A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 2
Frustrante


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mais foi: mais um capítulo para vocês!
Acomodem-se e relaxem; o caminho é longo mas o tempo é curto!



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“E os reis e rainhas fizeram leis justas, mantiveram a paz”.

As Crônicas de Nárnia

§

 

Não consigo acreditar em como as horas parecem voar enquanto dormimos!

Assim que acordei, no dia seguinte, percebi que estava encrencada. O dia já parecia ter avançado muito e por um momento o medo de chegar atrasada a universidade me tomou e eu desci da cama, tirando minha camisola num segundo e correndo para meu armário, de onde tirei uma camisa de mangas compridas, calças jeans, meias e um sobretudo preto e, apesar de não gostar muito, também apanhei minhas luvas, que também pretas, de inverno. Vesti-me parecendo um furacão. Aos pulos, calço as botas e enrolo de qualquer jeito um cachecol vermelho decorado com algumas linhas pretas no pescoço. Corri para o escritório do meu pai, passando os dedos por meus cabelos tentando dar um jeito neles, entrei e fui direto em direção á minha bolsa, feliz por ter organizado tudo ontem mesmo.

Joguei a bolsa no ombro e peguei de cima da mesa os três livros que, talvez, eu iria precisar hoje e o olhei ao meu redor para me certificar de que não me esqueci de nada. Foi quando meus olhos pousaram sobre a lareira, agora apagada e tudo o que restava da noite anterior se resumia á cinzas. Com hesitação me aproximo do local. No fundo, eu sabia que esperava ver algo diferente ali, mas não havia nada de especial naquela lareira, não naquela hora.

Balaço a cabeça, me concentrando no fato de que eu estava atrasada para a aula. Desci a escada correndo e corro para a cozinha, onde minha mãe estava a dar orientações para as governantas. Se eu não estivesse faminta, teria dado a volta imediatamente e sairia de casa pela porta da frente, sem nem mesmo ter pegado algo para comer no caminho do campus.

—Laura! –Exclamou minha mãe assim que me vê. – O que você estava fazendo aqui ainda? Pensei que você já tivesse saído há muito tempo!

Olho para minha mãe de relance, antes de me dirigir à geladeira. Essa é a prova de que ela nem se dá ao trabalho de verificar as coisas, para saber se realmente estou ausente de casa ou se ainda estou em minha cama dormindo.

—Ninguém me acordou hoje. – Digo, tentando engolir meu orgulho e tentar não responder minha mãe com grosseria. – E meu despertador quebrou, por isso acordei atrasada.

A essa altura, eu sabia que meu irmão já deve estar na escolinha e meu pai está no Parlamento tratando de assuntos governamentais com outros diplomatas, não posso dizer nada a respeito deles, já que geralmente eu sou a primeira a sair todos os dias de manhã.

Como a fatia de torta que tirei da geladeira sem nem mesmo sentir o gosto de verdade.

—Que seja, apenas se apresse. Seria uma tamanha vergonha para mim você ser expulsa da universidade por falta de pontualidade. –Diz minha mãe, balançando a cabeça em desgosto e eu me limitei a comer minha torta em silêncio. – Ah, já que você está aqui, eu queria lhe avisar que enviei uma carta para o escritório onde você estagia e consegui uma autorização para que você saia duas horas mais cedo hoje. Temos convidados para receber esta noite então eu quero você esteja apresentável e elegante aqui ás 19 horas em ponto, está me entendendo?

Minha mãe me olha em expectativa por uma resposta, mas eu fiquei calada, sentindo a raiva se iniciar ao perceber que minha mãe se achou no direito de se intrometer em meu trabalho e engoli um copo cheio de leite com apenas dois goles.

—Laura Pevensie Willians, responda-me agora!

—Por que eu tenho de estar presente? – Pergunto sem realmente estar interessada, me servindo de mais leite.

Desde que entrei na universidade, raramente minha mãe quis minha presença em eventos sociais e visitas e o fato de eu trabalhar até o inicio da noite num escritório de advocacia, me preparando para ser, na realidade, juíza, não advogada, assim como meu tio Edmundo fizera com maestria, esta era a desculpa perfeita de minha mãe para nunca me envolver. Não que eu ligasse para isso, eu até aceitava isso com gratidão.

—Seu pai vai receber os Crawford esta noite. – Ela diz simplesmente e eu, sem querer, devido ao susto, acabo cuspindo parte do leite num jato sobre a mesa. – LAURA! Mas que modos são esses?!

—NÃO! Eu não volto para casa com essas pessoas aqui! –Exclamo. Nossas criadas se limitavam a olhar o chão enquanto nossa discussão acontecia e me senti constrangida por terceiros estarem presenciando a cena.

—Não estou pedindo sua presença, estou mandando. Seu pai precisa de nós duas aqui.

—Por quê? Papai não me disse nada ontem!

—A reunião foi marcada hoje pela manhã. Você não tem outra escolha, Laura. Você tem de vir para casa mais cedo hoje e se juntar a mim e a seu pai, os Crawford virão com o filho primogênito e queremos que você faça companhia á ele.

—Não. – Digo com firmeza e ela ficou com o semblante fechado.

—Não entendo, você e o garoto dos Crawford eram tão amigos antigamente...

—Mãe. Eu. Não. Vou. – Digo com mais convicção ainda, me recusando a me lembrar de que um dia já dividi meus segredos, planos, meus sonhos com o verme do Crawford primogênito.

—Laura! – Exclama ela, perdendo a paciência por um momento, mas ela para, fecha os olhos por um segundo, unindo as mãos na frente do rosto, ela respira fundo e fiz, com mais calma: - Filha, faça isso por seu pai ao menos.

Usar meu pai contra mim, mãe? Sério?

Mesmo com a cara fechada, olho para o relógio e vi que eu corresse, daria tempo de chegar ainda no segundo horário. Bufo contrariada, pegando meus livros, dou um beijo rápido na bochecha de minha mãe e saio pela porta dos fundos dizendo:

—Vou pensar no caso!

Assim que saio para a rua, aperto os livros contra o peito e me lanço numa corrida desenfreada até o campus, o que não foi tão difícil. A raiva que eu sentia ao saber que eu teria de olhar para a cara dos Crawford esta noite, quando eu devia usar meu tempo livre para terminar meu trabalho da universidade, me deu um acesso de adrenalina que me impulsionou a ir adiante com mais facilidade que o habitual.

Subindo os degraus de mármore, sinto meu rosto escorrendo em suor. Eu queria parar no banheiro e me recompor, eu não via a hora de ver como estava o estado do meu rosto.

O sinal que marcava o fim do primeiro período soou e em poucos segundos, os corredores se apinharam de alunos, como num formigueiro humano e foi fácil se misturar. Entrei no primeiro banheiro que vi, mas assim que eu olho para as pessoas que o frequentavam, meu rosto se enrubesceu ao perceber a gafe que cometi. Eu entrei no banheiro masculino! E como se já não fosse humilhação o bastante, o rapaz com quem eu dei de cara não poderia ser ninguém mais que Nathaniel Crawford, mais conhecido por mim como “Nathan”, ou ainda “meu pior pesadelo”.

—Oh, me desculpe! –Digo, rapidamente fechando a porta na cara do rapaz que estava, obviamente, prestes a sair do local.

Meu rosto estava em chamas, um grupo de meninas do curso de administração passou dando risadas, provavelmente riam de mim, desviei os olhos, a vergonha vinha em ondas no meu peito e eu queria enfiar a cabeça num buraco como um avestruz.

—Espere aí, Willians, eu quero falar com você... – Ouvi a porta do banheiro masculino se abrir e logo uma mão segurou meu braço e me fez parar. A vontade de sair correndo era descomunal, mas sabe-se lá como, eu me mantive firme e me voltei para encará-lo.

—O que você quer, Crawford? Eu já pedi desculpas!

—Eia, a princesinha resolveu sair armada de seu castelo hoje? – Ri ele. Luto para permanecer impassível diante desse ser humano vestido de uma jaqueta marrom elegante e cara, um cachecol igual ao meu, só que em cores azul turquesa e preto, jeans escuros de motoqueiro, tênis esportivos e luvas cinzas. Uma mistura interessante e tentadoramente má.

E pensar que Nathan foi um grande amigo em minha infância, entre meus 7 e 17 anos,  que ele ouvira as historias de Nárnia em minhas festas de aniversário e em uma ou outra festa de natal e/ou ano novo em minha casa, quando meus tios ainda eram vivos...

Só que, há três ou quatro anos atrás, um pouco antes de começar as férias de inverno algo aconteceu á ele, algo que ele nunca quis me contar, mas isso o mudou de tal forma que ele nunca mais foi o mesmo, começou a me tratar mal, quase que perdeu todos os seus amigos decentes. Foi por pouco que Nathan não atingiu o fundo do poço, mas depois acho que devia ter acontecido outra coisa na vida dele que o impediu de se afundar ainda mais e, depois disso, as relações dele com todos melhoraram, menos com um pessoa: eu. Não faço ideia do por quê.

Outro ponto importante de lembrar é de que nossas divergências só não são maiores por alguma razão específica: Nathan nunca usou piadas de mal gosto ou ficou tirando sarro da minha crença em Nárnia contra mim. Ele apenas falava alguma gracinha a respeito, como ficar me chamando de princesa e, ainda assim, ele só fala assim quando estávamos tendo um conversa a sós. Nunca entendi o porquê, esta era sua arma mais potente contra mim e ele nunca a usou! Eu agradeço por isso, mas ainda assim, isso não o deixa menos irritante em minha opinião.

De qualquer forma, depois de um tempo, eu simplesmente desisti dele e foi um baque e tanto descobrir que, depois de uma enorme confusão em nosso baile de formatura causado por ele mesmo e, sou obrigada a admitir, por mim mesma também, dois meses depois acabamos por fazer a mesma universidade, no mesmo curso e pior, na mesma turma.

—Eu vim perguntar se você já sabe sobre esta noite. -Diz ele, passando uma mão sobre o cabelo cuidasosamente penteado todo para trás. Tentei não prestar atenção, mas eu sabia que em um penteado mais casual e descuidado, seu cabelo é rebelde, a franja de Nathan sempre batia nos olhos, apesar de ele nunca deixar o cabelo passar sequer da metade da largura do pescoço. Nathan tinha olhos castanhos, lembrando uma xícara de chocolate quente, cabelos negros como a noite e a pele clara, uma aparência comum, mas ele sempre foi considerado um sujeito bonito por boa parte da população feminina do campus. Como se isso não bastasse, ele ainda tinha uma expressão de presunção no rosto somado à uma charmosa barba por fazer no rosto. O típico bad boy… mereço...

—Ah, obrigada por me lembrar. – Digo com sarcasmo, me livrando do aperto de sua mão. –Eu quase tive a chance de ter me esquecido de disso.

—Esquecido é? – Um sorriso de lado surge nos lábios dele e uma de suas sobrancelhas se arqueia em sinal de desafio. - Tem certeza?

—O que você está insinuando com isso?

—O que você acha que eu estou insinuando, princesinha? – Ele dá um passo para mais perto de mim com sutileza, mas o ato não passou despercebido por mim.

—Não faço a mínima ideia do que se passa nessa sua cabeça doente, esquisitão. – Dei um tapinha leve na bochecha de Nathan antes de dar dois passos para longe dele. Talvez o ato tivesse parecido mais confiante se, ao dar os tais passos para trás, eu não tivesse colidido contra um dos alunos que passavam pelo corredor.

—Ô garota, toma cuidado! – Disse o aluno, irritado.

—Desculpa, cara. – Peço desculpas, mas minha voz soa mais irritada ainda. O aluno que passava ali me lançou um olhar mortífero ao qual eu não tive o menor receio em retribuir. A culpa não é minha se ele passou bem na hora que eu me afastava de Nathan. Crawford, por sua vez olhava a cena com interesse e, pelo visto, achando muita graça.

Assim que o outro aluno passou, Nathan riu.

—Que medo de você eu senti agora...

—Deixe de ser mentiroso. – Resmungo.

—Tudo bem. Mas eu estava falando sério, Laura. Nunca vi você lançar tal olhar tão assassino para alguém que não fosse eu. Fiquei até com pena do rapaz. – Nathan apontou com o dedo para o corredor.

—Hum, sei...

—É sério! Eu sei me defender muito bem, mas quem dirá do pobre rapaz que acaba de entrar em sua lista negra?

—Nathan, eu não tenho uma lista negra. – Digo. Essa foi a coisa mais absurda que ouvi hoje. Pena que não seria última.

—Talvez você esteja cogitando a ideia nesse exato momento. – Ele ri, cruzando os braços.

—Pare de tentar me afundar junto de você nesse mundo de trevas que você vive, Nathan. – Digo seriamente e pela primeira vez, Nathan me olha furioso.

—Você não sabe nada sobre mim para afirmar isso, Laura.

—Tem razão, eu não sei. Mas isso foi por que você nunca quis me contar, e não faltaram tentativas minhas de tentar te ajudar! Mas você se tornou um troglodita!

—Pela juba do Leão, Laura, eu não sou uma pessoa ruim!

—Então prove! Por que quando eu olho para você sinto que eu só conheço seu nome! Eu não sei mais quem você é!

Nathan me encarou, seu semblante ainda era tenso, mas ele não disse nada. Naquele exato momento, o sinal para o segundo período tocou e eu passei por as mãos por meio cabelo, bufando.

—Ótimo, não basta ter faltado ao primeiro tempo, tenho que chegar atrasada ao segundo. Vejo você em sala, Crawford. –Dizendo isso, não dou tempo ao rapaz de responder, dou as costas á ele e entro no banheiro feminino.

Ao menos este era o banheiro certo e felizmente estava vazio.

Tão rápido quanto pude, tiro uma de minhas luvas e jogo água em meu rosto, secando-o logo em seguida. Puxo meu cabelo para um lado, as mechas eram compridas na medida certa, penteio-o com os dedos rapidamente só e faço uma trança simples, mas bela, neles. Eu não sabia o que me esperava em sala de aula, mas fosse o que fosse, eu não teria muitos créditos encarando-os com os cabelos bagunçados. Assim que me recompus, ajeitei o cachecol em meu pescoço e passei as mãos por minhas roupas, certificando de que dessa vez eu não esquecia nada em mim mesma.

—Que bom que resolveu se juntar á nós, Srta. Willians. –Diz o professor, o Sr. Josselym, com ar crítico, mas sem impedir que eu entrasse, assim que bati á porta e pedi licença para entrar.

—Perdoe-me professor, mas eu tive alguns imprevistos. –Digo, sem querer, lanço um olhar para Nathan, que sentava justamente ao lado do único lugar vago da sala. Ele me encarava de seu lugar, suas feições pareceram-me impossíveis de serem lidas. Azar é pouco não? Essa troca de olhares não passou despercebida por uma dúzia de colegas.

—Todos nós temos um de vez em quando Srta. Willians. Agora se sente, por favor, a aula já vai começar.

Respirei fundo e caminhei em direção ao lugar “reservado” para mim. Não que eu pudesse culpar Nathan por isso. O Sr. Josselym sempre muda nossos lugares, selecionando a dedo quem ficava onde, isso nos dava uma margem um pouco maior de tolerância a atrasos na aula dele. Infelizmente, quem chegava atrasado recebia os piores lugares.

Assim que me sentei, já fui me preparando para o combate interno e verbal que sempre se sucedeu a tal proximidade com Nathan. Combate interno por que eu me sinto nervosa perto dele, a vontade que eu tinha era de socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo – verdade seja dita logo de uma vez. Quando ele passou para o mau caminho ele não apenas me traiu como amiga, ele despedaçou meu coração. E combate verbal por que é muito difícil passar meros 50 minutos ao lado dele sem entrarmos em numa discussão, seja por questões banais como se o que é melhor, o queijo ou o vinho francês?, coisas relativamente relevantes como qual parágrafo se encontra a melhor justificativa para pôr uma pessoa numa cadeia por quinze anos sem que seu advogado possa recorrer, variando de caso em caso, ou coisas sérias como relatórios de estágio solicitados ou sobre minhas tentativas falhas de o convencer a me contar a verdade sobre a vida dele.

Infelizmente, Nathan é alguém que é difícil de evitar. Ele parece estar inserido em quase todos os meus vínculos sociais.

Para minha surpresa, assim que me sento, tiro as luvas que estavam me incomodando e me coloco a organizar meu material sobre a mesa, Nathan não diz absolutamente nada, nada de provocações, nada de zombaria, nem mesmo uma palavra sobre nossa conversa há pouco tempo.

De relance, olho para ele e percebo que eu estava encarando a janela à nossa esquerda, ou seja para o mais longe possível de mim, talvez perdido em pensamentos, seu maxilar estava tenso e boca não passava de uma linha tênue. Ele não me pareceu furioso ou algo do gênero, parecia apenas... Pensar em algo sério.

—Turma, prestem atenção. – Diz o professor, se levantando de sua mesa. As conversas paralelas morreram quase que imediatamente. – Esta aula será um tanto quanto diferente. Prestem atenção em como a sala de vocês hoje está dividida em três, isso porque faremos uma atividade em grupos.

Percorro a sala com meus olhos e vejo que era isso mesmo. As carteiras estavam separadas em três fileiras distintas sendo que eu e Nathan acabamos por dividir a primeira carteira da fileira do meio, sendo assim, suponho que fazemos parte do grupo dois.

—Vai acontecer o seguinte, cada fileira irá encenar um julgamento, então é melhor que façam direito, não passei um mês inteiro preparando essa atividade para chegar aqui e vocês me decepcionarem. Quero o melhor de vocês. Seus papeis já estão decididos, mas se dois ou mais alunos quisessem trocar de papeis, por favor, venham á minha sala após a aula. Lembrado apenas que somente os liders dos grupos não poderão trocar de papeis. – O professor pegou uma de três pilhas de papeis e a entregou para Albert Statham, pediu que ele distribuísse os papeis conforme o aluno, em seguida, o professor pegou a segunda pilha de papeis e entregou-a à mim, se virou e fez o mesmo processo novamente, entregando a Phillias Peterson a terceira e ultima pilha.

Olho a pilha de papelada que o Sr. Josselym me entregou e vejo que elas estavam destinadas a nós na ordem que nos sentávamos. Levanto-me e distribui os papeis, vendo, sem querer, quem faria o que.

Edson Maya, vítima por tentativa de assassinato; Victor London, culpado principal; Jessica Bridge, culpada secundária; Loham Guildlord, jardineiro que ninguém desconfia, mas também ninguém sabe como suas digitais foram parar na cena do crime; James Nerium, investigador criminal; Liana Lupim, médica que atendeu a vitima no hospital; Christofer Everyl, pessoa que impediu o crime, testemunha primária.

Ariel Possek, testemunha secundária; Mack Salomon, advogado de defesa. Tifany Hondurag, policial responsável pelo caso.

Por fim, e não menos importante, Nathaniel Logan Crawford, advogado de acusação e Laura Pevensie Willians, juíza suprema.

Espero que seja coisa apenas da minha cabeça, mas acho que todas as garotas, e nem somos tantas, da sala foram postas no mesmo grupo de propósito.

—Juíza suprema, é? – Diz Nathan olhando para minha folha de papel assim que eu me sento de novo ao lado dele. – Taí a sua chance de sentir um pouco na pele a sensação de decidir o rumo de uma vida...

Olho para ele diretamente nos olhos e me pergunto se ele estava falando sério ou se está apenas desdenhando de mim.

—Quer trocar de papel? –Pergunto casualmente e é a vez dele de analisar meu rosto, eu não o culpo: o professor não acabara de dizer que somente os líderes não podem fazer isso?

—Por quê? Não é algo com o qual eu iria querer atuar. O papel já foi destinado à você porque essa deve ser a área onde você quer se inserir. Assim como eu, que quero mesmo atuar como advogado futuramente. Nem todos que se dizem vítimas realmente o são, então, estou feliz por ser o advogado malvado, pelo menos desta vez.

—Ok, você quem sabe.

—Agora que todos sabem quais papéis devem realizar, vamos aos detalhes... –Prosseguiu o professor. Pego meu caderno e um caneta e começo a anotar as especificações. –Este trabalho será para entregar o relatório por escrito dia 25 de abril, então vocês terão bastante tempo para ser organizarem. As apresentações aconteceram dias 26, 27 e 28, na ordem em que vocês se encontram. Valerá 4,5 pontos em suas médias semestrais então teremos um pacote completo, dados investigativos, troca de acusações, reviravoltas, argumentos jurídicos válidos e reais, nada de inventar leis que não existem, todos os envolvidos devem ter conhecimentos das leis e artigos judiciários usados. Teremos o mais próximo de um tribunal real aqui, então caprichem em seus roteiros. Usem as duas aulas de hoje para decidirem como vocês vão se organizar para montar suas encenações.

Tento me concentrar em minhas anotações e nos requisitos exigidos de minha atuação como líder do grupo e juíza neste suposto caso, mas sinto um olhar em meu rosto, tento ignorar, mas chegou um momento que isso se tornou insuportável.

—O que você quer, Nathan?

—Droga –resmungou ele, frustrado. – Não posso mais olhar para você?

—Não. – Olho para ele, sem humor algum. – Não mais.

Nathan e eu nos encaramos por alguns segundos antes que alguém viesse interromper nossa guerra silenciosa de quem pisca primeiro.

—Ei pessoal –disse Mack Salomon, que estava sentado logo atrás de Nathan e agradeci mentalmente sua intromissão para desviar o olhar de Nathan. – Mal começamos o trabalho e vocês já estão brigando?

—Vocês estão cientes de que quando alguém está emocionalmente envolvido num caso, a pessoa deve ser afastada para que não haja risco de favorecimentos injustos num tribunal? Principalmente quando se trata de uma juíza e um advogado de acusação? –Disse Jessica Bridge, com seu sorriso cheio de humor, com uma camiseta de mangas compridas amarelo berrante e uma calça preta justa, irritante e saltitante, sentando-se sobre a mesa que eu dividia com Nathan, tive afastar meu caderno para o lado, caso contrário ela teria sentado em cima.

—Bridge, faça-me o favor, não sente em cima da minha parte da mesa. – Ignorando deliberadamente o que ela disse, resmungo, mas ela não me deu ouvidos e permaneceu sentada.

—Não vou me sentar na parte de Crawford, Laura, não sou louca.

—Por que não? –Pergunta Mack curioso e Bridge sorri maliciosamente.

—Eu já sou a suspeita secundária, acha mesmo que eu vou arrumar encrenca com a juíza por causa do advogado vai tentar pôr-me na cadeia? Ou mesmo fora de encenação, todos sabemos que Laura só tem cara de princesa, pois quando é para brigar, essa moça sabe muito bem defender seu território, não é, Srta. Willians?

Meu sangue foge para meu rosto quando me dou conta do que Bridge insinuava. Definitivamente, eu não estava esperando que alguém levasse seu papel tão a sério e tão cedo. Mas por incrível que pareça, Nathan não diz absolutamente nada, o que é estranho.

Nunca o vi perder uma chance de me irritar…

Ele passou a mão pelos cabelos pretos e respirou fundo, pegando suas folhas onde descrevia seu papel como advogado malvado e pareceu tentar se concentrar nele.

Eu tinha que admitir, as provocações de nossos colegas não pararam por ali, no entanto, foi a atitude de Nathan que me desconcertou. Ele ignorava a tudo aquilo com segurança e seu silêncio me fez perguntar-me no que ele estava pensando. Seu rosto sério dava-lhe o aspecto de mistério e sinceramente? Isso me pareceu assustador.

Eu prefiro mil vezes Nathan Crawford despejando o que se passa em sua mente do que encarar seu silêncio e ser obrigada a imaginar o que ele pensa… argh! Até quando ele não faz nada, ele consegue me tirar do sério?!

—Que tal nos focarmos no que realmente importa aqui? -Pergunto, cansada das provocações incomodas de Bridge e Salomon. -Afinal, como será o desenvolvimento do caso? Usaremos nossos nomes mesmo ou inventaremos nomes fictícios só para essa encenação? Temos muito no que pensar e no que decidir.

—Tem razão, primeiro podemos estabelecer os detalhes do crime e logo em seguida, estabelecer uma linha de investigação a partir dos supostos vestígios que restarem. -Diz Salomon. Nathan o olhou com a testa franzida.

—Desculpe, mas isso não é óbvio? -Bridge questiona.

—Sei lá, foi a primeira coisa racional que consegui pensar por conta própria hoje. -Admitiu Mack. -Estou com uma dor de cabeça daquelas.

—O que você fez desta vez, Mack? -Bridge pergunta, fazendo um careta.

—Nada que lhe interesse muito, Jessica. -Responde ele e os dois começam a trocar farpas. Reviro os olhos e sem sucesso me concentro em meu papel.

—Francamente, acho que eles não deviam falar muito de nós sendo que quando juntos, eles agem assim. -Diz Nathan em meu ouvido. Ignorando o fato de ter ficado arrepiada da cabeça aos pés, desta vez fui obrigada a concordar.

—Tenho que concordar com isso. -Digo o imitando. Olhamos para Bridge e Salomon e acabamos rindo.

—Tenho 78% de certeza de que não conseguiremos adiantar nada ainda hoje se continuarmos assim. -Nathan fala, cruzando os braços e se recostando em sua carteira. -E também acredito que assim, acabaremos ficando para trás.

—O que quer dizer com isso?

—Preste atenção em como os grupos foram separados e você vai me entender.

Minhas sobrancelhas se arqueiam e, mesmo não gostando desta situação me obriguei a dar ouvidos à ele e, de repente, a ficha cai. Esse trabalho tem mais que apenas a finalidade de nos avaliar como alunos. O professor está testando, em nosso grupo, nossa capacidade de agir profissionalmente com o sexo oposto. Não sei por que essa nova informação me deixou tensa. Três anos nisso e eu ainda não me acostumei a ser subestimada?

—Mas que petulância a desse professor! -Reclamo baixo o bastante para que apenas Nathan conseguisse me ouvir.

—Ah, graças á Deus esse seu olhar motífero se voltará para quem realmente o merece. -Diz Nathan dando um sorriso de lado que não me afetou tanto assim. Eu meio que já estava ficando acostumada à isso.

Mas sim, agora eu estava furiosa, com o professor à nossa frente que observava como estavamos nos organizando.

Reprimi um grunhido de frustração e resolvo acabar com essa palhaçada.

—...você é muito irresponsável, Mack! E se você não tivesse conseguido chegar em casa?!- Dizia Jessica Bridge com raiva para Mack. Antes que ele a respondesse, eu me agitei em meu lugar e disse:

—Bridge, Salomon, esqueçam este assunto por enquanto. Agora temos coisas mais importantes a tratar.

—Mas… -Bridge tentou argumentar e eu a impedi.

—Bridge, não me questione. -Digo, soando mais autoritária do que pretendi. - Caso você não tenha percebido, nós JÁ ESTAMOS sendo avaliados!

Ela se cala e olha de relance para o professor. Sua expressão a seguir era de quem havia acabado de entender a real situação.

—Agora se recomponha e desça da minha mesa. -Digo o mais discretamente possível, e senti a raiva se concentrar em meu olhar.

—Você quem manda. -Bridge engole em seco e faz o que eu pedi e ela retorna ao seu lugar sem dizer mais nada. Me viro para Salomon e digo a ele.

—Sua vida pessoal não nos interessa, Mack, mas se ela se tornar um empecilho em nosso caminho, teremos que pedir que saia do nosso grupo, está me entendendo?

—Quem você pensa que é, Willians, para me dizer o que fazer? -Diz Mack, perdendo seu bom humor e fuzilando-me com os olhos verdes brilhando em fúria.

—Ela é a lider do grupo, Mack, sendo assim, é melhor ouvi-la. -Nathan diz, ainda de braços cruzados e sem inclinar-se para trás, sem nem mesmo olhar para onde Mack estava.

—Quem disse isso? - Mack diz, furioso, agora olhando para Nathan.

—Está nas atribuições dela, cabeção. -Nathan pega meu papel e mostra para Mack, indicando com o dedo o trecho que dizia que eu era a principal responsável por nosso grupo.

—Mas que droga - resmunga Mack, ao ler o papel. -Não acredito que o professor fez isso!

—Aceita que dói menos. -Murmura Nathan.

—O que você disse, Crawford? -Questiona Salomon.

—Nada que seja do seu interesse, Mack. -Rebate Nathan, claramente mas com a voz tão séria quanto seu rosto.

—Ora seu… -Grune Mack.

—Controle-se Mack - digo, em tom de aviso - ou você será expulso do nosso grupo. E eu não estou brincando.

—Está tudo bem aqui? -Pergunta Victor London, de pé ao lado de Nathan, fuzilando Salomon com os olhos. Ele é um dos alunos mais respeitados de todo o campus, com ou sem o fato dele ser o filho do reitor, Victor é o tipo de sujeito que inspira respeito de todos… Nathan também, mas costumo ignorá-lo na minha lista de colegas de sala dignos de confiança e respeito.

De toda forma, o fato de ter Victor em nosso grupo é um artifício a nosso favor e eu não pretendo ignorar isso. Victor, de muitas formas me lembra meu tio Pedro, em seu jeito pomposo e calculado de ser e agir.

—Ninguém te chamou para a conversa, Victor. -Mack solta, sem medir suas palavras ou sua raiva.

—Que eu saiba, eu faço parte deste grupo tanto quanto você, Mack. - Rebate Victor. - E eu concordo com Laura. Se você ou mesmo Nathan…

—Não me inclua numa dessas, London -resmunga Nathan.

—Ok, Crawford, mas deixe-me falar! -Victor riu. Acho que ele foi o primeiro a achar essa situação minimamente engraçada.

—À vontade… - Nathan diz, um sorriso mínimo, mas de real humor surge no rosto dele; bem melhor que o sorriso sacana de lado que ele costuma ter na cara na maior parte do tempo perto de mim.

—Valeu. Como eu dizia, se você, Mack, ou qualquer um de nós neste grupo for um impecilho para o andamento do nosso trabalho, Laura tem todo o direito de nos tirar do grupo e eu a apoiarei…

—Idem. -Diz Nathan, pegando de volta o papel com minhas atribuições e de minha parte, eu pensei ainda estar dormindo. Discretamente, dei um pequeno beliscão em meu próprio braço e constato que tudo isso era verídico. Nathan Crawford me defendendo? Vai chover hoje…

Vendo que certamente seria minoria, Mack bufa, cruzando os braços.

—Só acho que outra pessoa deveria ser o líder do grupo -resmunga Mack -mas tudo bem, que seja do jeito que vocês bem entenderem…

—Sábia escolha. -Nathan diz, e sorrindo sem mostrar os dentes, Crawford devolve diretamente em minha mão meu papel. Como eu ainda me encontrava meio desnorteada pela surpresa, demorei alguns segundos para me recompor e reagir.

—Bem -engulo em seco, guardando a folha com minhas atribuições no meio do meu caderno -, agora que todos concordamos com isso, finalmente vamos ao que interessa: eu estava pensando que, já que o professor nos deu este e o próximo período destinados à organização do nosso trabalho, poderíamos solicitar à ele uma permissão para fazê-lo na biblioteca, o que vocês acham? Assim poderíamos discutir e trabalhar nisso com mais calma e -ne inclino para frente, sussurrando a próxima frase para que somente os três rapazes me ouvissem - sem estar na mira e avaliação constante do Sr. Josselym…

Nathan, Mack e Victor se entreolham. Mack e Victor exibiam expressão de surpresa, mas Nathan... não sei o que suas feições transmitiam. Se há alguém aqui que é mestre em mascarar emoções, este alguém é Crawford, todos os demais, inclusive eu mesma, ainda estão aprendendo esta arte não tão pronunciada.

—Não é uma má ideia -diz Victor por fim -, vamos falar com os outros do nosso grupo. Se todos concordarem, perguntamos ao professor se temos permissão para tal coisa.

 


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Notas finais do capítulo

Bônus do capítulo:

Os dados a seguir foram criados para fins desta história e não são oficiais em As Crônicas de Nárnia.
Perfil Pevensie:

Pedro Pevensie (Título em Nárnia: Grande Rei de Nárnia, Senhor de Cair Paravel, Imperador de Ilhas Solitárias. Pedro, o magnífico).
*Nascido em 7 de julho de 1927, em Finchley, Inglaterra. Começou carreira militar aos 19 anos (1946), mas abandona o exército cinco anos depois. Em 1953, aos 26 anos, Pedro abre seu próprio negócio, rendendo-lhe tanto sucesso que, um ano depois, tornou-se empresário, um grande feito para a época. Seu legado se perpetuou graças ao seu senso de justiça, generosidade, faro contra caloteiros e mentirosos e uma espantosa sabedoria.
Pedro morre então, aos 38 anos, em dezembro de 1965, num trágico acidente de trem em Londres, deixando o próprio pai no comando de sua empresa, sua fortuna foi dividida entre os pais, a única irmã sobrevivente, Susana e sua única sobrinha até então, Laura P. Willians. O empresário não era casado e não possuía filhos.

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