Stiles olhou espantado para o médico diante da inesperada notícia. Porém, a reação foi de pura alegria.

Lydia, no entanto, não saberia descrever o que sentia. Por um lado, o instinto maternal despertado ao saber que estava gerando uma criança trazia um sentimento que poderia definir como de proteção e amor. Por outro, significava a reta final do seu casamento com Stiles e a união dele com a bela grega, conforme haviam planejado, após tomar-lhe o filho e livrar-se da mulher-objeto!

Como ela não tinha notado que estava grávida? Nem suspeitado? A ausência dos ciclos menstruais, ela havia atribuído ao estresse ocasionado desde a desagradável conversa com Malia. Se tivesse consciência dessa gravidez, jamais teria concordado em voltar para a Grécia, por mais ameaças que Stiles lhe fizesse. Teria lutado até o último suspiro para evitar ficar com ele e correr o risco de perder o filho.

Lydia afundou a cabeça no travesseiro e chorou desconsolada. Só percebeu que Stiles entrara no quarto quando ele tocou com uma das mãos no ombro esquerdo dela.

Com o coração aos pulos, revirou-se na cama e depois se sentou, acomodando as costas nos travesseiros. Encolheu-se e enlaçou as pernas na altura dos joelhos, depois de secar as lágrimas com as mãos.

Procurou mentalizar uma maneira de contar-lhe que sabia dos planos que ele e Malia tinham feito. Mas que não iria permitir que usufruíssem do resultado. Apesar de ser uma moça do interior da Inglaterra e de uma família humilde, saberia muito bem defender seus direitos! Mesmo que tia Alexandra não parasse de dizer que ela só servia para limpar o chão da mansão!

Mas, antes que conseguisse proferir uma única palavra, Stiles soltou-lhe os dedos e tomou as mãos dela entre as dele e falou com uma ternura tão grande que momentaneamente a comoveu e dissipou as palavras que ela pretendia proferir. E olhando-a diretamente nos olhos, ele declarou:

— Agora que sabemos que geramos uma nova vida não podemos pensar em divórcio. E quaisquer que sejam as razões que tenha para querer separar-se de mim, não pretendo nem mesmo ouvi-las. — E, após uma pausa inspirada, concluiu: — No momento em que a gravidez foi confirmada pelo médico, nossas diferenças ficaram para trás. Ambos devemos esquecê-las.

Lydia olhou com desconfiança para os olhos do marido, parcialmente encobertos pelos longos cílios, que os tornavam ainda mais expressivos. Não pretendia deixar-se enganar outra vez.

Ele a trataria-bem até o final da gravidez para que nada de mal acontecesse ao tão esperado herdeiro, ou herdeira. Depois que a criança nascesse, a primeira coisa que faria seria pedir o divórcio, livrar-se dela e ficar com o filho.

Stiles livrou uma das mãos que segurava as dela para afastar alguns fios de cabelo que lhe caíam na testa delicada. Ao mesmo tempo, os lábios se abriam num sorriso tão bonito que costumava provocar nela verdadeiros arrepios de delírio. Agora, só o que Lydia sentia era desprezo pelo homem que fingia tão bem!

— Hoje vamos retomar nosso casamento pelo bem de nosso filho — prosseguiu Stiles com grande entusiasmo. — E prometo que se tornará muito bom. Farei tudo para satisfazer seus mínimos desejos. — E erguendo-se, avisou: — Vou preparar um lanche reforçado. Estou faminto e você agora tem que se alimentar por dois! A comida que eu trouxe antes e deixei na mesa da varanda já deve estar estragada. Estava tão preocupado em encontrá-la que nem me lembrei de colocá-la de volta na geladeira.

O beijo carinhoso que ele depositou na testa mimosa só a deixou mais furiosa. E com os olhos verdes faiscando, acompanhou-o afastar-se e dizer, antes de sair:

— Daqui a alguns minutos pode descer que terei tudo pronto.

O silêncio que se seguiu era preenchido apenas com a promessa que Lydia fazia a si mesma de não bancar a imbecil novamente.

Agora que tinha conseguido o que queria, é claro que a trataria com doçura. Era muito bom nisso! E, também, queria mantê-la sob  vigilância para ter certeza de que não faria nenhuma besteira que ameaçasse seu precioso herdeiro!

Lydia suspirou fundo várias vezes para acalmar-se e depois foi banhar o rosto e escovar os cabelos.

Os pensamentos prosseguiam tumultuados.

Stiles achava que a tinha na palma da mão, mas ela pretendia provar o contrário. Mudaria o comportamento conforme lhe conviesse. Afinal, tinha um “mestre” na arte de fingir bem ao seu lado. Não era o que acabara de presenciar quando ele soubera da gravidez?

De qualquer forma, de nada adiantaria contar-lhe o que Malia lhe dissera ou as humilhantes palavras de tia Alexandra. Nem mesmo o que vira e ouvira quando ele dava atenção a Malia, inclusive ausentando-se na companhia da grega. Estava mais do que comprovado que os dois eram amantes e tinham algum plano em mente.

Entre outras lembranças, havia o telefonema em que ela o ouvira confessando seu amor por Malia. E, também, a insistência na festa de apresentação da esposa, para poder convidar os amigos. Parecia que estava envergonhado de ter-se casado numa capela simples e diante apenas da família dela como testemunha.

E, como lhe dissera Malia, um grego da posição de Stiles Stilinski era digno de uma celebração esplendorosa numa data tão importante como o próprio casamento! Inclusive com a presença da imprensa. E, provavelmente, seria assim que fariam no casamento dela com Stiles, assim que ele pudesse livrar-se da esposa que servira apenas para lhe dar o pretendido herdeiro.

Seria inútil confrontar o marido dizendo que descobrira todo o plano dele e de Malia. Com certeza, ele negaria tudo com veemência. Agora, com o bebê a caminho, a atitude dele não seria outra.

Então, ela resolveu que nos próximos meses faria tudo do jeito dele e fingiria aceitar a história de retomada do casamento.

No fundo, porém, o que Lydia mais gostaria de fazer, se pudesse voltar atrás, seria ter colocado Malia e Stiles frente a frente e forçado Malia a repetir a história que lhe contara no terraço, na noite da festa de apresentação de Lydia à sociedade grega. Estava tão arrependida de ter seguido os conselhos de Allison!

Tudo teria sido resolvido naquela mesma noite, e Lydia não precisaria ter passado por todas aquelas amarguras…

E, já que o tempo não volta, agora o mais sensato a fazer seria avisar os pais que os dias na fazenda iriam terminar em breve.

Assim lhes daria certo prazo para planejarem o que precisassem. E, quanto a ela, também teria que se preparar para o que fazer quando a criança nascesse. Jamais deixaria que lhe tirassem o filho! Se não conseguia aceitar a idéia, agora que acabara de saber que havia uma vida dentro dela, quanto mais quando tivesse o bebê nos braços!

Quando retornassem a Atenas, ela iniciaria os planos que tinha em mente. Transferiria a maior parte da mesada que Stiles costumava depositar para os gastos pessoais dela para sua conta no banco da pequena cidade onde residia antes de se casar.

Não faria isso para obter vantagens da riqueza do marido. Só de pensar em atitudes como essa seu estômago revirava. Seria apenas para— poder sustentar o bebê até que pudesse recomeçar a carreira.

E quando retornasse à Inglaterra, não cometeria o mesmo erro de antes. Em vez de procurar a família, encontraria um lugar seguro para criar seu filho, onde Stiles nunca os achasse.

Por enquanto, deixaria que ele pensasse que tudo estava funcionando, da maneira como planejara com a amante. Era a única forma de evitar que suspeitasse dos planos dela. Seria até uma maneira indireta de se vingar pela sordidez dos atos dele!

Após descer a escadaria, entrou na cozinha e sem querer o surpreendeu falando baixo no celular. No momento em que a viu entrar, encerrou o assunto e recolocou o pequeno aparelho no bolso traseiro do jeans.

— Lydia! — exclamou ele. E ela poderia jurar que viu culpa nos brilhantes olhos do marido. — A gravidez a deixa ainda mais linda!

— Verdade? Acho que está sendo apenas gentil! — declarou ela, forçando um sorriso.

A mesa estava perfeitamente disposta para a pequena refeição que pretendiam fazer: salada verde, presunto, frango frio fatiado e uma cesta de pães.

Enquanto se acomodava em uma das cadeiras à frente da mesa, a curiosidade forçou-a a perguntar:

— Estava falando com Malia? Não conseguiu esperar até que retornássemos para lhe dar a notícia sobre o bebê?

Lydia notou que as feições dele endureceram e o olhar congelou.

— Nunca vou entender o que tem contra ela! — ele exclamou e suspirou profundo. — Sempre que Malia está por perto, você parece irritada. Quando ela tenta conversar, você fica reticente e logo se retira. Ela fica muito magoada porque gostaria muito de ser sua amiga. E, pode acreditar, Malia necessita muito de amizades.

Lydia mordeu o lábio inferior para impedir-se de dizer o que sentia. Se Stiles já agia de maneira tão protetora com a amante, o que faria no momento em que estivesse livre para poder ficar com a outra para sempre?

Ela poderia lhe dizer exatamente o que tinha contra Malia. A odiosa conversa que tiveram nunca lhe saíra da mente. Nem a forma cruel como lhe dissera que os dias como esposa de Stiles estavam contados.

Contudo, falar isso agora só serviria para alertá-los. E o tempo que Lydia ainda iria precisar da assistência do marido era razoavelmente longo. Por isso, apenas encolheu os ombros e respondeu, com a voz serena:

— Sinto muito. Embora Malia não seja o tipo de pessoa com quem me identifique, não precisamos entrar em guerra! Prometo que vou tentar ser mais amigável.

Stiles começava a afastar do coração a frustração que sentia desde o momento em que lera o bilhete da esposa informando o desejo de divorciar-se dele.

Sentado no lado oposto da mesa, ele admirava os grandes olhos verdes de Lydia. E agora ela carregava um filho seu! Nenhuma mágoa do mudo deveria pôr em risco o bem estar daquela criança.

Nenhuma!

O filho que esperavam merecia o direito de ter um futuro feliz e seguro, junto dos pais, e em perfeita harmonia.

Iria lutar por isso. E com o tempo, poderia banir da lembrança o que Lydia lhe fizera, sem nem mesmo lhe dar qualquer explicação. Um novo começo e enterrar o passado parecia o caminho mais certo.

Pelo que podia observar, Lydia parecia ter mudado o comportamento. Seria por causa da gravidez? Talvez a notícia de que esperava um filho a tivesse feito reconsiderar a decisão que tomara antes. Ou teria sido a promessa dele de que faria tudo que ela desejasse dali em diante? Ou, a revelação de que não conseguiria receber um só centavo com o divórcio?

Nunca saberia de fato o que havia se passado naquela linda cabeça, pensou. E precisaria apagar a razão de tê-la levado para a ilha: forçá-la a contar os motivos que a fizeram abandoná-lo.

Entretanto, tudo aquilo agora parecia inútil, diante promessa dele em fazer tudo que ela desejasse. O melhor era esquecer e tentar um novo começo.

E dando início ao que prometera, ele começou por servir-lhe o prato. Era o primeiro passo para conseguir o que mais desejava: uma relação harmoniosa com a esposa, pelo bem da criança.

Recusava-se a acreditar que Lydia resolvera aceitar ficar ao lado dele porque o amava. Não. Se fosse isso, não teria feito o que fez.

Stiles, porém, estava preparado para enfrentar a situação não importava como ela se apresentasse. Ele sabia o que tinha sofrido com a morte dos pais e a infância solitária que tivera, sendo criado pela tia Alexandra que sempre se mostrara tão fria e distante.

Por isso, estava determinado a proporcionar ao filho um lar seguro e repleto de amor. E não queria que ele sofresse o trauma de um divórcio tumultuado onde assistisse os pais trocarem acusações e ofensas.

Observando Lydia ingerir parte dos alimentos e afastar outras para a borda do prato, perguntou-se até onde iria a concordância dela? Até a cama?

E será que ele realmente queria isso?

Para seu espanto, a resposta que lhe vinha à mente era sim!

Apesar do comportamento passado, que ferira seu orgulho, ele ainda a desejava. E por incrível que pudesse parecer, muito mais do que no primeiro encontro que tiveram no pátio da mansão de Scott…