Espirais escrita por neko chan


Capítulo 21
21° ciclo da espiral


Notas iniciais do capítulo

estamos perto do final agora, acho que do 25 nós não passamos



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Brook não parou de chorar por todo caminho de volta, eu tentei o meu máximo para confortá-la, mas estávamos na mesma situação. Ela se encolhera no canto do veiculo e ficou umas boas horas sem falar absolutamente nada, apenas conseguia escutar seus baixos soluços.

Suspiro encostando minhas costas na parede, sentada naquele chão frio e metálico, eu não queria ir lá fora e começar a dirigir, eu corpo parecia febril, não sabia que estava ficando doente mesmo, ou se era um efeito secundário da desestabilidade emocional, apenas tentei respirar fundo, mas minha respiração parecia quente também.

Em pouco segundos, comecei a tossir desesperadamente tentando buscar ar para meus pulmões, que agora pareciam estar ardendo em chamas e repletos de fumaça, sangue começara a sair entre as tosses e Brook se vira rapidamente para ver o que estava acontecendo, correndo em minha direção.

— Audrey?! - ela levanta minha cabeça a colocando em seu colo e olha assustada para mim - O que houve?! O que aconteceu com você?

Eu apenas continuo tossindo sem conseguir falar nada, ela se levanta para pegar agua para mim, mas a agua parecia evaporar assim que encostava minha boca, agora minhas costas e cabeça pareciam arder também, como se algo rasgante tentasse sair de dentro de mim, a voz de Brook tentando me manter consciente parecia tão distante agora, seu rosto parecia se embaçar na minha frente, não sei exatamente em que momento, mas eu perdi a consciência pouco depois.

 

"Tum tum", algo fazia esse barulho repetidamente, um ritmo que se mantinha e vinha junto com uma sensação de segurança, o calor alarmante parecia ter cessado e eu me esforçava pra abrir os olhos. O teto metálico foi a primeira coisa que vi, eu estava no colchão, mas algo ainda parecia errado, eu me sentia pesada, tentei me mover, Brook estava ao meu lado me abraçando, meu ouvido estava bem perto de seu peito e eu fechei os olhos mais uma vez escutando o barulho rítmico de seu coração.

Tento levantar, meu corpo pesa e, assim que eu coloco o pé para fora do colchão, me desequilibro e caio derrubando varias caixas comigo e fazendo um barulho alto, Brook acorda no susto e liga a luz.

— Audrey? - pergunta ainda assustada

— Desculpe, eu não queria te acordar. - tento me levantar, mas acabo caindo novamente - Mas que diabos... - olho para minhas costas e vejo um par gigantes de asas negras, solto um grito assustado e toco minha cabeça sentindo um par de chifres, deixando sair outro grito

Ela se aproxima com um espelho velho e me entrega, vejo aquelas grandes asas se movendo ao meu bel-prazer e fico confusamente as olhando por um bom tempo.

— Acho que ela deixou um presente pra você. - ela ri

— Poderia ao menos ter dito alguma coisa, não sei, talvez um "você sentirá a maior dor de transformação da sua vida e eu vou passar meus poderes pra você" teria ajudado bastante

— Mas agora você pode voar, pense nesse lado positivo

— Voar? Eu mal consigo ficar de pé

— Me disseram que dragões são as criaturas mais inteligentes do mundo, já que eles já nascem sabendo de tudo, então eles apenas vão "descobrindo" o que já sabem ao longo da vida, então você agora já sabe voar, só precisa descobrir que sabe

— É, mas eu não nasci um dragão, eu sou um maldito clone humano que nunca nem mesmo viu como o céu de verdade parece, e agora simplesmente me entregam um par de asas e esperam que eu voe

— Isso... - ela se ajoelha perto de mim e acaricia minha cabeça - E a oportunidade é o melhor presente que qualquer um poderia ganhar... - me olha com aqueles olhos gentis, se levanta e estende a mão para mim, me ajudando a "reaprender a andar"

Não foi tão difícil quanto eu imaginei que seria, logo acabei me adaptando ao peso extra, mas minhas costas ainda doíam um pouco com o peso, fomos para o lado de fora e eu olho para o céu imaginando se seria dia ou noite. Dobro meus joelhos e tento me impulsionar para cima batendo as asas, voo apenas alguns centímetros antes dos meus pés tocarem o chão novamente, tento outra vez, e outra, e outra, e outra, e outra, foram tantas vezes que eu nem sabia mais se havia algum progresso desde a primeira tentativa, um sentimento forte preenchia meu interior, frustração? Não, algo bem mais bonito que isso, esperança, a cada pulo eu me sentia mais perto do céu, não conseguia conter o sorriso no meu rosto a cada salto e via o chão se afastando um pouco mais de mim, Brook se sentou no teto do veiculo e ficou apenas me observando, quem sabe ao certo quanto tempo passou? Minutos ou horas? eu apenas sabia que meu ultimo pulo havia me mantido no ar a mais de 4 metros do chão por pouco mais de 1 minuto.

Dia após dias, eu tentava e tentava, não saímos daquela cidade por um tempo, sempre no mesmo lugar, ele me fazia sentir estranhamente segura de alguma forma, como aquela lembrança materna que todos os mamíferos tem ao escutar um coração batendo em ritmo conhecido, mesmo que para nós esse barulho tenha vindo de um tipo de maquina e fosse apenas uma simulação. 1 semana, dentro desse tempo eu já era mais do que capaz de voar e me manter no céu por bastante tempo, o máximo que consegui foram 2 horas inteiras voando e algumas vezes eu ate carregava Brook comigo, já havia ate mesmo aprendido a esconder as asas de volta para dentro do corpo para que elas não ficassem batendo em tudo, o interior do veiculo não era tão grande assim.

— Acho que temos que ir. - ela diz pulando do telhado do veiculo e caindo em pé no chão de pedras - Já estamos aqui a muito tempo e agora você pode ver para onde vamos do alto

— Ainda temos uma coisa importante a fazer

— O que?

Eu agarro a cintura dela e me impulsiono para cima, ela solta um grito de espanto enquanto eu nos levo cada vez mais alto.

— Já passamos muito do limite de altura que você voa sempre, nós vamos cair! - ela grita lutando sua voz contra o vento forte

— Não vamos cair

— Você não aprendeu a voar tão alto ainda

— Eu não preciso aprender. - abro bem as asas e as bato forte nos levanto mais para cima a uma velocidade incrível - Eu já sei!

Já podia sentir aquela camada de nevoa grossa batendo nos nossos rostos, um vento gelado entrando pelo meu nariz, um vento puro, não como o que sentíamos sempre, tão puro que chegava a doer dentro do nariz. Algo azul bem a frente, a nevoa deixara de ser cinzenta, agora era fina e tinha cor azul escuro, passamos pela ultima camada da nevoa antes de notarmos o quão longe estávamos do chão.

Eu fico paralisada, nunca havia visto algo tão bonito, o céu ainda estava ali e era tão lindo quanto os livros ilustrados mostravam, mais bonito ate mesmo que da primeira vez que vimos, uma lua grande e amarela bem a nossa frente, eu sentia que poderia ate mesmo toca-la.

— Eu disse pra você. - ela fala baixo

— O que?

— Que nós veríamos mais de perto um dia. - ela levanta a cabeça e sorri pra mim, eu sorrio de volta

— Sim, você disse

Eu levanto o seu corpo mais para cima e a beijo, ela se agarra bem aos meus ombros aprofundando o beijo e acariciando minha nuca, não importava quantas vezes fazíamos isso, o gosto dela sempre parecia mais doce do que antes para mim.

Voltamos ao chão depois de um tempo, fiz uma aterrisagem no teto do veiculo e acabei por fazer que varias caixas caíssem dentro dele, Brook se irrita e começa a arrumar e eu à ajudo.

Uma das coisas que havia caído era o velho diário de couro, ele cai aberto em uma pagina qualquer e eu o encaro um pouco, de alguma forma as palavras pareciam mais claras agora, então eu volto para a primeira pagina e tento ler.

— "Este diário pertence a Leo"... - ela para de arrumar e apenas me encara perplexa - Eu.... consigo ler...


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