar…

Enquanto Victor, Luana e Jessica discutiam sobre algo relacionado à uma nova lei polêmica do Parlamento, eu olhava o movimento dos carros e pedestres nas ruas e como os estudantes da universidade se misturavam fácil em meio à multidão, pensando em dar um jeito de dar o fora daqui sem parecer indelicada. Foi quando vi algo que prendeu minha atenção à ponto do meu coração disparar no peito.

Não era um dragão atacando multidões furiosamente, e vou confessar, bem que eu queria que fosse isso. Prefiro matar dez dragões do que ficar observando Nathan conversar com uma outra estudante bonitinha com tamanha diversão.

Mas infelizmente, não havia dragão coisa alguma. A garota com quem Nathan conversava e talvez fazia piadas boas, já que ela não parava de rir, era pequena mesmo, parecia ser menor do que eu, era loira e atlética e parecia ter muita desenvoltura ao falar. Nathan estava muito entretido demais na conversa. Ambos pararam no meio das escadarias de mármore, ainda em meio à um diálogo animado, só que Nathan ficou de costas para mim, de modo que eu tinha que ficar olhando para a cara da loira sorridente. A fúria me subiu à cabeça, mesmo que ao mesmo tempo minhas pernas pareciam ter se enraizado no lugar. Meus punhos se fecharam e só faltou eu bufar.

Minha vontade era de ir até lá e esfregar o rosto dessa menina no asfalto, depois fazer o mesmo com Nathan! Só Deus sabe como eu consegui ficar ali, parada, observando, mas foi isso o que aconteceu. Minha mente se recusou a notar que Nathan e a loira estavam só conversando, sem toques e sem olhares românticos. Mas o ciúme subiu à minha cabeça, fazendo-me não ver mais nada além do fato de ambos estarem a se divertir e que aquela garota não era eu. Bom, foi isso, até que um outro rapaz de aparência calma e trânquila chegou, este tinha cabelos pretos curtos e rebeldes, recém cortados, vestia uma jaqueta de couro preta e calças jeans, tinha uma mochila nos ombros também, era bonito e tinha quase a mesma altura de Nathan. Ele tinha dois capacetes nas mãos e, ao se aproximar, entregou um á garota loira, beijando-a nos lábios, em seguida cumprimentou Nathan com abraço rápido. Foi então que eu o reconheci e me dei conta de que o motoqueiro era Elliote, o irmão mais novo de Nathan e a loira era a futura cunhada de Nathan.

Vergonha era uma palavra que não bastava para descrever o que eu senti naquele momento.

—Oh, céus... -Murmurei, passando as mãos pelo rosto, envergonhada pelos pensamentos violentos que eu acaba de ter.

—O que foi, Laura? -Diz Jessica, que estava de pé ao meu lado, mas com a coluna, Victor e Luana obstruindo sua visão, distraída por meu murmúrio. -Está tudo bem?

—Hã... -Hesito por um momento, de tão embaraçada, acabo por rir de mim mesma. -Está, sim não se preocupe. Eu apenas achei que vi uma coisa, mas não era nada de mais.

Jessica se inclinou na minha frente, para ver do que eu estava falando, vendo Nathan conversar com o irmão e a cunhada. Jess deu risada:

—Ah, entendi.

Olho novamente para os rapazes herdeiros dos Crawford, me lembrando que, fora Nathan, Elliote era o Crawford que eu mais respeito, sendo que os pais deles não tinham um pingo de senso de humor, imaginação e bondade. Claro, ainda havia a irmã caçula, a última dos três irmãos, Iris, nunca fomos amigas, eu a achava desprezível, diga-se de passagem, e ela também nunca fizera questão de mudar isso.

—Isso que é genética boa, hein? –Diz ela, rindo, ao olhar Elliote de cima a baixo. Dei risada, mas ao mesmo tempo que revirei os olhos.

—Acho que a garota loira é a namorada do irmão de Nathan. –Comento, ainda rindo. Jess fez um muxoxo de decepção.

—Que droga, eles só tem mais um irmão, não é? Só que é uma pirralha mimada, certo? – Questiona ela e eu assenti com a cabeça. –Porcaria... Será que eles não têm um primo com essa genética abençoada também? –Jess insiste.

—Pensei que você gostasse do Mack. –Comento, sem temor. Jess é a garota mais desinibida que eu conheço, então eu sabia que ela não iria ficar escandalizada por essa pergunta, muito pelo contrário, ela deu risada.

—Gostava – a admite -, antes de ficar ciente do prejuízo que ele dá quando fica alcoolizado.

—Meu Deus, Jess, isso é horrível... –Digo baixinho.

—E a gente manda no coração por acaso, Laura? –Ela suspira, ajeitando a alça de sua bolsa no ombro, mas não estava triste por isso. Já parecia até já estar conformada.

—Eu que o diga. – Murmuro, meus olhos se voltam para Nathan, que se despedia do irmão e da cunhada. Elliote e a loira desceram as escadarias da universidade e atravessaram a rua, indo em direção ao estacionamento pago que a universidade mantinha para que os alunos que não moravam em irmandades próximas, mas sim nos arredores da universidade, tivessem onde deixar seus veículos estacionados. Nathan olhou ao seu redor, parecia tentar decidir o que faria a seguir. Foi quando ele voltou seus olhos se voltam para a fachada da universidade e nos viu.

Nathan sorriu e começou a subir as escadas em nossa direção. Desviei o olhar dele e encarei Jess, que estava se segurando para não dar risada da minha cara.

—Acho que consigo imaginar o quão ruim é estar apaixonada por alguém que você também detesta – comentou Jess ainda rindo, lancei á ela um olhar irritado, queria dizer-lhe que isso era bobagem, mas meus olhos não a enganavam e eu sabia disso. Mesmo assim, mesmo que eu pretendesse falar alguma coisa, Nathan se postou do meu lado e não arredou mais o pé dali.

Argh, eu mereço...

Após cumprimentar a todos com um aperto de mão respeitoso, deixando-me por último, para quê? Para me puxar para um abração e tascar em mim um beijo perigosamente perto dos lábios.

—Olá princesa... –Murmurou ele, em seguida.

Eu o empurrei para longe logo em seguida, resmungo algo como:

—Sai fora! Eu ainda estou chateada com você... –Eu me referia á falta de respostas dele e todo o mistério que há anos ele insiste em manter, entretanto me dou conta que eu não deveria ter dito isso. Victor, Luana e Jessica nos olharam, atônitos por um segundo, antes de se desmancharem da dar risada.

Eu deveria ter ido embora quando tive chance...”, choraminguei em pensamento, com o rosto em chamas.

—Sobre qual assunto vocês estão falando? –Perguntou Nathan, sorrindo. Está sorrindo por que, seu destrambelhado?!

—Sobre a nova lei que está para ser lançada no ano que vem... –Respondeu Victor, ainda tentando parar de rir, mas do que eles riam, afinal? Por caso a minha interação com Nathan é um espetáculo interessante de mais para ser ignorado?

Além disso, apesar de que essa nova lei deveria ser algo com o qual eu deveria me preocupar, mas na realidade, eu não estava nem aí. Não consigo dar a devida importância para essa nova lei, não entendo o porquê disso, mas de certa forma, isso também não me importava. A conversa fluía entre meus amigos, eu respondia a alguns argumentos deles com “Hum” e “Ahã”, mas no fim, eu nem estava ouvindo nada. Com Nathan parado ao meu lado, todas as minhas perguntas tinham saído correndo, o vento que percorria as ruas frias de Londres carregavam o perfume masculino de Nathan para meu olfato e isso estava me tirando de mim mesma. De repente, eu só conseguia prestar atenção em meus sentidos carnais.

Dentre todos, fome era o maior deles.

Eu tinha que dar o fora daqui.

—...mas isso não seria válido se considerar que isso afetaria a dignidade de 45% da população britânica... –dizia Luana, franzindo o cenho para Jess.

—Sim, eu sei, mas também os beneficiará, só que em longo prazo... –Retrucou Jess irritada, e eu solto um suspiro.

—O papo está ótimo, mas eu vou indo nessa. –Digo, vendo que a neve caia com mais intensidade gora. Se eu não fosse logo, provavelmente chegaria atrasada no escritório e ainda não teria chance de comer alguma coisa.

—Você vai para casa agora? –Pergunta Nathan.

“Deus me livre, minha mãe está lá agora, organizando o jantar de hoje”, penso, mas cabo por responder:

—Não, estou indo ao escritório onde eu estagio. –Respondo tranquilamente. Nathan e eu mal conversamos de verdade nos últimos três anos que nem sabemos mais como é a rotina diária um do outro.

—Vai como para lá? –Ele insiste em questionar.

—Vou de metrô, pego a linha Barnet – Orpington, sentindo Orpington...

Nathan arqueou uma sobrancelha, e eu sabia no que ele estava pensando. Esta era a linha de trem que meus tios estavam quando aquele trem descarrilhou, tirando-lhe as vidas. Ah, a vida é uma grande ironia, não?

—Orpington?

—Sim, mas eu desço algumas estações antes. –Retruco, começando a ficar de mau humor já.

—Quer uma carona, até lá? –Perguntou Nathan indo direto ao ponto finalmente. –Eu estou de carro.

—Agradeço a oferta, mas dispenso. Quem sabe na próxima? –Sorrio, vendo o ficar perplexo. Aposta quanto que ele não esperava por isso? Volto-me para os outros e digo, acenando á eles. –Até amanhã, pessoal...

—Até mais, Laura... –Luana, Victor e Jessica disseram um após o outro.

—Ok, vejo você mais tarde então. -Diz Nathan, simplesmente.

—Até. –Digo com um sorriso e, com isso, desço as escadas de mármore em direção á estação de trem, sem hesitar e me recusando a ceder para a vontade de olhar para trás. O frio e a neve castigam meu rosto, mas isso não me impediu de seguir em passos firmes em direção ao meu objetivo.

Logo que eu estava me misturando á multidão que aguardava o próximo trem, pude respirar aliviada, longe do cheiro de Nathan, eu conseguia pensar com mais clareza e então, com uma sonora buzinada, o trem que eu pegaria chega á estação, mais rápido do que imaginei.

Entrei no vagão mais perto e encontro um lugar para sentar, fecho os olhos por um segundo, encostando a cabeça na parede metálica e fria do trem, feliz por poder ficar um momento á sós com meus pensamentos e estes eram tantos que não consigo nem decidir por onde começar.

 

§

 

Edifício Blenheim foi inaugurado em setembro de 1935, nos arredores da grande Londres, em uma homenagem bem detalhada ao Blenheim Palace, um palácio localizado na região conhecida como Vale do Tâmisa.

O Edifício possuía a fachada, bem como todo o resto de sua estrutura, uma réplica idêntica, mas em escala muito menor, ao Palácio original, mas seus propósitos de construção são bem diferentes.

Enquanto o Palácio Blenheim foi construído por ordem da rainha Ana após 1704, em uma demonstração de gratidão, quando John Churchill derrotou os franceses na batalha de Blenheim; o Edifício Bleheim, mesmo em uma escala menor, foi construído por Amaral Great, um amante de artes e arquitetura, para moradia própria em 1917. Great morreu quinze anos depois, por uma doença rara e seu filho, Mackenzie Great, transformou o local no maior escritório jurídico de toda a Inglaterra - e quem sabe se não for também o maior de toda a Europa?

E é neste local que eu passo boa parte do meu dia, sendo estagiária, junto de Alanis, estudante de direito de uma outra universidade, juntas, trabalhamos nos casos que ninguém mais queria ou que ninguém mais tinha tempo de analisar. E quando a defesa dos casos que pegamos estavam prontos, bastava entregá-los á Bernard Evans - nosso superior e responsável por assinar todos os documentos que iram comprovar que temos experiência adquirida na área jurídica; no geral, um sujeito respeitável e honrado, e que também já trabalhou para minha família em alguns casos e ainda que se formara na universidade junto com Edmundo -, ele os analisaria e, se estivesse aceitável o bastante, ele ou outro advogado o usaria como defesa oficial de alguém.

 

Quando chego á estação que se localizava á uma quadra do escritório, 38 minutos depois de ter saído da universidade, vi, com alívio ainda havia tempo de comer alguma coisa, mesmo que eu não tivesse tempo para um almoço completo, fui ao restaurante que ficava do outro lado da rua do Edifício Blenheim, e pedi a primeira coisa substancial que vi no cardápio, panquecas de frango e molho quatro queijos. Enquanto eu esperava meu pedido, escolho uma mesa próxima á janela e lá, tiro meu caderno de minha bolsa e uma caneta, começando a anotar algumas coisas que fiquei dissecando pelos trinta minutos de viagem até aqui. Havia muitas coisas que eu queria saber e que eu gostaria de perguntar a Nathan, comecei pelo mais início mais básico, como:

*O que os pais de Nathan pensavam de nossa antiga amizade?

*O que aconteceu á ele no ano seguinte á morte dos meus tios?

*Por que ele se tornou um idiota?

*Por que ele dissera coisas horríveis para mim quando eu só estava tentando o ajudar na época?

*O que aconteceu no dia da nossa formatura que o mudou tanto?

*Por que ele voltou a ser legal com todo mundo, menos comigo?

*Por que fica tão reservado e misterioso quando se trata de Nárnia?

*Ele tem namorada atualmente?

*O que ele pensa de mim hoje em dia?

*Será que estamos voltando a sermos amigos?

*Será que nós ainda iremos para Nárnia algum dia?

Com uma folha já preenchida pela metade, me dei conta que isso era, na verdade, algo muito ridículo eu nunca poderia chegar com perguntas prontas numa folha de caderno desse jeito, a conversa não fluiria e ele acharia que eu estou o entrevistando para algum cargo, não conversando civilizadamente como duas pessoas normais tentando reatar amizade. Faço uma careta, fechando meu caderno e o guardando-o de volta á bolsa, decida a guardar as demais perguntas para mim e, na hora certa, eu as faria á ele.

Esfrego uma mão na outra, pois mesmo com luvas, eu ainda as sentia frias.

Para minha maior alegria, as panquecas não demoram mais á chegar.

—Deseja mais alguma coisa, senhorita? –Perguntou Marcos, o simpático garçom que me atendeu na maioria das vezes que vim almoçar aqui, desde que iniciei o estágio.

Sorrio com gentileza e respondo calmamente.

—Obrigada, Marcos, mas por hoje, isso é só.

—Não deseja nada mesmo, nem mesmo algo para beber?

—Um copo d’água seria muito bem vindo, obrigada. –Sorri. Marcos se retirou por um segundo e, antes que eu desse uma segunda garfada nas panquecas (muito deliciosas, por sinal), e o gentil senhor que me atendia já estava de volta com um copo de vidro belíssimo, talhado em inspirais que faziam o copo parecer ser deveras caro, cheio até a boca do líquido incolor e inodoro, a água.

—Eu vi o Sr. Evans esta manhã mais cedo, Srta. Willians – comenta Marcus casualmente.

—É mesmo? E como ele estava? –Pergunto, dando um delicado gole d’água. Não foram raras às vezes em que eu ou eu ou Alanis tivemos de acompanhar Bernard em almoços de negócios ou em lanches da tarde para discutirmos detalhes complexos de casos neste mesmo restaurante.

—Com um mau humor daqueles, como eu nunca vi.

Isso sim era uma novidade para mim. Bernard de mau humor? Algo muito sério deve ter acontecido.

—E você teria alguma ideia do por que disso?

—Não, mas achei que a senhorita deveria ser alertada. Todos sabemos que a senhorita é uma excepcional profissional, mas nem sempre o bom humor dos outros ajuda á acalmar àqueles que estão sob forte estresse...

—Ah, sim... Algum sinal de Alanis?

—Não, senhorita.

—Bem... De qualquer forma, obrigada por me alertar, Marcus.

—Disponha senhorita, tenha uma boa refeição.

Sorri uma ultima vez, Marcus fora atender outro cliente e pude ficar sozinha com meus pensamentos novamente, desta vez, fluindo para outros assuntos. Olho pela janela, enquanto mastigo calmamente mais um pedaço de panquecas, o sabor do queijo e da carne juntos era divinos, mas ao mesmo tempo me perguntei o que poderia ter acontecido para que Bernard Evans ficasse de mau humor.

Após terminar minha refeição e de ter pagado a conta, saio do restaurante acenando um “tchau” para Marcus, atravessando a rua com calma, seguindo pela entrada principal do Edifício.

Mesmo que minha botas não tivessem salto, o som dos meus passos ecoou pelo hall de entrada do local, sendo esta uma das horas mais tranquilas do experiente no escritório, já que todos os demais funcionários estavam voltando do almoço.

—Bom dia, Kate. –Cumprimento baixinho, assim que vejo a recepcionista do Edifício, uma mulher da idade de minha mãe, e que estava ao telefone. Ao me ver, Kate respirou aliviada, dizendo á pessoa do outro lado da linha, no telefone:

—Ah, graças á Deus, Sr. Evans, ela acaba de chegar, quer eu passe ou telefone para ela ou...? – Paro de caminhar ao ouvir isso. Ela estava falando de mim? Kate diz, em seguida: - Ah, sim, hum... Claro, eu digo, pode deixar... Tudo bem. Disponha senhor... Sim, até mais. –Kate colocou de o telefone de volta ao gancho e olhou para mim, ainda com ar de que se livrou de um grande problema. –Olá, Laura, tudo bem? Que bom que você chegou, o Sr. Evans já estava ficando ansioso pela sua chegada...

—O que aconteceu?

—Uma longa história, minha menina, mas, para encurtá-la, o Sr. Evans estava de mau humor por que recebeu três ligações esta manhã. A primeira da sua mãe, pedindo para liberar você algum tempo antes do final do expediente, o qual o Sr. Evans não podia negar, já que ele devia alguns favores para sua família... –Assenti com a cabeça. Minha mãe dissera que havia enviado uma carta para cá, mas tudo bem, talvez ela tenha se confundido na hora de me passar essa informação. Kate continuou: - Logo, vem o segundo telefonema, do pai de Alanis. Parece que ela pegou uma forte virose devido ao mal tempo e não pode vir, e por fim, a terceira ligação era uma notificação da Scotland Yard, solicitando a presença de Evans na sede deles ás 3 horas da tarde de hoje. Por isso, ele precisa com urgência da sua presença.

—Oh, obrigada por me avisar, Kate. Sendo assim, acho melhor me apressar.

—De nada, mas vá rápido, querida.

Atravesso os longos corredores e subo dois lances de escadas, antes de sair no segundo andar e ter de percorrer um longo corredor, este mais movimentado que o do primeiro andar, antes de finalmente chegar á sala de Bernard. Antes de bater á porta, escuto um som de algo se quebrando dentro da sala e escuto a voz de Bernard praguejar. Hesito, mas vou em frente e bato á porta.

—Droga... Argh, pode entrar! –Grita ele.

—Hã... Oi chefe, tudo bem? –Digo, entrando com cautela no local. A mesa de Bernard tinha enormes pilhas de papeis sobre sua mesa, algumas caixas de evidências pelo chão e pastas que não acabavam mais num canto da sala e uma luminária jazia espatifada no chão ao lado da mesa dele. Mas observando isso, me pergunto como ele arruma tanta papelada tão rápido. Ontem mesmo eu vi a sala dele limpa e livre de papeladas antes de ir para casa!

—Ah, oi, Laura, que bom que você chegou. Eu preciso muito da sua ajuda. –Adentro mais local e só então eu o vi, sentado em sua cadeira, com uma caixa cheia de pastas em seu colo, e com toda aquela papelada obstruído sua visão. –Kate te avisou de Alanis e da notificação da Scotland Yard?

—Avisou...

—Ah, que bom. Já que hoje você volta mais cedo para casa e temos uma soldado a menos, teremos muito trabalho pela frente... Acha que dá conta do recado?

—Já estou começando a acostumar com responsabilidades excessivas sobre mim... –Digo, sendo sincera. Bernard me olhou, um sorriso dançava em seu rosto.

—Pedro e Edmundo costumavam dizer algo parecido... –Diz ele, pensativo. –Mas era algo mais como “Já estou acostumado a carregar um mundo nas costas”... ah, bons tempos aqueles. Sinto falta da noites chopadas e rugbi com eles nos tempos da universidade... –Bernard ficou calado por um momento, antes de sacudir a cabeça. –Bem, que Deus os tenha... Mas agora, vamos ao trabalho.

—Por onde começamos? –Pergunto, me aproximando de toda aquela papelada sobre a mesa dele.

—Bom -diz ele, respirando fundo -, temos de organizar e catalogar toda essa papelada até as 2 horas e trinta da tarde de hoje, em seguida vamos á Scotland Yard. Como vamos passar praticamente todo o resto da tarde por lá, vou aproveitar e te deixar em casa.

—Eu irei até a Scotland também? –Questiono, animada.

—Sim, como só tem você hoje, não vejo nenhum mal em leva-la comigo e lá te mostrar como é o dia de advogados numa delegacia. Talvez isso vá lhe acrescentar muito mais conhecimentos que ficar aqui trancada com um monte de papelada. O que você acha?

—Parece ser um bom plano. -Sorrio com gentileza, tentando não desmonstrar o quão feliz eu estava por finalmente ver como é por lá.

 

§

 

Scotland Yard é um dos departamentos de polícia mais famosos do mundo, e eu, particularmente, sempre que este é citado perto de mim, me lembro das obras de Sherlock Holmes, apesar de não gostar muito de como os policiais da Scotland são retratados nos mistérios de Holmes. E a última vez que eu estive ali foi com minha mãe, mas não me lembro exatamente do motivo, já que eu era uma criança.

De qualquer forma, quando Bernard estaciona numa vaga próxima à sede da Scotland, faltando dois minutos para às três, não pude deixar de ficar surpresa com o prédio ao qual deveriamos seguir. Sua fachada era histórica, mas tão bem conservada que era difícil de acreditar que aquele lugar possuía mais de cem anos. Outra coisa que me chamou atenção foi a quantidade de pessoas reunidas na frente da porta de entrada da delegacia.

—O que será que aconteceu? -Pergunto, ao destravar e tirar o cinto de segurança. - Não é normal ter tanta gente assim na polícia... Ou é?

—Não -explicou ele, calçando as luvas e puxando do banco de trás sua maleta, onde estava toda os arquivos que ele julgou necessários-, num dia comum, não é. Mas me disseram que tem algumas coisas estranhas acontecendo por toda a Londres.

—Que tipos de coisas? -Pergunto, de repente ainda mais interessada no assunto. Íamos sair do carro, um modelo do ano cuja marca ainda não sei pronunciar, e decido levar minha bolsa de estudos comigo. Por alguma razão, eu não queria me separar dela...

(Ah, sim, a lanterna. Lembrei do porquê...)

—Coisas loucas, pessoas loucas, ataques de animais e pessoas tendo visões estranhas. -Ele balançou a cabeça em desgosto. - Essas pessoas deveriam parar de usar entorpecentes, se não é nisso o que dá: um bando de lunáticos atazanando animais e tendo alucinações, para aqueles que tem problemas reais tenham que ficar perdendo seu tempo valioso com isso... Mas não se preocupe, não é por isso que estamos aqui.

Franzi os lábios, não queria concordar com Bernard, mas eu também não iria o contrariar. Prefiri ficar quieta, mas em meu interior, meu coração se agitou. Será que Nathan estava certo? Que o dragão não foi a única coisa anormal enviada para nos matar?

—E se eles não estiverem loucos? -Murmuro, para mim mesma, no entanto, Bernard ouviu muito bem.

Se eles não estiverem loucos- ele hesita, sua mão parada sobre o trinco da porta e o olhar analisava as pessoas ali reunidas, todas confusas ou mau humoradas-, então nós temos um grande problema.


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Notas finais do capítulo

E então?
Galerinha que está chegando agora, prazer, eu sou R31, mas meu nome real é Regiane, tenho 20 anos e sou completamente apaixonada por Nárnia e outras sagas, sou gente como vocês, amo ler fics também, mas também amo ler e responder comentários de meus leitores (na verdade, eu sou estranha ao ponto de considerá-los meus amigos), mas enfim. Estoi aqui para dizer que eu gostaria muito mesmo de ler muitos comentários, afinal, escrevo com tanto carinho esta história que o mínimo que uma autora pode esperar é um retorno, para saber se o enredo está ou não compreensível, se está sendo bem recebido ou não. Não estou exigindo que comentem, apenas estou pedindo um retorno para saber se tem algo em minha narativa que eu preciso melhorar ou não. Mas enfim, se já chegaram até aqui isso significa muito para mim!
Sejam todos mais que bem vindo!
Até a próxima! ^^



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