MALANDRA escrita por Bruna Coelho


Capítulo 7
Capítulo 7 - AUTO DESTRUIÇÃO




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Dois dias depois, nós ainda estávamos em semana de avaliação. Era o dia do meu acerto de contas com aquele garoto. Assim que terminei minhas provas, fiquei de tocaia no corredor. O restante do pessoal foi saindo aos poucos... e eu lá, quase imóvel. Ele saiu apressado e eu pulei na sua frente como uma tigresa. Impedi que ele continuasse seu caminho. 

— Eu preciso ir ao banheiro agora, Clara, real, não pode ser depois? — ele falou um tanto desajeitado dando pequenos pulinhos.

— Não! A gente precisa conversar! Você sabe a merda que você fez? - perguntei um tanto incisiva. Eu estava com muita, mas com muita raiva. Por mim, eu voava no pescoço dele ali mesmo naquele instante. Ele só respondeu que não com a cabeça. Ele estava com uma expressão impaciente, recolhido, ele realmente precisava ir, mas eu não iria deixar. Que ele se mijasse todo ali mesmo... — Tem certeza que não sabe? — perguntei de novo. 

— Não seiiiiii, diz logo, eu preciso mesmo ir — ele respondeu um pouco afobado. 

— ONDE TU TAVA COM A CABEÇA PRA DEIXAR A MELISSA BEBER DAQUELE JEITO? E AQUELE VÍDEO, MOISÉS? Amigo cuida dos outros, cara. Não faz essas palhaçadas não. Outra coisa, tu deixou ela ir embora sozinha naquele estado, pô. Isso poderia ter dado muito ruim. PENSE 30 VEZES ANTES DE FAZER ISSO DE NOVO. Entendeu? Porque se eu imaginar que isso aconteceu, você tá muito ferrado, não queira saber do que eu sou capaz — ameacei cutucando seu ombro com força. Seu corpo até cambaleou. Mas eu não hesitei por um segundo. Eu sequer pisquei. Eu estava muito cheia de mim. 

— Olha, Clara, a Mel é bem grandinha pra fazer as escolhas dela... eu não forcei ninguém a fazer nada. Ela não precisa que você seja a cadelinha de guarda — por um segundo, até pareceu que a vontade que ele tinha de ir ao banheiro sumiu, e ele soou até meio ameaçador. Até parece que eu iria ter medo de um pirralho. 

— Isso não me importa! Ela só tem 17 anos, aquele vídeo… Vou te dar um conselho, não me provoque, porque eu brinco que nem gente grande, e você não vai querer descobrir o que isso significa. Essa cadelinha aqui morde e muito, não entre no caminho dela — falei muito séria, até subi nas pontas dos pés para ficar mais intimidadora. Eu não sei se Moisés tremia por minha causa ou porque realmente precisava ir ao banho, mas não importava, eu havia dado o meu recado e era melhor ele me ouvir, porque eu não brinco quando o assunto é ferrar com alguém que merece. 

— Agora vai logo, antes que você se mije todo, e eu não tô a fim de presenciar essa cena... — disse saindo da frente do garoto e ele só saiu em disparada sem me dar nenhuma resposta. Acho que ele tinha entendido o meu recado... 

Eu não sei direito porque eu fiz isso pela Melissa, mas eu não iria deixar o que aconteceu ontem virar uma rotina na vida dela. Sororidade que chama. Desci as escadas e encontrei meus amigos tomando um banho de sol no gramado. Sentei-me ao lado deles e fiquei lá sendo maravilhosa. 

— O que você fez com Moisés? Ele parecia apavorado quando passou por aqui — perguntou Rafael sentando-se para me olhar. Ele estava preparado para um grande história, mas não tinha muita coisa. 

— Ah, eu só ameacei ele — contei como se não fosse muita coisa porque não era. Todos os três se sentaram e ficaram me encarando boquiabertos. 

— Como assim você ameaçou ele? Você tá louca? É suícidio social — perguntou Maju incrédula. Ela era toda fofinha. Tinha uma franjinha na testa tipo aquelas de criança, sabe!? Dava vontade de morder suas bochechas.

— Antes de ontem, ele, a Mel e sei lá mais quem encheram a cara e eu tive que cuidar dela. Enfim, não sei detalhes, só encontrei ela podre de bêbada na rua de casa... E dei um jeito disso não se repetir mais. A Melissa é do tipo muito boazinha, muito inocente, vai na onda dos outros e não enxerga o comportamento auto destrutivo dela... Sei lá, só perdi a paciência — narrei a minha versão da história com os detalhes que julguei suficientes.

— Eu estava ouvindo o som da festa deles lá de casa enquanto estava tentando estudar — falou o nerdzinho Matheus com seu jeitinho fofo e inconformado. Ele queria mesmo estudar, sério. 

— Mana,você tem uma personalidade muito forte, mas você já parou pra pensar que o comportamento auto destrutivo de vocês duas é quase o mesmo? Tipo, tu manda muuuuuuito nas matérias, a gente até entende você dormir nas aulas e tal, mas chega na hora da prova você mal lê, sai chutando tudo... Tu tem a pior média da sala, sabe!? Você está se boicotando e parece que nem se importar — Rafael veio se meter na minha vida como sempre faz desde nos conhecemos, ele faz a linha super sincero e exagerado. Mal sabia ele...

—  No meu caso é só diferente, vocês não entenderiam, mas você tem razão... Vou tentar melhorar — dei o braço a torcer. Ele tinha razão. Eu estava me boicotando, mas eu podia fazer isso... foram tantos terceiros anos que não fazia diferença eu ir bem ou mal.

— Ajudaria a entender se você falasse mais sobre você — ele falou. 

— Quem sabe um dia... — disse dando os ombros.

— Não vou me meter nesse assunto, mas o Rafa tem um pouco de razão — Matheus concordou se ausentando da discussão. 

Fui salva pelo sinal. Sério. Nunca me senti tão aliviada de ter que voltar para a sala de aula... sabe quando um climão começa a surgir? Bom, era isso que estava começando a acontecer naquele momento.


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