A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 1
O Maior dos Legados


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos e bem-vindas ao início desta aventura épica e fabulosa! Indo direto ao que interessa, acomodende-se e relaxem, desejo-lhes uma excelente leitura

Ps: Para quem tiver interesse, a playlist da fanfic está disponível nas notas finais ❤

{ATUALIZADO EM 20 DE NOVEMBRO DE 2021}



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Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes”.

C. S. Lewis

§

Londres, Inglaterra

Laura Pevensie Willians

A ponta da caneta batia impacientemente no papel, meu rosto pendia sobre minha mão como uma construção defeituosa pendendo sobre pilares de concreto em ruínas. Estou ansiosa para ir dormir, mas ao invés disso, me obriguei a ficar acordada, à minha frente havia uma pilha de livros abertos várias folhas soltas de rascunhos e meu caderno, aberto na matéria certa. Quando entrei na universidade de direito, não imaginei o quão difícil seria, mas eu sou apaixonada pela área. Meu pai me disse uma vez que isso, essa busca incessante pela justiça, era “coisa de família, da família por parte de sua mãe, para ser mais específico”.

No mesmo aposento onde eu dedicava-me na busca de respostas para uma questão particularmente complexa, onde os artigos entravam meio que em contradição, o escritório do meu pai, uma lareira estava acesa.

Deitado sob o alcance calor das chamas, nosso velho Thunder, um gato scottish fold preto de nove anos, que foi resgatado da rua por meus tios, parecia ter dormido, mas ronronava alto. Seus olhos grandes como a lua cheia agora estavam tranquilamente fechados, dando a ele uma expressão muito fofa.

Numa poltrona à frente da lareira estava minha mãe, sentada serenamente, Liam estava em seu colo, coberto com uma manta grossa. Mamãe contava uma história para que meu irmãozinho dormisse, por muito tempo, nem ouvi o que contava essa história, as histórias de minha mãe não eram tão fantásticas quanto as que meus tios contavam quando eu era criança. Eu sinto muita falta deles, de suas histórias fantásticas, de seu bom humor, de sua bondade. Mas agora todos estão mortos e não há nada que possa ser feito para mudar isso.

Respiro fundo e me concentro no parágrafo que há vários minutos venho tentando entender o que ele queria dizer, mas não obtive sucesso. Tenho que entregar essas perguntas respondidas em dois dias, mas não consegui fazer nem a metade ainda.

Frustrada, fecho o livro com força e esfrego as mãos no rosto. Já estava ficando tarde e eu não tenho dormido bem ultimamente. Minha mãe não deu sinal de ter me ouvido fechar o livro com força, ela contava sua história ao meu irmão e por incrível que pareça, eu realmente parecia estar pegando no sono.

Este é, na verdade, um momento raro em nossa casa. Minha mãe presente para seus filhos, sendo carinhosa, falando de algo que não tinha nada a ver com festas de gala e desfiles de moda. Ela estava sendo, bem, uma mãe de verdade como ela não tem sido há muito tempo. Desde o desaparecimento dos meus tios, causado por um acidente de trem, minha mãe vinha sendo ainda mais distante e amarga.

Papai estava na outra poltrona, lendo um livro de ficção cientifica que eu mesma indiquei a ele e que pelo visto ele gostou muito. Tenho certeza de que ele sentia tanta falta dos meus tios quanto eu. Somente mamãe parecia decidida em lutar com todas as forças para fazer parecer que perder três irmãos de uma única vez era meramente algo do passado.

Aposto que, quando meus pais se casaram, minha mãe não agia de modo tão cruel.

— ...então, quando a Dama do Vale e o Lorde dos Campos surgiram ao lado dos grandes reis da justiça e da coragem, todos sentiram sua esperança renascer, uma doce paz e a certeza de que tudo ia ficar bem, e a Dama do Vale trouxe consigo a certeza renovada de que Aslam cuidaria de todos, até o final dos tempos. Fim. — Olhei em direção a lareira, surpresa, sem acreditar que minha mãe estava contando uma história de Nárnia para Liam. Levantei-me e caminhei hesitante até meus pais.

Olho primeiro para meu pai, que tinha o livro pousado no colo, ele olhava encantado para mamãe que, por sua vez, acariciava os cabelos negros de Liam enquanto olhava as chamas da lareira dançarem, parecendo perdida em pensamentos. Apoiei o rosto na poltrona de mamãe, observando-a também.

A história da “Dama do Vale e o Lorde da Calormânia” foi me contada quando comecei a crescer, tinha oito ou nove anos, era de se esperar que, dez anos depois eu já tivesse me esquecido dela, mas a verdade era que eu nunca a esqueci, sempre fui fascinada por uma figura misteriosa de Nárnia, a Dama dos Campos. Apesar das múltiplas incógnitas que ficaram pelo caminho, e de só saber o que meus tios contam, que me pareceu uma visão parcial de um todo, ainda assim, tudo me pareceu muito bem orquestrado.

Meus tios pareciam realmente acreditar em suas histórias, contavam como se as tivessem vivido, mas minha mãe sempre desdenhou deles, dizia que eles eram loucos e tudo isso fora invenção da cabeça deles quando jovens e que deveriam parar de inventar bobagens, assim como ela parou. Mas eu discordo, para pessoas tão lucidas, cientes de sua realidade, inteligentes, astutos, corajosos e que se recusavam a ceder para as provocações de mamãe, meus tios pareciam convictos no que diziam.

De repente me vi acreditando neles, acreditava muito mais neles do que em minha mãe, eu não me arrependo disso.

Se essa terra mágica de Nárnia for mesmo real, eu daria tudo para conhecê-la com meus próprios olhos.

— Pai, pelo que me lembro, tio Pedro dizia que o rei justo era o tio Edmundo e a rainha destemida era a tia Lúcia... Era isso mesmo? — Perguntei baixinho para meu pai, pois sabia que se eu perguntasse para mamãe, estaria arriscado quebrar esse momento tão bom.

— Sim, eram eles. — Disse ele com doçura na voz. Minha mãe sequer pareceu ouvir, ela continuou a encarar as chamas. — Edmundo e Lúcia eram os que tinham as histórias mais fascinantes, inclusive essa da Dama do Vale...

— São lindas realmente. E muito empolgantes. — Comento com um sorriso. Nem eu ou meu pai citamos o fato de que minha mãe estava envolvida, sendo conhecida por ser a rainha gentil. Mas eu sabia que ele também tinha isso em mente. De tudo o que meus tios disseram essa é a parte mais difícil de acreditar.

— São lindas — murmurou minha mãe, como se desdenhasse até disso. Pronto. O momento em família acaba de ir para o ralo. — Se ao menos fossem reais, Laura, mas não são. — Ela me lançou um olhar duro. — Você não devia estar fazendo seu trabalho?

— Não consigo me concentrar, mãe. — Digo, sendo honesta.

— Bom, ninguém mandou você escolher uma área que tantas poucas mulheres se arriscam a enfrentar. Você deveria ter me ouvido, poderia ser rica e famosa agora sendo modelo como eu a aconselhei, mas ao invés disso você preferiu seguir os passos de Edmundo. Agora arque com as consequências.

A dureza na voz dela foi como se ela houvesse me ferido com uma navalha. Olho para meu pai, em busca de socorro. Depois do desaparecimento de meus tios, o único que ficou para me apoiar, foi ele.

Mas naquele instante, depois de tanto tempo adormecido, Thunder despertou e emitiu um miado indignado em direção a minha mãe, como se também estivesse revoltado com o absurdo dito por ela.

— Disse tudo, Thunder — concordo. Meu pai riu, ao passo que minha mãe fez careta para o felino.  

Sempre preferi a inteligência a beleza, mas ela parecia não entender isso. Houve vezes em que lamentei de ter nascido com um rosto esbelto como de mamãe e os cabelos castanhos claros de meu pai. A beleza taxava-me de ingênua — para não dizer burra — perante meus colegas de universidade, pois ainda havia muitos rapazes ainda tivessem um enorme preconceito com garotas que se demonstram tão capazes de algo quanto eles. Por isso, eu me empenhava muito mais que todos os outros, determinada a ser a melhor de minha turma, me esforço para orgulhar meu pai, honrar o legado de meu tio e nunca me permitir ser agourenta e desagradável como minha mãe.

— Susana, não seja tão dura. E, bom, está mesmo ficando tarde. Em todo caso, acredito que todos devendo ir dormir. — Meu pai sem dúvidas era um homem sábio. Mas infelizmente, sua sabedoria não impediu que sua própria esposa se tornasse uma mulher de pensamentos vãos.

Mau pai é Maicon Willians, um renomado e respeitado homem de relações exteriores norte-americano e que apaixonou e se casou cor Susana Pevensie quando ainda havia doçura e gentileza em suas palavras.

Meus pais se conheceram nos Estados Unidos, pois ele é ex-soldado da marinha americana, mas depois que se casaram, mesmo contra a vontade de minha mãe, eles vieram morar na Inglaterra. Pelo menos é isso o que eu entendi da história de amor deles.

Logo, sem dizer nada, Susana se levantou e, com Liam adormecido em seus braços, ainda pequeno em seus quatro aninhos, ela o levou para o seu quarto. Voltei para a mesa, com Thunder em meu encalço, e começo a organizar e guardar minha papelada, os livros e meus cadernos para que amanhã, quando meu pai se pôs ao meu lado, me ajudando a empilhar os livros.

— Pode deixar, pai, eu consigo arrumar sozinha... — Digo, com um sorriso cansado. Enquanto isso, Thunder se fazia, roçando em nossas pernas, pedindo carinho.

— Eu sei que você consegue, minha princesa, mas apenas estou lhe ajudando a terminar mais rápido. Você precisa ir dormir, já que parece tão exausta. Está tudo bem?

— Está, eu apenas venho tido sonhos estranhos. — Tentei ser vaga, estava mesmo esgotada e não via a hora de cair na cama, mas eu soube que assim que pronunciei essas palavras, ele ficou curioso, outra característica marcante nele.

— Que tipo de sonhos? — Perguntou ele, juntando uma pequena pilha de papeis, para logo em seguida, me entregar.

Suspirei. Ao menos era meu pai ali perguntando, não minha mãe.

— Não sei ao certo, a maioria deles são confusos, agitados. — Digo, meus olhos recaíram sobre a lareira, a imagem de suas chamas me ajuda a me concentrar, me recordo de vislumbres dos sonhos estranhos que venho tendo e só então olho para meu pai novamente. — Às vezes, vejo um leão dourado correr por uma floresta vivida, outras vezes, vejo um grandioso e glorioso castelo na beira do mar, vejo cavalos alados voando sobre exércitos em guerra, espadas e arcos sendo utilizados com uma precisão absoluta. E vejo os tios Edmundo e Pedro e a tia Lúcia no meio desses sonhos, vejo eles vestidos para a guerra, nem sempre em triunfo. Sonho com crianças que eu nunca conheci correndo ao redor deles — um sorrisinho surge em meus lábios —; nestes sonhos, Nathan e eu somos crianças novamente e sinto como se estas crianças desconhecidas fossem da família: Primos e primas que eu nunca tive...

Faço uma breve pausa, para então finalmente falar o que mais me perturba nesses sonhos:

— Às vezes também, vejo você e Liam conversando com eles em meio a pomares de maças perfeitamente rubras, mas... em todos estes sonhos, nunca vejo a mamãe neles. Acho que Pedro, Edmundo e Lúcia fazem muita mais falta do que imaginei.

Meu pai me acarou por um segundo, com a boca entreaberta, ele parecia não saber o que dizer.

— Ao menos você sonha coisas maravilhosas, Laura. — Comentou ele seriamente, antes de respirar fundo. — Os sonhos que ando tendo são tudo, menos bons.

— Com o que você vem sonhando, pai? Quero dizer, se quiser me dizer quais são... — Coloco meu caderno e as canetas em minha bolsa de estudos e fechando o zíper, fico feliz em poder ir finalmente dormir.

— Sonho com trens descarrilhando, pessoas perdidas no mar, aviões caindo, vejo guerra se passar diante de meus olhos e vejo muitas pessoas morrendo, inclusive as que eu mais amo. É isso o que habita meus sonhos.

— Isso é horrível, pai...

— Eu sei, mas... são apenas sonhos, não? Isso não significa que chegarão a ser reais um dia... As grandes guerras mundiais de nossa realidade já chegaram ao fim, certo? — Ele sorriu, mas não havia humor em sua face, apenas parecia tão cansado quanto eu. — Bom, de qualquer jeito, teremos de encarar nossos sonhos esta noite, sejam eles quais forem, caso queremos realmente estar bem-dispostos amanhã, não? — Ele gesticulou em direção à porta: — Venha filha, vamos dormir.

Assenti com a cabeça, segui em direção à porta, enquanto meu pai se encarregou de ir apagar as chamas na lareira.

— Ah, só mais uma coisa, Laura... — Chamou ele, antes que eu saísse porta a fora. Volto-me a ele e antes que meu pai me dissesse algo, jurei ter visto algo dançar nas chamas atrás dele. Jurei ter visto ali a imagem de leão nos olhando, mas a imagem desapareceu tão rápido quanto surgiu e eu pisquei, confusa. Será que agora eu estava vendo coisas? — Você sabe que eu te amo muito e sua mãe também... não é?

Suspirei, com meus olhos fixos ainda sobre a lareira. Que ele me ama eu sabia, mas de minha mãe... honestamente, eu já não tinha tanta certeza assim.

— Eu sei. — Me recuso a dizer meus verdadeiros pensamentos em voz alta, não seria justo para com ele, que faz tudo o que for necessário para nos manter juntos, em real união. — Eu também te amo, pai... Boa noite.

— Boa noite princesa.

Sorri para ele, antes de me virar e seguir pelo corredor, fiz um som para chamar Thunder. O felino correu alegremente até mim e juntos, caminhamos até meu quarto.

E algum tempo depois, em meio ao silêncio do meu quarto, meus dedos brincam com o pelo macio de Thunder, que deitava ao meu lado sob os cobertores, ao alcance de minha mão. Tento manter minha mente livre de pensamentos até adormecer, mas imagem de um leão rugindo na lareira simplesmente não saia da minha mente.


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Notas finais do capítulo

Playlist oficial de "A Herdeira do Quarto Trono":
https://www.youtube.com/playlist?list=PLVDlV_nZrj8EJ3xBzdjtTUbWgFX8munkC

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