MALANDRA escrita por Bruna Coelho


Capítulo 6
Capítulo 6 - RESSACA QUE CHAMA!




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Era segunda feira novamente, e eu estava de ressaca. Depois do jantar com nossos pais, Noah e eu fomos para um barzinho com os amigos dele. Sério, eu tava morta. Eu levei até um daqueles travesseiros de pescoço para dormir na aula. Eu estava até babando quanto senti vários chutes debaixo da minha carteira que me fizeram despertar. Olhei para Bruno que sentava ao meu lado e ele ficava apontando para o quadro sem parar. Eu não havia entendido. Meus olhos nem conseguiam abrir por completo.

— Clara, olha — ele falou reforçando seus gestos. Eu não tinha entendido muito bem, mas o meu nome estava junto com o de Mel. Cocei os olhos. Nada ainda fazia sentido para mim. 

— O que é isso? — perguntei para o garoto. 

— Trabalho em dupla para esse bimestre, vale um terço da nota — ele explicou entre sussurros. A ideia de ter que passar mais tempo com Melissa me despertou por completo. Até a ressaca passou. E como reflexo eu levantei meu braço direito e fiquei com ele erguido esperando o professor me notar.

— O que foi agora, Clara? — perguntou o velho me observando impaciente por cima dos óculos. 

— Professor, acho que você cometeu um equivoco... Eu não posso fazer o trabalho com a Melissa, a gente vai se matar antes do fim do bimestre —  expliquei. 

— Acho que vocês vão ter que superar suas diferenças então — ele falou com um sorrisinho maléfico no rosto. Até o professor estava debochando de mim. Que mundo era esse? A gente não se gostava mesmo. Desde o primeiro momento nosso santo não bateu. Tudo nessa missão parecia mais complicado. Eu só queria que esse ano acabasse para nos mudarmos de novo. Porque, olha, estava difícil.

Depois da aula, Melissa veio até mim, marchando, morta de raiva. Ela também não estava feliz com a dupla. Nós não sentávamos mais uma atras da outra... mudamos de lugar, de grupo de amigos, de tudo. Não tinhamos afinidade nenhuma. A única coisa que sustentava nossa relação era o fato de eu precisar dela.  

— Acredite, eu também não estou feliz com essa ideia — ela falou e eu não precisei de detalhes para saber que ela estava falando sobre fazer o trabalho comigo.

— Acho que eu posso fazer o trabalho sozinha e você fica com os créditos. Que tal!? Ótima ideia, fechamos assim! Até o final do bimestre. Beijos!  — ofereci dando as costas para ela. 

— Eu ainda não estou louca de deixar você fazer meu trabalho sozinha... Eu preciso de nota e você parece não se importar muito com isso. Francamente, Clara, quando você quer você acaba com os professores, dai chega na hora da prova e você vai super mal. Você deve ter muita merda nessa sua cabeça. Me desculpa se eu não confio na garota que trás travesseiro para dormir durante a aula — ela foi bem clara e ainda apontou os olhos para meu travesseiro de pescoço. Cara, eu fazia isso com frequência, acordar muito cedo estava me matando.

— Tá, como você quiser... — cedi porque não queria ficar nem mais um segundo ali presa em uma discussão que não levaria a gente em lugar nenhum. E era um jeito de passarmos mais tempo juntas (infelizmente).

E assim, a gente passou a ter um encontro marcado toda semana. Uma semana na casa dela, uma semana na minha... e foi assim até o projeto estar finalizado. Nosso trabalho estava impecável. Demorarmos quase um mês para finalizar tudo, mas estavámos cheias de boas referências. Tudo o que faltava era finalizar o slide para apresentação, e eu fiquei responsável por essa parte. Mel ficava andando de um lado pro outro do meu quarto impaciente por não ter nada para fazer. Ela era um pouco/bastante hiperativa. Pude então sentir que um ser humano parou atrás de mim observando tudo que eu fazia, dai eu simplesmente congelei.

— Você é ótima nisso... Tá ficando massa! — ela quebrou o silêncio com um elogio que nunca havia me dado. 

— Eu sou ótima em várias coisas, mas obrigada — agradeci do meu jeitinho. Um elogio depois de meses. Temos uma evolução aqui, caro leitor.

 Eu sei que o professor tinha nos colocados juntas para me tirar do sério e também para eu tirar uma nota horrível, mas ele foi obrigado a nos dar 10 depois da apresentação. Finalmente, eu estava livre desse encontro forçado com Melissa. Sem mais irritações. Agora eu só tinha que dar um jeito de tirar algumas informações dela, mas com ela era tudo tão difícil, afinal Melissa só sabia me atacar o tempo todo. Estar com ela era tão diferente estar com Ariel, com ele as coisa fluíam de forma mágica. 

Falando em Ariel, ele foi me buscar na escola para passarmos um tempinho extra juntos, ele fazia isso as vezes. Depois de almoçarmos, ele esperou pacientemente eu experimentar diversas roupas, passei em quase todas as lojas do shopping. No final da tarde, voltamos à porta da minha casa e ficamos conversando como de costume. Como já disse, com ele nada fugia do controle. Então, eu vi de longe, um ser humano andando em zigue zague pela rua, quase sendo atropelada diversas vezes. A criatura estava quase caindo para os lados de tão bêbada. A medida que foi se aproximando, a silhueta ia ganhando detalhes, e eu pude reconhecer quem era. E adivinhem? Era Melissa. 

— Eu tenho que ir, a louca ali claramente precisa de ajuda — falei um tanto apontando para a criatura bêbada que se aproximava da gente.  

— Você é incrível — ele me elogiou docemente com um sorriso imenso nos lábios. 

— Por que? — perguntei um tanto confusa. Eu era incrível em muitos sentidos mesmo, mas não sabia de qual ele estava se referindo. 

— Porque você nem gosta dela e tá indo lá ajudar — ele explicou, e eu fiquei meio sem reação. Essa era uma das coisas pelas quais eu não era incrível. Na verdade, eu não estava feliz por ajudar Melissa, eu só queria que ela não pegasse um século de castigo para não atrapalhar meu plano. Eu sou bem egoísta, não vou mentir.

— Acredite, eu não queria ter que fazer isso, mas né... olha aquilo — dei um selinho nele. Peguei minhas sacolas no banco de trás. Então, desci e fui correndo ao encontro de Mel antes que ela caísse e se arrebentasse toda.

— Você está louca, garota? Beber assim a tarde em um dia de semana... O que te deu? — chamei atenção dela ao tempo que a ajudava. Eu podia fazer isso. Não tinha perspectiva nenhuma de futuro. Era uma golpista. Com uma família explodindo dinheiro. Ela não... ela estava jogando uma vida de verdade fora. Sem falar que ela também nem tinha 18 anos ainda. 

— Falou a pessoa que faz a mesma coisa — ela retrucou com a voz mole e arrastada. 

— Pelo menos eu nunca precisei ser carregada numa quinta feira... Qual seu problema? — falei brava. Peguei o braço esquerdo de mel e passei em volta do meu pescoço. Então agarrei a menina pela cintura. 

— Qual o meu problema? Eu tenho muitos problemas... a começar pelas minhas notas que estão uma bosta! Ninguém liga pra mim. Meus pais vão me matar... — ela contou soltando o peso do seu corpo sobre mim. Se eu fosse um pouquinho menos fitness, teria desmontado no chão naquele segundo. Carregar ela e as minhas sacolas era um teste de crossfit.

— E você achou que encher a casa seria uma ótima solução para isso... beber nunca é a solução, Mel — rebati já dentro de casa. Soltei as sacolas no chão da sala, então comecei a gritar desesperadamente:

— Marta! MARTA! MAAAAAARTA!!!!! — não demorou muito para ela aparecer correndo e ofegante na sala. Seus olhos estavam arregalados. Eu com certeza a assustei. — Eu vou precisar de ajuda pra levar esse ser humano pro meu quarto 

— Sim, senho... Clara! —  ela concordou se corrigindo. Ela quase me chamou de senhorita, mas eu havia vetado essas formalidades dela — O que aconteceu com ela? 

— Tá bêbada, né... Encontrei ela assim na rua de casa... — expliquei enquanto nos contorcíamos para levar a garota para o andar de cima. Já no meu quarto, jogamos ela na cama, então Marta desceu para os seu afazeres. Sério, Mel não tinha condições de subir uma escada de tão embriagada. 

— Você nem sonhe em vomitar no meu quarto... Se não eu te jogo pela janela e eu não estou brincando. A Marta não é obrigada a limpar vômito dos outros — falei bem séria e apontando para a janela. 

— taaa — ela falou em um grunhido mole de bêbado e virou para o lado. 

— Agora me dá seu celular — ordenei quase em um tom meio maternal. Ela arremessou o aparelho em minha direção de forma desajeitada. Quase que ele cai no chão e se espatifa todo. Coloquei-o em frente ao seu rosto para desbloquear e desci correndo atrás do meu pai. Ele estava na sala. Assustou com o jeito que eu cheguei.

— Pai, problema, encontrei a vizinha podre de bêbada na rua, ela está no meu quarto... E amanhã a gente tem prova, acho que ela não consegue, e se ela chegar em casa assim não vai dar bom, você consegue desenrolar isso pra mim? - pedi estendendo o celular dela para ele. 

— Sim, deixa comigo... - ele agarrou o telefone e começou a fazer algumas ligações.  Corri atrás de Marta e pedi água e meu suco mágico verde que ela havia aprendido a fazer. Quando voltei, meu pai estava no escritório terminando de falar com os pais de Melissa. Tudo resolvido. Ele disse a eles que estávamos estudando para a prova do dia seguinte. 

— Pronto, pedi aos pais dela para ela dormir aqui essa noite, e amanhã cedo eu ligo pra escola e falo que ela está passando mal por intoxicação alimentar e remarco a prova de vocês, tudo resolvido - ele narrou tranquilo enquanto me entrega o celular da menina. - Boa, filha, mandou bem

— Eu sou a melhor! - falei agarrando o celular dela e voltando para o meu quarto. Eu estava mais perdida que bola de pinball. Peguei uns remédios que usava para ressaca no meu banheiro... E quando a governanta me trouxe o que pedi, forcei Melissa a tomar tudo. Ela não parecia estar muito para conversa, então eu só sentei do seu lado na cama e fiquei lá observando-a. Ela se virou para o meu lado e me abraçou. Então, eu congelei.

— Onde você estava? — comecei meu interrogatório aproveitando da condição dela. Desse jeito, Melissa claramente não iria mentir para mim. 

— Não te interessa — ela respondeu como uma criança mal criada. 

— Por que você é tão babaca comigo? Eu sou babaca por natureza, todo mundo espera isso de mim, mas não de você, tá!? Além disso, eu vejo que você só é assim comigo — perguntei um tanto impaciente. Eu pego ela bêbada na calçada, cuido dela, levo ela pro meu quarto... Acoberto a bebedeira dela. E ela ainda tem a cara de pau de ser uma imbecil comigo. 

— Porque eu não tinha amigos, ninguém queria saber de mim quando eu era criança, eu tive que me esforçar muito para fazer cada um dos meus amigos. E então chegou você, você só apareceu e veio se enfiando na minha vida. Eu não tive que fazer nada. E até quando eu fui babaca você continuou aqui... Sei lá, foi diferente, meio que fiquei assustada e fiz o oposto do que sempre fiz. É tudo tão estranho, tem que ter algo errado — ela explicou com a voz mole e os olhos fechados. Nem força para abri-los ela tinha. 

— Posso te dar o conselho mais verdadeiro que já dei na minha vida? — perguntei e ela respondeu que sim com a cabeça. — Se você mentir sobre quem você, sobre seus sentimentos, e tudo mais... suas amizades nunca vão ser verdadeiras. Sério, experiência própria — falei um pouco distante. Essa era a minha maior verdade. 

— Na casa do Moisés — ela respondeu a minha pergunta antiga e então ficamos em silêncio. Seu corpo foi relaxando de forma gradativa. Um sonho profundo a pegou. Tão profundo que não sentiu quando eu a deixei para fazer as minhas coisas... Como eu ainda não estava com tanto sono, peguei meu celular para fazer uma horinha. Foi quando eu vi o stories de Moisés. Ele postou um vídeo de Mel podre de bêbada tirando a blusa em cima de uma mesa de sinuca. Eu queimei de ódio, esse idiota iria se ver comigo, machos escrotos não passarão. 

Tudo que eu fiz nesse momento foi enviar uma mensagem para ele dizendo: apaga isso agora!


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Notas finais do capítulo

SERÁ QUE A RELAÇÃO DESSAS DUAS VAI COMEÇAR A MELHORAR? SERÁ?



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