Espirais escrita por neko chan


Capítulo 20
20° ciclo da espiral




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— Quanto tempo já faz? - pergunto aborrecida olhando para o caminho de pedrinhas a nossa frente, já não aguentava mais o barulho que as rodas faziam passando por cima disso

— Eu não sei, dois ou três dias.... talvez quatro... - ela responde com a mesma empolgação que a minha enquanto apoia o queixo sob as mãos

— O que aquela idiota estava pensando nos mandando encontrar alguém que ela nem mesmo disse aonde ficava?!* - levanto um pouco o tom da minha voz e socando o volante por um segundo

— Provavelmente não deve estar tão longe de pra onde vamos, afinal, não faria sentido ela nos mandar encontrar alguém que fica depois da próxima cidade com laboratórios secretos, então acho que teríamos que seguir esse caminho de uma forma ou outra

— O que é essa lugar afinal? - olho em volta para aquelas casas monótonas com as tintas externas quase que completamente descascadas, todas pareciam ter a mesma estrutura - Não parece que quem vivia aqui tinha uma vida muito interessante

— Me disseram que vilas de elfos eram tão interessantes quanto asilos

— Isso é problemático, estamos chegando perto de um beco sem saída. - olho para o lado vendo a presença de uma praia de agua escura - Acho que estamos muito perto do litoral, logo mais teremos de mudar o curso, não acho que vamos encontrar qualquer coisa tentando atravessar o mar ate outro continente

— Pare o veiculo um pouco, podemos apenas dar uma rápida olhada. - Obedeço e simplesmente paro no meio da rua para descermos e olharmos as casas, que por dentro eram tão genéricas quanto por fora

Após olhar tantas casas, todas exatamente iguais e sem elementos necessários para nossa viagem, encontramos duas que pareciam diferentes, uma na frente da outra, a casa da esquerda não parecia moradia de elfos, apesar de ter a mesma estrutura, era escura demais e tinha o indistinguível cheiro de sangue, então assumimos que ali morava uma família de vampiros, pais e uma menina.

— Veja isso aqui. - Brook me chama enquanto mexia na gaveta do quarto da garota

Fui ate ela e ela me mostra um pequeno caderno, haviam alguns desenhos de criança em suas primeiras paginas, uma garotinha com uma cobra, uma garotinha com seus pais, duas garotinhas envolvidas por vários desenhos de corações, depois de umas 10 paginas de desenhos nesses estilo, ele repentinamente muda, agora era bem mais complexo e detalhado, então talvez tivesse sido feito quando ela já era uma adolescente ou algo assim, desenhos de roupas, animais, paisagens, pessoas, ela parecia gostar de desenhar uma garota especificamente, ela estava em varias paginas diferentes, desenhos do que pareciam ser da própria artista e da mesma garota, continuamos folheando até o final, onde na contracapa estava escrito algo que depois de algum tempo eu consegui identificar como "Emma".

— Esse não é o nome da garota que falaram antes? - ela pergunta

— A dona do violãozinho

— Deveríamos devolver para ela?

— Talvez.... espera

— O que?

— Ela disse que seria uma devolução, então devemos estar perto de onde deveríamos estar

— Talvez na outra casa então?

Sorrio animadamente achando que finalmente acabaríamos com aquela ridiculamente longa viagem buscando algo que não sabíamos onde estar, mas após tanto tempo vasculhando tudo, olhando cadernos, anotações e fotos no quarto da outra garota, que era realmente a menina sendo desenhada no caderno, não encontramos absolutamente nada.

— Isso é tão frustrante! - eu digo me sentando na areia da praia ali perto da casa das duas

— Calma, calma. - se senta ao meu lado - Nós vamos encontrar alguma coisa

— Ou procuramos pra sempre

— Que tal focar em outra coisa além de acabar com isso rápido? - ela me entrega uma pedrinha e usa outra para jogar na agua escura do mar, a pedra quica alguma vezes na agua ate afundar, eu faço o mesmo sem muito sucesso e minha pedra afunda instantaneamente - Acho que vi um parque ali perto, era um pouco parecido com o que vimos uma vez no laboratório onde crescemos

— Aquele que as crianças refugiadas ficavam?

— Eu sentia tanta inveja delas, nunca tinham que fazer testes e só brincavam todos os dias, a simples existência delas já era muito mais significativa do que a de meros clones vivos que éramos

— Eu não acho isso. - me levanto e estendo a mão para levanta-la

— Não?

— Até meros clones como nós ainda tem direito a vida

— Fomos apenas criadas para lutar. - ela ri

— Então por que somos capazes de pensar e sentir?

Ela sorri para mim e segura minha mão, não a largando por todo caminho que fizemos ate chegar no parque, ela sabia como usar todos os brinquedos ali, eu nunca tinha visto nem a metade daquilo, quer dizer, uma prancha de madeira pendurada por duas correntes para você sentar e sentir como se estivesse voando? Isso é genial!

Depois de brincarmos um pouco, notamos que havia uma densa floresta a próxima àquele parque, mas, como as arvores eram muito próximas, não conseguíamos passar com o veiculo, tivemos de fazer o caminho a pé sem nem mesmo saber se encontraríamos alguma coisa, era apenas um palpite arriscado que tivemos de fazer.

Nem mesmo sabia quanto tempo ficamos andando por ali ate que encontramos uma grande caverna, qualquer um com senso logico evitaria uma caverna grande, escura e úmida no meio de uma floresta desconhecida, mas, pra minha sorte, eu estava andando com uma idiota, uma adorável e peluda idiota que achou que tiramos a sorte grande por acharmos um lugar assim, eu tentaria impedi-la, mas os dias tem sido tão calmos* que acho que uma pequeno explorada não iria matar.

O escuro não era realmente um problema, já que passamos toda nossa vida nos adaptando à densa nevoa que cobria o mundo inteiro, mas o lugar era bem frio, ainda mais frio do que do lado de fora. Conforme andávamos, parecia que o caminho dentro da caverna ia ficando mais apertado, já não conseguia caminhar sem que meus braços se encostassem nas úmidas paredes de pedra, mas eu conseguia ver algo no fundo, parecia uma abertura semi-oval bem escura no fim do corredor, continuamos andando.

Quanto mais próximas ficávamos da abertura, mais quente o lugar parecia ficar, era um calor tranquilo, do tipo que eu só havia sentido com os contatos físicos de Brook, já que seu corpo era biologicamente mais quente que o meu. Ao entrar no local, a escuridão me desnorteou, mas, uma fração de segundo depois, uma luz intensa ilumina toda a caverna em forma de abóbada, não foi necessária uma intensa busca visual para notar o que havia criado a forte luz.

Um imenso dragão com escamas de cor amarelo fosco estava no centro daquela gruta, deitado ao chão cobrindo algo próximo ao peito com cuidado, dou um passo para trás ficando de guarda à frente de Brook, que parecia mais maravilhada do que assustada, mas o dragão não parecia aborrecido ou pronto para atacar, estava calmo e nos olhava como se nos chamasse para mais perto, e foi o que fizemos sem pensar muito.

Já bem próximas, ele abaixa sua cabeça e sua voz ecoa dentro da minha cabeça e, aparentemente, na de Brook também.

— Estive esperando vocês. - diz a voz feminina que assumi ser do dragão

— Esperando?

— Isso, por longo anos, apenas porque sabia que voltariam. - algo parecido com uma lagrima flui gentilmente pelas suas escamas

— O que quer dizer? - dou um passo à frente

— Eu não posso explicar tantas coisas assim. - ela suspira - Mas eu tinha que vê-las mais uma vez. - Ela afasta as patas mostrando uma garota dormindo tranquilamente próxima ao seu peito, cabelos castanho escuros e pernas de sátiro - Eu gostaria de tê-la apresentado à vocês em circunstancias diferentes, mas não pude fazer muito por ela, ela naturalmente vive bem menos do que eu, então eu à coloquei em um longo sono, eu nunca suportaria a ideia de vê-la sucumbir ao tempo, ela ficaria irritada comigo por fazer isso. - dá uma risada fraca - Mas os dias que tivemos juntas foi mais do que o suficiente

Eu podia sentir a grande dor que ela sentia, não pude evitar de abraçar sua grande pata e Brook faz o mesmo, ela inclina a cabeça sob nós, eu nem mesmo sabia o motivo de ter começado a chorar.

— Mãe... - ela olha para mim, aquela palavra me confunde por um segundo, mas eu não dou tanta atenção a isso - Se você pudesse concertar esse mundo, você simplesmente apagaria essa historia?

— O que?.... - ela continua me olhando fixamente - N-não... eu acho... mas... - olho para Brook por um segundo, não poderia nem imaginar em mudar o que aconteceu nesse tempo - Não, eu não mudaria

— Entendo... - ela parece sorrir para mim - Continue cuidando dela, mãe. - fala diretamente com Brook, que sorri dando um beijinho em seu nariz

— O que você quer dizer co-

— Pois bem. - ela me interrompe - Não temos tempo. - se levanta ainda segurando a menina gentilmente em sua pata - Fique parada

Eu não me movo e ela toca minha testa gentilmente com sua grande garra, sinto ao quente se espalhando pelo meus corpo, quando noto que, conforme essa sensação de calor se intensifica, o corpo dela desaparecia, já era tarde demais para que eu pudesse impedir, a ultima coisa que pudemos ouvir foi um "adeus", o mais triste adeus que já escutei na vida, Brook simplesmente caiu de joelhos no chão chorando descontroladamente, nem eu mesma consegui controlar as lagrimas, alguma coisa dentro de mim sabia que esse momento foi extremamente difícil para nós duas e tudo que eu pude dizer foi:

— Adeus, Isabel


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Notas finais do capítulo

* hehe, eu esqueci mesmo :3c
nunca se esqueçam de transformar seus erros em comedia

*caso se questionem sobre a falta de monstros a muito tempo, é simples, mas a idiota aqui esqueceu de explicar, então: falta de gente é falta de comida, falta de comida é morte certa, alguns sobreviveram por meio de canibalismo ou consumo de toxidade (qualquer coisa toxica que achavam), mas no fim a maioria deles acabou sucumbindo como os dinossauros (also: eles não precisavam comer enquanto confinados na floresta por anos, porque ali o tempo era completamente parado)



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